Uma doce história escrita por Janedoe


Capítulo 1
Viva uma história de amor




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Tenho quase certeza de que a vida de todos nós é marcada por diversas fases, fases que ocasionalmente passam mas que acabam nos mudando permanentemente, afinal nem tudo é deixado pra trás, sempre há algo disso que levamos conosco.

Eu, como qualquer mortal , não sou diferente e a fase de que mais me envergonho aconteceu a três anos atrás, na época eu tinha 13 anos e era completamente obcecada pela cultura asiática. Não tenho absolutamente nada contra os fãs da cultura asiática , mas certas coisas que eu fazia me envergonham profundamente, prefiro não entrar em detalhes.

Minha mais nova descoberta eram os vocaloids e J-idols, em poucas semanas eu já estava "por dentro" de todas as novidades, acompanhava diversos cantores, tinha posters, banners e um cartão de memória lotado de com músicas em japonês (confesso que não sabia a tradução de metade dessas músicas).

Era julho e eu estava de férias, havia passado o dia inteiro no computador conversando com minhas amigas por uma rede social qualquer enquanto esperava o lançamento da música nova de minha banda favorita, era a sexta vez que minha mãe batia na porta do quarto e mandava eu desligar o computador e sair pra falar com meus primos e a sexta vez que eu fingia não ouvir. Quando finalmente o mv saiu eu mal pude controlar minha empolgação, estava em três redes sociais ao mesmo tempo falando com diversas pessoas e postando textos cheios de empolgação com caps lock ativado e o coração acelerado .

Faltavam 30 segundos pro final do video quando a propaganda apareceu no canto inferior do player de video : " Viva uma história de amor" dizia ela, não, não me chamou atenção , eu não estava interessada naquilo quando podia ver o meu ídolo cantando sua nova música mas simplesmente aconteceu de ao tentar fechar o anuncio ser redirecionada para a página do jogo.

Como já havia visto o mv e não tinha nada melhor pra fazer coloquei a música novamente (mas em segundo plano ) e fui ver do que se tratava o tal jogo e de primeira eu já me vi empolgada com ele, parecia algo saído de um shoujo e eu podia fazer minhas próprias escolhas ! Não seria dessas protagonistas bobinhas que não aproveitam as oportunidades e ficam por aí chorando por amor.

O primeiro dia, a primeira decepção, meus pa's acabaram e eu mal podia esperar pra jogar novamente e foi assim que meu vicio começou. No fim das férias quando as aulas voltaram eu fiz propaganda do jogo para todas as meninas da sala - até mesmo pra alguns meninos - pedia crédito de celular pra minha mãe com intuito de comprar pontos de ação e dinheiro e tinha uma conta para cada paquera, era o inicio de uma nova fase na minha vida : A fase da docete viciada.

Nos primeiros meses minhas amigas me acompanharam no entusiasmo mas com o passar do tempo elas deixaram o jogo de lado afirmando que era demasiado infantil para elas e riam quando eu falava sobre amor doce, mas eu não estava pronta pra largar meus paqueras, não ainda , então eu me juntava ao grupo, fazia chacota de quem jogasse a sério e dizia jogar apenas porque achava o jogo engraçado, dessa forma os anos passaram , eu completei meus doces 16 anos e minha doce história começou.

Era final de tarde e estávamos em dezembro, um temporal caía lá fora e em casa estávamos apenas eu e minha melhor amiga Diana, ao contrário de mim Diana nunca gostou de amor doce nem da cultura asiática ou o que fosse, ela era um pouco enjoada de tudo e perdia o interesse nas coisas facilmente o que era o par perfeito pra mim a "viciada".

Naquela tarde os lindos cabelos dourados de diana estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava um vestido de algodão apesar de todos os meus pedidos para que ela usasse algo mais quente pra não adoecer, ela revirava eu estojo de maquiagem (presente dela) enquanto falava de um garoto particularmente irritante que conhecera a pouco tempo e que não parava de incomodá-la.

-[...] e você sabe o que ele fez? - perguntou ela exaltada sem me dar tempo para responder - Ele se declarou pra mim, no meio do refeitório, na hora do almoço, com todos olhando.. eu só queria enfiar minha cabeça em um buraco e morrer de uma vez - gemeu ela dramaticamente antes de começar a aplicar o delineador .

-Você é tão exagerada! Não é pra tanto, deveria dizer logo pro garoto que não gosta dele e dar um fim nisso tudo - murmurei ligando o computador.

- Não é tão simples assim, alguém como você não entenderia ... - deixou escapar tapando a boca com as mão com uma expressão de arrependimento.

-Alguém como eu? - perguntei magoada - Sem vida social? Estranha ? Viciada? Nerd?

-Normal - respondeu ela - Pare de falar mal de si mesma! Esse é um hábito horrível, você sabe que não é nenhuma dessas coisas e se diz esperando que alguém a conforte e elogie você é uma pessoa insegura que não merece minha amizade - repreendeu ela seriamente se jogando na cama ao meu lado e beijando minha bochecha como uma criança levada pedindo desculpas a mãe, coisa que sempre derretia meu coração... ela era adorável.

