Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 1
Capítulo 1 - New Life


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente linda!
Lembram que prometi o ano todo um Universo Alternativo de Jogos Vorazes? Então, prometi que só postaria quando terminasse de escrever toda a história. Bem, eu pensei que terminaria de escrever tudo em, sei lá, três meses. Mas levei o ano todo (devido aos imprevistos da vida).
Então, decidi dar este presente de Natal e Ano Novo para vocês.
Não terminei de escrever toda a história ainda, mas falta apenas o Epílogo que está em andamento.
Espero que gostem bastante da história da mesma forma que eu gostei de escrever para vocês.
Lembretes:
— Postagem todo domingo.
— O título não tem, necessariamente, algo a ver com a imagem da capa, mas fiquem ligados, a imagem da capa sempre irá conter um pequeno spoiler de algo que acontecerá no capítulo.
Boa leitura!



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Me sinto perdido. Andando nos corredores desta escola que é nova pra mim, mas que parece tão velha para outros. Com suas paredes desgastadas e mofas. Não é em vão que o clima aqui está gelado. Não faço a mínima ideia de para onde estou indo. Penso em seguir os outros. Mas “os outros” estão seguindo por diversos caminhos. Que maldição! Esqueci meu papel com os horários e salas na casa do tio Phil. Penso em seguir o conselho do meu novo colega de quarto. Bem, acho que eu que sou novo já que, segundo Gale, ele estuda aqui desde o primeiro ano do fundamental. Ele disse para passar na secretaria e pegar meu horário. Não tenho escolha já que não lembro nem sequer a primeira aula que tenho. Paro alguém que mexia no armário. Não usávamos armários na minha antiga escola. Aliás, não morávamos na escola na minha antiga escola.

– Oi, desculpa incomodar. Pode me dizer onde é a secretaria? – pergunto para um garoto de cabelos ruivos e cacheados.

O garoto olha pra mim e sorri.

– Claro! Siga este mesmo corredor, vire a esquerda e caminhe até achar uma porta escrito “Secretaria”. Acho que é a última porta que tem no corredor.

– Ok, obrigado. – digo.

– De nada, cara. – responde ele quando eu já tinha virado as costas e seguido sua orientação.

Os corredores daqui são longos. Me distraio com memórias do que aconteceu em minhas férias neste ano. Lembro o fato que me trouxe para a casa de tio Phil e, consequentemente, para esta escola. Mas logo tento tirar isto da cabeça. Já cansei de chorar pelo que aconteceu. Faz outono agora. Me aproximo da janela que fica no final do corredor vendo uma árvore sem folhas. Apenas seus galhos se movimentando com o vento forte que faz lá fora. Como sinto falta da temperatura de Atlantic Beach. Como sinto falta das praias. Falta dos meus pais e dos meus irmãos. Como queria poder voltar ao tempo. Mas não posso. Se pudesse, não teria passado o resto das férias em Frederick, localizada no estado de Maryland, aqui nos Estados Unidos. Muito menos ter vindo fazer o último ano do Ensino Médio na Hagerstown High School, localizada na cidade que leva o nome da escola, no mesmo estado, Maryland. E que fica a 35 minutos da casa do tio Phil. Não queria vir para uma escola interna, mas meu tio está muito atarefado este ano. Como não estaria depois de tudo que aconteceu? Ele não viu escolha que não fosse me colocar em uma escola que fica em outra cidade. Já que não há escolas internas em Frederick. Eu disse a ele que poderia ficar em uma escola de lá, eu não daria trabalho. Mas ele não quis. Acho que sou muito parecido com meu pai.

Chego a porta escrito “Secretaria” e abro me dirigindo para um balcão onde há uma senhora que deve ter seus sessenta anos, usando um coque em sua cabeça e óculos. Ela olha para mim, já que sou o único a estar aqui.

– Pois não, querido? Como posso ajudar? – diz ela sorrindo.

– Eu preciso dos meus horários. – afirmo.

– Claro! Qual o seu nome? – fala ela sentando em uma cadeira, onde há um computador ligado em cima da mesa.

