Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 32
Tensões de Alice Springs




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DAREL

 

Quando voltamos do centro de Alice Springs, ainda via em minha mente, como num filme, a expressão maravilhada de Nyree a todas as novidades do mundo urbano.

Lembrei, com um assomo de compreensão e ternura, que havia passado pela mesma reação quando pus os pés pela primeira vez em Sydney.

Depois de receber mais informações da filial de Sydney, descobri novas notícias sobre os pais de Hermione. Satisfeito, havia guardado minhas anotações na bolsa, louco para avisá-la das novidades.

Mas isso teve que esperar, já que levei Nyree para o passeio que prometera.

Qualquer pessoa que não reparasse em nossa fisionomia poderia ter facilmente nos confundido com um alegre casal australiano em passeio. Nyree simplesmente enlouqueceu com as lojas, querendo ver cada vitrine. Havíamos tomado sorvete depois, embora eu jurasse que nunca tinha visto alguém saborear um pote com tanta voracidade, e tive que dar uma palmadinha brincalhona em sua mão para acalmá-la.

— Mas é uma delícia – ela guinchou inocentemente, me fazendo rir.

Já se sentindo á vontade, foi Nyree que apertou os botões do elevador para voltarmos aos quartos, rindo como uma criança, e fazendo meu peito se apertar de carinho com o som de sua risada.

Assim que chegamos, Nyree foi avisar nosso retorno para Rony.

— Olá, senhor Weasley... – a vi dizer da porta, enquanto eu acenava para ele - a sua amiga já voltou?

Dei um guincho engasgado. Minha nossa, Nyree não tinha notado ainda que o buraco era mais embaixo?

Rony pareceu pensar na mesma coisa, pois deu um sorriso humorado.

— Na verdade ela não é minha amiga.

Nyree me lançou um olhar “que-diabo-por-que-não-me-avisou-cachorro” e voltou a olhar para o garoto, mordendo o lábio.

— Desculpe... não notei que os senhores eram... bom... - ela arregalou os olhos para mim, pedindo socorro.

— ...amasiados? – brinquei, dando uma acotoveladinha brincalhona nela.

— É... – ela riu, sem graça.

— Cara, você vai ter que me explicar o que diabos é isso... – ele ganiu, parecendo segurar o riso.

— Amasiados? Quer dizer namorados... apaixonados... amalgamados... enrolados... entenda como preferir – olhei para Nyree, sem conseguir esconder o sorriso - o mesmo que eu e essa moça aqui.

Nyree me abraçou, e tive que suprimir aquela vontade insana de retribuir á altura, prendendo-a em meus braços e nunca mais a soltando.

— Mas, respondendo a sua pergunta, Nyree... não, não a vi ainda... – ele encarou o relógio pendurado na parede, com uma expressão preocupada - e está ficando tarde... tem novidades sobre os pais dela, Darel?

— Sim, tenho – fingi me desvencilhar de Nyree, que fungou, também encenando, e apanhei as anotações que fizera mais cedo - peguei essas informações com amigos no centro da cidade. Eles passaram uma temporada de cinco dias aqui em Alice Springs, e se dirigiram para Darwin através da rodoviária... por enquanto, é tudo o que temos... mas já sabemos que eles realmente se instalaram em Darwin... só podemos ir até lá e torcer para que não tenham ido ainda mais longe.

— Então, agora é uma viagem direto para Darwin?

— Sim... vou aprontar tudo para viajarmos amanhã... meu Ranger ficou em Melbourne, então vou alugar um carro por aqui... – comentei - o senhor tem s comunicado com sua família?

Seu rosto se vincou dolorosamente, como se tocar no assunto trouxesse pensamentos muito ruins.

— Não... pelo menos, desde Melbourne... – ele murmurou, baixando a cabeça.

Tentei pensar em algo para dizer que pudesse animá-lo, mas a ironia do destino parecia ter intercedido por mim, já que vi, ao longe, Hermione entrar no corredor onde estávamos, ostentando várias sacolas de compras. Quase esquecera que havia saído um pouco depois de nós, também para dar uma volta no centro.

— Ah... – arfei - parece que a sua amasiada chegou - ele brincou.

— Parou, Darel – Rony estreitou os olhos, cutucando Nyree, que riu outra vez - por que vocês dois não vão dormir... na mesma cama?

