Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 3
Capítulo 3 - Cabin


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal.
Em primeiro lugar quero me desculpar pelo atraso. Bem, estou com problemas com a internet.
Preparem-se: este é o capítulo que mexe com a curiosidade de vocês.
Espero que gostem.



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O mês de Setembro acabou, mas infelizmente as aulas não. Estavam apenas no começo. Estávamos perto do Dia de Cristovão Colombo. E todos iriamos para casa no dia 13, já que é um feriado nacional. Com exceção de Katniss que disse que passaria o feriado na escola por escolha própria.

– O que vai fazer no Dia de Cristovão Colombo? – me pergunta ela quando estamos a caminho da aula de Biologia.

– Sei lá, só vou pra casa do meu tio. Por que você não vai pra sua?

Ela dá de ombros.

– Não tem o que fazer lá. Além do mais, é uma hora de viagem até Leesburg. E vou ter que voltar no outro dia. Acho que não vale a pena.

Pra minha sorte, pra ir até meu tio dava só uma meia hora de viagem. Eu acho que valeria a pena mesmo se fosse uma hora. Esta escola pode ser comparada a uma prisão. E eu vou gostar muito de passar nem que seja um dia fora dos muros desta escola.

– Você que sabe. – falei por fim.

Depois de uma aula mais que entediante voltamos aos dormitórios. Havia esquecido o celular na cômoda. A primeira coisa que vejo é uma mensagem do meu tio:

Peeta, sinto muito, não poderei te buscar no Dia de Cristovão Colombo, mas liguei para a escola e soube que não há problemas em alunos ficarem aí nos feriados. Preciso viajar para Atlantic Beach. Você sabe bem os motivos. PS.: Tentei ligar para você, mas você não atendeu. Abraço e bom feriado.

Tive vontade de atirar a porcaria do celular na parede. Tem tantos dias para ver as coisas em Atlantic Beach. Tem que ser logo no dia que sairia da droga da escola? Bem, eu preciso me acalmar e ver as coisas pelo lado do tio Phil. Ele tem um emprego fixo aqui, um ótimo emprego aliás. O feriado deve ter sido o único dia disponível para ele ver as coisas em Atlantic Beach. Pobre tio Phil, ficou tudo em suas costas. Me acalmei e olhei no meu celular. Seis chamadas não atendidas que eram, obviamente, dele.

Mas ainda me sentia frustrado. Eu queria muito sair um pouco da escola. Me joguei na cama e afundei minha cara no travesseiro. Gale chegou enquanto eu pensava no que fazer em uma escola vazia em pleno feriado.

– O que foi, cara? – pergunta ele atirando a mochila na cama e tirando os fones dos ouvidos.

– Nada. – falei virando de barriga pra cima. – Onde você estava?

– Você parece a minha mãe perguntando isso. – ri Gale – Eu estava com a Katniss.

– Vai passar o feriado fora da escola? – pergunto.

– Vou sim. Vou pra casa ter um dia de descanso destas paredes mofas. E você?

– Eu iria, mas meu tio não vai mais me buscar.

– Nossa! Que merda, hein! Sinto muito por você. Vai ficar você e a Katniss na escola amanhã. – ele pega uma toalha – Vou tomar um banho antes de ir para meu “curso” de basquete.

Não dei bola para o que ele disse logo em seguida. Pois havia me esquecido completamente que Katniss ficaria na escola amanhã também. Peguei meu celular rapidamente e liguei para ela.

Alô. – ouvi sua voz.

– Oi Katniss. É o Peeta. Houve uma mudança de planos e meu tio vai viajar amanhã. Vou passar o feriado na escola também. – falei tudo de uma vez.

Oh! Legal! Ao menos não vou ficar sozinha! Nós podemos pegar uma das cabanas emprestada. O que você acha?

– Claro, ótimo.

Bem, os pais vem buscar os alunos hoje, lá pelas oito da noite. Me encontra no portão que eu vou estar lá para me despedir do Gale e tal.

Por que se despedir? No outro dia eles se viriam de novo mesmo.

– Ok.

Ok, vejo você lá. – e ela desliga o telefone.

