Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 7
Profecias


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A mesa do conselho de guerra continua sendo uma mesa de pingue-pongue. Eu gosto. Um sátiro nos serve refrigerante e nachos, mas não estou com fome. E tenho a impressão de que Liam quer me passar alguma mensagem enquanto acaricia a mão de Wendy por cima da mesa, por que ele me lança olhares furtivos o tempo todo. Estou com vontade de virar pra ele e falar “quer parar?! Eu não estou nem aí se você começou a pegar minha melhor amiga depois que eu fui embora, então pare de me olhar desse jeito”. Mas Hera estava circulando a mesa, andando de um lado para o outro, frustrada. E eu não posso mandar meu ex ir se fuder na frente dela.

— Estamos perdendo tempo. – ela reclamou. – Quanto mais tempo perdido, maior é a minha humilhação.

— Senhora Hera – diz Quíron, cauteloso. – Amanhã de manhã três meios-sangues sairão em missão, mas primeiro precisamos de uma profecia e também precisamos que a senhora nos diga o que eles têm que fazer.

Ela suspira irritada.

— Meus pomos de ouro foram roubados. Ao herói que conseguir resgata-los, oferecerei um pedido.

— Um pedido? – repetiu à conselheira-chefe do chalé de Poseidon. – Qualquer coisa?

— Dentro do aceitável, é claro.

— E qual é o limite do aceitável? – indagou um filho de Éris.

— Parem de fazer perguntas idiotas! Cadê a profecia?

Todos encaram o oráculo.

— O que foi? Não consigo sob pressão.

Hera, pela milésima vez, suspirou irritada e todos começaram a murmurar. Eu olhei para o conselheiro-chefe do chalé de Apolo. Era estranho. Sempre me sentia meio constrangida quando olhava para algum semideus filho de Apolo. “Será que eles sabem que eu estou pegando o pai deles?”, e mais esquisito ainda “Deuses! Meu namorado tem mais filhos do que Mr. Catra!”. E eu estava pensando naquilo quando subitamente o Oráculo deu uma tossida braba e soltou uma fumaça verde.

Criança do Inverno

Do rato, derrota querida

Resgate os tesouros da Rainha

Pelas mãos da amante vingativa

 

Ao terminar de falar, a oráculo desmaiou. Dois semideuses a seguraram para que ela não tombasse da cadeira e todo mundo começou a trocar olhares.

— Tem alguma filha de Quione aqui? – Hera indagou, indiferente. – Ah, você.

Gelei. Ela está apertando os olhos na minha direção, embora a conselheira-chefe do chalé de Quione esteja bem ali pertinho dela.

— Do rato, derrota querida — Hera solta uma gargalhada. - Uma filha de Despina, quem diria?!

Eu franzo as sobrancelhas. Que raios isso quer dizer? Serei a derrota de um rato? Como assim?

— A profecia pode não estar se referindo a mim. – digo, embora saiba que está. –. Minha mãe não é a única divindade do inverno. Existem semideuses filhos de Aura, Bóreas e Quione aqui.

Imediatamente, todos os filhos dos deuses que citei me fuzilam com o olhar. Eles não querem essa missão, nem essa profecia. E todo mundo já sabe que é sobre mim, embora não saibam explicar exatamente o por que.

— Está tentando fugir do seu destino? – Hera pergunta ofendida. – É uma honra ser minha campeã. Não me decepcione, garota.

Engulo em seco, mas sustento seu olhar duro até que Quíron quebra a tensão.

— Tracy – diz ele. - Quem quer levar na missão com você?

Desvio o olhar de Hera e olho de rosto em rosto. Muitos parecem dizer “me escolhe, nunca te pedi nada!” e outros “eu não, por favor, eu não!”. Lyra não está aqui, mas sei que ela me imploraria pra ir. Eu poderia levar ela e Wendy, mas...

— Juliet, Trent... Eu gostaria que vocês fossem comigo.

Eles imediatamente assentem com a cabeça, ansiosos e sorridentes.

— Então, agora devemos estudar a profecia. – digo. – Acho que ela foi bem clara na parte Resgate os tesouros da Rainha/Pelas mãos da amante vingativa.

— É claro, só podia! Aposto que foi aquela maldita Mnemosine, mãe daquelas musas bastardas!

