Eric estava pasmo. Uma luz lhe cegou por um momento, mas o que viu depois foi o que lhe aterrorizou: Gina estava totalmente ensanguentada. O mesmo se dizia de sua adversária. O sangue que as cobria era de quem? Tudo ocorreu tão instantaneamente que era impossível dizer.

Ambas as garotas estavam com um olhar frio. Ambas estavam paralisadas. Seria o medo? Mas Gina estava com um olhar feroz até aquele momento. O que poderia ter acontecido que quebrou aquela tensão em tão pouco tempo?

– Bem, bem... - disse uma voz um tanto rouca. - Já podem parar com a brincadeira, minhas crianças.

Aquela idosa entrou pela porta da frente. Quando ela havia saído? Agora Eric pode perceber as runas em seu pulso direito.

– V-Voce...

– Relaxe garoto. - ela disse, cortando a fala do rapaz - Não pretendo machucá-los. Eu já não faço mais parte da Ordem.

– Como? Não faz mais parte?

– Sim. Eu sou uma desertora. - assim que disse isso, as duas jovens "descongelaram". - Você foi imprudente atacando assim do nada, Anninka. Não tenho nada contra voce ter entrado para a Ordem, mas aprenda a ser menos impulsiva.

– Desculpe-me vovó. - disse a garota, desviando o olhar, parecendo um pouco irritada.

– Ah sim, não nos apresentamos. - a velha continuou - Meu nome é Ewa Pollanski, e essa é minha neta, Anninka Pollanski. Também somos magas, assim como você meu jovem Eric.

– Espera - interrompeu o rapaz - , como voce sabe que eu também sou um mago?

– Voce ainda não aprendeu. Mas todos os magos tem um tipo de sinalizador de outros magos.

– Sinalizador? - Anninka questionou.

– Sim, voce também não aprendeu. Os magos tem uma atmosfera diferente ao redor deles. Um mago experiente ou de grandes habilidades pode sentir isso.

– Ok, vocês três estão me confundindo. - interrompeu Gina - Voces estão falando essas coisas de atmosfera, sinalizador, magos experientes, eu to ficando com dor de cabeça aqui!

– Voce não é uma maga. Não precisa prestar atenção nisso minha jovem. - Ewa deu uma pequena tossida antes de voltar a falar - Bem, continuando. Para aprenderem a encontrar uma atmosfera, vocês precisam ser treinados. Minha neta já é minha discípula à alguns anos, mas voce precisa aprender o que sua juventude te impede de conhecer, senhor Verfluster. Gostaria de ser meu discípulo também?

– Antes eu gostaria de saber se podemos confiar em voce. - o rapaz olhou em um ar de seriedade para a senhora - Não pretendo depositar qualquer confiança em alguém suspeito.

– Meu jovem... Se eu quisesse vocês mortos ja teria feito isso assim que entraram aqui.

Ele engoliu em seco. Por um momento percebeu o quão inexperiente era, e o risco que passava por ter aprendido apenas o que um livro antigo o ensinara. Precisava de um mestre para aprender algo de verdade. Se Ewa se oferecia para ser esse mestre, Eric não poderia recusar. Todos os magos que ele encontrava o queriam morto.

– Certo. - concluiu o rapaz - Aceitarei ser seu discípulo. Contanto que prometa que nem você nem sua neta nos atacarão enquanto eu estiver aprendendo.

– Tem minha palavra. E a de minha neta também, não é Anninka?

– O que?! Por que eu preciso concordar com isso?! - questionou a mais jovem. - Meu dever é matar esses três, não posso...

Ewa a encarou de uma forma intimidadora, que apenas ela conhecia o significado sem precisar de palavras. Então, teve de concordar.

– Não se preocupe - disse a idosa - , vocês duelarão enquanto estiverem aprendendo juntos. Agora, venham comigo.

A mesma estendeu suas mãos fechadas em frente ao seu corpo. Quando as abriu, uma névoa tomou conta do lugar, até que eles se viram em uma sala de estar exageradamente grande, com uma forte decoração medieval mesclada com o contemporâneo.

Albert acordara com a mudança de local, com uma tremenda dor na cabeça. Percebeu a mudança de local e logo se levantou em guarda, um tanto desconfiante.

– Calma irmão. Estamos entre colegas.

– Essa garota nos atacou na...

– Eu sei - cortou - , mas estamos numa trégua temporaria. A senhora Ewa será minha mestra e me ensinará melhores magias.

– Entendi. Espera... Cadê meu sabre?!

Todos engoliram em seco. Só naquele momento perceberam que o sabre ficou na cafeteria, encostado na parede quando Albert ficou inconsciente.

– Brincadeira, aqui está - a velha tirou o sabre de dentro de sua manga. Como ela fez isso? - , eu guardei ele sem permissão, já que voce estava desacordado.

– Bem, ja me relaxa meu sabre estar junto de mim. Obrigado... Err...