Pego minha mochila e coloco algumas coisas como pijama – que normalmente não uso, mas como provavelmente a Katniss fique comigo na mesma cabana, eu não vou dormir sem a camisa, só para o caso de ela ficar desconfortável – escova de dentes, toalhas, entre outras coisas. Não ficou pesado. Adiantei meus deveres de casa já que não havia mais nada para se fazer e Gale tinha ido para a aula de basquete. Eu não tinha minha aula de culinária hoje. Só tinha nas quintas-feiras, e hoje era terça.

Durmo o resto do dia por não ter mais o que fazer. Até meu despertador tocar quinze pras oito como eu havia programado. Me levanto e tomo um banho, visto uma roupa quente por ter visto que a temperatura caiu. Pego a mochila e rumo a caminho do portão da escola para encontrar Katniss. O portão estava lotado de pessoas e a rua invadida pelos carros que buzinavam. Não encontrei Katniss, mas ela me encontrou.

– Vamos. – diz ela me puxando pelo braço. Atravessamos pelo pessoal até encontrarmos Gale encostado em um carro. Katniss me solta e corre até ele, Gale a segura e a levanta pra cima a abraçando. – Tchau.

– Tchau, minha gata. – diz Gale antes de beijar ela.

Como não quero olhar o romance entre Katniss e Gale, observo os carros que se aproximam do portão. Todos parecem ser muito caros. Fato que mostra que nesta escola, só estuda quem tem condições. Sorte meu tio ser advogado e ganhar um ótimo salário. Também quero ser advogado, mas isto não vem ao caso agora.

– Vou sentir sua falta. – ouço Katniss dizer.

– Eu também vou. – responde Gale antes de se virar para mim ainda abraçando Katniss – Ei, Peeta! Cuide bem da minha garota.

– Pode deixar. – sorrio pra ele.

Ele deixa um último beijo em Katniss e entra no carro. Quando o carro arranca, Katniss vem ao meu encontro.

– Então vamos. – diz ela e eu apenas a sigo.

Penso no que deve ter de tão legal em ficar na escola em um feriado. E, sinceramente, não entendo porque a Katniss prefere ficar aqui a ir para casa. Sim, eu sei que ela já falou. Mas mesmo se levasse duas horas e meia pra chegar em casa, eu não escolheria ficar na escola. Só estou aqui agora por falta de escolha.

Entramos no prédio A.

– O que vamos fazer aqui? – pergunto enquanto a sigo pelos corredores.

– Vamos pegar a chave da cabana na secretaria. Ou você acha que eles deixam as cabanas abertas? – quando paramos na frente da porta da secretaria, Katniss segura meu braço. – Eu preciso que você faça cara de triste.

– O quê? – indago confuso.

– Cara de triste, como se alguém tivesse colocado a sua autoestima tão pra baixo, que ela foi parar no meio da Terra.

Eu tentei fazer a cara de triste que ela me pediu.

– Assim? – pergunto.

– Nossa! Agora cheguei a ficar com pena de você. Continue com esta cara.

Entramos na secretaria e a mesma senhora que me atendeu no primeiro dia de aula estava lá.

– Olá queridos. Como posso ajudar? - pergunta ela animadamente.

– Oi. – disse Katniss – Nós vamos ficar na escola neste feriado e queremos a chave de uma das cabanas.

– Claro. Serão duas cabanas, certo? – diz ela se abaixando atrás do balcão.

Katniss rapidamente sussurrou no meu ouvido:

– Deixe os ombros caírem e abaixe a cabeça. – ela logo volta a falar com a senhora quando eu a obedeço – Na verdade ele vai ficar comigo hoje.

– Desculpa querida, mas você sabe que meninos e meninas não podem ficar na mesma cabana. – diz a secretária.

– Eu sei, mas é que o Peeta, meu amigo aqui, ele está muito mal. – diz Katniss com uma voz dramática. Ela se debruça no balcão e sussurra como se não quisesse que eu ouvisse – Os avós dele morreram em um acidente de carro faz dois dias e ele não pôde ir ao enterro. Meu namorado Gale, é colega de quarto dele, e disse que ele passou o dia com a cabeça afundada no travesseiro chorando. Eu não quero deixar ele sozinho neste estado. Eu sou a única amiga que ele tem e que não saiu no feriado. – para dar mais ênfase ao que Katniss disse, balancei meus ombros e fingi estar chorando. Katniss passou a mão em minhas costas – Está tudo bem, Peeta. Está tudo bem.

