Desastres em primeira mão escrita por Belle17
Alguns convidados imediatamente buscaram animados por cadeiras de plástico para assistirem aos vídeos. Rebecca estava ansiosa, e eu também. Mas eu estava sentindo ansiedade de uma forma diferente.
Eu estava pirando!
Recusei-me a sentar perto do pessoal, e fiquei encostada numa parede, cruzando os dedos e rezando para que não houvesse nenhuma foto ou filme constrangedor sobre mim. Mas nem adiantava todo aquele nervosismo. Havia uma certeza: é lógico, óbvio que ia ter!
Algumas fotografias finalmente começaram a aparecer. Por enquanto eu ainda não estava em nenhuma delas, ainda bem.
Suando de ansiedade, peguei um copo com refrigerante da delicada bandeja que a mãe da Rebecca, dona Teles, estava servindo e fingi que estava muito bem ali, sozinha, encostada na parede e bebendo refri.
Quando meu coração havia finalmente se acalmado mais um pouco, eis que escuto algumas risadas. Eu já sabia o motivo. Olhei para a parede e vi que estava sendo refletida uma foto minha com a Rebecca, nós duas comendo aquelas paçoquinhas de amendoim.
Na fotografia, Becca exibia dentes perfeitamente lindos com um sorriso, enquanto eu, ao lado, demonstrava claramente que havia odiado aquela mistura esquisita e doce e salgado. Senti ânsia de vômito ao me lembrar do sabor, mas a nostalgia falou mais alto.
Naquela imagem, nós duas tínhamos uns catorze ou quinze anos, e estávamos no horário de saída da escola. O Ted, nosso amigo - na verdade o nome dele é Teodoro - estava juntando grana para fazer uma viagem, e faltavam alguns trocados para fechar o valor almejado. A Rebecca, que desconfio que tem uma queda pelo garoto, praticamente me puxou pela manga da minha blusinha rosa e começou a implorar para que eu comprasse uma paçoca do Ted.
– Então quer dizer que o Ted está vendendo essa coisa estranha para levantar dinheiro? - indaguei, sentindo um incrível nojo à primeira vista daquela comida que parecia ter vindo de outro planeta.
– Não é demais???? É sim, eu sei! O Ted é mega responsável! Em vez de vender droga para conseguir dinheiro, está vendendo paçoca! Não é um doce?
– O Teodoro ou a paçoca? - provoquei, com um sorriso malicioso.
– Ora essa, é claro que é o T... o... o salgadinho, ué - respondeu ela, com as bochechas coradas.
– Afinal, é doce ou salgado?
– Ai, Julieta! Vai me dizer que nunca comeu paçoca?
– Vou! Nunca-comi-paçoca.
– Você não é deste mundo! É uma mistura deliciosamente deliciosa de doce e salgado! Deixa de ser frescurenta com comida e vamos logo comprar as paçoquinhas! - disse ela, me agarrando pelo braço e caminhando em direção ao Teodoro, que estava vendendo seus doces para um grupo de amigos.
– Aiai... só você mesma, hein, Rebecca? Fala aí, Ted! Quanto é um negócio desses?
– Só cinquenta centavos!
– Me vê quatro, por favor - exclamou minha amiga, em alto e bom som para chamar a atenção de pessoas distantes de nós.
– E você, Julieta? Quantas vai querer?
– Hã... vende metade?
Ele me olhou de um jeito estranho, e Rebecca me lançou um olhar ameaçador.
– Haha! Estava brincando - falei, com uma risada super falsa - me vê uma, por favor, Ted!
Entreguei uma moeda ao garoto e, com receio, desembrulhei a paçoquinha. Olhei para Becca, que já havia devorado todas e estava com uma cara de quem estava nos céus.
Então eu olhei para a paçoca.
E a paçoca me olhou.
Aff, que brega, eu sei! Resolvi encarar a danada e a joguei todinha dentro da minha boca. No mesmo instante, senti uma vontade imensa de vomitar, e acabei botando tudo pra fora. Ao mesmo tempo, vi um flash de alguma câmera fotográfica, e ouvi altas risadas perto de mim. Rebecca riu tanto, mas tanto da minha cara, que fez questão de pedir outra fotografia à garota do ensino médio que bancava a paparazzi.
E lá foi parar a bendita foto. Na parede da casa da Rebecca.
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