The Christmas' Angel escrita por Luna Lovegood


Capítulo 1
That's Christmas to me


Notas iniciais do capítulo

Hey leitores,

Então... escrevi essa one para postar no Natal, foi um pedido especial da Izabel Seliger a quem essa história é dedicada. Só estou um dia atrasada então relevem =D

Espero que gostem!

Música: https://youtu.be/pFjdfjrtf1Q



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The fireplace is burning bright, shining along me

I see the presents underneath the good old Christmas tree

And I wait all night 'til santa comes to wake me from my dreams

Oh, why? 'Cause that's Christmas to me

I see the children play outside, like angels in the snow

While mom and daddy share a kiss under the mistletoe

And we'll cherish all these simple things wherever we may be

Oh, why? 'Cause that's Christmas to me

I've got this Christmas song in my heart

I've got the candles glowing in the dark

I'm hanging all the stockings by the Christmas tree

Oh, why? 'Cause that's Christmas to me

Oh, why? 'Cause that's Christmas to me

I listen for the thud of raindeer walking on the roof

As I fall asleep to lullabies, the morning's coming soon

The only gift I'll ever need is the joy of family

Oh, why? 'Cause that's Christmas to me

 (That's Christmas to me - Pentatonix)


Felicity Smoak

Natal é a época mais feliz do ano, as pessoas são sempre gentis, as casas e ruas estão enfeitadas por todos piscas-piscas e adereços natalinos existentes e apesar do frio típico dessa época do ano, tudo o que você sente é calor humano. As famílias se reúnem para celebrar muito mais do que um feriado cristão, elas se reúnem para agradecer por terem uns aos outros e por estarem juntos, é o amor em sua forma mais fraternal. Eu nunca celebrava o natal, mas não porque não gostava dele, eu costumava amar essa época do ano, só que é um pouco complicado quando não se tem uma família para celebrar junto, todos aqueles sentimentos que você deveria compartilhar não estarão lá. Eu cresci em um orfanato e ano após ano eu via as crianças passando com seus pais fazendo compras de natal, e escrevendo suas cartas para o papai Noel dizendo qual brinquedo extravagante queriam ganhar naquele ano, enquanto eu apenas deitava durante a noite e desejava que papai Noel trouxesse uma família para mim, uma família com quem eu pudesse celebrar o natal. Eu queria viver isso também, queria sentir a magia, queria compartilhar sentimentos. Mas agora eu já era uma mulher crescida e sabia que não importa o quão bom é o seu comportamento, nem sempre Papai Noel trará seu presente de natal.

Levantei-me da cama e caminhei para a cozinha pensando no que eu faria para o café da manhã, suspirei ao ver a imensa árvore verde em minha sala, eu a comprei num impulso e logo depois me arrependi, ela parecia tão solitária ali sem nenhum enfeite. Fui para cozinha disposta a fazer meu café e ignorar esse dia, ignorar as músicas natalinas e os enfeites de natal que decoravam cada casa da rua. Para mim aquele seria apenas mais um dia qualquer, sem nada de especial.

Eu não podia estar mais enganada.

Decidi por preparar algo doce, waffles com muita cobertura de chocolate, precisava de algo com muito açúcar para começar o dia bem. Eu já estava pronta para levar aquela maravilha calórica à boca no exato momento em que a campainha tocou. Me levantei e fui até a porta, pensando se aquele não era um sinal para que eu não saísse da minha dieta.

Olhei pelo pequeno buraco do olho mágico e não vi ninguém, pensei que fosse apenas um trote, dei meia volta já voltando a sonhar com meus waffles e então a campainha tocou uma segunda vez. Não perdi meu tempo, abri de uma única vez tentando pegar uma criança travessa.

— Oi. – Falei observando a pequena garota a minha frente que parecia animada e exibia um sorriso de orelha à orelha, não devia ter mais do que seis anos. Corri meus olhos pela rua à procura de algum adulto que a estivesse acompanhando e me surpreendi ao notá-la completamente vazia. - Como posso te ajudar querida? - perguntei me abaixando e ficando da altura dela, ela realmente tinha um rostinho angelical.

— Oi. Você fez waffles? – A garotinha me perguntou com seus olhos azuis brilhantes. – Eu estou sentindo cheiro de waffles! - Sorri com a expressão maravilhada dela.