– Oh querido. Não chore. – diz a secretária. – Isto vai passar. Tudo bem, os dois ficam na mesma cabana. Só preciso que assinem isto aqui. Você pode assinar pelo Peeta, querida?

– Posso sim. – responde Katniss assinando o papel.

– Ótimo! Aqui está a chave. Bom feriado e meus pêsames.

Eu sacudo a cabeça afirmando e saio da secretaria ainda de cabeça baixa.

– Você foi genial. – afirma Katniss quando estamos do lado de fora do prédio – Aquela ceninha de choro e tal. Tiro meu chapéu pra você. Você daria um belo de um ator.

– E você daria uma bela de uma vigarista com seu dom de mentir. – sorrio pra ela.

– É algo que faz parte de mim.

Caminhamos até chegar em um lugar que parecia uma pequena floresta. Cursamos por uma trilha e chegamos nas cabanas. Eram todas de madeira. E não eram muitas. Tinha umas sete ou oito no máximo. Sigo Katniss até subirmos os degraus da sacada de uma delas e Katniss abre a porta. Eu olho ao redor. É algo bem simples e pequeno. A sala é dividida com a cozinha e há um corredor que deve dar acesso aos quartos.

– Legal. – afirmo.

– Gostou? Vem, vou mostrar pra você.

Katniss me mostra os três pequenos quartos que tem. Cada um com dois beliches. O banheiro é a última porta do corredor.

– O que vamos fazer primeiro? – pergunto quando coloco minha mochila em cima do beliche. Katniss vai dormir no quarto ao lado.

– Eles sempre abastecem as cabanas com comida. Mas é tudo cru. Temos que cozinhar. Bem, nós podemos preparar um jantar, mas sou péssima cozinheira.

– Não se preocupe. Eu cozinho bem. – sorrio.

– Você cozinha? – pergunta ela rindo.

– Sim, eu cozinho. Vamos ver o que tem por aqui.

Vamos até a cozinha. Abro a geladeira me dando de cara com refrigerante, leite, manteiga, entre outras coisas. Nos armários há pacotes de arroz, massa, entre outras várias coisas também.

– O que vai ser hoje, Chef Mellark? – pergunta Katniss.

– Ah, conseguiu decorar meu segundo nome. – Katniss sempre me chamava de qualquer coisa, menos de Mellark.

– Um dia conseguiria. – ri ela.

– Bem, o que acha de um macarrão à carbonada? – pergunto.

– O quê? Nunca comi este tipo de macarrão.

– Bem, então será a sua primeira vez. Só temos que ver se tem tudo aqui.

– Vai falando os ingredientes que eu procuro.

– Tudo bem. Deixe-me lembrar... Hã... Bacon.

Katniss acha tudo o que eu precisava para fazer a comida e coloca sobre a mesa de granizo.

– Ok, mas eu quero ajudar também. Eu quero cozinhar. Então diga o que eu faço.

– Tudo bem. Você sabe fritar bacon?

– Sei.

– Então frite o bacon até ficar bem crocante.

– Sim, Chef Mellark. – diz Katniss batendo continência.

Eu apenas rio.

Enquanto Katniss prepara o bacon eu cozinho o macarrão.

– Fritou bem isso? – pergunto a ela quando a vejo desligando o fogão.

– Mas é claro. Bem, o que eu faço agora?

– Pegue a vasilha onde vamos pôr o macarrão. – ela corre até os armários e pega uma grande vasilha de vidro transparente – Pega um garfo e bata os ovos aí dentro.

– Ok. – ela faz o que eu digo. – E agora?

– Agora tempera com sal e pimenta. Só não coloca muita pimenta, a menos que queira sua boca pegando fogo.

– Eu com certeza não quero isto. – ri ela e tempera os ovos.

– Agora junta o queijo ralado.