– Peeta Mellark. – respondo.

Ela digita algo, acho que é meu nome. Ouço o barulho da impressora e ela logo me estende a folha.

– Aqui. Sua primeira aula é Química, sala 23. Fica no segundo andar deste prédio. – diz ela.

– Obrigado. Sabe me dizer se eu tenho algum armário? – pergunto ao lembrar que não ganhei chave alguma.

– Claro que tem. Você é novo aqui?

– Sou.

– Bem, deixe me ver a folha novamente. – eu estendo a folha para ela. – Seu armário é o 59. A chave você pega comigo. – ela coloca a folha sobre o balcão e ouço barulhos de chaves e logo uma chave está em minhas mãos. – Seu armário fica ao lado da sala, se não me engano.

– Ok, obrigado. Posso perguntar algo? – questiono.

– Claro.

Ela gosta de falar “claro” para tudo.

– Por que usamos armários se podemos guardar os livros nos nossos quartos?

– Bem, querido. A escola é grande. Não vai querer andar por aí com livros nas mãos. Imagina ter que ir para a aula de Educação Física com o livro de Matemática?

– Mas então era só colocar os armários perto do ginásio.

– Bem pensado, mas infelizmente, não sou eu que faço as regras, apenas as ponho em prática.

– Entendo. Obrigado novamente.

– De nada e boa aula. – ela diz antes de eu sair da pequena sala.

Ando pelos corredores a procura de uma escada que me leve ao segundo andar e pensando nos armários inúteis desta escola. Achando completamente desnecessário. Há muita gente nos corredores ainda e não ouvi nenhum sinal. Concluo que as aulas não começaram ainda. Agradeço o conselho do meu tio de sair mais cedo da cama no primeiro dia. Acho uma escada e subo até ler na parede escrito com tinta branca: 2° andar. Embaixo há uma seta desenhada à esquerda escrito: salas 1 à 20. E outra a direita escrito: salas 21 à 40. Minha sala é a 23 então sigo para a direta e vejo alguns armários lembrando que eu tinha um armário. Um que provavelmente não usaria. Procuro o armário com o número 59 e acho com facilidade apesar da grande quantidade que há. Abro e não há nada. Não sei muito bem porque abri. Não trouxe nada além de um caderno e o estojo dentro da mochila. Fecho novamente colocando a chave no bolso da calça. Caminho até achar a sala 23. Entro e noto que não há professor nenhum. Apenas alguns alunos conversando entre si sentados em cima das mesas que eram organizadas em duplas. Não havia como movê-las do lugar já que estavam presas ao chão e eram feitas de cimento e cobertas por azulejos. Alguns tubos de ensaio e outros materiais de química estavam em uma caixa de papelão no canto das mesas. Me sentei em uma delas, no meio de uma fila ao lado da janela. Observei meus novos colegas mas nenhum deles olhava para mim. Olho a sala vendo vários cartazes de Tabela Periódica penduradas nas paredes. Noto que há duas portas na sala e me pergunto se todas as salas teriam duas portas. Uma porta na parede ao lado direito do quadro e outra nos fundos da sala de frente ao quadro.

Continuo a olhar para os meus colegas tentando decorar seus rostos. Noto uma delas olhando para mim. Cabelos castanhos curtos além de uma franja cobrindo sua testa. Ela sorri e pisca um dos olhos para mim. Eu desvio o olhar. Sou um cara tímido. As pessoas quando olham pra mim não pensam isso. Já que sou alto e tenho porte de jogador de futebol americano. Mas sou o oposto do que pareço. Mas sei que meu cabelo loiro chama a atenção e meus olhos azuis deixam as garotas perdidas. Então, muitas das vezes, a timidez não me atrapalha em nada.

Ouço o sinal e em pouco tempo um professor de cabelos pretos entra na sala. A garota que me olhava senta na última fila. Ninguém senta ao meu lado, mas isso era algo que eu já esperava. A garota-observadora, como a apelidei secretamente, também ficou sozinha.