— Sim eu fiz, você quer alguns? - Ofereci, e ela assentiu efusivamente já entrando na casa e indo em direção à cozinha. Eu a servi e a observei comer com curiosidade, seu rostinho redondo e com bochechas rosadas ficando completamente sujo com a calda de chocolate.

— Esse é o melhor café da manhã que eu já comi em toda a minha existência! - Sorri agradecida, dificilmente eu era o que se chamava de boa cozinheira, mas era difícil algo ficar ruim com chocolate.

— Onde estão os seus pais? - Inqueri, eu havia deixado a porta aberta esperando ver qualquer indicação de alguém procurando por ela. Mas até o momento nada havia acontecido e eu já estava decidida a ligar à polícia e procurar saber se o desaparecimento de uma criança havia sido informado.

— Eles ainda não me encontraram. - Franzi o cenho com a resposta dela, aquilo não fazia sentido.

— Vocês estavam brincando de esconde-esconde? - Cogitei.

— Isso é delicioso! – Exclamou com o rosto sujo de chocolate, desviando o olhar do meu. Aquilo me intrigou, era bem óbvio que ela não queria mais falar sobre os pais.

— Eu vou pegar um pouco mais de calda de chocolate. - Falei pegando o recipiente e despejando um pouco mais - Vai me dizer o seu nome? - Perguntei, e a menina lançou seus olhos azuis tão claros quanto o céu na minha direção, ela parecia analisar se eu era digna da sua confiança.

— Angelina. Mas me chame de Angie, odeio Angelina, sempre que Gabriel me chama assim é porque estou encrencada. - Tagarelou e eu não pude evitar um sorriso. Essa pequena lembrava muito a mim mesma quando criança.

— Angie é um belo nome. - Falei e ela sorriu - Quem é Gabriel? - Perguntei como quem não quer nada, enquanto provava um pouco dos waffles dela. Realmente estavam muito bons.

— Ele é meu irmão muito, mas muito mais velho. - Falou com a boca cheia e gesticulando com os braços para explicar o quão mais velho ele era.

— Ele cuida de você? - Perguntei intrigada, começando a entender o porquê de ela ter dito que os pais dela ainda não a haviam encontrado. Assim como eu, talvez Angie tivesse sido abandonada e criada em um lar para crianças.

— Sim, ele manda em mim. - Franzi o cenho com a resposta dela, não esperava por isso. O tom dela me dizia que o tal Gabriel realmente teria certa autoridade sobre ela.

— Onde ele está? - Perguntei e ela apenas deu de ombros. - Você estava andando sozinha aqui no bairro ou estava com Gabriel?

Angie se levantou da cadeira e desviou o olhar do meu, claramente não estava confortável com a minha pergunta sobre o tal Gabriel. Segui-a enquanto ela deixava a cozinha e caminhava até a minha sala e observava com atenção a imensa árvore verde perto da lareira.

Suspirei, talvez estivesse na hora de ligar para a polícia e verificar se algum desaparecimento foi reportado ou pelo menos ter uma ideia do que eu deveria fazer com relação a pequena. Cheguei a pegar o telefone e a discar o número da emergência.

— Sua árvore de natal parece tão triste. - Disse tocando a folhagem com certa melancolia - Onde estão todos os enfeites e luzinhas? E os presentes? Ou as meias na lareira? E eu acho que deveria haver uma estrela no alto da sua árvore.

— Você acha? - Ela assentiu a cabeça um pouco incerta. - Angie... Você já comemorou o natal?

— Eu já vi as pessoas comemorarem, várias vezes! As músicas, a comida, a família reunida... Tudo parece tão feliz! Crianças esperando acordada a noite toda pelo Papai Noel... E os presentes! Há muitos presentes embaixo da árvore! - Falou animada.

— Mas e você?

— Não, eu nunca fiz nada disso. - Confessou, e meu coração doeu com a resposta dela. Eu entendia como ela se sentia, assim como ela nunca viveu ou sentiu essa magia do natal. Mas eu era uma adulta agora e já não me importava muito com isso (ou pelo menos fingia não me importar), mas uma criança? Crianças são feitas de sonhos e esperanças, eu não queria que Angie assim como eu se tornasse alguém descrente, eu não queria que aquela luz que eu via nela se apagasse tão logo crescesse.

