Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 31
Um Novo Mundo




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DAREL

 

Passei as seis horas seguintes lançando olhares fuzilantes para a fjord ao meu lado. e resmungando relinchos comigo mesmo.

Podia ver, pela expressão petulante de Nyree, que ela sabia muito bem como eu realmente me sentia com sua presença ali.

Fora uma surpresa.

Eu só não sabia ainda se fora uma surpresa muito boa ou levemente ruim.

Admirava-me que sua família tivesse deixado Nyree sair de Tokonga. Conhecendo-os como me lembrava, sempre haviam salvaguardado-a como a mais preciosa das jóias – o que Nyree,a final, realmente era.

Só havia um motivo para acharem que ela estaria melhor vivendo ao meu lado.

Por que Nyree precisava estar.

E eu, de certa forma, também teria precisado. Estava insanamente alegre por ela estar ali.

Mas também sentia medo.

Sentia medo pro não saber o que nos aguardava adiante. Afinal de contas, Vira Hermione, conhecedora exímia de feitiços e locais, quase morrer afogada há poucos dias. O que aconteceria com uma garota maori que nada conhecia do mundo fora da tribo?

Eu mal conseguira salvar direito a garota sob minha tutela como guia...

Talvez eu estivesse criando muito caso por nada. Mas o diabo era que eu tinha que me preocupar. Tinha que ficar enlouquecido com as atitudes drásticas e surpreendentes daquela garota maravilhosa.

Assim que chegamos á Alice Springs, nos escondemos num beco próximo, para voltarmos á forma normal.

Hermione emprestou á Nyree algumas roupas, para que ela não chamasse atenção com suas vestimentas da tribo.

Assim que ela terminou de se trocar, apareceu para enós, dando uma voltinha e rindo, esperando a avaliação de sua nova aparência.

Ela pareceu satisfeita ao me ver estremecer, meus olhos saltando ao vê-la trajar uma delicada blusa de alças e uma calça jeans.

Que diacho. Como se Nyree precisasse ficar mais bonita.

— Hum... – pigarreei, atordoado, estreitando os olhos para Rony- está bonita, Nyree...

Ela sorriu, envergonhada, fazendo meu coração já disparado dobrar de marcha.

— Obrigada, Darel.

Rony cochichou algo para Hermione, ao que os dois riram. Por algum motivo, tinha a impressão de que eles simplesmente estavam adorando a interação entre mim e Nyree, como se fossemos a haka mais interessante deste mundo.

Entramos no novo hotel, atravessando o hall de entrada e pegando os elevadores, em direção ao andar de nossos quartos.

— È um elevador – Hermione disse, sorrindo, respondendo a expressão maravilhada de Nyree.

— Elevador – ela testou a palavra – os nonmīharos são muito criativos.

Finalmente, chegamos a um longo corredor, onde estariam os dois quartos que havíamos alugado.

— Mas Darel... – Hermione guinchou – e o problema das cam...

Acotovelei Hermione, fazendo-a interromper o falatório e dar um ganido engraçado.

Quando finalmente chegamos nos quartos, e entramos no meu, Nyree pareceu deduzir por si mesma qual seria nosso terrível problema.

Ela me lançou um olhar assustado.

Ou aterrorizado seria a palavra certa?

Revirei os olhos, também constrangido, quase esquecendo que Nyree nada sabia da constante malicia com que as outras sociedades – bruxas ou trouxas – veriam um casal dividindo a mesma cama.

Nem tive tempo de discutir aquele assunto medonho, já que Nyree apanhou o braço de Rony, ganiu um “vamos dar uma volta” e desapareceu com o pobre rapaz corredor afora.

Olhei para Hermione, que tinha a expressão mais sonsa do mundo. Por um momento, parecia uma garotinha com uma lupa, esperando que as formigas na qual mirava pegassem fogo..

— Você sabia que essa presepada dos quartos ia acontecer, não é?

Ela deu de ombros, suspirando.

— Deixe de ser mala, Darel... Nyree deixou a família... tudo o que conhecia... só para te fazer companhia... você podia ser menos chato e ficar feliz com isso.

Conhecia Hermione Granger havia menos de seis dias, e já sabia que aquela garota tinha o talento nato para dizer as verdades que mais nos desequilibravam.