– Ok, classe. Chega! Calem a boca. – nunca vi um professor dizer, literalmente, para os alunos calarem a boca, quase ri com isso, mas ninguém riu. Notei que isto era algo comum deste professor e imaginei que tipos de palavrões ele deve falar. – Bem-vindos a mais um ano de Química. Eu sei bem que vocês odeiam esta matéria, mas tenham ânimo. É o último ano de vocês. Temos algum aluno novo conosco? – levantei a mão por impulso já que a expressão “aluno novo” estava quase virando meu segundo nome. – Olha! Temos alguém. Nome?

– Peeta. – respondo.

– Levante-se, Peeta. A classe quer conhecê-lo. – me levantei e logo me sentei. – Seja bem vindo, Peeta. Sou o professor Johnson. Espero que se adapte bem ao Hagerstown High School e principalmente as minhas aulas.

– Obrigado. – respondo.

O professor faz um singelo sinal com a cabeça e vai ao quadro escrever algo. O garoto sentado a minha frente se vira.

– Este professor é considerado o favorito da escola. Bem, quer dizer, do Ensino Médio. Ele é o único que deixou a matéria de Química interessante. Mas cuidado que ele é meio maluco. – diz o garoto de cabelos iguais aos meus.

– Eu notei isto quando ele nos mandou calar a boca. – respondo com um meio sorriso.

Meu colega ri.

– Bela observação. Aliás, meu nome e Pit.

– Prazer, Pit. – ele volta a se virar pra frente.

Abro meu caderno copiando o que o professor colocou no quadro. Uma lista de tudo que aprenderíamos este ano. Noto um barulho na porta detrás e me viro, vendo uma garota de longos cabelos castanhos, com exceção de uma mecha rosa no lado. Ela fecha a porta com cuidado como se não quisesse ser notada. Usava uma calça jeans maltratada, tênis all-star preto e uma regata vermelha acompanhada de um colete jeans. Ela anda pé por pé na sala, não querendo que o professor a visse chegando atrasada. Não sei o motivo. Mas ela parecia incrivelmente linda. Ela para ao lado da garota-observadora e coloca a mochila devagar na mesa. Quando ela ia se sentar, ouço a voz do professor:

– Atrasada logo no primeiro dia, senhorita Everdeen?

Ela suspira e volto a ficar ereta.

– Tenho que manter a tradição, não é senhor Johnson? – diz ela com um sorriso sarcástico nos lábios.

– Pensei que ao menos no último ano teria a honra de receber você no horário.

Uou! Está garota me parece estar ligada a palavra problema.

– Não daria esta honra a você.

– Sente-se, Katniss. – diz ele antes de virar-se novamente ao quadro.

Katniss senta e logo começa a papear baixinho com a garota-observadora. Droga! Eu não consigo tirar meus olhos dela. Mas me esforcei e me concentrei novamente no que o senhor Johnson escrevia no quadro. Ele para de escrever e senta-se à mesa, fazendo a chamada. Logo descubro o nome da garota-observadora: Johanna Mason. Então o professor começa um longo blá-blá-blá sobre Química. Mas para quando nota que Katniss e Johanna falam alto demais.

– Katniss! – chama o professor.

– Sim? – ela responde.

– Por favor, pegue suas coisas e sente-se ao lado de Peeta.

Ela vai sentar ao meu lado?

– Ahhh, mas o papo aqui está interessante.

– E está atrapalhando a aula. Vamos! Sente-se ao lado de Peeta.

– Quem é Peeta? – diz ela se levantando e colocando uma alça da mochila no ombro.

– Aquele é Peeta. – instrui Senhor Johnson apontando para mim.

– Não posso.

– Por que não?

– Eu não o conheço. Minha mãe falou pra não dar atenção a desconhecidos.

A classe ri. Mais uma palavra para colocar junto a Katniss: graça.

– Mas você o conheceria se não tivesse vindo atrasada. Agora anda ou irá para a detenção logo no primeiro dia de aula.

Ela não pensa duas vezes ao vir ao meu encontro e sentar ao meu lado. O professor continua seu monologo que fez metade da sala abrir a boca de sono. Às vezes baixava discretamente meus olhos para o caderno da garota morena ao meu lado, vendo ela fazer rabiscos na folha.

