A Lenda dos Semi-Titãs escrita por TheGodessofElves


Capítulo 7
Os espectros da floresta: Jaci POV




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Acordei com o som de batidas na porta. Piscando lentamente, olhei pela janela e vi que o céu já estava escuro, repleto de estrelas. Por quanto tempo eu dormi?

– Quem é?

Perguntei com a voz cansada.

– Sou eu, Milena. Quíron me mandou chama-lá, já está na hora do jantar.

Suspirei alto e despenquei de volta ao colchão.

– Não estou com fome!

– Isso não importa, todos os campistas têm de estar presentes na hora do jantar.

Ah que droga! Não se pode mais nem dormir em paz? Nunca vi um acampamento tão rigoroso como este. Bufando, me forcei a sair da cama e cambaleei até a porta de entrada, abrindo-a bruscamente. Minha cara devia se assemelhar a de um demônio, pois ela pareceu se assustar ao me ver.

– Qual é! Estava fazendo uma investigação durante o sono, não percebeu?

A verdade, é que eu não havia sonhado com nada relacionado àquelas memórias, o que para mim é frustrante. Tudo o que pareci sonhar até agora foi com o movimento de um ventilador de duto de ar.

– Investigação? Durante o sono?

Perguntou ela, cética.

Meu corpo inteiro se alarmou. Eu me esqueci de que não havia contado à ninguém sobre aquelas visões. Eu devia comentar isso apenas com Quíron e mais ninguém. Tentei elaborar uma boa desculpa para desvia-la do assunto. Uma situação estranha, já que eu fiquei um bom tempo sem dizer nada...

– E-eu-

– Milena!

Gritou uma terceira voz ao longe. Nos viramos para olhar, o sátiro de nome Logan, corría apressadamente em nossa direção. Ufa...esse bode maluco salvou minha língua. Por que estou dizendo isso? Bem...vamos dizer que eu não gosto de mentir.

– Logan, o que houve?

Perguntou-lhe, enquanto ele parava ao nosso lado. O sátiro curvou-se com as mãos nos joelhos, arfando. Inspirando, levantou o corpo de uma forma exagerada e pôs-se a falar.

– Vamos...logo...Quíron...e os outros...estão...esperando.

– Para quê tanta pressa?

Questionei indgnada.

– Teremos a...captura da...bandeira...hoje...depois do...jantar.

Arfou ele, colocando a mão em seu peito.

– Vocês têm captura à bandeira?

– Sim, mas podemos dizer, que aqui não jogamos do jeito...comum.

Respondeu Milena, com ar de misterio e um sorriso sombrio em seu rosto. Arqueei uma sobrancelha. O que poderia ter de mais em um jogo tão besta?

– Bem...o que é comum neste acampamento? Andem, vamos comer!

Disse-lhes com entusiasmo, pulando de um jeito infantil nas escadas feitas de nuvens.

Ao chegarmos no pavilhão, os campistas nos lançaram olhares furiosos. Tive a impressão de que mais da metade deles, eram dirigidos à mim.

– Por que demoraram tanto?

Perguntou uma menina enorme e músculosa de voz grosseira, que estava sentada na mesa de Ares.

– Acalme os nervos Clarisse, ela está cansada.

Respondeu-lhe o sátiro.

– Não me importa se ela está cansada ou não! O que me importa é que ela está atrasando o nosso horário!

Então, esta é a grande Clarisse La Rue, líder do chalé de Ares. Está mais para um javalí raivoso.

– Já chega! – interpôs-se Quíron.– Teremos tempo para tudo senhorita La Rue. Agora, Jaci e Milena, vão para as suas mesas, daqui a pouco vamos começar captura da bandeira.

Sentei-me com os outros filhos de Morfeu. Assim como os outros filhos de deuses menores, éramos em poucos. Isso fazia de nós, um grupo de apenas sete semideuses, incluindo eu. Para mim, é até melhor assim; podíamos conhecer uns aos outros de uma forma mais profunda, o que na minha opinião, é a chave para amizades verdadeiras. Eles eram muito legais para falar a verdade. Ao contrário de Clarisse Javalí, eram bem gentis e calmos. Cada um deles, tinha uma habilidade estranha, que fazia a mesa inteira rir; um deles tinha leite em sua taça e após beber o conteúdo, apertou as extremidades inferiores de seus olhos, fazendo com que o leite jorasse pelos buraquinhos. Bizarro, não?