­“Emergência em que posso ajudar?” Escutei ao fundo do telefone a voz da atendente, eu deveria ter respondido e explicado a situação, mas tudo o que consegui pensar foi que aquela pequena garotinha não merecia passar por isso, não era certo alguém tão pequeno nunca ter comemorado esse dia.

— Me desculpe, foi um engano. - eu disse desligando o telefone e me aproximando de Angie que me olhava com curiosidade.

— Sabe Angie, você tem razão. Nós precisamos de um pouco de natal em nossas vidas! Que tal se saíssemos e comprássemos algumas coisas para deixar essa árvore com um pouco mais de vida? - Sugeri e imediatamente o rosto dela se iluminou e o sorriso mais lindo do mundo surgiu em seus lábios. Meu coração se derreteu com aquela face de anjo.

— Eu acho que é uma excelente ideia! - concordou exultante.

 ❄ ❄ ❄ 

Eu empurrava o carrinho pelo supermercado hiper lotado, Angie pegava todos os enfeites que via pela frente, inclusive insistiu por um globo de neve no qual havia um casal se beijando embaixo de um visgo. Ela parecia tão feliz. E de certa forma a felicidade dela parecia me contagiar, eu me vi empolgada com o natal como eu nunca estive antes. Afinal o natal era sobre isso, certo? Compartilhar sentimentos, fazer outras pessoas felizes.

— E então a dourada ou a prata? - Perguntei à Angie levantando as duas estrelas que ornariam o topo da nossa árvore de natal.

— O quê? - Uma atendente de caixa com cara emburrada me perguntou.

— Me desculpe. Eu estava falando com a garotinha.- Indiquei Angie que deu um sorriso maroto à moça que pareceu sussurrar algo como “cada maluco que me aparece” e continuou a passar as compras.

— Então acho que prefiro a dourada. - Decidi por fim. - Pode ser Angie?

— Tanto faz. - A caixa respondeu arrancando a estrela com brusquidão da minha mão, parecendo ansiosa para se livrar de nós. Paguei a conta e levei as sacolas para o carro, eu estava ansiosa para chegar em casa e enfeitar a árvore, faria até mesmo uma ceia de natal, queria proporcionar isso à Angie.

O caminho de volta para casa foi tranquilo, Angie era alguém que parecia emitir uma luz contagiante, e quanto mais tempo eu passava com ela, mais eu me sentia tocada por essa luz. Era como se Angie retirasse de mim todos aqueles pesos que por tanto tempo carreguei, todas as frustrações de sonhos não realizados, como se tivesse o dom de me tornar alguém mais leve. Ela me fazia acreditar que coisas boas aconteciam. Me fez ter esperança novamente.

Talvez fosse a tal magia do Natal.

— Angie? - a chamei assim que abri a porta traseira do carro, e percebi que não havia mais ninguém ali, apenas o globo de neve jogando sobre o banco.

Ela tinha simplesmente desaparecido.

❄ ❄ ❄  

Oliver Queen

Cinco anos haviam se passado desde o acidente de barco que matou a minha família. Com o tempo eu aprendi a conviver com a perda dos meus pais e da minha irmã, ainda era doloroso não tê-los por perto todos os dias, mas eu tentava seguir normalmente com a vida embora eu sempre sentisse que faltava uma parte de mim. Uma parte que eu nunca encontraria novamente. Eu trabalhava todos os dias na empresa da família, fazendo o meu melhor, não podia deixa o sobrenome “Queen” ser esquecido, por isso eu me dedicava tanto, era meu modo de tentar honrá-los por tudo o que fizeram por mim. Mas eu passei a colocar uma distância segura em meus relacionamentos, porque se tem algo que a morte deles me ensinou é que quanto mais você se importa com alguém, quando você permite que alguém se torne especial para você, a dor da perda é imensurável e eu não queria sentir isso outra vez.

Então, eu estava bem sozinho. Ok, talvez bem não fosse a palavra correta. Eu estava confortável em meu próprio mundo vazio de sentimentos e emoções. Era seguro.

Exceto em dias como esses. Natal. Eu simplesmente não conseguia ficar em casa sozinho, mas eu também não conseguia sorrir e comemorar com os meus antigos amigos. Era por isso que eu sempre recusava os convites de Laurel e Tommy, porque esses eram os dias em que eu mais sentia falta da minha família, sentia falta das nossas tradições, das minhas brigas com Thea para quem comeria o último pedaço de torta, embora eu sempre fosse deixá-la comer, eu gostava de irritá-la. Natal com a minha família costumava ser um dos melhores dias do ano, eu ansiava por passar esse dia com a minha família, há algo nos sons das risadas misturados às canções natalinas, todas as pessoas estão esbanjando seus sorrisos felizes e contagiando os outros com a própria felicidade. Tudo parece emitir vida, felicidade e amor.