– Bem pessoal. Falei o que tinha pra falar. Temos dez minutos de aula ainda. Conversem entre si. Mas não saiam do lugar. – fala o professor.

– Meu nome é Katniss. – diz a garota soltando a caneta e me olhando nos olhos. Os olhos dela são cinza. São lindos olhos cinza.

– Eu sou Peeta. – respondo bobamente sem conseguir desviar meus olhos dos dela.

– Desculpa se o ofendi mais atrás. É que a conversa estava realmente interessante com a Johanna.

– Eu notei. – soltei uma breve risada e ela sorriu.

– Você é novo aqui, não é?

– Sou.

– De onde você é?

– Eu morava em Atlantic Beach. – suspiro não querendo lembrar o que aconteceu lá.

– Carolina do Norte? – pergunta ela para se certificar.

– É.

– E o que o trouxe para cá?

– 3 horas de avião me trouxeram para cá. – falei irônico tentando desviar a atenção dela do motivo que me trouxe para cá.

Ela ri em resposta mas persiste.

– Me diz, estou curiosa.

– Um acontecimento me trouxe de Atlantic Beach, para a casa do meu tio em Frederick, e de Frederick para Hagerstown.

– Você não quer me contar, não é?

Ela notou. É claro que notou. Eu também notaria uma resposta tão evasiva assim. Mas eu realmente não queria voltar ao passado e relatar o que houve para eu vir para cá. Seria muita pressão.

– É. – suspiro em derrota.

– Tudo bem. Tem coisas que gostamos de guardar em uma caixinha e nunca tirar. - Compreensão. Outra palavra que a descreve. – Posso ao menos saber por que você não estudou em uma escola em Frederick?

– Meu tio está muito ocupado este ano e não há escolas internas em Frederick. – respondo.

– Entendo. E a solução foi jogar você neste hospício mais conhecido como Hagerstown High School.

– É.

– Minha mãe sempre quis que eu estudasse em uma escola interna, por isso me arrastou para cá. Estudo aqui a vida toda.

– Nossa! Onde ela mora? – pergunto.

– Leesburg. Fica na Virgínia. – explica ela. – Mas não é longe. Dá uma hora de carro até lá. – o sinal toca e nos levantamos. – Qual sua próxima aula?

– Deixe-me ver. – digo pegando a folha de horários que coloquei dentro do meu caderno – Hã... Literatura.

– Sortudo. A sala fica neste mesmo corredor. Minha próxima aula é Biologia. Quarto andar. Até mais, Peeta.

– Tchau. – digo sorrindo enquanto ela se afasta.

Fico um tempo ali parado até notar que tinha que me mover até a próxima aula. Notei que ela não olhou a folha de horários para ver a próxima aula. Será que ela decorou os horários?

Me movi para a outra sala onde havia uma professora muito bonita dando aula. Ela fez o mesmo que o de Química. Um monologo sobre o conteúdo. Esta sala não tinha classes em duplas. O terceiro período foi ocupado por Matemática, algo que eu realmente sou bom. Katniss estava na minha sala novamente. Depois deste período seria o intervalo, conforme me dizia a folha que peguei na secretaria. Quando o sinal tocou recolhi minhas coisas devagar e fui ao meu armário colocar tudo lá dentro para não levar para o refeitório. Alguém cutuca meu ombro enquanto eu trancava a porta.

– Tem com quem ficar no intervalo? – Katniss pergunta imediatamente quando me viro.

Não tenho por que mentir. Sou novo aqui e a única pessoa com quem conversei foi a secretária e Katniss. Tenho duas escolhas: ou digo que não e a acompanho, ou digo que sim e fico sozinho.

– Não. – escolho a primeira.

– Quer sentar comigo e meus amigos?

– Pode ser. – falo dando de ombros.

Sigo a garota até outro prédio.

