Um mês havia passado depois de tudo. Yuki tinha faltado as aulas desde então, uma coisa muito, muito, estranha, mesmo, por mais que vindo dela, um mês inteiro... Eu mandava mensagens todos os dias, mas ela nunca respondia. Nesse tempo, Haruka começou a almoçar com a gente e a ir embora comigo. Pode parecer loucura, mas eu sentia como se nos conhecêssemos há anos.

Eu havia acabado de entrar na sala quando percebi que a Yuki finalmente tinha aparecido. Eu corri para a mesa dela.

– Yuki, você tá bem? Por que faltou? Não me diga que quis quebrar o próprio recorde de faltas... Por sinal, acho que você quebrou todos os recordes de falta. - Falei, meio preocupada, meio de brincadeira.

– Tava doente. - Respondeu Yuki, virando o rosto para o lado.

– Por um mês? UM MÊS? E por que não respondeu minhas mensagens?

– Meu celular acabou a bateria e eu não sabia.

– Você tá falando sério? - Ela não estava mesmo com uma cara muito boa. E apenas me mostrou o atestado, que só dava para uma semanas. - Então você saiu correndo aquele dia por que não tava se sentindo bem? - Assim que eu falei, Yuki praticamente deu um pulo da cadeira e me encarou, surpresa.

– Eu n..!

A porta se abriu e Yuki parou automaticamente de falar. Haruka entrou e veio em nossa direção.

– Bom dia, Aoi-Chan, Yuki-Chan! - Ela disse, sorrindo.

– Bom dia, Haruka. - Respondi.

– Oi. - Respondeu Yuki, parecendo sem paciência.

– Por que você faltou, Yuki-Chan? Ficou doente? - Haruka perguntou.

– Uhum. - Foi a resposta.

– EH?! E o que você tinha?

– Gripe.

– Que ruim... Melhorou?

– Claro! Se não, não estaria na escola! - Haruka deu um passo para trás.

– Yuki... - Resmunguei. - Não precisava disso.

– Vou ver a Sayu-Chan. - Yuki disse, já se levantando e saindo.

– Tem certeza de que ela tá bem? - Perguntou Haruka

– Eu não sei... - Respondi.

A partir daquele momento, as coisas com a Yuki começaram a ficar estranhas. Ela virava o rosto sempre que me notava olhando para ela e parecia evitar, com todas as forças, a Haruka, de vez em quando, ela me evitava também. Vi ela mudar seu caminho diversas vezes, por eu estar indo para lá.

Quando o sinal bateu, Yuki desapareceu, sem nem se despedir da gente. Presumi que não estava se sentindo tão bem durante o dia e decidiu ir correndo para casa.

– Aoi-Chan! Vamos passar no Donut Master? - Haruka me perguntou.

– Você não tem que ajudar a professora hoje?

– Ah! É mesmo... - Ela choramingou.

– Calma. A gente vai. Eu te espero.

– Yaaaay! - Ela comemorou. - Vou terminar as coisas o mais rápido possível!

– Você não que que eu te a..!

– Aoi, quero falar com você! - Yuki apareceu na porta, me interrompendo.

– - Eu te espero na saída. - Sussurrei para Haruka, que fez que sim com a cabeça como resposta.

Yuki havia me chamado pelo primeiro nome, não podia ser coisa boa, ela tinha feito isso uma vez desde que nos conhecemos, e foi porque ela estava com raiva de mim.

– Yuki, tá tudo bem? - Tentei perguntar enquanto eu a seguia pelo corredor. Sem resposta. - Está com raiva? - Nada.

Descemos as escadas que davam para o lugar onde guardávamos os sapatos. Yuki começou a trocar os dela.

– Yuki, por que você me chamou se não queria falar nada? Aconteceu alguma coisa, não foi? Eu nunca vou saber o que é se você não me contar! - Eu estava praticamente implorando para ela falar alguma coisa. Ela abaixou a cabeça.

– Eu sabia. - Yuki finalmente falou. - Você gosta dela, não é?

