Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 2
Céu Azul, Céu Estrelado


Notas iniciais do capítulo

Olá, seres humanos! :D
Novo capítulo de Nyrel para vocês! :3
Boa leitura!



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DAREL

Os maoris de sangue mágico sempre foram conhecidos pela excelente memória. Cada um de nós consegue se lembrar de cada detalhe e acontecimento, desde o momento em que surgimos no mundo.

Bem, eu não fui exceção. Mas não me lembro de tudo também. Minha terra natal tem poucas lembranças, embora cada uma seja especial.

Nasci numa madrugada de fevereiro, na tribo em que meus pais haviam nascido e crescido - a Whanautanga, neozelandesa, das florestas mais ocultas da ilha.

Lembro vagamente de minha mãe se inclinar, com o rosto exaurido de cansaço, e abrir um sorriso enorme, assim que finalmente me encarou.

Alguém tinha dito, sem hesitação, qual seria meu nome.

– Ele é Darel – bradou a voz – nosso pequeno céu azul.

Só fui entender por que fui batizado assim quando me vi diante do meu reflexo pela primeira vez, no riacho que cortava a aldeia. Ainda acho graça da reação que tive, tocando meus olhos como se nunca tivesse visto nada parecido, sem conseguir desviar o olhar da cor elétrica ciana que contornava minhas pupilas.

Minha mãe, Ataahua, era uma maori fantástica, com um talento imprescindível para a música. Foi, segundo dizia meu pai Kaitiaki, o que havia feito com que ele se apaixonasse logo que a conheceu.

Para a diversão de meus pais – o que foi um alívio – eu não parecia ter herdado o que quer que fosse do talento de mamãe. Por que as minhas lembranças seguintes se resumem á papai me pegando no colo e me afastando das panelas com que eu fazia tanto estardalhaço, gargalhando até não mais poder.

– Não, Darel – ele franzia o cenho, fingindo zanga, mas não aguentava e recomeçava a rir.

Whanautanga era um lugar maravilhoso para uma criança. Os maoris de lá simplesmente adoravam os pequenos, e não faltava uma ou outra jovem da tribo que não se dispusesse á cuidar dos filhos das demais. Então, meus primeiros dois anos de vida se resumiram á estar quase sempre cercado de mulheres mais velhas, magia e muitas crianças travessas.

Desde cedo, minha mãe já costumava a me ensinar o quando a vida e o equilíbrio ao nosso redor eram importantes. Para ela, era vital que eu entendesse que nossa magia nada mais era do que um presente da Natureza.

– A vida o nosso redor é muito importante, aroha – ela me dizia, sempre dando como exemplo alguma criatura ou planta que surgia diante de nós – temos de usar o que temos com sabedoria. Quando partirmos, toda essa magia voltará para Aquela que nos emprestou sua energia.

Eu não precisava discutir aquilo. Primeiramente, por que uma criança de um ano e meio nem sequer podia entender a complexidade daquelas palavras. E, depois, mesmo tão novo, por que eu já via e compreendia a importância daquela verdade. Eu sentia, desde cedo, a vibração que nossa magia ancestral fornecia.

Bem, foi uma das primeiras coisas que aprendi. Qualquer vida era valiosa, e merecia ser protegida.

As lembranças se esmaeceram de minha mente durante os seis meses seguintes. Não me recordo de quase nada dos últimos dias que passei entre os Whanautanga.

Mas de uma coisa eu lembro com bastante nitidez.

Quando completei dois anos, meus pais tomaram a decisão que mudaria minha vida para sempre.

Chegou, enfim, a notícia de que minha avó materna, nascida e residente de uma tribo maori australiana, estava muito doente. E mamãe foi taxativa em dizer que precisava se voltar para a aldeia de origem da mãe, para apoia-la e – caso fosse tarde demais – poder se despedir.

Papai não resistiu á ideia.

Pelo contrário. Assim que soube do que estava acontecendo, fez os preparativos para que partíssemos rumo á Austrália.

Foi triste ter que se despedir das bondosas mulheres e dos meus vários colegas de brincadeiras. OS Whanautanga ficariam para trás, assim como o lugar onde eu nasci.

Mas, como qualquer outra criança, eu logo consegui superar a partida.

Nossa viagem foi demorada. Devido á arriscada travessia que fizemos por água até chegar ao novo território - feita cautelosamente para não chamar a atenção, numa canoa que papai construíra - atravessamos o país, indo em direção á tribo Tokonga – a nova aldeia que eu viria a conhecer.

A diferença de paisagem e clima era absurda. Das florestas temperadas, eu me via agora numa área desértica, que não lembrava em nada a minha aldeia de nascença.

Logo na entrada da tribo, mamãe foi recebida por alguns parentes, incluindo a irmã e sua pequena sobrinha – minha prima Aya.

Infelizmente, a comissão de boas-vindas foi devida á tragédia. Vovó não resistira.

Mamãe ficou devastada.

Eu não compreendia o que estava acontecendo, e tudo parecia grande demais para um garotinho tão pequeno. O peso da mudança e do luto que banhava nossa família não era exatamente algo que uma criança conseguisse aguentar.

Mas meus pais eram mais fortes do que eu – mais fortes do que eu pensava. E conseguiram, mesmo em meio ao pesar, me ajudar á superar tudo aquilo.

– Queria que pudesse ter conhecido sua avó, tama - minha mãe soluçou, afagando meus cabelos – vai ficar tudo bem, meu amor.

Eu queria acreditar nela. Mas algo em mim parecia impedir que eu aceitasse nossa nova realidade.

Depois do que acontecera, meus pais não queriam voltar para os Whanautanga. Mamãe nunca superaria a perda de minha avó se voltasse a se ocultar nas florestas da Nova Zelândia.

Então, os dois meses seguintes foram quase assustadores. Eu não conseguia em enturmar com as poucas crianças da tribo. As mulheres Tokonga – embora também adorassem crianças – tinham uma série de responsabilidades que as Whanautanga não tinham. E, por algum motivo desconhecido, eu tinha um medo mórbido e irracional do chefe dos Tokonga, o xamã Akahata, que equivalia ao bruxo mais poderoso e sábio da comunidade.

Mas tudo isso acabou um dia.

Acabou por que, numa noite estrelada, ouvi uma movimentação anormal numa das cabanas vizinhas.

Muitos gritos e, por fim, um berrinho novo que eu não conhecia.

Mama – guinchei, curioso – que é isso?

O primeiro sorriso desde o falecimento da vovó surgiu no rosto de mamãe.

– É Ruau, nossa vizinha, querido. Ela trouxe uma nova vida para Tokonga.

Eu ainda não sabia. Mas aquela frase marcou o momento em que minha vida mudou completamente.

Por que foi naquela noite estrelada que a conheci. Envolta em linho, dormindo serenamente, aquela que seria minha própria estrela particular.

Nyree.


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Notas finais do capítulo


DICIONÁRIO MAORI

Mama = mamãe
Aroha = querido
Tama = filho

Bem, o que acharam?
Darel finalmente vai conhecer nossa Nyree *-*
Bem, para quem não conhece a Saga da Lontra, Nyree é uma personagem dela. É praticamente o xodó da vida de Darel (barracos e barracos, vocês verão). Vão entender mais para a frente, por que vou ir explicando qualquer dúvida :3
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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