Falando na taça com leite. Eu realmente me impressionei muito com o jantar. Eles serviam de tudo o que os campistas mais gostavam, mas o melhor de tudo são as taças, que se enchem instantaneamente com todo tipo de bebida que quisermos! Acho que o mundo seria melhor se existissem taças como estas nos restaurantes.

Uma ninfa colocou um prato cheio de guloseimas à minha frente e imediatamente meu estômago começou a roncar. Minha boca salivava, enquanto eu passava os olhos pelos nuggets de frango e as batatas fritas, já estava a ponto de pegar uma quando...

– Ei, psiu! Jaci! Tem que fazer a sua oferenda primeiro!

Sussurrou um dos meus meio-irmãos. Billy, um garoto moreno com a aparência de um cantor de Reggae. Ele me encarou com seus olhos cansados.

– Oferenda? Para quê?

– Para o nosso pai! Todos temos que fazer uma oferenda à nossos respectivos progenitores, em todas as refeições.

Eu o encarei por um instante.

– Sabe, você até que tem um vocabulário bonito para alguém que parece fumar maconha.

Ele arqueou as sobrancelhas. Eu sei que não devia ter lhe falado isso, mas saiu de repente, não tenho culpa se penso alto demais. Se bem que nunca me sinto encabulada ou sequer culpada por dizer essas coisas na cara das pessoas, é algo natural de mim mesma, então não me arrependo nem um pouco.

Peguei o meu prato e me dirigi até a fogueira, onde eu vi que muitos outros jogavam a melhor parte de sua comida no fogo e faziam uma espécie de oração a seu pai ou a sua mãe. Eu estava atrás de um outro campista que acabara de fazer a sua prece. Preparei-me para jogar os dois nuggets mais crocantes e as batatas mais macias com muito arrependimento, então, senti que alguém me observava. Olhei para cima de soslaio e percebi que o garoto do chalé de Hades me encarava de sua mesa e meu coração disparou.

Senti-me confusa por isso, ele não podia estar fazendo mais do que apenas observando o movimento na fogueira, não é? Mesmo assim, meu cérebro pareceu perder a concentração e eu realmente não entendi o porquê. Balancei a cabeça com força e empurrei a comida que eu havia separado no fogo. Minha mente estava tão atônita, que eu não consegui formular uma prece a meu pai, apenas consegui agradecer-lhe por ter me guiado em segurança até o acampamento e depois, eu apenas voltei apressadamente para a minha mesa, com nevosismo aparente.

Olhei de volta para a mesa disfarçadamente e vi que ele ainda me observava. Por que eu queria tanto que ele se levantasse e viesse falar comigo? Isso é rídiculo! Torci para que a hora do jantar acabasse logo, para que eu pudesse sair daquele pavilhão e enfiar minha cabeça em um rio gelado. Por sorte, minhas preces foram atendidas e Quíron anunciou que a hora do jantar chegara ao fim.

– Preparem-se heróis! Agoram teremos a nossa famosa captura da bandeira! Creio que todos sabem as regras, mas para a nossa nova campista, irei explica-las novamente.

Eu iria protestar, dizendo que já conhecia o jogo e que não havia necessidade de explicações, mas quanto mais ele falava sobre as regras, mais eu tinha certeza de que não estávamos falando da mesma brincadeira. Prestei minha total atenção a cada palavra que ele dizia e quando ele parou e me perguntou se eu havia entendido tudo eu só tive a certeza de uma coisa: eu iria me machucar pra caramba.

– S-sim, e-eu e-entendi.

Gaguejei.

– Há! Não acredito, ela está com medo!

Ouvi alguém caçoar. Era Clarrisse Javalí, que não perdeu a oportunidade de debochar daquela que quase atrasou a sua amada brincadeira.

Rangi os dentes, eu tinha uma resposta na ponta da língua, mas preferi não dizer nada. Tudo o que eu menos queria era brigar em meu primeiro dia, ainda mais na frente de todo mundo. Todos ficaram parados, sem nenhuma reação. Vi Mathew e as duas irmãs tentarem se levantar de suas respectivas mesas, mas foram puxados de volta por alguns de seus meio-irmãos. De repente, alguém cujo nunca teria esperado que me defendesse, se pronunciou...

– Ah Clarisse, deixe de ser tão bebezona!

Era o filho de Hades, que olhou feio em sua direção. Provavalemente, ele estava com medo da reação dela, mas não pareceu demonstrar.

– Fique na sua Nico di Angelo, se não quiser virar carne moída.

Ela o ameaçou. Novamente não entendi, mas não pude suportar que ela falasse assim com ele, tentei avançar em sua mente, mas fui impedida pela voz do centauro.