Eu tinha uma vida perfeita, e agora era tudo tão solitário e sem emoções.

Eu estava sentado num banco em um pequeno parque próximo a minha casa, não havia ninguém por perto aquela hora, meus pais costumavam me trazer aqui para brincar com Thea quando éramos crianças. Eu nem sei por que quis vir, só senti que precisava estar nesse lugar, como se algo me chamasse. Era idiota, e tudo o que consegui vindo aqui foi me entristecer com as lembranças de momentos felizes que nunca voltarão, eu deveria ir para casa e pedir uma pizza. Levantei-me disposto a ignorar essa força estranha que me puxava para o parque. Dei alguns poucos passos e parei quando notei a pequena menina loira no balanço. Aquilo era estranho, era véspera de Natal, já escurecia e todos deviam estar em casa juntamente com suas famílias. Me aproximei dela devagar, temendo que talvez ela ficasse com medo de um estranho. Pensei em perguntar se ela precisava de algum tipo de ajuda, mas antes que eu pudesse dizer algo ela se antecipou.

— Você está atrasado! - Me repreendeu.

— Eu estou? - Questionei verdadeiramente confuso.

— Sim! Você tem que me levar para casa! - a garotinha explicou num tom sério.

— Onde estão seus pais? - Ela revirou os olhos com a pergunta, como se estivesse cansada de ouvi-la.

— Porque vocês sempre me perguntam isso? - Franzi o cenho com a pergunta dela - Tanto faz. - Levantou-se do balanço - Você pode me levar para casa? Não é muito longe eu só preciso que você vá comigo. - Piscou seus olhinhos azuis para mim, ela era adorável. Seria humanamente impossível que alguém sequer cogitasse algo diferente de um sim. E é claro eu também gostaria de dar uma palavra com os pais da criança, averiguar se ela estava em um bom lar. Afinal, como alguém poderia deixar uma criança tão nova sozinha em um parquinho?

— É claro que a levo em casa. - Respondi, e logo ela sorriu satisfeita com a minha resposta. Sua pequena mão foi até a minha segurando-a com firmeza. Me assustei, não com o toque em si, mas com o sentimento que ele me passou. Eu senti como se devesse cuidar daquela garotinha, que ela era alguém preciosa demais.

Andamos algumas quadras, Angie, como logo descobri ser o nome da pequena, era tagarela e curiosa, ela queria saber sobre a minha vida, o que eu fazia, se eu tinha namorada. Era fácil conversar com ela, embora ela sempre fosse esquiva quando eu fazia uma pergunta um pouco mais pessoal, aquilo me deixava inquieto e preocupado, mas ela sempre me lançava um sorriso caloroso que estranhamente me deixava mais calmo. Eu me sentia diferente desde o momento que a encontrei, meu coração estava diferente quente e ansioso, e eu não sabia explicar como ou o porquê daquilo. Eu apenas sentia. Sentia que tudo havia mudado, meu futuro inteiro havia mudado no momento em que segurei a mão de Angie. Era quase como se agora ela estivesse me guiando por um novo caminho.

Em minutos em me senti completamente cativado por aquele pequeno ser. Como poderia acabar de encontrar alguém e já se importar tanto? Havia algo em Angie, algo que eu não sabia identificar o que era. Mas aquela pequena menina tinha me feito sorrir, e Deus sabe que eu não sorria há mais cinco anos.

Logo chegamos em frente à uma casa com cercado branco, avaliei o local e fiquei um pouco tranquilo ao perceber que parecia um bom lugar para uma criança. Toquei a campainha da casa, sentindo-me anormalmente nervoso, tentei justificar esse meu sentimento na perda que logo sofreria, eu havia me apegado a Angie, eu segurava a mão dela e não queria mais soltá-la.

— Angie! - Ouvi o grito aliviado e tão logo a porta se abriu e uma mulher loira colocou seus braços envolta de Angie, abraçando-a com carinho - Eu estava tão preocupada!

