A Feiticeira e o Contrabandista escrita por Espíndola


Capítulo 10
Epílogo




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Ele sabia que seus dias como Lorde estavam contados. Só espero que Stannis mantenha sua honra. Isso significava não desistuir seus filhos dos cargos que dera. Melisandre previra toda aquela trama e na última conversa que tiveram, ele finalmente entendera o motivo do romance entre eles acontecer. “Estou grávida de luz, meu Herói. Espero um filho de carne e ossos de Azor Ahai.” Ela afirmou, apesar da barriga não ter crescido quase nada. Isso o impediu de tentar exilá-la junto de Gran Meistre Pycelle e sua orda de senhores inseguros. Seu Rei enfim retornara vitorioso da guerra e assim que chegara, convocou-lhe para uma reunião. Será que já encontrou Melisandre? Tinha certeza que sim, ainda mais com Selyse morta.


Seus dois filhos prostavam-se na porta do gabinete real. Lorde Davos apenas os mirou com orgulho e entrou para ter com seu amigo vitorioso.


— Meu Rei. Como me foi ordenado, mantive a Capital em seu nome, mesmo com a chegada da Rainha Pedinte. — Ele falou após saudá-lo. Stannis tinha o braço enfaixado, mas não parecia sentir dor. Estava sentado imponentemente no cadeirão. Os dois estavam a sós.


— Cumpriu seu dever como Mão-do-Rei. Mas falhou em sua conduta como amigo.


A voz de Stannis era afiada como sua espada em cima da mesa diante deles. Depois de ouvir tais palavras, Davos percebeu o perfume da Sacerdotisa nas roupas dele. Já se encontraram.


Alteza, perdoe-me por cair nos feitiços dela. A mulher tem uma sede de poder e usou disto para governar comigo em sua ausência. — Ele usou do único argumento que tinha, esperando misericórdia de seu Rei.


— Espere. — Seu amigo mudou completamente de semblante. Aproximou-se e interrogou seriamente: — Do que está falando? — Como assim, Stannis? Do que estou falando? Davos ficou confuso como se bêbado estivesse.


— De Melisandre de Asshai. — Confessou ao amigo. Ele escureceu. Sentou-se no cadeirão.


— O que você fez com ela, Davos? — Seu tom beirava raiva e decepção.


— Meu Rei, tivemos um caso. Que já acabou. Ela disse que precisava de mim. — Queria explicar sobre o que vira nas chamas, mas não podia contar tudo para ele, se não morrerei aqui mesmo.


— Eu estava falando da sua conspiração com Mindinho para entregar o Usurpador Joffrey ao Lorde Tywin. — Maldição! Como fui tolo! Cai na armadilha deles. Sou culpado. Seu mente caiu em tristeza. Ela estava certa. Ele me prenderá. Mas Davos não podia mentir.


— Eu autorizei, Stannis. — O Rei levantou-se e pegou a espada. — Você prometeu a Cersei Lannister. — O Cavaleiro das Cebolas apelou para o velho amigo. O Rei conteve sua fúria.


— Guardas! — Stannis gritou e seus dois filhos, Matthos e Devan entraram. — Prendam este homem. Ele está destituído de seu cargo e irá para a Muralha. — O Rei sentenciou sem pestanejar. Davos nunca havia desobedecido as ordens de Stannis. Essa não seria diferente. Desfincou o broche de Mão-do-Rei de seu corselete, colocou sob a mesa e saiu ao lado dos meninos, sem se despedir do grande amigo. Eu entendo o seu ciúmes. Sinto o mesmo dele. Ela nos desuniu.


Houve um segundo entre pai e filhos antes que eles o pusessem na masmorra. Fora Devan quem perguntou: — O que você fez, meu pai? Por que Stannis o prendeu? — Sua voz estava mole como quando era pequeno e tentava justificar suas travessuras.


Fora Matthos quem respondera: — Ele possuiu Melisandre, Devan. Stannis acredita que a integridade sexual da Sacerdotisa deve ser mantida. — É isso que ela te diz, filho? Pensou em perguntar. E ela irá parir um novo irmão de vocês. Queria confessar antes que eles o deixassem sozinho, mas não conseguiu, estava envergonhado demais para isto. Matthos tinha razão, ele era culpado de seu próprio destino e pagaria por ele na Patrulha da Noite. Davos embrulhou-se em sonhos vazios.