Será que eu poderia confiar em Katniss Everdeen? Em meia manhã que passei com ela já consegui três tópicos da sua personalidade: problemática, engraçada e compreensiva. Estas palavras, definitivamente, não foram feitas para ocupar a mesma frase. Muito menos a mesma pessoa. Mas parece que Katniss é algum tipo de exceção. Quando saímos do prédio em que estávamos Katniss começa a falar:

– Aposto que você está bem perdido aqui, não é?

– Na verdade, estou completamente perdido. Esta escola é enorme.

– É, eu sei. Vou te fazer um breve resumo da escola: o prédio A é onde se localiza as salas de aula. Todas elas a partir do segundo andar. No primeiro andar tem duas bibliotecas, a secretaria, sala de professores, sala do diretor, duas salas para provas, entre outras coisas desnecessárias como a sala dos faxineiros.

– Por que tem salas de provas? – pergunto confuso.

– Para ninguém colar nas provas de Química. Já que as classes são em dupla.

– Oh, entendi.

– Bem. – continuou Katniss – no prédio B tem o refeitório. Então não é bem um prédio, mas chamamos de prédio do mesmo jeito. É um lugar bem grande. No prédio C tem os dormitórios das meninas e no prédio D tem os dormitórios dos meninos. Tem mais um prédio E com dormitórios, mas são poucas as pessoas que usam aqueles quartos. Fica longe demais do prédio A. Deixe-me ver o que mais... Há! Atrás do prédio A tem as quadras de esportes, além do ginásio que é fechado. Mais lá pro fundo tem uma espécie de floresta ou trilha, no meio daquilo tem algumas cabanas.

– Pra quê? – por que diabos teriam cabanas em uma escola?

– É para aqueles que não querem passar os feriados em casa. Aí, você pode passar aqui mesmo. Pode ficar no seu quarto ou ir para uma das cabanas. É legal, eu já fui em vários feriados. Acho que não tem mais nada.

– E você, tipo, mora aqui desde o primeiro ano do fundamental?

Ela ri como se eu tivesse dito alguma bobagem e minhas bochechas esquentam de vergonha.

– Claro que não, Peeta. Só podemos ser internos a partir do primeiro ano do Ensino Médio.

– Ok. – respondo sem saber mais o que falar.

Entramos no prédio B e vejo o tamanho do lugar. É realmente grande, mas há tanta gente aqui que parece pequeno. Não tinha notado o número de alunos que estudam aqui. Katniss e eu entramos em uma fila. Ela pega uma bandeja de cor bege e me alcança uma. Isto eu sei fazer. Fazia isto na minha antiga escola. Pegava a bandeja e colocava o que queria. Assim que nos servimos, Katniss para procurando alguém.

– Ah! Eles estão na rua. – sussurra ela pra si mesma. – Vamos, Peeta.

Caminhamos até chegar em outra porta que nos dá acesso à rua. Há várias mesas por lá também. Várias pessoas acenam para Katniss de uma das mesas.

– KATNISS! AQUI! – me vejo surpreso quando noto que a pessoa que gritou é meu colega de quarto: Gale.

Andamos até o grupo. Katniss coloca a bandeja dela sobre a mesa e fico outra vez surpreso quando ela se estica até Gale e lhe beija os lábios.

Oh, Deus! Ela tem namorado! E o namorado dela é meu colega de quarto.

Eu já devia imaginar isto. Como uma garota tão bonita quanto ela não teria um namorado?

Por algum motivo, me senti imensamente decepcionado. E um pouco irritado. É possível sentir ciúmes de alguém que mal conhecemos? Não, não é possível. Só estou com a mente confusa por causa das minhas férias. É tudo coisa do meu psicológico.

Sento ao lado de Katniss tentando espantar a surpresa de ter a visto beijando Gale. Ela olha pra mim e sorri, logo depois olha para todos na mesa.

– Gente, este é o Peeta. Ele é novo na escola. O convidei para sentar conosco.

– Eu já o conheço. – fala Gale – Ele é meu colega de quarto.

– O que houve com o Julian? – pergunta Johanna, a garota que me olhava na sala de Química.

– Ele saiu da escola. – responde Gale.