— Não se preocupe, Ollie me trouxe de volta. - Ela explicou e finalmente a mulher pareceu me notar, ainda com Angie nos braços ela ergueu o rosto para mim. Eu queria manter meu semblante sério, eu estava planejando repreendê-la por deixar uma criança em tão tenra idade sozinha num parque quando estava quase anoitecendo. Mas assim que os olhos dela encontraram os meus eu me esqueci de tudo. Eu me perdi em seus olhos azuis que pareciam tão acolhedores e seu sorriso, eu estava deslumbrado por aquele sorriso. Era caloroso e radiante, e de repente eu estava sorrindo de volta. Eu, que não sorria há cincos anos, hoje já tinha sorrido duas vezes para duas pessoas completamente desconhecidas.

— Muito obrigada. - E se era possível a voz dela me deslumbrava ainda mais que o seu sorriso, era a voz de um anjo suave e delicada, era como uma doce melodia para os meus ouvidos.

— Não há de quê. - Respondi, após alguns momentos a presença daquela mulher me atordoava... - Você acha que eu poderia entrar por alguns instantes? Eu gostaria de ter uma palavrinha com você.

— Claro.- Falou um pouco incerta, mas dando passagem para que eu entrasse. - Angie, porque você não começa a enfeitar a árvore enquanto eu converso com o seu amigo...

— Oliver. - Falei e observei Angie assentir logo indo em direção à árvore. Aquilo era estranho, porque elas haviam deixado para enfeitar na véspera de natal? Esperei Angie estar entretida e me dirigi a loira.

— Eu só queria dizer que encontrei sua filha sozinha, num parque a algumas quadras daqui. - Censurei.

— Ela não é minha filha. - Demorei alguns momentos para assimilar o que ela dizia.

— Mas você é a responsável por ela, deveria estar mais atenta.

— Eu não sou. - Falou deixando-me confuso - Eu só a conheci essa manhã.

— Como assim? - Eu via uma ligação única entre elas, a forma como Angie a abraçou  e parecia contente não negava isso.

— Ela apareceu à minha porta hoje cedo. Fugiu das minhas perguntas sobre de onde ela veio, onde estavam seus pais. E depois simplesmente desapareceu. Foi tão estranho, em um momento eu estava conversando com ela e no outro ela não estava mais lá. - Falou num tom mais baixo, mas lançando seu olhar para Angie e verificando se ela ainda estava enfeitando a árvore. Pensei no que ela disse, e na própria forma como Angie apareceu no parque mais cedo. Eu tinha certeza que estava lá sozinho e de repente Angie estava no balanço.

— Você tentou ir a delegacia? - Questionei.

— Eu pensei nisso mas... - Fiquei mais atento, parecia haver certa culpa por trás de seus belos olhos azuis - Eu não queria levar ela até lá, eu sei bem o que eles fariam. - Assumiu um tom defensivo. - A colocariam num daqueles orfanatos. Ninguém merece passar a infância num lugar desses... - Senti certa mágoa em seu tom, como se ela soubesse como seria ruim viver em um orfanato, e quisesse proteger Angie disso a todo custo. - Então eu decidi que ela merecia um Natal decente pelo menos, e que depois eu procuraria a família dela... E se não a encontrasse... - Ela parou a sentença e seu olhar se perdeu por um momento.

— E se não a encontrasse? - Insisti.

— Aí eu ficaria com ela. - Me surpreendi com a resposta. - É claro que eu tomaria todas as medidas legais necessárias. - Completou rapidamente ao interpretar erroneamente meu olhar surpreso. - Angie tem algo... eu não sei definir o quê, mas eu sinto que ela é... - O rosto dela estava radiante enquanto falava de Angie.

— Especial. - Completei, encontrando seus olhos. Ela confirmou com um pequeno sorriso que eu correspondi. Eu estava perdido! Completamente perdido! Eu estava viciado no sorriso dela, era como se cada vez que ela sorrisse ativasse uma terminação nervosa que me fazia sorrir de volta. - Me desculpe, qual o seu nome? - Perguntei tolamente.

— Felicity Smoak. - Esticou a mão na minha direção.

— Eu sou Oliver Queen. - Segurei a mão dela com a minha. Sabe a sensação de encontrar algo que parecia estar faltando em sua vida? Foi assim que me senti quando a toquei, como se minha mão tivesse sido moldada para se encaixar perfeitamente na dela. Como se Felicity fosse aquela peça perdida do quebra-cabeças da minha vida que por tanto tempo esperei, ela havia acordado o meu coração que por tanto tempo se recusou a bater e agora ele batia desesperadamente.