– Parem com essa criancice! Peguem suas armas e juntem-se ao seus times!

Clarisse me fuzilou com o olhar, enquanto se encaminhava para a liderança de seu time, o time vermelho, formado pelos chalés de: Ares, Nyx, Eos, Tanatós, Melinoe, Éolo, Tique, Quione, Hebe, Hipnos, Jano, Deméter, Afrodite e Hades. Obviamente o time com qual o nosso chalé fez aliança, era o azul, formado pelos chalés de: Atena, Zeus, Poseidon, Hermes, Hefesto, Dionísio, Apolo, Íris, Nêmesis, Hécate, Perséfone, Macária, Despina e para nossa sorte, as caçadoras de Ártemis. A líder do nosso time era para ser uma tal de Annabeth Chase, eu não a conheço, mas ela parece ser bem mais esperta do que seus irmãos, pois os outros ficaram meio receosos ao terque substitui-la por outro líder, ainda que sendo também ele um filho de Atena.

– Está bem...eu vou conseguir.

Sussurrei a mim mesma.

Um vulto se aproximou de mim e ao virar-me, levei um susto ao deparar com a enigmática Maria Helena, com seu casaco preto abotoado até o peito, calças jeans escuras e folgadas e um par de tênis pontudos e engraçados da LouLoux.

– Bem, parece que teremos de ficar atentas...fique tranqila, não iremos deixá-la fazer mal algum a você.

Disse ela cruzando os braços, com o mesmo sorriso sombrio da irmã. Como elas podiam ser tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo?

– Como assim?

– Estou me referindo à Clarisse, ela não gostou nem um pouco de você.

– O sentimento é mútuo.

Respondi.

Ela soltou um pequeno risinho, provavelmente, estaria lendo a minha aura confusa, pois eu não parava de olhar para o garoto que me defendera. Nico. Então este é o seu nome, para o começo de tudo. Mas, por que ele me defenderia? Por que ele enfrentaria a "valentona" do acampamento, por minha causa?

– Nico é uma alma solitária.

Disse ela repentinamente, enquanto exercitava um fogo azul que ziguezagueava entre seus dedos.

– Ele sempre foi assim?

– Não. Ele se tornou assim.

O fogo em sua mão se extinguiu, logo uma esfera de energia fluiu da palma de sua mão.

– O que aconteceu com ele?

Perguntei, encarando a esfera.

– Temo que eu não possa te dizer, mas ele pode.

Meu coração se acelerou novamente. Eu não teria coragem de me aproximar dele, apenas para lhe perguntar isso e não pretendia arrumar desculpa alguma para obter essa oportunidade. Então, se eu realmente quisesse me tornar sua amiga, o que eu diria a ele?

– Ei, vocês estão aqui! O que houve?

Disse Milena, aproximando-se.

– Jaci, está travando uma luta interior.

– Êpa! Não estou não! Não tire conclusões preciptadas!

Repreendi-a.

As duas riram por um instante, então, Milena ficou séria e aproximou-se de meu ouvido.

– Tente ficar o mais longe que você puder de Clarisse. Os irmãos Stoll me disseram que o último que a enfrentou quase teve seu braço dilacerado, justamente no momento em que estavam batalhando pela bandeira. Ela é oportunista e se te encontrar, não pensará duas vezes antes de te dar uma sova.

Eu sei, a intenção delas era boa. Mas eu não estava preocupada comigo, estava preocupada com Nico, no que ela poderia fazer com ele, por tê-la enfrentado. Estranhamente, senti meu peito pesar.

– Mas, e o garoto? Ela pode feri-lo?

Como eu esperava, Milena compreendeu além do que eu queria.

– Ah, eu já sei qual é a luta interior!

Riu.

Um menino, aparentemete mais velho, que ouvia a conversa avançou de repente para perto de nós.

– Relaxe, ela não poderá fazer nada contra ele. Primeiro, porque ele é de seu time e segundo que, por conta disso, se ela por acaso fosse vista ferindo-o, ela seria punida.

– Connor tem razão, Clarisse não arriscaria tanto.

Disse uma garota com os cabelos negros arrepiados e estilo punk, que surgiu logo atrás dele.

– Thalia!

Exclamaram as duas irmãs em uníssono, abraçando-a.

– Oi meninas!

Thalia apertou os braços envolta delas. Como alguns dos campistas mais velhos, ela devia ser conhecida e muito respeitada, mas Milena e Maria Helena pareciam a tratar com carinho, em vez de somente vê-la como uma figura importante. Após o abraço, elas afastaram-se e Thalia me encarou de um jeito engraçado.

