Por mais que Bella refletisse, se revirando em pensamentos, não conseguiu entender o que se passou com o Sr. King. Todos os motivos que o levariam a pedi-la em casamento lhe eram estranhos e desconhecidos.

Primeiro ela não possuía fortuna; seu dote era muito inferior em comparação com outras moças que se encontravam naquele baile. Segundo, sua beleza era completamente comum, pelo menos era essa a opinião de si mesma. Não havia nenhuma circunstância que levaria o Sr. King a cortejá-la. Até se esqueceu um pouco de sua situação com Edward depois desse acontecimento.

Dias após o baile, em uma bela manhã de inverno, Bella que se encontrava estudando música, recebeu a inesperada visita de sua avó, Sra. Helen Swan. Era estranho, pois ela só vinha em horários em que o Sr. Charlie se encontrava em casa.

-Senhora minha avó, a que devo a honra?

-Poupe-me sua falsa educação, Bella. Tenho um assunto muito sério a tratar com você.

A jovem se assustou com o tom hostil da Sra. Helen. Jamais, em toda a sua vida, se sentiu tão diminuída. Era o mesmo que tratá-la como uma criança.

A Sra. Helen recomeçou:

- Não sou de ficar fazendo rodeios nem indiretas, então vou direto ao ponto; quem e como eu fiquei sabendo de tal fato não são de seu interesse, o que importa é: Por que você recusou o pedido de casamento do Sr. King?

Bella arregalou os olhos, pois esperava qualquer coisa, menos isso. Como sua avó soube? Impossível...

Mas não se lembrou do detalhe que sua avó tinha como hobby ficar a par da vida alheia.

-Senhora minha avó – começou ela – Foi uma escolha pessoal e tenho todo o direito de recusar um pedido de um homem que eu mal conheço.

-Aonde pensa que está Bella? No País das Maravilhas? Num Conto de Fadas? Quantas vezes eu já lhe falei para pensar em sua família em primeiro lugar? Onde está o seu altruísmo? Você é a menina mais egoísta que já conheci! Renegar um casamento que traria prosperidade para os Swan’s durante anos! Que tipo de educação você recebeu? Eu sempre soube que Reené Danwer era uma péssima mãe e que você deveria ter ido para um colégio interno para receber uma educação de primeira. Mas Charlie nunca me escuta. Agora vejamos as conseqüências! Um escândalo!

Isabella controlou-se heroicamente para não ofender sua avó, pois insultar a alma de sua mãe era pior do qualquer coisa. E isso ela não permitiria.

- Não permitirei – começou a jovem – Que em minha casa a senhora insulte a memória de minha mãe! Saiba que ela era uma mulher muito mais sábia que a senhora, que só está pensando nos benefícios financeiros deste casamento esquecendo-se da minha felicidade e no bem para a minha pequena família. Se eu sou egoísta, a senhora é mil vezes mais!

A Sra. Helen fungou irônica, saindo bruscamente da sala. Bella conhecia muito bem a avó e sabia que aquela discussão não acabaria ali, tendo medo do quê ela era capaz de fazer.

O que a mais intrigava era como a Sra. Helen soube do pedido de casamento. Será que alguém a viu com o Sr. King no jardim e contou para a sua avó? Bella não duvidou disso. Agora a outra questão é: quem e por quê?

Foi muita sorte de Bella por seu pai ter chegado horas mais tarde depois da velha Sra. Helen ter se retirado, fazendo assim com que não precisasse mencionar a visita da senhora em questão, tomando precaução para que a governanta, a Sra. Dolores não comentasse nada.

De fato, a visita da avó da jovem não surtiu nenhum efeito aparentemente. Porém logo no dia seguinte chegou um convite da Srta. Jéssica em nome de sua irmã e de sua madrinha para tomarem chá em sua casa pela tarde. Bella sentiu um estranho pressentimento que aquele chá não ia render bons frutos para o seu relacionamento com as irmãs Stanley’s e muito menos com sua avó.