– Eh? De quem?

– Da Haruka, idiota! - Ela olhou fixamente para mim. Estava com os olhos cheios de lágrimas.

– Quê? Eu? Não...

– Acha que eu sou burra? Tá escrito na sua cara!

– Tá?

Yuki fez cara de impaciência, enquanto eu tentava esconder a meu rosto.

– Viu só? Como você pode gostar de alguém que conheceu a semanas? O que que ela tem? Por que você gosta dela? - Yuki começou a chorar. - Por que não gosta de mim?

– Y.. Yuki?! O que você tá falando?

– Eu sempre te observei. Eu sempre estive ao seu lado. Eu sempre gostei de você. Então... Então, por que você quer ela ao invés de mim?

– Yuki...

– Eu sei que você não me vê desse jeito. Eu sempre soube. Mas... Mas...

Eu a abracei.

– Obrigada, Yuki. Desculpe.

Continuamos daquele jeito por certo tempo. Ela chorou bastante, até que decidiu ir embora.

– É bom que você e a Haruka-Chan fiquem juntas, ok? Não vá me decepcionar! - Ela falou, e começou a andar para ir para casa.

– Ela é uma criançona mesmo. - Levei um susto ao ouvir a voz da Sayuri atrás de mim.

– Você sabia, não é? Sobre isso...

– Tava na cara.

Eu dei um tapa na minha testa.

– Eu sei que ela disse pra eu ficar com a Haruka. Mas será que ela aguentará me ver com ela?

– Já tá contando vitória? - Sayuri deu um sorrisinho e me cutucou com o cotovelo. Eu ri. - Calma. Ela vai ficar bem. A sua felicidade é importante pra ela.

– Você passou os deveres e mostrou a matéria pra ela por todo esse tampo, não foi?

– Uhum.

– Aoi... Chan... Terminei... - Disse Haruka, ofegante. Me assustando também.

– Acho que já vou. - Disse Sayuri. - Tchauzinho!

– Tchau. - Respondi.

– Bye... Bye... - Respondeu Haruka.

– Você tá bem? - Perguntei.

– Tô... É que eu corri mesmo. Era taaaaaanto papeeeeel...

– Entendo. - Eu ri. - Vamos?

– Sim!

Não demoramos nada para chegar ao Donut Master. Nós pedimos e nos sentamos.

– Então. - Haruka começou. - O que a Yuki-Chan queria com você?

– Ah! Você não vai acreditar. Ela se declarou pra mim.

– Tava na cara que ela gostava de você. - Haruka mordeu seu donut.

– Só eu que não percebi? - Afundei na poltrona. Haruka riu.

– E... O que você disse pra ela? - Dava para ver que ela estava nervosa.

– Eu aceitei.

– EH?! - Ela quase se engasgou com seu donut.

– Desculpa. - Eu ri. - Não aguentei não fazer isso. Eu só falei para ela que não sentia o mesmo. - Haruka afundou na sua poltrona.

– Ah... Não me assuste, Aoi-Chan... - Ela suspirou.

– Desculpa, desculpa.

Terminamos de comer e fomos para a estação. Ficamos conversando na maior parte do caminho. O tempo pareceu passar super rápido, antes que eu percebesse, estávamos na esquina que nos separava.

– Eu me diverti. - Disse Haruka.

– Eu também. - Respondi.

– Claro, né. Zoou com a minha cara... - Ela fez voz manhosa e bico. Eu ri.

– Já te pedi desculpas...

Ela continuou lá, de braços cruzados, olhando para o outro lado.

– Se não quer minhas desculpas, vou embora. - Eu comecei a andar.

– Não!

Haruka segurou meu braço, mas soltou assim que nossos olhos se encontraram. Acabamos ficando realmente muito perto.

– Desculpa, Aoi-Chan. - Ela disse, e logo me beijou.

Assim que terminou, Haruka saiu correndo. Eu a chamei, mas ela não quis parar. Pensei que era melhor eu não ir atrás dela. Eu apenas fiquei parada ali, relembrando daquele instante.