— Ah, tem razão, Granger... – olhei para a porta, cruzando os braços - mas me sinto tão inseguro de vê-la longe dos Tokonga... sem saber como se virar nesse mundão afora... e se eu não conseguir ajuda-la? E se..

— Pare, Darel – Hermione me interrompeu, olhando-me séria - pare de pensar no "e se". Comece a pensar no "quando".

Parei por um momento, encarando o rosto suave de olhos castanhos. Sempre achara que a sabedoria era uma virtude dos mais experientes, coisa de pessoas mais velhas, como Akahata e os anciões.

Admirava-me ver tanto dela numa garota tão jovem. Hermione era, decididamente, uma das pessoas mais extraordinárias que eu conhecera fora de Tokonga.

— Você é tão boa nesse assuntos – sorri, admirado - não me admira que Weasley goste de você. Ele tem uma carência muito grande de tanta praticidade. Você realmente o completa...

— Ahn... – ela ciciou, tímida - valeu.

Quando terminamos de desfazer nossas malas, após meia hora, Nyree e Rony estavam de volta.

Sorri, humorado, ao ver que Nyree estava completamente extasiada depois do passeio.

— Senhorita! Isso aqui é incrível! Tem um lago dentro dessa cabana enorme! E a água é quente como a de um gêiser! E tem uma telas estranhas com desenhos e imagens de pessoas dentro delas! Tem um lugar para comer cheio de frutas gostosas e docinhas! É maravilhoso!

Hermione me olhou, com uma expressão de quem queria apertar as bochechas de Nyree, o que quase me fez cair na risada.

Talvez eu devesse mostrar á ela um pouco mais de Alice Springs. Sempre fora um sonho de Nyree conhecer os espaços urbanos, embora, até então, nunca tivesse tido nenhum motivo para viajar para fora de Tirari-Sturt.

Decidi que Hermione talvez não se importaria. Mas não custava perguntar.

— Granger....  eu queria mostrar a cidade para Nyree... posso levá-la? Voltarei mais tarde, e aproveitarei também para contatar alguns colegas para colher informações sobre seus pais...

— Claro, Darel -  ela revirou os olhos, sorrindo quando apanhei a mão de Nyree - bom passeio para vocês...

Senti Nyree pular ao meu lado, me fazendo rir, e, num átimo, puxando-me para fora do quarto, e deixando aqueles dois no quarto.

— Acalme-se, Nyree – falei, balançando a cabeça.

Nyree olhou para os dois lados do corredor, parecendo apreensiva. Estranhei seu olhar preocupado.

— Está com raiva de mim?

Ergui a cabeça, chocado.

— Como assim?

Ela afagou o braço, desconcertada.

— Por eu ter vindo – ela murmurou.

Meu coração só faltou se esfarelar com aquela demonstração de insegurança.

Segurei seu rosto em minhas mãos, sentindo uma vontade boba de rir.

— Como eu poderia ter raiva? – encostei minha testa na dela, sorrindo – a única coisa que faltava em minha vida está aqui, na minha frente – afaguei seu rosto, sentindo oc arinho me inundar - como teria raiva disso?

Nyree franziu o cenho.

— Mas você disse...

— Eu estava assustado – cortei-a, ainda rindo – eu fiquei atordoado quando você apareceu. Não sabia se conseguiria cuidar de você nessa selva de pedra. Mas quer saber? – abracei-a – agora eu não estou mais assustado.

Vi os olhos de Nyree brilharem.

Quando ela apertou o abraço, jurei que nunca tinha me sentido tão vivo e feliz.

— Senti sua falta – ela soluçou.

Embora meras palavras não pudessem descrever a saudade que tivera de Nyree, não pude deixar de extravasar.

—Eu também – inspirei, encostando seu rosto no meu.

Ficamos alguns minutos abraçados, simplesmente admirando a respiração um do outro, até que Nyree me soltou e sorriu.

— Bem, eu quero conhecer mais desse lugar – ela balançou adoravelmente o corpo, erguendo a mão em minha direção – pode me guiar?

Peguei sua mão, beijando-a e fazendo Nyree rir.

— Com certeza, senhorita.

Saímos em direção aos elevadores, de mãos dadas, como qualquer outro casal passeando em Alice Springs.

Meu peito ribombava, ardendo de felicidade. Nunca pensei que teria aquela sensação outra vez.

Podia jurar que meu futuro finalmente seria completamente livre de qualquer angústia.

Foi um ledo engano.

 

 


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