Por mais que se opusesse a ir, não teve desculpa para declinar do convite, porque o Sr. Charlie não permitiu, e assim na hora do chá partiram para a casa da Sra. Helen.

Inicialmente a impressão que Bella teve do chá era que foi planejado simplesmente para agradar seu pai. Esperava que a Sra. Helen mencionasse sua visita pela manhã, no entanto nada foi comentado. Estranhou o seu bom humor e disposição para com ela, o que a deixou mais desconfiada. Somando a tudo isso, a atitude de sua prima Jéssica: nas últimas semanas em todos os lugares públicos que freqüentaram a Srta. Stanley de manteve distante de Bella, no entanto naquele dia estava com certa necessidade de fazer companhia para a prima e conversar com ela alegremente. Mas estava diferente: não parecia mais a senhorita que conheceu há meses atrás: Falante e espalhafatosa. Naquele momento estava um pouco tímida e mais discreta o que deixou Bella mais pasma. E não era só isso: a quietude também demonstrava um pouco de medo. A Srta. Jéssica estava com medo de alguma coisa, algo a estava assustando e para alguém tão astuta como Bella não foi difícil perceber, o que aumentava a sua curiosidade de saber qual era o motivo.

Assim, se viu sempre na companhia da jovem prima, enquanto a Srta. Lauren estava distante e insociável como sempre e o Sr. Charlie e sua mãe conversavam alegremente.

- Sempre gostei dessa casa, prima – começou a jovem Stanley – Praticamente a chamo de lar e tenho muitas boas lembranças aqui. Não quero voltar para a minha casa no Tennesee tão cedo, apesar das últimas cartas de minha mãe pedir isso.

- Explique a ela que você quer morar aqui definitivamente – aconselhou Bella.

- Parece fácil, mas infelizmente em breve terei que voltar. Acho que já sou um fardo para minha madrinha... – Ela parou, engolindo em seco, como se estivesse temendo alguma coisa. No entanto ela se virou para Bella alegremente:

- A senhorita não gostaria de dar um passei comigo no jardim?

- Oh, sim claro – respondeu Bella contente por ter uma desculpa para sair daquele ambiente tão claustrofóbico.

Era uma tarde bonita apesar do frio. O sol estava tímido entre as nuvens despontando pequenos raios nas frestas das janelas, com uma doce brisa invernal. O jardim da Sra. Helen era lindo de dia cheio de várias espécies de plantas e flores, estas muito variadas: margaridas, orquídeas, copos-de-leite, rosas vermelhas, tulipas, enfeitavam junto às pequenas mudas de árvores. Era tudo bem planejado e de bom gosto.

Caminharam em silêncio apenas apreciando o lindo dia e observando o jardineiro plantando mais mudas de árvores próximas a entrada.

Após minutos de silêncio, a Srta. Jéssica comentou:

- Quero ter uma casa igualzinha a esta com esse lindo jardim quando me casar, que espero que seja em breve.

Por um instante, Bella se sentiu desconfortável com essa declaração. Não era a primeira vez que sua prima falava em casamento, mas em comparação com esta segunda vez, não havia o tom de extravagância, era algo mais concreto e próximo. Com quem a Srta. Jéssica iria se casar?

- Eu sei que a senhorita está se perguntando por que estou dizendo essas coisas...

- Realmente senhorita – comentou Bella –Espanta-me que a esteja falando de forma tão séria.

A jovem Stanley sorriu amarelo, parando e cravando um olhar fixo na prima.

- Sim Bella, eu irei me casar, mas você entre todas, é a primeira, a saber.

Bella assustou-se mais ainda com essa declaração. Sua prima Jéssica noiva? Mas como sendo que nunca a viu sendo cortejada por rapaz nenhum, nem se quer demonstrar interesse por algum jovem em todas as festas que estavam juntas! E quando isso ocorreu? E por que ninguém sabia? A mente da moça estava trabalhando em mil perguntas sem respostas.

