Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 34
Planos e Planejamentos




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DAREL

 

Chegamos a Darwin em menos de cinco horas.

Isso pareceu intrigar Hermione terrivelmente, já que, assim que descemos do Hilux alugado, ficou encarando a carroceria do carro, como se este tivesse lhe feito uma afronta pessoal.

— Esse carro não é um simples automóvel trouxa – resmungou, estreitando os olhos para mim.

Fingi que estava assistindo Nyree dançar conga com a bagagem, disfarçando meu embaraço.

— Ahn... não... não é... – falei vagamente - eu o aluguei de um bruxo de Alice Springs que enfeitiça automotivos para que desviem qualquer atenção de sinais, semáforos, medidores de velocidade e lombadas eletrônicas, além de fazer com que eles atinjam uma grande velocidade sem que os passageiros que estão dentro percebam – engasguei, mordendo o lábio - então, é, é um carro bruxo.

— Maneiro - Rony falou. Sorri para ele. Parecia que alguém ali não era tão atado á convenções éticas quanto Hermione.

E depois, o que ela podia dizer? Não era só eu que estava quebrando as regras por ali.

Assim que chegamos e nos instalamos no Mandalay Luxury Villas, nosso novo hotel, percebi, porém, que Hermione parecia muito insegura. Pude imaginar que estava ansiosa por saber que seus pais estavam ali, talvez á poucos quilômetros de nós.

Por isso, tentei tranqüilizá-la, pensando em colher mais algumas informações no centro de Darwin.

— Vou ao centro da cidade tentar contatar alguns colegas. De repente, vou conseguir puxar informações suficientes para localizar onde seus pais estão morando em Darwin... se não tiverem se mudado para outro lugar, é claro...

— Deus me livre, Darel – Rony arregalou os olhos - não fale isso nem brincando... ainda estou me recuperando da viagem pelo deserto como um pangaré... não faz isso comigo...

— Ande, Darel... – senti Nyree me empurrar, rindo - vá ver isso logo... não quero ficar três horas com saudade de você...

Revirei os olhos, tentando disfarçar minha vontade insana de pegar Nyree no colo e beijá-la até me faltar o ar.

— Tchau, Nyree.

Ela sorriu, acenando para mim. Ver aquela expressão feliz estava acabando com minhas estruturas, e me fazendo ter a vontade insana de não querer sair porta afora.

Balancei a cabeça, rindo, e finalmente convenci meu corpo bobo a se retirar do quarto.

—-----------------------O-------------------------

Voltei para o hotel horas depois, segurando, satisfeito, um novo dossiê de informações, enviado, por correio aéreo, pela cacatua barulhenta de Beatriz.

Quando voltei ao quarto de Rony e Hermione, porém, percebi uma atmosfera diferente no lugar. Nyree parecia assombrada, Rony não parava de sorrir, e Hermione tinha aquela expressão já familiar de arrebatamento no rosto de porcelana.

— O que houve aqui? – indaguei, chacoalhando o prontuário em minha mãe.

— Você não faz idéia – Rony arfou, enquanto Hermione se postava na ponta da cama, os olhos brilhando de animação.

Ela me contou que, enquanto eu estive fora, eles haviam visto , no último dossiê que eu trouxera, uma série de dados sobre uma transferência comercial, feita de Alice Springs para Darwin. E, nestes dados, encontraram o que parecia ser um novo centro dentário aberto pelos pais de Hermione.

O plano dela era marcar uma consulta com os pais, no centro, usando-o como disfarce, encaminhar-se ao local e, na privacidade do atendimento, finalmente reverter o Feitiço de Memória do Sr. e Sra. Granger.

Plano simples.

Mas completamente louco.

Só pisquei em sua direção, tentando encontrar as palavras que queria usar.

— Granger... não sei como te dizer isso... - encarei-a, atordoado - mas você pirou.

— Ela já era pirada, Darel – Rony brincou, erguendo as mãos - isso só reforça um pouquinho a piração dela.

