POV ANNIE
Trinta e quatro, trinta e cinco, trinta e seis...
Contava meus passos até à escola para distrair minha mente, hoje eu conversaria com Percy sobre Luke. Estava ensaiando as minhas palavras, era algo como “Então Percy, meu ex namorado ressurgiu das trevas”, não seria difícil.
Quarenta e sete, quarenta e oito...
Estava muito ansiosa, muitos diriam que é exagero da minha parte... Só que a simples presença do Luke me deixava nervosa, não de uma forma boa. Eu definitivamente não queria ir para a escola. Não queria conversar com Percy sobre isso.
Cinquenta e nove...
Cada dia que se passava eu gostava mais do Percy, não queria estragar as coisas com ele... Precisava contar, por mais desconfortável que fosse.
Avistei a escola, engolindo em seco atravessei a rua e passei pela porta principal.
Várias pessoas se movimentavam pelos corredores, o barulho de armários fechando e abrindo, passos e gente conversando me distraia. Fui até o meu armário com o objetivo de pegar meu livro de química, a minha primeira aula do dia, aula que eu tinha junto com o Percy. O que eu falaria com ele? Não conseguiria agir como se estivesse tudo bem, mas também não acreditava que aquele era o melhor momento para se ter essa conversa.
Assim que fechei meu armário vi Piper conversando junto com as líderes de torcida, acenei para ela e assim que me viu veio me encontrar.
— Oi! – Ela disse sorrindo e me abraçando forte – Tenho que te contar uma coisa!
— Oi Pipes, que felicidade toda é essa? – Perguntei me desfazendo do abraço
— Vou te atualizar tudo hoje depois da escola, podemos ir ao shopping! O que você acha?
— Pode ser, mas acho que vou ter que conversar com o Percy hoje... Falando nisso, você viu ele por ai?
— Ah sim... – Ela já não sorria mais – Vocês precisam mesmo conversar, nem vai acreditar quem Quiron apresentou como o mais novo membro do Glee ontem.
— Quem?
— O Luke.
Eu a puxei para um canto perto do bebedouro.
— Mas como ele vai participar do Glee? – Perguntei já entrando em desespero - Ele não estuda aqui!
— Ele vai auxiliar o Quiron, agora que está terminando a faculdade vai fazer estágio aqui na escola.
— Ai! Você só pode estar brincando! – Falei passando as mãos pelo cabelo – Quer dizer que vou ter que vê-lo todos os dias?
— Errr... Tirando o final de semana. – Dei um tapa no braço da Piper
— Não brinca com isso! Isso é sério, eu vou surtar!
— Ai Annie, não tem muito o que a gente possa fazer a respeito. Só se você sair do Glee.
A encarei, isso não era nem uma opção.
— Eu adoro o Glee! E não posso deixar o grupo já perto da competição final.
— Mas então o que podemos fazer? Sinceramente a única coisa a seu alcance agora e conversar com o Percy e esperar pra ver onde que tudo isso vai dar.
— Você sabe se ele já chegou?
— Não vi ele hoje, mas acho que ele não vem na aula.
— Por quê?
— Eu o encontrei ontem, longa história... Agora vamos para a sala que o sinal já bateu.
Ela saiu me puxando pelos corredores até o laboratório de química.
POV PIPER
Um vento frio bateu em meu rosto enquanto eu andava ao lado de Grover, meus cabelos voaram para trás e senti os pelos da minha nuca arrepiarem. Passei discretamente a língua sobre meus lábios e percebi que estavam ressecados. O inverno estava vindo com tudo.
— Já estamos chegando. – Grover disse ao perceber que eu estava tremendo – Me desculpe por te trazer a pé até aqui, é tão perto da escola que eu nem considerei o frio.
Hoje de manhã eu jurei de pé junto que nunca mais pegaria carona com Hazel, mas estava tão frio que Fênix, o fusca, me parecia maravilhoso agora.
— Sem problemas. – Olhei com o canto do olho para ele – Mas da próxima vez se você inventar de ir a pé, eu nem saio de casa! – Brinquei
Ele riu e foi então que eu percebi, mesmo estando congelando, meu coração estava aquecido.
— Ah! É logo ali. – Ele apontou para uma lanchonete com cores atrativas, acima da porta estava uma placa contendo as palavras “Snack Bar”. A porta era de vidro e se abriu ao nos aproximarmos.
A lanchonete estava tão quente que não consegui conter um sorriso. Era um lugar meio retro, com um balcão na frente da cozinha e várias cadeiras sob ele, e muitas mesas e poltronas espalhadas por todo canto. Os bancos eram azuis e o chão alternava entre o preto e o branco, espalhadas pelas paredes haviam vários posters, álbuns, fotos de cantores e filmes famosos da década de 60.
Comecei a sentir calor então tirei meu casaco e o pendurei ao lado do de Grover, ele me conduziu até uma mesa e sentamos face a face.
— E ai? O que achou do local? – Ele perguntou com os olhos cheios de expectativa
— Sinceramente? – Fiz um pouco de suspense – Eu adorei! Sou apaixonada por coisas antigas e esse lugar tem uma vibe tão legal.
— Que bom. – Ele deu um sorriso e em um ato inesperado segurou minha mão por cima da mesa, apertando-a levemente – Eu adoro aqui, prometi a mim mesmo que quando encontrasse uma garota especial nosso primeiro encontro seria aqui.
Meu coração bateu mais forte e minhas bochechas coraram, não de uma maneira como acontecia com... Bem, outros garotos. Também não de uma maneira positiva, olhei com o canto dos olhos sua mão sobre a minha. Aquilo tudo era meio esquisito, uma pontinha de culpa me espetou ao constatar que eu não o via como aquele alguém especial, “é porque você não deu uma chance para ele ainda” observou minha consciência. Tirei minha mão da sua e ajeitei com ela alguns fios rebeldes atrás da orelha, para disfarçar meu constrangimento perguntei:
— O que você vai pedir?
Grover começou a observar o cardápio e sugeriu um hambúrguer artesanal que, de acordo com ele, seria o melhor que eu comeria em toda minha vida. Acabei concordando e depois de fazer nossos pedidos ele perguntou:
— Me conte um pouco sobre você, Piper. Tem algum sonho?
Sorri ao responder.
— Tantos! Mas o maior é conhecer Paris, parece tão encantador.
— Ah é? E o que você gostaria de ver lá?
— Tanta coisa... Mas acho que principalmente o Louvre, sou apaixonada por arte.
— É mesmo? Eu também gosto muito.
— Legal, eu amo todo o tipo de arte. Amo pinturas, música, teatro... Paris parece ser simplesmente tão ideal.
— Eu não poderia concordar mais, gosto muito de arte também, principalmente música. É extraordinário como uma melodia mexe com os sentimentos das pessoas.
Continuamos a conversar, cada vez mais descobrindo muitas coisas em comum. Estava tudo perfeito, até a última pessoa que eu queria ver aparecer ali.