Nossas mãos se soltaram depois de um longo tempo. Eu não sei o que foi aquela conexão que senti, mas dada a expressão de Felicity eu podia dizer que ela sentiu isso também. Desviei meu olhar dos olhos dela, precisava de um pouco de foco e não conseguiria isso perdido naquele azul sem fim. Encontrei o rostinho de Angie nos observando do sofá, ela tinha um sorriso contido nos lábios, mas a expressão em seu rosto me dizia tudo, ela estava exultante.

— Eu... talvez... - Me enrolei com as palavras. O que estava acontecendo comigo? Eu normalmente conseguia fazer uma sentença completa. - Eu acho que deveria ir. - Falei por fim. - Porque eu disse isso? Eu não queria ir embora! Eu queria ficar.

— Oh. - Ela pareceu um pouco triste.

— Angie está bem e eu... - Coloquei minhas mãos dentro dos bolsos, e tentava manter meus olhos longes do dela, enquanto buscava pelas palavras que eu deveria dizer. Mas eu não conseguia me forçar a dizer, parecia tão errado dizê-las - Eu devo ir. - falei por fim, sentindo o gosto amargo daquela sentença.

— É claro que você tem que ir. - Felicity parecia um pouco afobada e começou jogar as palavras sem sequer pensar antes - É natal e você vai passar com a sua família. Não que eu não queira passar essa data com você. Você é um estranho. Eu não deveria querer passar essa data com você. - Disse e logo pareceu se repreender mentalmente. - Me desculpe, eu acompanho você até a saída. - Falou por fim com suas bochechas coradas de vergonha.

— Não Ollie, você não pode ir! - Angie veio correndo em minha direção. - Eu preciso colocar a estrela lá no alto e você é o único alto o suficiente para isso. Por favor, fique conosco essa noite. - Pediu piscando seu olhos para mim, eu não era capaz de negar nada à ela quando ela fazia essa carinha. Mas não foi por Angie que fiquei, foi pelo brilho diferente que vi no olhar de Felicity. Um pedido silencioso, mas que ainda assim eu conseguia ouvir.

Ela também queria que eu ficasse.

 ❄ ❄ ❄ 

Felicity Smoak

Eu estava assustada.

Hoje era para ser um dia qualquer, sem nada de especial, mas estava definitivamente se tornando algo muito maior. Primeiro Angie, aquela garotinha me conquistou com um simples “oi”, e eu me vi rapidamente envolvida por ela. Agora, Oliver.

Eu não reconhecia o que acontecia comigo, o que ele fazia comigo. Eu não era dessas garotas, eu não me derretia por um rostinho bonito, mas assim que meus olhos encontraram os dele eu perdi o meu chão, eu não conseguia mais desviar meu olhar. E o meu coração? Decidiu se comportar da forma mais vergonhosa possível, eu tinha certeza que dava para escutá-lo a quilômetros de distância.

E então ele ficou. E foi simplesmente perfeito. Oliver, Angie e eu. Como três pessoas que acabaram de se conhecer poderiam acabar passando esse dia juntos?

Nós terminamos de enfeitar a árvore, Oliver equilibrou uma Angie sorridente em seus ombros, enquanto ela colocava a estrela no topo. Era tão estranho, a casa inteira parecia exalar um clima natalino agora. Havia meias na lareira, luzes piscando na árvore de natal e o cheiro de comida caseira. Era tudo tão acolhedor. Oliver me ajudou na cozinha e graças a Deus ele era um cozinheiro muito melhor do que eu. Nós jantamos e depois nos acomodamos na sala assistindo um daqueles especiais de natal. Tentei ignorar o aquilo parecia, Oliver e eu sentados no sofá com Angie entre nós. Eu nunca me senti tão bem, eu sentia como se fôssemos uma família normal. Eu precisava me lembrar de que não éramos.

Mas era tão fácil me deixar levar.

Oliver era uma boa pessoa, era fácil conversar com ele. Há muito tempo que eu não me sentia tão a vontade com alguém. Mas logo ele teria que ir embora, eu sabia disso, ele sabia disso. Mas parecia que ambos tentávamos ignorar isso e retardar o momento da despedida só mais um pouco.