Eu escorro o macarrão na peneira e no momento em que iria colocar na vasilha Katniss pergunta:

– Mas você vai colocar o macarrão aí? Os ovos estão crus.

– O calor da massa cozinha os ovos. – retruco e viro a massa dentro da vasilha e começo a misturar. Katniss olha para comida com receio. – Eu faço este macarrão já faz anos. Confia em mim.

Depois de eu colocar o bacon espalhado por cima do macarrão, nós nos servimos e comemos.

– Uau! Isto está incrível. Você deveria abrir um restaurante. – elogia Katniss.

– Não. Eu quero ser advogado. O que você quer ser?

– Não sei bem. Eu queria trabalhar em algo com crianças. Eu adoro crianças. – sorri ela.

– Notei. – rio. – Tem irmãos?

– É. – diz Katniss evasivamente e volta a mexer na massa com o garfo. Acho que isto é um assunto que a incomoda.

Mudo de assunto para tirar o clima pesado que ficou.

– Parece que Gale e você vão se casar daqui a pouco. Não esqueçam de me convidar.

Ela ri.

– Não. Gale não é um cara de compromisso. Acho que eu sou o relacionamento mais longo que ele já teve.

– Jura? Quanto tempo?

– Seis meses.

– E por que você namora ele se ele não é um cara de compromisso?

– Porque eu também não sou uma garota de compromisso. – responde ela com um dar de ombros. – Aliás, sinto que vou levar um pé na bunda daqui a pouco.

Terminamos de comer e após terminar de lavar a louça, decidimos ir dormir. Já que nós conversamos mais do que jantamos.

Eu estava no meio de um sonho muito estranho, onde eu estava me afogando, mas, veja só, eu não estava dentro da água. Como posso me afogar fora da água? No meio do sonho sou sacudido por alguém e acabo acordando.

– Katniss? – murmuro com a voz rouca e vejo uma silhueta feminina ao meu lado.

O quarto não está no total escuro, pois a lua cheia lá fora me permite uma certa iluminação.

Katniss contorce as mãos uma na outra como se estivesse meio envergonhada.

– Eu tive um pesadelo. Será que tem algum problema se eu dormir aí com você? – sussurra. Noto sua voz embargada. Mas é claro que é pelo sono.

O pesadelo foi tão ruim ao ponto de ela ter que vir aqui? Não respondo por um minuto, sem saber se o que eu ouvi era verdade, ou se eu estava apenas sonhando ainda.

– Você quer dormir aqui comigo? – pergunto colocando o dedo no colchão.

– Olha, se tiver algum problema, eu entendo. – ela diz.

– Não. Tudo bem. Sem problema. – me apresso em dizer.

Eu chego mais para o lado e dou espaço para ela deitar. Ela se ajeita ao meu lado e ambos ficamos de barriga para cima. Noto que ela virou a cabeça para o lado em algum momento e ficou me encarando. Até que o corpo dela vira-se na mesma direção e ela apoia a cabeça em meu ombro. Sinto água no meu ombro – já que decidi dormir sem a camisa do pijama – e descubro rapidamente que ela está chorando. Ela estava com a voz embargada porque estava chorando, não era por causa do sono.

Eu não digo nada, pois não sei o que dizer. Mas tenho vontade de perguntar. “O que você tem, garota?” “Por que está chorando?” “Qual foi o seu pesadelo?”

– Desculpa. – murmura ela.

Desculpa? Mas desculpar o quê? Por estar chorando? Por ter me acordado? Por estar com a cabeça apoiada no meu ombro?

Não sei o que fazer. Não sei se devo abraçá-la ou continuar igual a uma estátua como estou.

– Desculpar o quê? – sussurro, não sabendo como lidar com esta situação.

– Eu não sei muito bem. Deve ser estranho pra você ser acordado por uma garota, ela dizer pra você que teve um pesadelo e logo em seguida ela perguntar se teria algum problema dividir a cama.

– Pensei que houvesse uma primeira vez pra tudo. – remedo a frase que ela me disse na noite que fugimos da escola. Ela apenas ri. – Eu também tenho pesadelos. Está tudo bem.

O que não era mentira. Desde que fui morar com meu tio, tive vários pesadelos sobre o que aconteceu nas férias.