- Não me admiro de seu espanto, Bella. No entanto, sim. Estou compromissada há dois anos.

Aquilo foi demais! Jéssica Stanley prometida em casamento há dois anos! Sem ninguém ter conhecimento disso! Nem a Sra. Helen sonhava que sua afilhada selou um compromisso tão sério às escondidas.

- Posso perguntar por que a senhorita não contou a ninguém? – perguntou Bella aflita.

- Por decisão minha. Não achei necessário saberem. Entretanto não é isso que me tem tirado o sono nos últimos meses. É a senhorita.

- Eu?!

- Sim, prima você. – Nisso ela olhou mais fixadamente para a prima, mas havia algo naquele olhar que assustou Bella.

- A senhorita vem me tirado a felicidade de sonhar com o meu casamento e isso me decepciona profundamente. Pensei que a senhorita fosse minha amiga e tivesse percebido o que eu sentia por ele...

- Desculpe Jéssica, mas não sei de quem a senhorita se refere.

- A quem mais? – a voz da jovem se elevou hostil- O meu noivo, Edward Cullen.

A dor que se apoderou de Bella é impossível de descrever. Era como se o chão estivesse se partido junto com o seu coração e mil pedaços, era como se o mundo estivesse parado de girar em seu próprio eixo e estivesse se deslocando para alguma galáxia desconhecida, era como se o sol não existisse mais e o mundo mergulhasse em trevas, levando toda a luz, beleza e a felicidade para as masmorras do inferno. Naquele momento, a vida parou para Bella. Como um estalido em mau momento, todos os questionamentos sobre a postura de Edward nas últimas semanas para com ela fazia todo o sentido. A carta que nunca foi respondida, as visitas que nunca mais foram feitas, a frieza dele no baile na casa dos King’s... Tudo agora fazia sentido. E a verdade chegou como um furacão: sem avisar, sem dar tempo de preparo algum, Bella enxergou o que aconteceu ou estava acontecendo: Edward nunca a amou.

Por mais que tentasse reprimir essa terrível revelação de seu coração, por mais que tentasse aceitar que não passasse de um mal entendido, que o Edward de Jéssica e o Edward de Bella fossem duas pessoas diferentes, foi em vão. Só existia um Edward Cullen e não havia dúvidas: era ele! E pior: Estava comprometido com Jéssica Stanley!

Bella não se sentiria tão ruim se Edward estivesse comprometido com alguma moça melhor do que ela em fortuna, bons modos e personalidade. Infelizmente essa não era a condição de sua prima e todos aqueles sentimentos eram piores só de pensar nisso. Foi trocada por uma moça rude, sem educação, instrução e talento. Uma jovem ambiciosa e grosseira, sem escrúpulos ou algum tipo de refinamento. Essa era Jéssica Stanley, a futura Sra. Cullen! Era repugnante imaginar a elevação que seria para ela e a queda que seria para Edward amarrar a sua vida a uma família de tão baixo nível como os Stanley’s. Bella não podia negar isso, por mais que os respeitasse, eram indignos demais de se unirem aos Cullen’s. Mas isso não remediava a dor que se instaurou no coração da jovem, e a muito custo se manteve em pé, pois jurava que se estivesse sozinha teria desabado aos prantos.