— Eu acho que ela dormiu. - falei, percebendo que Angie ressonava encostada no colo de Oliver.

— Quer que eu a leve para o quarto? Ela parece um pouco pesada para você. - Apenas assenti, me levantando e indicando o caminho para o meu quarto enquanto Oliver pegava a pequena dorminhoca em seu colo.

— Vocês podem me contar uma história de natal? - Angie perguntou sonolenta, assim que chegamos ao quarto.

— Que tipo de história você quer? - Oliver a perguntou com um brilho diferente no olhar e um sorriso mínimo nos lábios.

— Uma história de natal. - Pediu, abrindo a boca num bocejo enquanto Oliver a colocava na cama. - Ollie você pode deitar aqui - indicou com a mãozinha o local ao seu lado direito. - E Felicity aqui. - Sorri com o pequeno pedido dela. Mas a atendi, deitando-me ao seu lado, me permitindo relaxar por um momento.

— Mas eu não conheço nenhuma história de natal. - Oliver disse, enquanto se acomodava no outro lado de Angie. - Você conhece alguma Felicity? - Perguntou, mas eu apenas neguei com a cabeça, eu até conhecia algumas, mas estranhamente não conseguia me lembrar de nenhuma nesse momento.

— Então eu vou contar uma. - Angie falou, pegando minha mão e a mão de Oliver, unindo-as juntamente com a dela, senti um calor ameno tomar conta de mim, aquilo parecia tão certo. - Era uma vez uma garotinha chamada Angie...

❄ ❄ ❄ 

Há muito tempo eu não dormia tão bem. Havia um calor começava na minha mão e se espalhava ao longo do meu corpo. Eu me sentia calma, aquecida. Havia também um perfume diferente que parecia exalar do meu travesseiro, era um cheiro amadeirado que eu não reconhecia, mas que já estava viciada. Respirei fundo uma vez tomando uma dose daquela fragrância deliciosa, senti meu travesseiro subir e descer lentamente. Espera, travesseiros não se movimentam! Abri meus olhos para investigar o que estava acontecendo, e meu coração palpitou assim que o vi.

Ele tinha os olhos mais lindos que vi em toda a minha vida, um azul tão escuro e intenso como eu jamais vi igual, eles pareciam faiscar na minha direção. Observei nossas mãos entrelaçadas, era de lá que vinha o estranho calor que emanava por todas as minhas células. Como isso foi acontecer? O rosto de Oliver não me trazia respostas, havia apenas um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Um sorriso contagiante que me vi respondendo.

— Feliz Natal. - Disse com a voz suave enquanto seus dedos brincavam com nossas mãos entrelaçadas, exatamente como Angie as havia colocado na noite anterior...

— Angie. - Falei, finalmente percebendo que ela não estava mais entre nós. As sobrancelhas de Oliver se uniram, e confusão tomava conta de seu rosto. Nos levantamos depressa e procuramos por Angie por toda a parte, mas não havia sinal dela. Ela simplesmente havia desaparecido.

Ao pé da árvore de natal Oliver encontrou um pequeno papel dobrado escrito “Para Oliver e Felicity”. Senti um nó se formar em minha garganta enquanto Oliver lia a nota de Angie:

“Existem pessoas que são feitas para ficarem juntas, mas por algum motivo estranho passam a vida inteira sem nunca se encontrarem. Alguém precisa consertar isso e as colocarem no caminho uma da outra.

Eu espero que tenham gostado do meu presente.

Amei conhecer vocês.

Feliz natal,

Angie"

— Só isso? Ela não disse para onde foi? - Questionei desesperada - Como uma criança de seis anos pode desaparecer assim? - Falei olhando para o bilhete agora em minhas mãos, ainda atordoada. - A porta estava trancada. - falei indo imediatamente verificar, sim ela estava trancada. A abri, esperando encontrar Angie do lado de fora, esperando ver seu sorriso maroto outra vez. Mas não havia nada.

— Eu não sei. - Escutei a voz suave de Oliver ao meu lado. - Felicity... - Oliver me chamou e virei-me ficando de frente para ele. Ele tinha um semblante estranho, como se estivesse pensando em algo impossível. - Angie falou ou interagiu com mais alguém desde quando você a encontrou? - Perguntou sério.