– E sobre o que são os seus pesadelos? – indaga Katniss

– Sobre tudo. – respondo em um fio de voz.

Katniss se apoia no cotovelo e olha para o meu rosto que foi clareado pela luz da lua cheia que entrou pela janela.

– Sobre tudo? – indaga a garota.

– Sobre minha vida. Sobre coisas que aconteceram na minha vida. – explico melhor.

– Então não sou a única. – sussurra ela mais para si mesma do que para mim.

Katniss olha para um ponto distante, pensando em algo.

– Você... Hã... Você quer me contar o seu pesadelo? – pergunto em dúvida.

Não posso mentir. Estou curioso para saber o que teve no pesadelo dela para fazê-la chorar. Eu tenho meus pesadelos. Eles podem me fazer ter uma noite mal dormida, mas nunca chorei por causa deles.

– Não. Eu prefiro esquecer. – ouço sua resposta.

– Então não sou o único. – falo com um meio sorriso.

Ela solta uma breve risada baixa.

– Você é uma pessoa legal, Peeta. – diz ela olhando em meus olhos.

– Você também é. – devolvo.

Ficamos alguns minutos presos um no olhar do outro. Até que meu corpo perdeu a ligação com o cérebro. Me coloco sobre meus cotovelos e me aproximo de Katniss a beijando nos lábios. Ela não se afasta, muito pelo contrário, retribui o beijo.

Os lábios dela eram macios e estavam quentes. O gosto ficou um pouco salgado, devido a algumas lágrimas dela que escorriam pelo seu rosto e terminava onde nossos lábios se uniram.

Eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Só sabia que estava gostando. Estava gostando tanto que me atrevi a colocar a mão em seu rosto e afastar alguns fios castanhos de seu cabelo que estavam se juntando ao nosso beijo.

Puxei seu rosto devagar e voltei a deitar de costas no colchão, Katniss me acompanhou e apoiou as mãos em meu peito nu. Ela se afastou rapidamente, alguns centímetros. Temi que ela tenha se dado conta do que estava fazendo. E que havia se lembrado que tinha um namorado. Mas não. Descobri imediatamente que era só uma pausa para fazer o ar voltar aos pulmões. Ela logo voltou seus lábios ao encontro dos meus. As lágrimas já não existiam mais.

Tomei a liberdade de tomar suas costas com minhas mãos e acariciá-la de cima a baixo. Katniss colocou uma de suas pernas ao redor de minha cintura e eu acabei sentando com ela em meu colo. Segurei a cintura dela, enquanto ela agarrava meus cabelos. Abracei-a, trazendo para mais perto do meu corpo e foi neste instante que ela parou tudo. Separou nossos lábios, e senti que suas mãos não estavam mais em minha nuca. Ela me olhou e eu fiquei confuso, deixei minhas mãos que a apertavam em volta do seu corpo, afrouxarem até cair.

– Acho melhor a gente dormir. – ela sussurra sem mudar a expressão indecifrável em seu rosto.

– Tudo bem. – respondo.

Mas não estava tudo bem. Eu a queria. Eu queria Katniss para mim. Nem que fosse só por esta noite. Eu estava pronto para tê-la e…. Deus! Como eu estava a desejando naquele momento. Mas tudo acabou quando ela sugeriu que nós voltássemos a dormir.

Katniss sai de cima de mim e se deita no colchão, se virando de costas para mim. Eu a observo ainda confuso. Tento imaginar o que seu passou na cabeça dela para parar o que estávamos fazendo. Porque eu, sem dúvida, não iria parar tão cedo assim.

Sem escolha alguma no momento, me deito, também de costas pra ela. Ela está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe de mim. E eu queria muito que ela tivesse apenas dormido com a cabeça apoiada em meu ombro. Eu não deveria ter começado uma conversa. Devia apenas ter dito “Tudo bem” quando ela se desculpou. Eu não deveria tê-la beijado. Mas foi como um ímã que me atraiu diretamente para os lábios dela. Eu não tive controle sobre este tipo de magnetismo.

Acabo dormindo mais uma vez, sem sonhos estranhos, nem garotas me acordando aos prantos. Apenas durmo.

