A Elite - A Seleção Semideusa - Segunda Temporada escrita por Liz Rider


Capítulo 30
Capítulo 30 - Uma caçada egoísta


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoinhas, como foi de fim de ano?

Espero que lindo, maravilhoso e sem aglomerações, hein? Não se esqueçam que a pandemia ainda não acabou e que o número de mortes voltou a crescer.

Agora, para aqueles que leram A Seleção, vocês já devem estar imaginando o que vem a seguir, certo? Prepara o coração e boa leitura!

Amor,

Liz.



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P.O.V America

 

Acordo na manhã seguinte com um burburinho incômodo em meus ouvidos.

— Nós não devemos acordá-la, Mary. A Elis disse que a senhorita quer uma partida discreta. — Ouço Anne dizer, frisando a última palavra.

— Mas elas são melhores amigas. Elas merecem se despedir. — É a voz de Lucy, quase apenas um fio no ar.

— Não cabe a nós decidir. A senhorita Marlee quer e deve ser respeitada — Anne rebate, firmemente.

Abro meus olhos. Despedir? Marlee?

Levanto-me lentamente, para tentar evitar uma tontura. O quarto ainda está escuro, as cortinas, fechadas, e, no relógio da parede, os ponteiros indicam que não passam das seis e meia.

Anne está ao lado de minha cama, em frente de Mary e Lucy, que a encaram com uma expressão emburrada, como se quisesse me proteger de algum tipo de ataque das outras meninas.

Assim que elas me vêm desperta, o sorriso de Mary surge, enquanto Anne faz uma carranca.

— Senhorita! Volte a dormir, não são nem sete horas, nós voltamos para lhe chamar quando for a hora. — O tom de Anne e baixo e cauteloso, como se ela tivesse medo de me acordar. Provavelmente tinha, mas já era tarde.

— O que está acontecendo com Marlee? — pergunto, totalmente desperta.

As três acham que esse é um momento conveniente para se calarem. Elas se entreolham, como se arrependidas de terem me acordado. Mary é a primeira a se pronunciar:

— Ela está indo embora, senhorita.

Sinto que meus olhos pulam das órbitas?

Embora? — Tudo o que consigo fazer é repetir pateticamente. — Como embora? Não é possível que ela tenha sido a eliminada, ela é a favorita do público!

Nós estávamos finalmente nos entendendo melhor, não era possível que ela fosse embora.

— Os boatos dizem que ela pediu para ir, senhorita — Lucy informa, com um fio de voz.

— Boatos? Que boatos?

Anne se interpõe:

— A Senhorita Marlee queria uma saída discreta, senhorita, por isso que eu insisti para que a senhorita não fosse acordada.

— Mas eu tenho que me despedir!

— Ela está indo agora. Há pouco passei por seu quarto e a porta estava aberta, as malas já feitas — Mary conta, de maneira falsamente inocente. Ela quer que eu vá me despedir de Marlee, apesar de toda a contraindicação de Anne.

— Então eu tenho que ir! — digo isso mais para mim do que para ela, porque já estou me adiantando para fora do quarto, só de camisola e sandálias mesmo.

Não importa minhas roupas, não posso deixar que Marlee vá embora sem dizer adeus — tchau, adeus não, adeus é muito definitivo. Eu verei Marlee de novo, se necessário, irei até o Acampamento Júpiter para vê-la.

— Espere, senhorita! — Anne se põe em meu caminho até a porta, parecendo subitamente afobada. — A senhorita não pode sair assim!

Claro, a camisola...

Antes que eu possa protestar ou fugir, Anne coloca o roupão em minha volta e Mary rapidamente, nunca eficiência tão grande quanto as dos pit-stops da Fórmula 1.

Saio do meu quarto como um foguete, em busca de Marlee. Ao chegar em seu quarto, ele está tão vazio quanto os outros vinte e nove deste andar. Paro por um instante na porta arreganhada, observando o espaço vazio. Do jeito que esse quarto está, parece que minha amiga nunca existiu...

De novo, não posso deixar de pensar como a vida da escolhida vai ser solitária, presa nessa mansão gigante sem ninguém...

Afasto o pensamento. Achar Marlee é mais importante do que conjecturar sobre o futuro.

Ouço os passos de Anne, Mary e Lucy no corredor, atrás de mim, mas não entendo por que elas vieram atrás de mim, será que elas sabem onde Marlee está? Não fico para descobrir.

Desço rapidamente as escadas, daquele jeito que aprendi após subir e descer tantos anos as escadas de minha casa, de um jeito nada comportado, de um jeito que faria Silvia e suas aulas de etiqueta pirarem. Entretanto, os únicos barulhos que ouço são os passos das meninas atrás de mim e os que eu mesma faço. Nada que me dê um indicativo de onde Marlee está.

