Desastres em primeira mão escrita por Belle17


Capítulo 8
Correio da desgraça




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Do banheiro da casa da Rebecca dava para ouvir risadas vindas da sala. Provavelmente mais fotos constrangedoras estavam sendo exibidas.

Retoquei minha maquiagem, chequei se precisaria ou não de um absorvente - ainda bem que não - e lavei as mãos, saindo do banheiro (graças aos anjos que a porta estava destrancada, hehehe) em seguida.

Voltei para a mesma parede, que agora havia se tornado uma grande amiga minha. Rebecca caminhou até mim, tentando fazer o mínimo barulho possível para não atrapalhar os convidados.

– Julieta... tá tudo bem?

– Claro que sim, Becca! Por que não estaria?

– Por que você está aí sozinha? Tem cadeira ali...

– Não, estou bem aqui - respondi, com um falso sorriso - sério!

– Está com medo de ficar constrangida? Amiga, você sabe que eu nunca te colocaria numa situação dessas e...

– Bequinha, não se preocupe comigo - gaguejei. Na verdade eu estava sim, com medo de passar vergonha. Já estava passando, aliás.

– Meus pais deram a ideia de fazer esse vídeo com o intuito de recordar momentos felizes e engraçados. Tem muita foto cômica da minha família, e todos estão se divertindo - apontou ela, para os convidados.

– Eu sei... é que... hã... é que eu estou com um problema na coluna e preciso ficar em pé, sabe? Com a postura bem ereta - menti, ajeitando a coluna.

– Bom... você é quem sabe - disse Rebecca, voltando para perto dos convidados. Seu vestido branco com detalhe rosa era de dar inveja a qualquer uma...

Depois de um longo vídeo, apareceu a foto da Rebecca com um de seus tios, que é carteiro. Imediatamente lembrei de uma situação que passei uma vez, também com um carteiro. Ainda bem que não era o tio da minha amiga...

Eu tinha doze anos e estava esperando ansiosamente pelo meu presente de aniversário que chegaria pelos correios. Minha mãe havia comprado pela internet porque não encontrava em loja alguma em nossa cidade, então todos os dias eu perguntava: "o carteiro já chegou? Já chegou?".

Uma semana depois do meu niver, e encomenda finalmente chega. Quer dizer, eu pensei que fosse a minha encomenda. Ouvi o melhor som do mundo: a voz do carteiro, anunciando sua chegada!

Corri mais rápido que um pônei até o portão de entrada da minha casa, e agarrei uma sacola das mãos do cara. Ele disse:

– Ei, ei, ei, mocinha! Espere aí! Tem que assinar o comprovante. Quantos anos você tem?

– Fiz doze semana passada!!! - respondi, energética.

Ele olhou, de longe, o rótulo da sacola. Eu já ia chamar minha mãe para assinar, pois geralmente só adultos podem receber objetos de fora. O carteiro, porém, disse, calmo:

– Bom... como são apenas envelopes de conta, você pode assinar. - e me entregou uma caneta.

– Envelope de contas? - perguntei, incrédula.

– É, ora essa. Vamos que estou com pressa. Assine aqui e aqui, por favor - afirmou o homem, indicando dois espaços num formulário em sua prancheta.

Terminada a assinatura, caminhei até a sala e rasguei a sacola. Eram as contas de luz e de água.

– Mamãe, essas contas são meus presentes de aniversário? - indaguei, inocente.

Minha mãe caiu na gargalhada e disse que eu estava confundindo as coisas. Senti-me envergonhada e me tranquei no quarto, chorando.

Depois entrei no site dos correios e meu presente ainda estava do outro lado do país. Precisei esperar mais duas semanas. Entretanto, nunca mais quis olhar para a cara daquele carteiro, e meu pai pegou a encomenda por mim.


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