– Enfim... – interrompe Katniss – Peeta, estas são Annie, Johanna e Madge. – ela aponta para as meninas que acenam e sorriem para mim, ela logo aponta para os garotos – Estes são Gale, que você já conhece, e Finnick.

– Oi, cara. Prazer. – diz Finnick.

– O prazer é meu. – retribuo.

– Onde está Cato e Clove? – pergunta Katniss.

– Devem estar namorando pelos cantos. – fala Johanna em um tom desaprovador.

– Johanna! – exclama Annie.

Sim, eu sou ótimo em guardar nomes e rostos.

– É que eu tenho inveja, ok? Todos por aí namorando e eu aqui, segurando vela.

– Você vai achar alguém. – consola Finnick. Johanna sorri em sua direção – Alguém que seja tão pirado quanto você. – complementa o garoto com risadas.

– Palhaço. – fala Johanna jogando uma colher de plástico em Finnick.

O almoço segue tranquilo e conversamos sobre as férias. Madge me pergunta de onde vim e outras coisas que não queria falar. Mas Katniss desvia a atenção da conversa, notando o meu desconforto. Notei que ela também não falou muito durante a conversa, só quando lhe dirigiam uma pergunta ou quando precisava mudar o foco da conversa pelo meu desconforto em falar da minha vida atual.

Será que ela também guardava segredos sobre sua vida? Não perguntaria nada a ela. Ela me fez o favor de não insistir quando notou que eu a estava enrolando com a pergunta sobre os motivos de eu vir para Hagerstown. Vou retribuir o favor da mesma maneira. Além do fato de eu ser praticamente um desconhecido pra ela. Por que ela contaria a vida dela para um desconhecido?

– Então pessoal, qual curso extracurricular vocês vão fazer este ano? – pergunta Finnick.

– Como é que é? – perguntei perdido.

– Ah, você não sabe. – surpreende-se Finnick – Bem, é o seguinte: todos os anos, temos direito, na real é obrigação. Reformulando a frase: todos os anos somos obrigados a escolher um curso extracurricular para fazer o ano todo. Você não pode trocar de curso até o ano terminar, então é melhor pensar bem antes de escolher a dedo. Além disso, vale nota nas outras matérias. Então você é obrigado a ir.

– Este curso me safou de rodar no ano passado. – suspira Gale.

– E quais cursos que tem? – pergunto mais interessado.

– São poucos. – afirma Katniss – Tem construção com madeira, culinária, armas, basquete, futebol, artes cênicas, artes plásticas, música, dança, fotografia, e acho que é só.

– É marcenaria, e não “construção com madeira”. – argumenta Johanna.

– Tanto faz. Qual você vai escolher, Peeta? – pergunta Katniss.

Paro para pensar. Marcenaria com certeza não. Cortaria meus dedos com uma daquelas máquinas e odiava a fuligem da madeira. Principalmente quando grudava no meu corpo. Armas nem pensar. Jurei a mim mesmo que nunca pegaria em uma. Sou muito bom com basquete, mas fico pensando em ter que ir para esta aula em dias frios ou chuvosos. Não seria legal. O mesmo vale para o futebol. Artes cênicas, nem pensar! Não com a minha timidez. Artes plásticas é praticamente desenhos, gravuras, montagens, esculturas. Posso desenhar no meu caderno sem sair do meu quarto. Música, também não. Timidez me impedindo outra vez. Dança proibida pelo mesmo motivo. Fotografia nunca me chamou a atenção. O que me sobrou foi culinária.

Sei cozinhar e isto me garantiria alguns pontos a mais no trimestre com facilidade. Minha mãe possuía uma padaria e meu ensinou muitas coisas. Mas não quero pensar nisto agora. Escolhi meu curso extracurricular.

– Culinária. – respondi com um leve sorriso no rosto.

– Ah! Garoto esperto! Sabe que só tem garotas lá, não é? Hmm, saquei você. – afirma Finnick.

Apenas rio, mas na verdade não havia pensado nas garotas, eu realmente gosto de cozinhar, mas não pensei que fosse o único da escola.

– Legal! – diz Katniss – E você, Madge?

– Fotografia.