Ela não pode ter ido embora, não ainda, não sem se despedir de mim...

Sinto uma vontade esmagadora de chorar vir ao peito, mas engulo o choro, seco a lacrimação e decido ir direto para a porta... se ela ainda não foi embora, mais cedo ou mais tarde ela terá de passar por ali.

Enquanto ando, não consigo deixar de pensar em como não faz sentido Marlee estar indo embora. Celeste é uma víbora e já merecia ter ido para casa, Kriss é muito simpática, mas é indiferente, Elise é calada demais e não parece cativar o público, e, por mais que Natalie seja um raio de sol em nossas tardes (ou seria um arco-íris?), ela é tão alheia...

Por que Marlee? Ela é a favorita do público, ela é linda, gentil e por mais que ela não ache que vá rolar alguma coisa entre ela e Asher ou ela e Maxon, ela ainda poderia ficar aqui por um bom tempo, aproveitando da mordomia, da mansão, da comida e da minha companhia. Não faz sentido ela ter sido a eliminada.

Tento pensar em sua família, afinal, foi isso que nos disseram que seria critério de avaliação ou desempate... entretanto, não consigo pensar em algo ruim para dizer do pai e da tia de Marlee... eles foram sempre muito gentis e educados, assim como ela, não cometeram nenhuma gafe ou causaram nenhum vexame, eles foram excelentes...

Entretanto, aí está Marlee indo embora.

De novo, em meio a minha preocupação se conseguirei ou não alcança-la antes de partir, só consigo pensar por que ela?

Então, como um flash desorientado, uma epifania tardia, uma descoberta indesejada, uma luz se acende em minha cabeça:

Estávamos na festa, Zeus, Hera e a comitiva “real” tinham acabado de fazer sua entrada, Maxon foi para o outro lado da pista e Asher se aproximou de mim, Marlee e Elise e, logo após nos cumprimentar, ele disse “E você, Marlee, preparada para amanhã?” Eu não consegui ler a expressão de nenhum dos dois na hora, tampouco entender o que aconteceria amanhã, mas me lembro nitidamente de Marlee respondendo: “Apesar de tudo, acredito que sim. Vai ser melhor para todos assim.”

Ela sabia? Ela desistiu?

A ideia é esquisita... por que Marlee faria isso? Estava ansiosa para voltar para sua vida normal? Estava cansada da vida na Mansão? A visão da família havia feito o coração apertar? Tinha aceitado por fim que não iria se apaixonar nem por Asher nem por Maxon e havia entregado os pontos? Estava com medo de algum outro ataque rebelde? Talvez ela só tenha sido eliminada e estava sendo a dama educada que sempre fora... Eram muitas possibilidades, porém nenhuma fazia sentido completamente.

E, por mais que soasse estupidamente egoísta e egocêntrico que soe, eu não consigo parar de pensar que, se ela realmente decidiu sair, ela está me abandonando. Sei que não sou o centro da vida dela, mas ela certamente era meu porto seguro aqui nessa mansão. Tudo poderia dar errado e mesmo que nos distanciássemos, eu sabia que poderia contar com Marlee para qualquer coisa. Sempre achei que minha presença fosse suficiente para fazê-la ficar por mais algum tempo, até finalmente ser eliminada, provavelmente uma das últimas.

Finalmente chego à entrada. A porta está fechada, o que perigosamente parece indicar que ela já foi. Entretanto, consigo ouvir vozes baixas do outro lado da porta. Há dois guarda na porta, encarando a mim e a minhas roupas com curiosidade — não de um jeito lascivo e nojento, apenas... curioso mesmo —, mas eles não fazem nada quando empurro as pesadas portas e passo pela pequena brecha que se abre.

Há quase umas quinze pessoas aqui fora. Asher, Maxon, Annie, Percy, Silvia, Marlee, seu pai, sua tia, Ceres, e mais três guardas. Todos me olham chocados, tanto por minha aparição surpresa, quanto por minha roupa. Maxon imediatamente vem em minha direção, mas eu o ignoro e vou até Marlee.

— Você está indo? — eu pergunto, desamparada, as lágrimas que eu estava segurando finalmente surgindo.

Marlee apenas me encara por alguns segundos e me abraça. Ela não me responde, apenas me aperta forte, com seus bracinhos magros. Apesar da ausência de palavras, essa é toda a resposta que eu preciso.

— Ah, America, eu vou sentir tanto a sua falta! — ela exclama contra os meus cabelos. Não tenho resposta para isso. Espero que ela saiba que o sentimento é recíproco. Não sei como serão meus dias sem Marlee nesse lugar. Na verdade, eu sei: solitários.

