Adrien adentrou em seu próprio quarto, fechando a porta atrás de si e deixando tudo para trás. O som do salto de Nathalie contra o mármore, os resmungos inaudíveis do Gorila, os deveres de casa e mesmo as palavras duras de seu pai. O quarto era seu ambiente pessoal, e ele se recusava ativamente a deixar qualquer uma dessas perturbações o invadirem.

A mochila foi parar em cima da cadeira. Os tênis, por outro lado, descansaram perto da porta. O casaco de Adrien foi parar em algum lugar do vasto piso de seu quarto, e o próprio garoto jogou-se na cama, de costas para o colchão. Plagg fugiu do bolso de seu casaco e afastou-se em silêncio, trocando poucas palavras com Adrien antes de ir para sua própria cama, escondida perto dos livros.

Adrien então pegou seu celular no bolso da calça, desbloqueando-o e ignorando a caixa-postal, indo diretamente para as músicas. Não demorou muito para que o som de violão inundasse o quarto tão grande, varrendo aquela sensação de vazio para longe.


Apesar de ter ficado feliz em te encontrar
Mas óbvio que isso se tornará triste
Na memórias dolorosamente felizes de agora
Eu caminho em frente para o adeus inevitável


O bom-humor de Adrien era algo inegável, todos ao seu redor podiam perceber isso com clareza. Já que, no fim das contas, ele era translúcido demais. Nino comentara sobre seu persistente sorriso durante a aula de biologia, Alya lhe dera um animado tapinha nas costas e até mesmo Marinette – A tão tímida Marinette – Sorrira para ele, seus olhos de céu límpido transbordando gentileza.

“De alguma forma, todos os meus pensamentos voltam pra ela”

Ele percebeu com um sorriso no rosto, voltando sua atenção para a música. O bom humor o tornara escravo da melodia, e ele podia passar horas a fio apenas a ouvindo repetidamente. Entretinha-se com os pequenos detalhes que percebia sempre que a repetia - Uma segunda voz em certas partes, uma pequena batida no fundo - Esse tinha virado seu hobby. Dissecar minuciosamente e descobrir cada segredo da música, até finalmente enjoar-se dela.

E no meio do processo, de alguma forma, sua mente voltou para a menina de olhos azuis.


Para ter mágoas eternas e costuras abertas, e também você
Seria tudo mais feliz se pudesse sorrir e dizer “foi para melhor”
Tudo parece borrar e derreter na frente dos meus olhos
Uma inundação de milagres não seria o suficiente

Pois você chamou o meu nome

— Eu sabia que não estava doido! – Riu consigo mesmo, finalmente percebendo o pequeno coro de vozes que seguia no fundo do refrão, algo que ele não reparara da última vez. Adrien sorriu, satisfeito consigo mesmo e mais uma vez se emergiu na música.

Até que o volume subitamente diminuiu.

Apoiando os cotovelos na cama, ele levantou-se apenas o bastante para pegar o celular e o desbloquear, perguntando-se quem estava mandando mensagens. O rosto de Adrien se iluminou quando ele viu a notificação com a foto da Marinette,  avisando que a mensagem era dela.

E logo, a música começou à tocar novamente.


Está tudo bem se eu chamar o seu nome?