-Como você pode ser tão odiosa e encantadora ao mesmo tempo sua tiranazinha ? - brinquei

-É apenas meu charme natural, a razão do meu governo de maldades continuar de pé e dos meus súditos me amarem apesar de eu ser uma pessoa horrível - Confessou em tom de zombaria - Por falar em súditos eu preciso ir pra casa, me arrumar , há muito o que fazer , súditos pra agradar e festas pra comparecer!

-Você vai pra uma festa nesse temporal? Tem mesmo que ir ?

-Sem minha vida social eu sequer tenho uma vida, querida, além do mais o temporal está apenas sobre essa cidade horrorosa e a festa é na cidade vizinha, não vai ser um problema - tranquilizou-me se levantando da cama.

-Não me convence, mas como não posso te impedir e muito menos tenho vontade de ir... leve um guarda chuva por precaução, não largue seu copo e se largar não beba dele, leve o spray de pimenta que eu te dei, não use drogas, procure não engravidar, quando acabar vá direto pra casa e não esqueça de levar uma toalha... sempre leve uma toalha.

-Sim capitã! Tudo anotado, até amanhã ... ou talvez depois não sei até que horas vou dormir - despediu-se fechando a porta atrás de si quando saiu.

E finalmente eu estava a sós com meu computador, comecei checando emails e depois de apagar uma pilha de notificações de redes sociais, apagar spams e colocar os emails importantes em uma pasta separada pra ver mais tarde digitei o link da minha perdição , amordoce.com, eu havia economizado pontos de ação por um mês inteiro e pretendia passar a noite jogando desfrutando de cada texto aproveitando cada aparição dos personagens e tentando não me irritar com as missões repetitivas.

Depois de fazer o login fui para a página dos objetivos e lá fora a chuva engrossava e o vento ficava cada vez mais forte.

-Tomara que a energia não caia - murmurei distraidamente

Boca amaldiçoada

Logo que disse isso as luzes começaram a falhar , a energia ia cair , eu havia esperado um mês pra jogar amor doce, ficar sem luz logo agora só podia ser um castigo de Deus... ou karma , definitivamente eu fui Hitler em minha vida passada.

Fui pra página da escola mas o cenário com que me deparei era estranho, não era a escola, o apartamento da docete ou qualquer local de que me lembrasse, era um parquinho com balanços , gangorras e escorregadores extremamente realistas e ao fundo uma casa com as janelas do segundo andar iluminadas.

-Que merda! - exclamei, eu havia parado na sala de aula b, o que era aquilo?

Recarreguei a página pra tentar voltar a sala de aula, uma ... duas ... três ... quatro vezes e nada.

Eu sempre acabava naquele cenário estranho e quanto mais eu recarregava mas realista ele se tornava, eu conseguia ver agora uma sombra em uma das janelas da casa, nuvens escuras no céu e gotas d'água nos brinquedos do parque.

Na quinta vez que eu eu recarreguei a página apareceram gotas na tela, como se na cidade do jogo estivesse chovendo , igual ao lugar onde eu estava.

Na sexta vez eu recarreguei a página a minha docete sumiu da tela e eu comecei a me assustar .. e se aquilo fosse um vírus ? Acabaria com o meu computador e eu perderia tudo que estava salvo.

Eu estava decidida a desligar o computador , era pra um bem maior mas antes eu tentaria só mais uma vez ... sete sempre foi o meu número da sorte, quem sabe se eu recarregasse dessa vez pudesse jogar o meu jogo em paz ?

Na sétima vez que eu recarreguei a página demorou um pouco mais pra carregar, a sombra na janela da casa se fora. Enquanto a página terminava de carregar a energia acabou, todas as luzes da casa apagaram e lá fora os postes também.

No entanto mesmo que a internet tivesse caído a página continuava carregando, e no canto do cenário perto do balanço apareceu um personagem que não estava ali antes, uma pessoa usando uma roupa escura, tudo que eu conseguia ver deste personagem eram seus olhos escarlate ... e por um segundo ele pareceu se mexer, de alguma forma ele se aproximou de mim ... como se quisesse me tocar.

Gritei e empurrei o computador pra longe, a tela escureceu e naquele instante eu só conseguia ouvir a chuva batendo na janela e o som do meu coração acelerado, com minhas mãos tremulas tateei no escuro em busca do meu celular , eu ligaria pra Diana e tinha certeza de que quando ela ouvisse o que aconteceu largaria a festa e viria correndo.

Alcancei o aparelho e digitei o número com certa dificuldade.

"O número que você ligou está fora de área ou desligado. Por favor tente ligar novamente mais tarde" - Falou a voz robótica do outro lado da linha.

No entanto eu não estava prestando atenção.

A chuva forte encharcava minhas roupas sujas de lama e os balanços rangiam enquanto eram movidos pelo vento forte.

Aquele não era meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem , eu não mordo ^^



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