— Por que você está indo embora, Marlee? Eles te eliminaram? — pergunto, baixinho, quando nos desvencilhamos, lançando um olhar reprovador para a dupla de irmãos que nos observam com cuidado, expressões parecidas demais para duas pessoas que supostamente se odeiam.

Ela dá um esboço de riso.

— Não, acho que eles não teriam coragem — Não entendo exatamente por que “coragem”, mas não entro no assunto. — Eu pedi para sair.

Sinto algo quebrar dentro de mim. Ela pediu para sair.

— Por quê? — É a única coisa que eu consigo balbuciar.

— Porque eu não podia ficar mais aqui — Novamente, ela apenas me entrega uma meia resposta.

— Saudade de casa, da sua família, do colégio? — pergunto, ainda confusa.

Marlee dá um daqueles seus sorrisos magnânimos, como se ela fosse a rainha de seu próprio reino olhando com carinho para seus súditos, nesse caso, eu.

— Não, bobinha. Por causa dele. — Ela aponta com a cabeça para um dos guardas.

Estranhamente, ele está vestido de maneira civil, com uma regata, camisa de manga de flanela vermelha xadrez e jeans desgastados. Num primeiro momento, imaginei que ele apenas estava disfarçado para acompanhar a família à paisana, mas agora percebo que ele está segurando duas malas: uma azul bebê provavelmente de Marlee e uma vermelha, sem dono aparente.

Um olhar mais cuidadoso dá um nome ao guarda, o Soldado Woodwork, com quem dancei ontem na festa, que me ajudou a achar minha mãe e que era o auge da simpatia.

— Vocês estão juntos? — Minha presença de espírito seria capaz de preencher todos os cantos dessa mansão... para não dizer o contrário.

Ela anui com a cabeça.

Então, outra epifania tardia me vêm à mente. Com certeza, em qualquer outra ocasião eu não me daria conta disso, ao menos não sozinha, mas me lembro claramente de um dia, no Salão das Selecionadas, que Marlee disse que iria ao banheiro e eu disse que a acompanharia. Estranhamente, ela recusou e disse que iria depois. No caminho para o banheiro, no entanto, eu trombei com um guarda... o Soldado Woodwork.

Eles estão juntos desde então? Por que ela não me contou?

Novamente, um sentimento ruim invade meu peito. Eu me sinto... traída?

Marlee, no entanto, está indiferente aos sentimentos que se passam em meu interior. Apesar dos olhos marejados, ela está sorridente, contando algo. Tento prestar atenção.

— Pedi uma reunião com Asher e Maxon no dia seguinte à chegada de minha família e contei a eles que amava Carter e que não poderia ficar mais na Seleção. Eu até pedi desculpas por talvez magoá-los, mas eles nem ligaram... claro — ela frisa essa última palavra, com um olhar cúmplice para mim, como se fizesse parte de alguma piada interna. Novamente, não compreendo. Talvez eu ainda esteja grogue de sono... talvez Marlee esteja bêbada de amor.

— Eu tinha conversa com papai e com tia Becky e eles tinham me aconselhado a seguir meu coração e fazer o que eu achasse melhor. Foi o que eu fiz. — Ela olha para mim, fundo nos meus olhos, um olhar quase suplicante. — Eu sinto muito por não te contar America, eu não poderia correr o risco de alguém escutar e isso tomar proporções absurdas. E sinto muito também por te deixar aqui só. Eu juro que se eu pudesse, ficaria aqui até o final te acompanhando, para saber a sua escolha, mas eu não posso. — Ela parece genuinamente feliz com isso.

Minha escolha? Tenho vontade de perguntar, mas ela ainda está falando.

— Eu pedi ontem para que Carter dançasse com você, queria saber a sua opinião dele. Ele não é um anjo?

Levando em conta que quem estava vestida de anjo ontem a noite era ela, talvez essa seja uma ironia não proposital.

— Ele é muito gentil — concordo.

Ela sorri, feliz com minha aprovação.

— Não é? Ele é um verdadeiro sonho! — ela exclama. — Carter, vem aqui, por favor, amor!

Ele estava conversando com a tia de Marlee, mas imediatamente vem até nós.

— Eu gostaria de apresenta-los oficialmente — ela diz, com um risinho excitado, quase pulando. — America, esse é meu namorado — ela fala a palavra lentamente, como se estivesse se deliciando com o som que tinha em sua boca —, Carter Woodwork. Carter, essa é minha melhor amiga, America.

Ele estende a mão com um sorriso franco e amigável.

— É um prazer finalmente conhecê-la apropriadamente, senhorita America.

Aperto sua mão.

— America — eu corrijo em um fio de voz. — É só America.


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Notas finais do capítulo

Surpresos? Espero que sim. Vivo para surpreender



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