— Eu passei a maior parte com ela e não a vi conversando com mais ninguém exceto nós dois, as outras pessoas pareciam ignorá-la na verdade. - Disse pensando na reação da atendente do supermercado no dia anterior - Era quase como se ela...

— Não estivesse lá. - Oliver completou.

— Como isso é possível? Eu a vi, e você também! Ela era real. - Insisti.

— Eu não sei Felicity, talvez ela seja real apenas para nós. - Disse enlaçando as nossas mãos, senti aquela sensação boa se espalhar por meu corpo, olhei para Oliver e entendi o presente de Angie. Mas como isso podia ser possível? Aquela pequena garota tinha feito tanto por mim, e agora tinha ido embora. Não era justo! Senti as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto e de repente as mãos de Oliver me puxaram para mais perto, e então ele estava me abraçando, minha cabeça encostada em seu peito respirando seu cheiro tão bom e agora já tão conhecido por mim, suas mãos descendo e subindo por minhas costas tentando me confortar. Ergui meus olhos ainda dentro do seu abraço, vi que Oliver também parecia um pouco entristecido, Angie também era especial para ele. E não sei como, mas de repente olhando para Oliver a dor começou a ficar um pouco menor, o choro foi diminuindo a medida que me perdia no olhar de Oliver.

— Visgo. - Falei, olhando para o alto notando o pequeno galho verde sobre nossas cabeças, eu sabia que não o tinha colocado ali.

— Angie. - Oliver respondeu minha pergunta implícita com um sorriso mínimo, que claro eu correspondi. Estávamos tão perto um do outro que eu conseguia ouvir o coração dele bater, e devo dizer ele batia exatamente em uníssono com o meu. Seus olhos se fecharam e os meus fizeram o mesmo movimento, logo eu senti a pressão suave de seus lábios tocando os meus, suspirei com aquele contato tão simples e terno, mas que me fazia sentir coisas que nunca senti antes. Seus braços me apertaram um pouco mais contra si e o beijo logo se aprofundou, mas ainda assim mantendo a ternura de antes.

Esse era sem dúvida o melhor natal de todos os tempos.

❄ ❄ ❄  

Angie

Eu ia sentir uma falta imensa daqueles dois.

Eu deveria me sentir bem, afinal eu cumpri a minha missão. Gabriel estava satisfeito com o meu desempenho, mas ainda assim eu sentia um vazio em mim. Deixá-los não tinha sido fácil, era como se tivesse deixado uma pequena parte de mim na Terra com eles.

Anjos não deveriam se sentir assim, principalmente anjos como eu. Aprendizes de cupido. Eles podiam ser o primeiro casal que uni, mas não seriam o último e eu não deveria me apegar a todos eles.

Eu não pertencia a Terra, precisava me lembrar disso. Suspirei, peguei o globo de neve que Felicity havia me dado e olhei com certo orgulho para o casal que se beijava embaixo do visgo. Pensei em Oliver e Felicity, nunca tinha visto duas almas assim, destinadas a serem uma da outra. Almas gêmeas, era o termo correto. Tinha sido fácil juntá-los, eu só precisei fazer com que se encontrassem e depois foi natural. Seus corações os guiaram a partir daí.

— Finalmente te achei! - Escutei a voz de Gabriel e imediatamente tentei esconder o globo de neve atrás das minhas costas. Ele deve ter lido minha expressão, porque imediatamente seus olhos se estreitaram percebendo que eu escondia algo.

— Angelina. - Disse meu nome com uma leve repreensão - Vejo que trouxe um pequeno suvenir da sua viagem à terra. - Falou retirando o globo de minhas mãos.

— Eu sinto falta deles Gabe. - Confessei e o arcanjo suspirou.

— Deixe-me contar uma surpresa, você vai vê-los novamente.

— Eu vou? - Perguntei animada. - Quando?

— Num futuro não muito longe. - Falou balançando meu globo de neve e me entregando novamente. Notei que a imagem havia se modificado, ao invés do casal se beijando embaixo do visgo agora mostrava um pequeno quarto de criança um berço com um casal observando o bebê que ali dormia.

Arfei quando vi o nome que estava pintado nas paredes do quarto “Angie”. Olhei para Gabriel que sorria.

— Mas você vai ter que esperar algum tempo, um pouco mais de nove meses.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que a one tenha agradado =D Se puderem deixem um comentário, fico grata!Beijos da Luna :*