— Senhora Hera – digo calmamente. – Você poderia nos dar o endereço de algumas, hã, suspeitas? Só pra termos alguma ideia de onde ir.

Ela me encara por um tempo, como se estivesse decidindo se consideraria meu pedido uma afronta ou não.

— Tudo bem, semideusa. – ela estala os dedos e um pergaminho aparece na mesa, enrolado e preso por uma fita. – Está aí. Agora, se você conseguir recuperar meus pomos, ótimo, será bem recompensada, mas se falhar... Seu namorado vai chorar sua perda.

E com essa frase, ela some. Já estou tão acostumada com minha mãe e Apolo fazendo isso que nem me surpreendo mais, ao contrário dos outros semideuses.

— Bem, acho que isso é tudo. – diz Quíron. – Podem ir dormir, terão uma longa aventura amanhã.

Olhando para ele, sei que não acabou. Serei interrogada no dia seguinte. Respiro fundo e pego o pergaminho. Sou a primeira a sair dali e ir pro meu chalé. Assim que fecho a porta atrás de mim, escorrego até o chão e abraço meus joelhos. Vai começar tudo de novo, penso aterrorizada.

— Raio de sol? Eu tô bem aqui.

 

— Você está deitado na minha cama de tênis?!

Ele se senta e começa a desamarrar os cadarços, revirando os olhos.

— Por que você está tão arrumado?

— Eu estou sempre arrumado.

— Não na hora de dormir. Apolo, você dorme só de cueca. Pra que essa pompa toda?

— É que essa vai ser nossa última noite juntos até você voltar da missão. Eu fiz até um poema...

Tracy vai embora

Apolo fica só

O coração bate triste

É de dar dó

Dou risada e engatinho até ele, depositando um beijo em seus lábios.

— Você é o melhor namorado do mundo.

— Eu sei. – ele sorri, convencido. – Você gostou?

— Hum... Vou tomar um banho. Já volto.

— Você não disse se gostou ou não do poema!

— Quando sair do banho eu digo!

Ele suspira e deita na cama novamente. Pego meu pijama (uma calça xadrez e uma camisa do Ramones), peças íntimas, toalha, e vou pro banheiro. Quando volto, ele está sem camisa, olhando impaciente para o teto.

— Você demora demais no banho.

— Fala sério – me sento na cama. – Eu só gastei dez minutos! Você é que não sabe esperar.

— Não sei mesmo.

Eu me deito ao seu lado e Apolo puxa o edredom pra cima, me cobrindo até os ombros. Deitados de frente um para o outro, nos encaramos em silêncio. Eu poderia passar horas só olhando pra ele, mas isso seria estúpido.

— Eu vou sobreviver a essa missão?

— Desejo que sim.

Olho pra baixo e ele acaricia meu rosto, então olho pra cima de novo.

— Eu gosto quando você faz isso... ergue o olhar pra mim desse jeito. Gosto dos seus olhos.

Subitamente empurro o edredom e o abraço, deitando a cabeça em seu peito.

— Sabia que você não ia aguentar. – diz ele, acariciando meu cabelo com uma mão e me abraçando com a outra. – Sou irresistível.

 Apolo. — murmuro. – Se eu morrer... Promete que não vai me transformar em um loureiro ou coisa do tipo?

— Não se preocupe. Tem muitas outras coisas nas quais posso transformar você...

— Não quero. Gosto do meu corpo.

— Eu também.

Começo a ficar com sono e fico contente por que sei que não terei pesadelos. Nunca tenho pesadelos com ele por perto.

— Eu amo você. – digo baixinho.

Sei que ele está sorrindo sem precisar olhar. Não costumo dizer “eu te amo”, só em momentos especiais. Apolo é o contrário. Ele gosta de expressar seus sentimentos. Gosta até demais.

— Eu te amo como nunca amei ninguém. – diz ele, subitamente sério. – Por favor, não morra.

 

 


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Notas finais do capítulo

Aura é a irmã gêmea de Quione, filha de Bóreas. É a deusa da brisa congelante, dos frios ventos que levam a neve, e, assim, trabalha junto de sua irmã; seu animal sagrado é o lince, e é patrona de todas as aves que habitam o inverno. - Wikipédia.
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