Quando me viro de manhã na cama ao acordar, Katniss havia sumido. Então levanto, trocando de roupa e me direcionando a cozinha.

Ela estava lá. Sentada a mesa lendo seu livro favorito enquanto bebia uma xícara de café preto. Ela tira os olhos de seu livro e sorri quando me vê.

– Bom dia. – diz ela – Eu fiz algumas torradas, estão ali no balcão.

– Ok, obrigado.

Pego as torradas e preparo um café com leite para mim. Eu odeio café preto puro. Acho simplesmente horrível e não entendo como as pessoas suportam beber isto.

Katniss volta a atenção para seu livro. Ficamos no mais absoluto silêncio até alguém bater a porta.

– É a fiscal. – ouço uma voz feminina no outro lado da porta.

Katniss rapidamente se levanta.

– Droga, droga, droga. – diz ela e me puxa. – JÁ VAI!

– O que é isso?

– É a fiscal. Ela vem para ver se não estamos escondendo drogas ou bebidas. E, principalmente, ver se garotas e garotos não estão dividindo a mesma cabana.

– O que vamos fazer? – pergunto começando a entrar em pânico.

– Deita na cama e finja que está chorando. Abra o berreiro. Lembra: seus avós morreram faz três dias hoje e você não foi ao enterro.

– Ok. – falo me jogando na cama.

Fico lá algum tempo, até que ouço a voz da fiscal se aproximar. Então abraço o travesseiro e afundo minha cabeça nele enquanto tremo os ombros como fiz ontem.

– Ora, mas você está dividindo a cabana com um garoto! – exclama a fiscal. – Ele está chorando?

– Os avós dele morreram em um acidente de carro faz três dias e ele não foi ao enterro. Eu não quis deixar ele sozinho, e ele não quis ir para casa. Estou tentando fazê-lo sair desta cama desde ontem, mas ele simplesmente fica ali chorando. Sinto muito, eu sei que é contra as normas da escola, mas ele está péssimo.

– É, estou vendo. – diz a fiscal enquanto ouço as gavetas da cômoda se abrirem. Ela deve estar a procura de drogas. – Tudo bem, terá esta exceção, mas só porque estou vendo com meus próprios olhos o quão mal ele está.

– Oh, obrigada. – diz Katniss.

– Vocês não esconderam nada aqui. Muito bem. Obrigada e bom feriado. E meus pêsames.

Eu me viro para cima e Katniss vem ao quarto.

– Ela já foi, pode sair daí.

Passamos o dia na cabana. Jogamos conversa fora. Fizemos o almoço. Era entediante. Talvez porque não tenha televisão por aqui.

Katniss não falou nada sobre o que aconteceu na noite passada, e eu não seria o primeiro a abrir o assunto. Foi como se aquilo não tivesse acontecido. Ela apenas agiu como sempre age desde que a conheci. Sendo a garota engraçada que arranca facilmente um sorriso de você.

Durante a tarde alguém bate na porta novamente.

– É a vice-diretora Coin. – diz a voz no outro lado da porta.

– Só falta a fiscal ter avisado que você está comigo aqui, e ela não ter acreditado na historinha. – diz Katniss enquanto nos dirigimos a porta. Katniss abre a porta.

– Olá Katniss. É com você mesma que preciso falar. – diz a vice-diretora.

– Ah, não! Eu juro que não fiz nada desta vez. – se defende Katniss.

– Eu sei. Ah, Peeta. Eu sinto muito pelos seus avós. – diz a mulher.

– Eu também. – falo abaixando a cabeça e parecendo triste.

– Onde está o diretor Snow? – pergunta Katniss.

– Em casa.

– O que você quer de mim então?

– Katniss... Seu pai está aqui.

– Meu... Pai? – Katniss pergunta não parecendo acreditar.

– Sim, ele quer ver você.

– Diz a ele que eu não quero vê-lo. – diz Katniss rispidamente.

O que será que há entre Katniss e o pai dela?

– Sinto muito, mas ele disse que não irá embora, enquanto você não for vê-lo.

– Pode me dar cinco minutos? – pede Katniss.