(…)


Acordou no meio da noite e ela estava do outro lado das grades, o observando. Melisandre, sua amante e mãe de seu filho. Mais uma vez, como se lêsse seus pensamentos, ela falou:

— Davos. Será o nome dele. — E acariciou sua própria barriga.


— Não faça isso, ou Stannis garantirá que criarei este filho sozinho na Muralha. — Ele suplicou, levantando-se e indo de encontro a ela. A feiticeira afastou-se, evitando ser tocada.


— Você não rumará para o Norte agora, meu Herói. Seu lugar é aqui, ao lado da verdadeira Rainha. — Ela explicou, revelando um plano intangível.


Ele não acreditou no que ouvira. De modo que indagou para ter certeza: — Eu vou me casar com Daenerys Targaryen? — Ela acenou positivamente com um olhar enciumado. — Stannis não permitirá. — Ele advertiu. Nunca permitirá. Eu conheço o homem.


Amanhã, a Mãe dos Dragões virá até o Salão do Trono. Então seu teste final começará. Tenha fé, meu Herói. Não me desaponte. — Deu-lhe as costas sem qualquer chance de despedida. Gostaria de ter tocado sua barriga para dar adeus ao único filho que não verei.


(…)


O dia de seu fim chegou mais rápido do que ele gostaria. Seus filhos não voltaram para despedir-se dele e nem a Princesa Shireen apareceu. O sacrifício no fogo parecia ser a nova forma de condenação dos Sete Reinos, pois agora era a vez dele estar no centro da pira. No entanto, haviam algumas diferenças. Não estava amordaçado e nem untado em óleo. Os dragões, agora presos em pilastras, mantinham todos alarmados e encolhidos nos cantos.


O primeiro olhar que ele encontrou, fora de seu Rei, ereto acima dele. Perdoe-me, amigo. Ela fez comigo o que fez contigo. Ao lado dele, sentada no desconfortável trono de mil espadas retorcidas, estava Daenerys Targaryen. Com sua beleza ímpar e real. Ela será a Rainha dos Sete Reinos. Davos pressentiu. Ainda viu o Rei Dothraki, mais civilizado do que imaginava, também o mirando com ansiedade. Parece forte e capaz. A visão dos três o bastou.


Davos abaixou a cabeça para não olhar para seus filhos. Eles irão ver-me gritar. Espero não ouvi-los fazer o mesmo. Manteve a fé até que Melisandre começou sua sentença.


— Servos do Senhor da Luz! Apresento-lhes a verdade de Rh'llor! O homem diante de vocês é honrado e merece um digno ritual de passagem! Perante o Rei que serve e não em uma alcova do Norte. — Alguns gritaram em fervor. Davos não soube dizer quem. — Hoje demonstro-lhes o poder de minha religião. Hoje o futuro começa. Acendam a fogueira.


O Contrabandista quase desmaiou quando ela pontuou. Mas sua consciência manteve-se firme. Preciso ser forte, “mantenha a fé”, ela me disse. A Rainha Pedinte falou em uma língua antiga: — Dracarys. — E os três dragões cuspiram fogo na enorme pilha de troncos abaixo dele. A maior fogueira já feita neste salão. Reconheceu. Eles pararam quando o fogo pegou.


Ao menos, pôde ver que seus carrascos não foram os próprios filhos. Obrigado por poupar minha família disso. Tentou dizer ao seu Rei com um olhar. Ele trajava apenas uma túnica suja e o calor logo começou a esquentar-lhe os pés. Mantenha a fé. Davos dizia a si, já que não tivera direito de uma última palavra a todos.


Suas pernas começaram a ceder e tremer diante da fervura. Ele continha um grito, segurava sua súplica junto de seu fôlego. Mantenha a fé. Olhou para a Sacerdotisa. Ela sorria. Enfim, ele chorou. Chorou para não berrar, chorou para não desistir, chorou para não morrer.


E assim, contido como se morto já estivesse desde que perdeu a liberdade, o Contrabandista faleceu. Seu coração foi o último a parar. Melisandre...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado de toda a fic! Apesar de eu não pensar em continuá-la tão cedo, pois tenho outras para escrever, recomendações são bem-vindas! E críticas também! Responderei a tudo e a todos!