O sorriso de Nyree se esvaiu feito o ar de uma bexiga perfurada. Já eu tive que revirar os olhos e fingir um sorriso meio irritado.

— Estou com fome – ela ciciou para mim, num tom de desespero, que só podia ter á ver com querer sair dali e não dar uns coices de canguru na fuça de Rony.

— Tá bom... – bufei, balançando a cabeça para Rony e puxando Nyree para fora do quarto. Ouvi-o rir enquanto saíamos.

Acenei a cabeça para Hermione, que passou por nós, nos cumprimentando e entrando no cômodo do qual havíamos acabado de sair.

Olhei para a sacolinha que ela levava para dentro, e dei um gemido de surpresa ao ver o logotipo da loja.

— Victoria’s?

— O que?

— Nada – falei para Nyree, refreando o queixo que queria desabar – uma loja de... minha nossa.

Por isso Hermione estava tão estranha desde que havíamos saído de Tokonga. Agora entendia por que tanto segredo.

Pisquei, aturdido. Parecia que tinha muito que aprender ainda sobre aqueles dois.

Nyree já estava sentada na cama quando entrei no quarto, aparentando estar absurdamente amuada, encarando os lençóis como se estivesse perdida num emaranhado de arbustos.

Sentei ao lado dela, também envergonhado.

— Bem... – sua voz baixou até parecer um pio de passarinho – quer que eu... apanhe alguma coisa para dormir no chão?

Meu corpo pareceu enrijecer completamente, enquanto meus olhos percorriam o chão. Senti-me um garotinho de dois anos outra vez, sem saber o que dizer.

— Acho que não precisa – minha voz engasgou na última palavra.

Nyree estava tão atordoada quanto eu naquela situação constrangedora, mas nada disse, dando um longo suspiro.

— Então... está bem – ciciou, virando o corpo para deitar no colchão.

Evitando olhar para seu rosto, dei a volta na cama, deitando o corpo ao lado do dela, e aninhando a cabeça no travesseiro.

Ela arriscou lançar uma olhada para mim, e, para minha surpresa, deu uma risadinha.

— O que foi?

— Sua cara de espanto – Nyree arrulhou – me lembra da primeira vez que eu te vi. Só que mais gorduchinha.

— Gorduchinha, é? – falei, ao que ela se encolheu, divertida, quando ergui a mão – vamos ver o que você acha do gorduchinho quando eu terminar com você...

— Darel, não! – ela gargalhou antes mesmo que eu começasse a fazer cócegas em sua barriga – para!

Só os céus sabiam que poucas coisas me eram tão maravilhosas quanto as risadas de Nyree. Era o som mais incrível do mundo, e faziam automaticamente com que eu sorrisse.

Diverti-me enquanto ela se retorcia, tentando fugir de meus dedos. Por fim, parei quando a vi ofegar, o rosto lacrimejando de tanto rir.

— Você me paga... Darel... – ela arquejou, rindo, ainda segurando a barriga.

— Eu sei – sorri, dando um beijo em sua testa, ganhando um lindo sorriso de presente.

Enquanto ela voltava a se recuperar das risadas, abracei sua cintura, afagando seu rosto com a mão livre. Nyree deitou a cabeça em meu ombro, suspirando pesadamente.

Foi uma questão de alguns minutos para perceber, enfim, uma inspiração suave ao meu lado.

Nyree havia adormecido.

Podia assistir aquilo por horas a fio. Vê-la dormindo, relaxada e cândida, como uma menininha.

Eu não fazia idéia de como uma garota podia ser tão linda e especial.

Naquele momento, percebi que não me arrependia de ter voltado. Saber que meus medos eram infundados... saber que Nyree me amava... era algo que eu nunca teria imaginado.

E, agora, Nyree estava de volta em minha vida.

Ergui-me da cama, deitando gentilmente sua cabeça nas almofadas, e descendo do colchão.

Ia aproveitar a aparente tranqüilidade para fazer outra ligação na filial, talvez conseguindo mais alguma coisa sobre a localização dos Granger.

Mas foi nesta hora que ouvi um grito de congelar o sangue, que me fez correr desabalado em direção ao quarto de Hermione.

— DAREL! SOCORRO!!

 

 


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