– Claro, ele está na minha sala. Esperaremos você lá. – a vice Coin vira as costas e começa a caminhar.

Katniss fecha a porta, caminha até a cozinha e apoia os braços na mesa, abaixando a cabeça.

Eu, obviamente, não entendo nada, já que Katniss sempre é reservada, e não conheço quase nada de sua vida.

Ela levanta a cabeça e olha para mim.

– Vai comigo. – ela não pede, ela suplica. Como se eu pudesse ser algum tipo de salvação para ela.

– Hã? – pergunto confuso.

– Por favor. Por favor, Peeta. Vai comigo. Eu não quero ir sozinha. Fica comigo lá. Por favor.

Ela estava a ponto de chorar. Enquanto eu não entendia nada. Seria tão ruim assim uma visita do pai? Me vejo sem escolha. E não consegui negar seu pedido a vendo quase aos prantos novamente.

Era tão estranho. Porque há, aproximadamente, três minutos, ela estava feliz, sorrindo, rindo e contando histórias. Agora ela está olhando para mim, apavorada e implorando que eu a acompanhasse até a sala da vice-diretora. Só para ver o pai.

Não consigo dizer nada, então apenas balanço a cabeça para cima e para baixo, aceitando sua súplica.

Katniss caminha excessivamente devagar pelo corredor, como se quisesse evitar ao máximo o encontro. Eu não digo nada, pois estou perdido nesta situação toda. Apenas caminho ao seu lado.

Ela para na frente da porta da vice-diretora Coin e respira fundo diversas vezes antes de abrir a porta lentamente e nós entrarmos para dentro da sala.

Eu fecho a porta já que ela fica estática quando vê o homem que provavelmente é o pai dela.

Um homem da minha altura, com cabelos e olhos idênticos aos de Katniss sorri para a garota. A vice-diretora se encontra em um canto da sala.

– Eu vou deixar vocês sozinhos. – diz ela e caminha até a porta, se retirando da sala.

Eu estava prestes a segui-la, mas Katniss segura meu braço.

– Por favor. – ela suplica.

Eu apenas fecho a porta que foi deixada aberta.

Fico um pouco mais atrás de Katniss e nós dois observamos o homem que fica atrás da mesa.

– Querida. – diz o homem dando a volta na mesa.

Katniss se afasta dois passos.

– Não chega perto de mim. – pede ela no mesmo tom que pediu para eu acompanhá-la até ali.

O homem para no mesmo instante.

– Minha filha, não está mais me reconhecendo? Sou eu, seu pai. – diz o homem.

– O que faz aqui? – pergunta Katniss.

– Vim ver você.

– Você estava preso. – sibila Katniss.

O que?! Preso?! O pai dela estava preso?

– Na verdade ainda estou. – ele puxa a calça para cima, mostrando um aparelho preso no tornozelo – Por isso estou com este rastreador aqui. Mas, hoje é feriado, consegui uma liberação só para ver você.

– O que você quer?

– Querida, vim me desculpar. Por tudo. Por tudo que fiz. Por tudo...

– Acha mesmo que vou perdoar você? – Katniss o corta.

– Eu espero que sim. – sussurra o homem.

– Não. Você não espera não. Você só está com um maldito peso na consciência. Você sabe que eu nunca vou perdoá-lo pelo que fez. E, sinceramente, espero que você se afogue na própria culpa.

– Katniss... – fala o homem se aproximando dois passos.

– FICA LONGE DE MIM, BEN! – grita Katniss se assustando com a aproximação.

– Ben?! – pergunta o homem. – O que aconteceu com o “papai”?

– Eu também queria saber. – diz Katniss. – Se você veio até aqui em busca do meu perdão, saiba que perdeu seu tempo.

– Filha... Katniss... Tudo bem, talvez eu tenha criado esperanças demais achando que viria aqui e conseguiria seu perdão. Não posso negar. Você está absolutamente certa. O que eu fiz não tem perdão. Mas só quero que você saiba que eu estou profundamente arrependido do que fiz.

– Arrependimento não vai desfazer o que você fez. – diz Katniss entredentes.

– Meu bem, entenda: eu estava bêbado.