– Ewa. Ewa Pollanski. Bem, enquanto Eric for meu discípulo, vocês três ficarão dormindo aqui em minha casa. Não se preocupem, temos dois quartos de hóspedes. Minha neta tem um quarto que ela divide com meu outro neto. Ele tem 15 anos, mas é um bom menino. Comam algo, depois lhes mostrarei a casa. A cozinha é na porta à minha esquerda, já temos algumas coisas preparadas. Fiquem à vontade, preciso fazer algo.

Dito isso, a senhora passou pela porta principal da sala, saindo da vista dos garotos. Gina e Anninka não paravam de se encarar como inimigos. Albert estava assistindo aquilo, totalmente confuso.

* * *

Ewa estava demorando muito para voltar, então a missão de apresentar a casa para os três visitantes ficou para Anninka, que não estava nada contente com isso. Em cada quarto de hóspedes, haviam exatamente os mesmos móveis, só mudando um pouco o modo com que estavam organizados. Nos armários estavam roupas que pareciam estar ali para os jovens, como se soubessem que os três ficariam ali. Momentos depois, Ewa retornou.

Gina decidiu tomar banho para relaxar, Albert ficou polindo seu sabre e Eric decidiu ir para a área externa da casa. Todo o terreno era realmente grande, de modo que a casa mais parecia uma mansão. O espaço externo era coberto por grama, sem nada muito estravagante, além de uma árvore grande e uma rocha que enfeitavam o quintal. Mas a área livre era muito maior do que a própria casa.

O garoto percebeu que a grama estava húmida, assim como a terra, dando a entender que havia chovido à pouco. Ele então respirou fundo e tentou relaxar, tanto a mente quanto o corpo. Estendeu a mão direita em frente ao seu corpo, gesticulando suavemente os dedos. Algumas gotas de água começaram a flutuar ao seu redor, começando a reunir mais água e aumentando de tamanho. O rapaz então, estendeu a outra mão à sua frente, aproximando-a da outra, então as gotas se juntaram numa única bolha flutuante, que Eric dividiu em duas, controlando cada uma com uma mão. Fechou os punhos e ambas as esferas cortaram o ar em direção à rocha. Tamanha a força, o objeto arrastou alguns centímetros para trás, além de ter cavado levemente a face virada para Eric.

– Impressionante Verfluster. - Anninka falou atrás do rapaz, fazendo o mesmo se assustar. - Eu demorei uns seis meses para controlar a água desse jeito.

– Não apareça atrás dos outros assim. Você me assustou.

– Não se satisfaz nem com um elogio hein? Francamente.

– Veio fazer o que?

– Não posso ficar observando meu mais novo colega de turma?

– Se voce não tiver a intenção de me matar, pode sim.

– Relaxe, não tenho mais a intenção de te matar. Na verdade estou pensando em deixar a ordem.

– Voce não acabou de entrar?

– Sim, mas uma coisa mudou minha opinião.

– O que?

Anninka agarrou Eric, o puxando para um longo beijo quente, que fez com que o rapaz corasse. Alguns segundos depois ele conseguiu se separar.

– P-Por que voce fez isso?! - indagou.

– Gosto de voce.

– Voce queria me matar até agora!

– Não quero mais. Eu gosto de voce.

A moça o puxou e o beijou novamente, e novamente Eric se afastou, mas caiu no chão após se soltar. Ela não perdeu a oportunidade e se pôs sobre o rapaz para que não escapasse.

– Senhor Eric, possua meu corpo, por fav...

– Sai daqui vadia!!! - Gina gritou dando um soco na cara de Anninka, fazendo ela sair de cima de Eric.

– Gina?! Você não estava tomando banho?! - A outra questionou a ruiva.

– Estava. Não estou mais.

– Então por que está enrolada numa toalha?

– Gosto de não usar roupas.

– Voce só está me atrapalhando com o senhor Eric. - Anninka ameaçou Gina com raios, fazendo-a se afastar do rapaz, que simplesmente não se movia - Agora, por que não vai lá transar com o garoto-sabre?

Dessa vez, a ruiva chutou a cara da outra garota, deixando o queixo da mesma sangrando. Esta se levantou, já enfurecida, lançando três fortes rajadas de fogo contra a ruiva, que se viu obrigada a desviar. Gina estava com sua faca embainhada, presa à coxa, empunhou-a e saltou contra a adversária.

Obrigada a se defender, Anninka invocou uma magia Nix para criar um escudo de gelo, que quase fora atravessado pela faca de Gina. No entanto, a ponta ainda conseguiu rachar e penetrar a magia, fazendo a mesma se desfazer em vários pequenos cristais de gelo.

Assim que a magia foi desfeita, a mais velha tentou contra-atacar com três raios que, se acertassem Gina, provavelmente a deixariam inconsciente. Porém, Eric ainda conseguiu erguer uma pequena parede de terra que defendeu a ruiva do ataque da outra. Então, o rapaz afastou as duas usando uma magia Ventum fraca, apenas para separar a briga.

– Dá pra vocês pararem? - o rapaz disse, de certa forma irritado. - Vamos ter que conviver juntos por um tempo. Se ficarmos brigando, só será pior.

– Tudo bem. - as duas moças assentiram num uníssono.

Então, ambas entraram em casa. Eric ficou um tempo a mais sentado na cama, antes de entrar novamente para se banhar.