– Johanna?

– Marcenaria, é claro. Existe outra coisa que eu amo fazer?

– Annie?

– Vou fazer artes cênicas este ano, já que fiz artes plásticas no ano passado e não deu muito certo. Tem que ter dom.

– Finnick?

– Ia continuar nas armas, estava adorando atirar facas com a Clove, mas este ano vou para o basquete junto com o Gale.

– Bem, acho que nem preciso perguntar qual curso você vai escolher, Gale. – suspira Katniss.

– Não, você já descobriu. E você, gata? Qual vai ser? – sorri Gale.

Por que o fato de Gale chamar Katniss de “gata” me deixou furioso? O que há comigo? Estou ficando louco? Doente? Tudo culpa do que aconteceu nas férias! Só pode ser.

– Armas. – sussurra Katniss.

– Claro que seria armas. Falei que ela não ficaria muito no curso de música! – exclama Johanna.

– Fazer o quê? Nasci pra arco e flecha. – ri Katniss.

Ouvimos o sinal que dizia que era hora de voltar para nossas aulas. Só então noto que deixei o papel de horários dentro do caderno, que por um acaso deixei dentro do armário. Maldição! De novo estou sem a folha, se bem que teria que passar lá de qualquer forma e buscar minhas coisas. Caminhamos juntos até o prédio A e todos se despediram de mim enquanto subiam para o terceiro andar. Busquei meu material e vi a próxima aula e sala. Me direcionei a ela. Subindo até o quarto andar. Havia um quinto andar no prédio com a placa: “Cursos extracurriculares. Inscrições até dia 5 de Outubro” Isso me dava até duas semanas para decidir qual curso escolheria, mas como já havia escolhido, passaria ali depois das aulas.

Aula de Biologia. Não era uma das minhas favoritas. Quem foi o inútil e desocupado que criou tantos nomes para as partes das células? E para que separar as plantas com nomes quase impossíveis de dizer e muito menos de escrever? Gale estava naquela sala. Mas foi o mesmo de antes. Professor me apresentando, escrevendo conteúdos no quadro e fazendo um discurso sobre a matéria enquanto metade da sala abria a boca de sono e tédio.

Depois de mais duas aulas, somos dispensados para nossos dormitórios. O que seria nossa casa até o fim do ano. Já estava subindo o quinto andar para me inscrever no curso de culinária, quando Gale pergunta:

– Vai fazer o quê?

– Vou me inscrever no curso. Você não vai? – indago.

– Não sei bem se vou querer continuar no basquete este ano. Vou decidir ainda. Vejo você no quarto então.

– Falou. – viro as costas e subo os degraus.

No fim do corredor há duas pessoas atrás de uma mesa. Me direciono a elas, já que são as únicas que vejo.

– Sim? – diz uma mulher.

– Quero me inscrever no curso de culinária. – respondo.

– Oh, um garoto vai cozinhar este ano. – surpreende-se o homem ao lado da mulher. Ele pega uma prancheta com uma folha e me entrega juntamente com uma caneta. Ele aponta para a porta ao lado – Entre ali e preencha o formulário.

Obedeci, entrando em uma sala cheia de materiais de madeira e ferramentas. Marcenaria, logo pensei. Sentei na classe mais próxima e comecei a preencher o formulário.

Nome, idade, data de nascimento…. Pra que tantas coisas? Não seria mais simples só anotar o nome da pessoa. Não sei que diferença vai fazer o número da minha identidade no formulário.

Esta escola é meio maluca. E eu sou uma pessoa certa demais pra conseguir me adaptar aqui. Apesar de parecer por fora, não sou nada igual a um cara descolado, que anda por aí como se fosse o tal. Pegando várias garotas por semana, jogando esporte por exibição e se afundando nos estudos pela popularidade. Sou o oposto. Sou bom em basquete, não posso negar. Mas sou muito concentrado nos estudos, não deixo de fazer um maldito dever de casa sequer, fico na minha e não tento ser o centro das atenções, além de ser tímido muitas vezes. Sou o clássico nerd que nasceu no corpo errado. Em vez de baixinho, magrinho, óculos de armação preta e andando enquanto olha para baixo, sou alto, loiro, não sou magro e nem gordo, além de ter um corpo atlético, não uso óculos com exceção dos óculos de sol, e sempre ando olhando para frente, não para os meus pés. Isto prova o quanto os filmes de Hollywood são falsos em alguns pontos.

