Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 35
Extremos




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NYREE

 

O mundo nonmīharo me parecia cada vez mais fantástico.

Tudo era novo ali. Desde as camas macias até aos estranhos recipientes cuja água desaparecia sem magia, cada coisa do pequeno quarto aparentava ser surpreendente.

Sonhara a vida toda em conhecer o outro mundo, aquele que crescera sabendo que as pessoas conseguiam viver sem nenhuma nesga de magia. A criatividade e habilidade deles para sustentar-se sem poderes eram simplesmente espantosas.

Apertei a pequena barra cheia de botões, fazendo a televisão ligar, e me aconcheguei um pouquinho mais nas cobertas da cama.

Recostada no travesseiro, subitamente, senti um aperto de saudade de minha família.

Tinha certeza que Ano adoraria correr pelos corredores do hotel, e Hana simplesmente enlouqueceria com as pias lustrosas, onde poderia passar a tarde toda ensopando a cara na água, sem ter que se afogar, como faria no rio de Tokonga.

Eu sabia que estar com Darel era a coisa certa. Mas também sentia falta de meus pais, os mestres e amigos que haviam me criado e amado desde o início. E dos meus irmãos, que, embora fossem terríveis ás vezes, me eram as pessoas mais queridas do mundo.

Assim que tivesse oportunidade, mandaria uma carta para eles. Quase me esquecera de fazer isso, dado meu espanto com tudo que andara acontecendo nos últimos dois dias.

Comecei a assistir, risonha, um programa estranho chamado Bananas de Pijamas.

Para um adulto nonmīharo, poderia parecer a coisa mais ridícula do mundo, mas eu, que nunca vira nada parecido, comecei a rir feito uma criança com os episódios que passavam. Na altura em que terminou, eu já decorara a letra de abertura, e, quando saí do quarto, fui até o banheiro cantarolando a musiquinha.

Encarei-me no espelho, quase não me reconhecendo. Decididamente nunca tivera aquele olhar tão grande e brilhante, e muito menos aquele sorriso bobo dançando em meu rosto pardo.

Deduzi que talvez fosse efeito do melhor remédio deste mundo.

Não havia como descrever aquela felicidade pungente que me assolava. Estar com Darel era como o oxigênio que eu precisava para me manter viva. Se um dia ele se esvaísse, eu com certeza não suportaria, e morreria antes mesmo que em desse conta.

Circulando pela suíte, pensei se devia pedir algo para comer, mas pensei que talvez fosse um grande abuso da hospitalidade de Hermione, que já tivera de me encaixar no hotel em cima da hora. A última coisa que queria era parecer que estava me aproveitando daquela garota tão gentil e simpática.

Sabia que a falta dos pais devia lhe causar muita tristeza, e, sinceramente, esperava que tudo desse certo. Era tocante ver o como estava decidida a concluir seu objetivo.

Parecia que, afinal, havia duas novas pessoas na lista das que eu maios admirava. Tinha me encantado por aqueles dois, e, por alguma razão, percebi que ali havia um sério risco de surgir uma incrível amizade.

Afinal, se eram importantes para Darel, com certeza também o seriam para mim.

Um som de algo batendo violentamente me fez saltar de frente ao lavatório.

Pisquei, aturdida.

Confusa, dei meia volta, virando o corpo em direção ao quarto e saindo do banheiro.

— Darel? – indaguei – é você?

Não fazia nem uma hora que haviam saído. Como poderiam estar de volta?

Foi quando, para meu espanto, vi, dentro da suíte, uma mulher de cabelos negros, apontando uma varinha em minha direção.

Recuei, as mãos erguidas em posição de defesa.

— Quem é você?

A mulher apenas sorriu. Não era um sorriso feliz ou amigável. Parecia mais com o esgar de uma fera que acabara de focalizar uma presa para sua refeição.

— Não importa, pequena. Eu tenho assuntos a tratar com a sua amiga.

Eu não fazia ideia de quem era aquela pessoa.

Mas de uma coisa eu sabia. Ela queria prejudicar Hermione.

Espalmei as mãos, gesticulando-as defronte á mulher. O fogo azulado que conjurei em sua direção foi desviado com o aceno de sua varinha.

— Você vai ficar longe deles! - bradei, contraindo o rosto.

Ela gargalhou, me encarando com um sorriso zombeteiro.

— Parece que tudo que me disseram sobre a magia Tokonga não passa de uma historinha... – balançou a cabeça, bradando - sectumsempra!

Em seguida, fez um movimento violento contra mim.

Um jato de luz me atingiu, fazendo meu corpo desabar no chão com um baque surdo.

Tentei me erguer de imediato, mas uma dor excruciante brotou em minha cintura, como se meu corpo estivesse em chamas. Soluçante, voltei a cair no piso, e apalpei o local que o feitiço atingira, ficando angustiada ao sentir algo quente e líquido encharcar minhas mãos.

Senti minha visão anuviar, o que fez com que não conseguisse focalizar a mulher, que se aproximou de mim, guinchando-me cruelmente pelos pulsos.

Eu não conseguia me mover. A dor só aumentava.

E tudo que eu conseguia enxergar, em meio ás nuvens, era a trilha rubra que surgiu no chão, enquanto ela me arrastava.

Meu corpo foi jogado dentro da banheira, cujo impacto, dado o som de algo rachando, indicou que eu quebrara uma ou mais vértebras, dobrando minha dor de intensidade.

Queria sair daquele torpor dolorido. Queria impedir quem quer que fosse aquela mulher de fazer mal aos meus amigos.

De fazer mal a Darel.

Porém, só conseguia ver minha visão cada vez mais turva, misturada em tons esfumaçados de branco e vermelho. Minhas pernas se umedeceram com o sangue que escorria, provavelmente empoçando o mármore abaixo de mim.

— Não... – sussurrei, fraquejando – deixe... deixe-os...

— Ah, minha menina – ouvi-a rir, segurando minha cabeça cambaleante – se não tivesse sido burra de revidar, não estaria nesta situação. Essa briga não é sua. Mas sua estupidez pode vir a calhar, se quer saber.

Ela soltou meu queixo, fazendo com que minha cabeça desabasse numa pancada na beira da banheira.

Senti meu crânio latejar, somando-se á dor que percorria cada célula e cada parte de mim.

No entanto, antes de sentir a inconsciência me levar, nenhuma dor me arrebatou mais do que a de não saber o que aconteceria com Rony e Hermione.

E de saber que Darel poderia pagar pela minha incompetência.

Por, mais uma vez, ter sido fraca.

Por favor... por favor. Desculpe, Darel. Eu sinto muito...

E então veio a escuridão.

 

 

 


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