– Gostei das suas mechas azuis. Maneiro.

Ela por fim disse.

– Bem...estão preparados?

Perguntou-nos, enquanto preparava sua lança, seu arco e flecha presos às suas costas.

Acenamos com a cabeça, positvamente.

***

Percorremos o perímetro até a floresta, calmamente. Eu evitava olhar na direção do time vermelho, mas não sabia dizer qual era o meu medo. Ao nos embrenharmos na floresta, o nosso líder nos explicou as estratégias, dizendo combinara parte das duas com as de Annabeth, assim tudo saíria perfeito.

Os campistas começaram a se espalhar pela floresta. A bandeira seria guardada por Mathew Smith...e por mim.

Ficamos atentos a todos os tipos de sons que nos rodeavam. Ouvimos vários assovios de flechas e Mathew sorriu, a vitória de nosso time parecia ser certa, ao meu ver. De repente, vimos as folhas de um arbusto próximo se moverem, não deu o tempo para nos prepararmos, quando um dos filhos de Ares emergiu das folhagens, saltando em nossa direção. Era impressão minha, ou seu olhar cruel estava voltado à mim?

Math, num ato instintivo, atirou uma flecha em sua direção, mas ele a bloqueou e nos empurrou com seu escudo. Caímos com tanta força, que não vimos quando o filho da mãe pegou a bandeira e passou despercebido por nós.

O filho de Apolo lutava para se levantar, ele caíra perto do riacho, entre os vários pedregulhos, o que lhe causou muitos arranhões e cortes. Eu me arrastei até ele e ofereci suporte, até que o mesmo estivesse de pé. Ao olhar para seu rosto, vi um hematoma assustador que havia se formado em sua têmpora esquerda.

– Olha só o tamanho disto! Você não pode mais lutar, pode ser perigoso. Vá, eu assumo daqui.

– Nem pensar! Você fica aqui, eu vou atrás dele.

– Não acha que está muito tonto para vagar pela floresta sozinho?

– Ah, não se preocupe! Vou estar no meio de todos e se eu desmaiar, alguém vai ter que me ver.

Antes que eu pudesse sequer dizer algo, ele virou-se rapidamente e correu em direção ao outro campo, até estar totalmente invisível pelas árvores.

– Que cara teimoso!

Reclamei à mim mesma.

Furiosa, começei a andar de um lado para outro com passos duros. Por que ninguém nunca me escuta?

Quinze minutos pareceram se passar, até que minhas pernas já doíam de tanto eu força-las. Suspirando, me sentei ruidosamente na terra, não dando importância nenhuma à minha calça. Apoiei os braços nos joelhos e abaixei a cabeça, tentando esvaziar o peso que assolava meu coração. Por que eu estava desse jeito? Somente por causa do que acontecera no jantar de hoje?

De repente senti um estranho arrepio e um frio intenso se apoderou de mim. Tive a sensação de estar sendo observada, mas por algo que não pertencia à terra, algo...sobrenatural.

Tentei sentir alguma vibração cerebral, algo que indicasse que havia um ser vivo à minha volta, mas isso não aconteceu. Com o canto do olho, vi um movimento entre as árvores ao meu lado e me levantei ao poucos. Localizando uma árvore específica, me virei lentamente em direção a ela e distingui não somente uma, mas duas sombras. Elas não pareceram perceber que eu as tinha visto. De algúm modo, elas se destacavam entre as proprias sombras da árvores, sendo ainda mais escuras do que as mesmas. Tinham formas femininas, inclusive era possível ver que tinham cabelo, mas não era possível ver seus rostos.

Os pelos da minha nuca se eriçaram. Não tinha certeza se fariam mal à mim, mas também não tinha certeza se eram "criaturas pacificas", então, não pensei duas vezes. Estava a ponto de reunir meus poderes e enfrentá-las, quando alguém surgiu das árvores, com um grito raivoso. Minha concentração foi perdida, olhei rapidamente para trás, vendo os últimos movimentos das sombras antes de elas se dispersarem.

Me virei para frente, esperando ver Clarisse Javalí, pronta para arancar os meus braços. Mas não era Clarisse. Era ele.

Nico di Angelo.

Ele me encarou, surpreso. Acho que ficamos um tempo parados, nos entreolhando, quando ele partiu para o ataque, levantando sua espada. Eu rechacei o seu golpe com a espada que levava comigo e cobri sua boca com a outra mão. Sinceramente, não sei como consegui fazê-lo.