Tudo isso Bella pensou em uma fração de segundo, enquanto a Srta. Jéssica ainda a fitava e continuava:

- Eu presumo que essa revelação foi uma surpresa para a senhorita. Eu tinha certeza que não sabia por isso me dei ao trabalho de contar para preveni-la. – Ela parou, parecendo ofegar e continuou – Preciso deixar alguns pontos claros para a senhorita. Primeiro: eu não a culpo por ter se apaixonado por Edward. Foi assim comigo também desde a primeira vez que eu o vi, e mais, ele também algum tempo atrás demonstrou interesse por mim, assim como aconteceu com a senhorita. No entanto, já faz dois anos em que ele insinuou casamento para mim e até agora nada, nem se quer uma aliança. A única coisa que lhe dei foi uma mexa de meu cabelo que ele mantém guardada com ele. E só. Não sei o que houve com ele durante o tempo em que ele estava na faculdade, que foi quando nos separamos, mas quando voltou, não era o mesmo Edward que eu conheci, estava mais maduro, mais dono de si e crítico e com aquela história maluca de ir para a guerra! – Nesse instante, a voz da jovem subiu uma oitava, embargada e seus olhos pareciam marejados, apesar de Bella sentir uma pontada e falsidade naquela tristeza. – Eu não sei mais o que fazer ou a quem recorrer! E quando vi a senhorita tão envolvida com ele, não sabe o quanto eu sofri! Não tenho coragem de escrever para ele e muito menos ir vê-lo e pedir explicações. A última vez que ele veio aqui foi antes da senhorita chegar, e tivemos a oportunidade de conversarmos a sós e não sabe a decepção que senti! Não demonstrou nenhum afeto ou carinho especial por mim! Tratou-me como se eu fosse uma mera conhecida! Oh senhorita, aquilo foi demais! Faz meses que eu não sei o que é ter uma noite de sono tranqüila. Terrível! Não posso olhar para você e para ele sem sentir ciúmes e raiva! –Ela parou, respirando fundo e limpando o rosto - Segundo: eu preciso saber prima – Naquele instante ela já estava quase berrando – eu preciso saber se a senhorita selou um compromisso com ele!

Bella foi pega desprevenida. O que iria dizer? A verdade? Que ela e Edward selaram um compromisso cheio de esperanças e amor? O que sua prima iria fazer? No entanto, ela percebeu que não poderia dizer a verdade para a senhorita Jéssica, pois além de fazê-la sofrer ainda mais, uma mulher traída era pior que o próprio demônio e a prima seria bem capaz de arruinar tudo. Era um pensamento egoísta, mas foi a única forma que Bella encontrou de se proteger da fúria de Jéssica naquele momento. Quando a tempestade passasse, contaria a verdade a ela, pois agora ela não estava preparada. Bella precisava de um tempo para refletir sobre os verdadeiros sentimentos da prima, pois não sabia como, sentia uma leve suspeita que Jéssica não esteja realmente apaixonada por Edward, mas sim por sua fortuna e status. Entretanto reprimiu todos esses pensamentos, guardando-os para quando estivesse só no seu quarto e pudesse deixar as lágrimas amargas saltarem, e seu coração deixar-se dilacerar. No momento ela precisava de cautela e calma.

Respirando fundo, encarando seriamente a prima respondeu:

- Não. Eu e Edward Cullen não chegamos a selar compromisso algum.

A convicção e clareza que a jovem Swan respondeu não levantou a menor suspeita para a senhorita Stanley, fazendo-a acalmar-se e respirar aliviada. Bella há muito custo escondeu o remorso que sentiu pela mentira, mas o remorso passou com as palavras da prima:

- Ótimo. Não vou aceitar ser trocada tão facilmente, e vou conseguir ser uma senhora Cullen, custe o que custar.

Aquilo foi terrível de ouvir! Como Jéssica era egoísta e ambiciosa e como Edward demonstrou interesse por ela? Ela não era digna de piedade de Bella nem um pouco se quer. Enquanto Bella se preocupou com a felicidade da prima, esta nem se quer deu palavras de consolo, e saiu, sem nem ao menos fazer reverência, do mesmo modo extravagante que a conheceu. A Jéssica sensível e tímida daquela tarde havia desaparecido por completo, voltando a Jéssica ambiciosa e sem escrúpulos.

Como ela sempre foi.