Termino o formulário que não tinha fim. O que culinária tem a ver com o meu programa preferido de televisão?

Saio da sala e entrego a prancheta para a moça.

– Obrigada, sua sala será aquela última lá no outro lado do corredor. – o corredor era tão grande que eu mal podia enxergar a porta do outro lado – O curso começa no dia 10 de Outubro.

Dei um leve sorriso em reposta e me virei descendo os cinco andares de escadaria.

Caminhei tirando meu casaco, vendo que o tempo havia mudado bruscamente e estava mais quente no lado de fora. Caminhei até meu dormitório enquanto observava o que havia ao meu redor. Havia muitas árvores nesta escola. Era quase possível se perder no meio delas. Fico me perguntando o tempo que deve ter custado para plantar cada uma, crescer, além de construir esta escola inteira.

Chego ao meu dormitório e vejo Gale deitado na cama de barriga pra cima enquanto seus fones de ouvido estavam tão altos que eu poderia ter ouvido atrás da porta. Ele nota a minha chegada e tira os fones sorrindo pra mim.

– Peeta! Você não tem nada pra fazer hoje a noite, não é? – pergunta ele pra mim.

– Não! – respondo distraidamente, atirando minha mochila na cama e sentando na borda enquanto tirava meus tênis.

– Ótimo! Vamos sair hoje. Você, eu, Finnick, Cato e as meninas.

Vamos sair? Como assim vamos sair? Li todo o regulamento da escola antes de vir e estava bem claro em letras maiúsculas que não era permitido sair da escola sem permissão.

– Vocês conseguiram permissão? – pergunto inocentemente.

Gale gargalha como se eu tivesse contado a piada mais engraçada dos últimos tempos.

– É claro que não! – responde ele.

– Então como sairemos? Vamos escondidos?

– Katniss sempre dá seu jeito. Ela nos ensinou a sair da escola sem sermos notados.

Eu sabia que a Katniss era problema. O tipo de pessoa que não respeita nenhuma mínima regra que seja. Mas alguma coisa me atraia a ela. Eu queria muito descobrir o que era.

– Não há câmeras? – pregunto receoso.

– Estas câmeras são mais velhas que a minha vó, cara! Elas não são ligadas há anos. – olho para a janela – Não vai me dizer que tem medo de ser pego?

– Não! É claro que não!

Mas na verdade o medo que eu sentia era palpável. E se eu fosse pego? Com certeza seria expulso da escola. Mas Gale parece tão confiante e seguro! Não deve ser a primeira vez que eles saem escondidos, já que estão na escola ainda.

– Então você vai? – pergunta ele com tom desafiador.

– É claro que vou!

Eu sei muito bem que não deveria ir. Mas é difícil mudar de cidade quando sua vida vira de cabeça pra baixo. Além de estar em uma escola nova. Consegui fazer amigos logo no primeiro dia, quando eu pensava que ficaria sozinho no refeitório. E tem mais a Katniss Everdeen! Tinha algo nela que me atraia como um ímã e eu queria muito descobrir o que era. Mesmo sabendo que já tinha um cara com suas garras enfiadas nela. Não poderia perder algo que consegui com tanta facilidade. E daí se eu fosse expulso? Já não estava gostando da escola mesmo. Isto até que viria a calhar.

– Vamos sair bem tarde, quando todos já estiverem dormindo, para não haver problemas. – afirma Gale.

– Ok. – repondo pegando minha toalha e indo para o banheiro tomar uma chuveirada.

“Que comece a aventura.” Pensei comigo mesmo quando fechei a porta do banheiro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.No próximo domingo tem mais um capítulo.Comentários, elogios, reclamações... Não se acanhem!PS.: Esta história também está disponível no Spirit.Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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