– Silêncio! Você as assustou!

Sussurrei. Ele juntou as sobrancelhas, como se me perguntasse se eu era louca. E quando tive certeza de que ele não iria tentar me atacar de novo, afastei lentamente a mão.

– Assustei a quem? E por que estamos sussurrando?

– Para que as sombras não nos ouçam!

– Sombras?

Nico também pareceu perceber, pois olhou em uma direção além do que eu podia ver, no fundo da floresta, onde elas deviam estar encondidas. Apenas ele poderia vê-las nesta distância.

Ele estreitou os olhos por um instante, antes de os mesmos se arregalarem e sua boca se escancarar.

– Não são sombras...são espectros.

Disse ele, assustado.

– O que? Espectros?

Eu me virei e acho que falei mais alto do que devia, pois os espectros começaram a correr para longe, em uma velocidade inimaginável.

– Eles estão fugindo! Vamos!

Gritou ele pegando em minha mão e me guiando pelas árvores. Senti um pequeno arrepio ao sentir o toque dele, coisa que achei extremamente absurda.

Corremos pela floresta, no encalço das criaturas. Por ser filho de Hades, Nico também é veloz nas sombras, então não era difícil para nós avista-las correndo de momento em momento.

Nós os perseguimos até além do que nos era permitido ir naquelas horas. Até que em um momento estávamos tão perto deles, que se esticássemos as mãos poderíamos toca-los. Assim eu pensei, antes de pararmos de repente à beira de um alto barranco rochoso. Por pouco não caímos, mas os espectros continuaram a desce-lo em sua velocidade desumana, desaparecendo no meio da floresta distante.

Eu fiquei frustrada, tão frustrada, que quis gritar, mas em vez disso, inssisti para que os seguissemos.

– Temos que ir atrás deles!

– Não, nós já fomos longe demais...temos que voltar!

Avisou Nico.

– Você pode voltar, eu vou ir atrás dos espectros.

Teimei. Avancei até a beira, tentando pisar cuidadosamente em uma das pedras cobertas de limo. Mas acabei pisando em falso e deslizei para o lado. Antes que eu caísse barranco abaixo, dois braços me agarraram e eu me vi cara a cara com Nico.

Nossos rostos pairaram a poucos centímetros um do outro, os olhares fixos. Tudo a minha volta pareceu desacelerar. Meu cérebro retardou por alguns instantes, até que voltei à mim e percebi o que estava acontecendo e em que situação constrangedora eu estava.

Afastei-me bruscamente, meu rosto estava quente, eu só esperava que não estivesse corando. O mesmo não poderia ser dito dele; suas bochechas pareciam dois tomates, de tão vermelhas que estavam. Ele virou o rosto de lado.

– C-como eu disse, a-acho melhor nós voltarmos.

Gaguejou.

De repente, três outras vozes foram ouvidas ao longe, nos chamando. Alegre, por ter algo que despistasse o silêncio incômodo que ameaçou pairar entre nós. Virei-me e vi Thalia, Math e as duas irmãs correndo em nossa direção.

– O que estão fazendo aqui? Procuramos vocês em todos os lugares!

Reclamou Thalia.

– Não faça mais isso comigo Jaci! Quando voltei e vi que você não estava no riacho, me apavorei por completo!

Repreendeu Math. Eu dei uma pequena risada diante de seu afobamento, o que pareceu irritar a Nico.

– O que aconteceu? Por que estão aqui?

Perguntou Milena.

Eu não tive certeza se deveria contar-lhes, mas eles seriam meu único apoio, se ninguém acabasse acreditando em mim, ou em Nico. Então, contei a eles tudo o que havia acontecido até aquele momento, só não mencionei a parte constrangedora em que estivesse nos braços do filho de Hades.

Maria Helena arregalou os olhos, ela e sua irmã se entreolharam assustadas. Math segurou o queixo com o polegar e o indicador, pensativo.

– Espectros? Mas...o que estariam fazendo aqui no acampamento?

– Sabe nos dizer, o que são eles?

Perguntou Milena à Nico, num tom de súplica. Nico acenou positivamente.

– Primeiramente, precisamos falar com Quíron. Ele saberá o que fazer, pois não sabemos se esses tais espectros são perigosos ou não.

Sugeriu Thalia.

As duas irmãs pareceram pensativas. Era impressão minha, ou elas já sabiam algo sobre a existência dessas criaturas?


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Notas finais do capítulo

Música tema: https://youtu.be/FZUlr2uJHvQ



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