– VOCÊ SEMPRE ESTAVA BÊBADO. ESTE É O PROBLEMA! – grita Katniss saindo de si e deixando as lágrimas caírem em seu rosto.

– Ok, ok. Você está certa. Eu era um maldito bebum. – o homem olha para cima fechando os olhos e respira fundo – Tudo bem, eu vou embora. Estou feliz por apenas ter tido a chance de vê-la depois de todo este tempo. Você está tão diferente, está tão bonita. – ele olha para mim, como se só agora notasse minha presença – É seu namorado?

– Não. – diz ela sem olhar para ele.

– Você tem namorado?

– Tenho. Mas acho que isto não é de seu interesse.

– Bem, seu namorado é um garoto de sorte. Espero que ele não seja um idiota como eu fui. – um momento de silêncio se faz e o homem olha para o relógio na parede – Bem, meu tempo está acabando. Os policiais virão me buscar em breve. Eles estão lá no portão. Quero apenas um abraço de despedida.

O homem se aproxima de Katniss. Mas eu juro que nunca havia visto Katniss reagir desta forma. Ela simplesmente começou a gritar quando Ben ficou próximo demais.

– NÃO TOQUE EM MIM! NÃO TOQUE EM MIM! POR FAVOR!

Eu fico assustado pois nunca a vi desta forma. Ela correu até um canto da sala e escorregou com as costas na parede até chegar ao chão. Abraçou as próprias pernas e começou a murmurar coisas que eu não entendia.

O homem estacionou onde estava e pude ver uma única lágrima escorrer no rosto dele, enquanto seu rosto, que até então guardava uma imagem calma, se contorceu até mostrar uma face de dor.

– Eu sinto muito. – diz o homem sussurrando – Eu sinto muito mesmo. Eu amo você, minha filha. Me desculpe.

Katniss parece não notar o que ele fala. Ela continua abraçada aos joelhos, olhando para um ponto fixo no chão e murmurando alguma coisa. Eu fico parado, sem saber o que fazer.

A vice-diretora entra na sala. Ela olha para Katniss encolhida no chão e suspira.

– Peeta, você pode voltar para a cabana? – pede ela. – Katniss já irá para lá.

– Claro. – digo já me retirando, completamente zonzo pelo que aconteceu.

Caminho pelos corredores tentando entender o que houve. Mas não havia como entender. Eu tinha apenas uma pergunta na minha mente: o que o pai da Katniss fez?

A imagem da Katniss abraçada aos próprios joelhos e murmurando não saía da minha cabeça. Cheguei na cabana e sentei no sofá envelhecido pensando no que houve com ela. Eu sabia que ela não contaria. Ela nunca conta nada sobre sua vida.

Lembrei do que ela falou pra mim na Hagerstown City Park: “Eu também tenho problemas com a minha família.” Mas nunca pensei que fossem problemas sérios a ponto de ela surtar com a proximidade do pai dela.

Ouço o barulho da porta e me levanto, vendo Katniss passar por ela e fechá-la novamente. Ela não olha para mim, apenas vai para a cozinha e senta na mesa, olhando para o centro da mesa como se algo muito entediante estivesse passando ali e ela não pudesse tirar os olhos. Eu me aproximo mais. Eu não faço a mínima ideia se devo me aproximar. Aliás, não faço a mínima ideia do que fazer.

Paro a alguns metros dela e fico a observando. Ela desvia o olhar da mesa e olha para mim. Ela levanta abruptamente e caminha rapidamente até meu encontro.

O que ela vai fazer? Vai me dar um tapa? Não. Ela simplesmente me abraça. Eu a abraço de volta.

– Obrigada. – ela sussurra.

– De nada. – sussurro de volta.

Ela me solta e caminha pela cozinha. Noto que ela está preparando um chá.

– Quer chá? – ela pergunta no mesmo tom em que estávamos conversando antes da vice-diretora bater na porta.

– Quero. – respondo confuso.

Então eu notei. Percebi o que ela faz. Vi o que ela faz no momento em que ela preparava o chá e cantarolava alguma música.

Ela camufla tudo. Sua vida, seus sentimentos. Tudo. Ela empurra tudo para debaixo do tapete. E esconde com um sorriso falso no rosto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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