Revirei os olhos, entregando-a as novas informações. Por ironia, eu já tinha conhecimento da tal Otter Dental Clinic, cujo endereço e telefone estavam escritos logo na primeira página do prontuário mais recente.

— Anota aí, Rony - Número Duzentos e Sessenta e Seis, da Trower Road.

— Anotado... – ouvi Rony falar, perto do criado-mudo - e o telefone?

— 61 8 8945 4022... – ditei, segurando o bocal do telefone do dormitório, e inclinando-o para Hermione - quer discar?

Ela o apanhou, me lançando um olhar assustado. Parecia ligeiramente temerosa de interagir com o pai pela primeira vez, depois de tantos meses.

Senti meu estômago se apertar de compaixão. Podia ver a angústia da saudade em seu olhar. Era ao mesmo tempo incrível e triste de se ver.

— OK – sussurrou, enfim, digitando o número e apanhando o fone.

Ficamos estáticos, aguardando que um dos pais de Hermione atendesse o número discado.

Ouvi, de repente, Hermione arfar. Seus olhos borbulharam de lágrimas, que secou com a mão livre, tentando ocultar um gemido.

— Bom dia... – Hermione tampou os olhos, a voz baixando uma oitava- seria o Doutor Wendell... Wilkins?

A resposta, qualquer que tenha sido, fez Hermione bambear ao lado do colchão.

— S-sim – ela continuou, segurando o criado-mudo. Temi que fosse desmaiar ali mesmo - meu nome é... Hermione Williams – dei um guincho, misto de humor e indignação, quando ela usou meu sobrenome australiano - gostaria de marcar um exame periódico... para o primeiro horário disponível...

Enquanto aguardava, Hermione tampou o bocal, ofegante.

E, quando ouviu o atendente responder outra vez, arregalou os olhos.

— Sim. Pode ser...OK... obrigada, Doutor Wilkins. Até mais...

Hermione, por fim, desligou o telefone. Trêmula, desabou na cama, com Rony afagando seus ombros.

— Hoje, às três da tarde. Vamos nos preparar, então.

— Ele parece... bem – Hermione soluçou alto - eu... nem pude perguntar sobre mamãe...

Eu fiquei pensando se aquela vontade de dar um abraço de urso em Hermione seria normal, ou eu estava tão compadecido com sua situação que me via em seu lugar.

— Mas você vai vê-la, Hermione – vi Rony sorrir para ela - anime-se! Vamos levar seus pais para casa logo, logo...

— Tem razão – vi-a assentir - tem razão...

— Ainda é uma hora da tarde – comentei - podemos ir a pé... – sugeri - Trower Road não é longe daqui... dá mais ou menos uma hora de caminhada... vamos chegar cedo. Quer que a gente já vá indo?

— Sim – Hermione confirmou com a cabeça, ainda chorosa.

Antes de sair com Nyree, porém, vi Rony tascar um beijo em sua testa, fazendo-a rir.

— Pare de se martirizar, Hermione. Eles estão e vão continuar bem. Vocês vão ficar bem.

Ela sorriu, segurando sua mão.

— Você vai junto? – indaguei á Nyree.

Nyree olhou de soslaio, sem graça. Sua carinha perdida fazia aquela vontade de agarrá-la voltar outra vez.

Que coisa doentia... maravilhosamente doentia.

— Bem, eu queria ficar. Quero aprender a usar aquela janela com vários cenários...

— Televisão – ri.

— É, isso aí – deu de ombros, achando graça.

— Está bem – puxei-a pela cintura, plantando um beijo carinhoso em sua boca – volto logo, está bem?

Nyree me olhou, carinhosa.

— Eu sei que vai voltar – disse, afagando meu rosto e voltando para o quarto.

Acenei para ela, ainda sem entender como cada centímetro que me distanciava de Nyree parecia retorcer todas as minhas terminações nervosas.

Sabia que Nyree tinha razão. Eu sempre voltaria para ela. Nunca mais me distanciaria de verdade outra vez.

No entanto, se soubesse o que aconteceria em breve, jamais a teria deixado ficar.

 

 


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