TODAS AS LUZES - Coletânea de Natal escrita por Serena Bin, Gessikk, Cardamomo, Miss Houston, Maya, Amauri Filho, Lady Gumi, Maxx, Sr Devaneio, Lucas Freitas, Analu, Nanathmk


Capítulo 11
Seja Luz - Analu (Ana de Oliveira)


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura a Todos!



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Hasard era um daqueles amigos que pediam paz para Lourenço quando tudo que ele queria era guerra. A verdade é que é fácil ser luz, quando não há escuridão, embora não haja nenhuma serventia para uma lanterna quando nunca se viu trevas.
E foi justamente isso que Lourenço disse a ele.
― Sua vida é muito fácil. – o garoto completou, indignado.
Hasard sorriu, demonstrando a sabedoria que irritava o outro. Disse:
― Não é, e nunca será, meu amigo Lourenço. Acontece é que eu sou, sim, uma entidade que, como a própria origem do nome diz, está encarregada de cuidar dos acasos da vida, mas isso não quer dizer que seja exatamente simples.
― Ok. Então será que você pode me explicar como tudo foi dar tão errado na véspera de Natal? Eu fui simplesmente demitido! Só porque eu sou uma rena que fala! – Lourenço reclamou atropelando as palavras e com gestos exagerados.
― Eu não sou do departamento de explicações. – Hasard riu, e em seguida pensou: na verdade esse departamento nem existe. Continuou: ― Veja bem, a graça das coisas não é esta, meu amigo. É viver, sem saber o que te espera. E neste momento... – pareceu pensativo. – algo muito bom precisa de ti. Algo teu. Então eu sugiro que tu guardes esta carranca, e coloques um sorriso. Vai combinar com a tua roupa de rena.
― AAAAH! EU QUERO TE MATAR, HASARD! NÃO ERA PRA VOCÊ SER UM TIPO DE ANJO DA GUARDA?!
― Não.
Hasard riu, deixando Lourenço para trás, sozinho na Avenida Borges de Medeiros, em frente à Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo, o último lugar que faria Lourenço esquecer-se do Natal, algo que ele tanto desejava naquele momento.
As pessoas haviam saído de suas casas para ver o desfile de Natal, aquele que era para Lourenço participar, mas que fora excluído pelo simples fato de não apreciar tanto o trabalho. Na verdade, Lourenço não apreciava tanto a vida. Gramado estava feliz demais para o gosto dele. Qual era a graça, afinal, de comemorar um feriado cristão?
O garoto ficou lá, como uma estátua, com o chapéu de rena debaixo do braço, fitando as pessoas sendo felizes ao seu redor. Crianças pulavam e cantavam qualquer música de Natal, ou então reclamavam a vinda do Papai Noel; alguns casais abraçavam-se sorridentes, desejando o melhor para si; e, por fim, seus colegas de trabalho estavam no carro alegórico, em velocidade lenta, na rua à sua frente. Tudo parecia em seu lugar. Menos ele.
― Mamãe, o Papai Noel vai vim? – ouviu uma criança perguntar.
― Claro, meu amor. Você se comportou muito bem esse ano. – a mulher respondeu, docemente.
Lourenço fitou uma caixa correio, posta ao lado de uma, das muitas espalhadas por toda praça da igreja, árvore de Natal. Estava encapada com tecido vermelho aveludado. Possuía uma plaquinha: COLOQUE SUA CARTINHA DE NATAL AQUI. Ele sabia que quem quer que tivesse colocado aquela caixa lá não iria realizar os desejos ali contidos. Mas queria colocar o dele também, na tentativa de limpar a consciência, ou melhorar o humor. Afinal, descontentamento era o pior sentimento que alguém poderia ter na véspera de Natal.
Rumou até a caixa, e pegou um papel. Escreveu:
Papai Noel, esse ano eu não me comportei bem, e não me importo. Dane-se tudo isso, seu velho moralista.
Dobrou o papel e depositou na frecha da caixa.
― É horrível, não é? Ainda vem esse coral, querendo convencer a todos de que esta é a melhor época do ano. Ainda mais em Gramado, que sempre se fantasia inteira de terra do Papai Noel. É uma droga, né. – um riso foi adicionado ao final do discurso.
Lourenço pensou que não fosse com ele. Piscou duas vezes para a garota parada ao seu lado. Ela tinha os olhares para o desfile, então poderia estar conversando com um amigo. Mas não. Era com ele mesmo.
― Eu estou mesmo falando contigo. – ela insistiu, tentando alcançar o tom mais alto que o coral do carro alegórico. Tinha uma expressão divertida no rosto.
― Eu, a rena falante? Você acha o máximo eu estar vestido com essa porcaria de fantasia. – ele devolveu com sarcasmo falhado.
― Não parece a melhor época do ano pra ti. – ela continuou sorridente.
― Talvez porque eu fui uma péssima rena. – ele tentou rir de si mesmo. Mas só conseguiu um fio de riso. Frustrou-se.
― Tava cansado da escravidão? Ou o velhinho Noel paga em grama?
― Na verdade, ele paga bem pouco. Grama?
― Não é o que as renas comem?
― Acho que é. Eu briguei com o cara do carro alegórico, porque ele queria que rezássemos o Pai Nosso. Eu já deveria saber que teria alguma coisa assim. É um feriado cristão, afinal de contas... Tenho que devolver essa roupa amanhã, antes que eles chamem a polícia e me acusem, justamente, por roubo.
― Então deixa ver se eu entendi: tá zangado porque é um feriado cristão?
― E comercial, vale lembrar.
― Meu Deus. – ela riu internamente, um pouco assustada. – Qual é teu nome?
― Lourenço Mateus.
― Então, Lourenço Mateus, deixa eu te contar um segredinho. Eu sei que deve ser bem chato pro pessoal de outras religiões que o cristianismo seja maioria no país, e talvez no mundo. Bah, claramente é um evento cristão. Quer dizer, o significado que prevalece é o que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro. Mas este é o mundo em que vivemos. Esse costume não vai mudar. Tu não vais conseguir convencer essas pessoas de que elas deveriam dar espaço para outras crenças, ou outros significados do Natal. Na verdade, boa parte dessa gente só quer comemorar o único dia no ano que elas têm para esquecer os problemas e tentar ser feliz. O Natal é mais que isso. Não é só o cristianismo impondo uma crença, como tu deves pensar. É um dia em que devemos ser feliz. A cidade inteira é mobilizada por isso. Decorações são postas, desfiles são feitos. Pra isso: sermos felizes. Tenta ver as coisas por esse ângulo, menino Lourenço.
O garoto ficou impressionado. De olhos arregalados, com o olhar preso em qualquer ponto do chão, ele digeria a grande quantidade de informações.
Natal. Significado. Problemas. Ser feliz. Crenças. Mundo. Pessoas. Diferenças.
O Natal então era uma época de esquecer os problemas e as diferenças? Ou resolver alguns problemas e ser a diferença? Os dois, quem sabe.
― Qual dos dois? – ele pensou alto.
― Quê?
― O Natal é feito para esquecer os problemas e as diferenças ou solucionar problemas e ser a diferença? – gesticulou, como quem analisa uma balança. De fato, o questionamento parecia ser uma.
― Os dois.
Eu estava certo, caro leitor.
― Qual é o seu nome mesmo, garota?
― Martine. Foi a primeira coisa que meu pai, bêbado, disse quando eu nasci, no banheiro de um bar. Minha mãe ficou barbarizada com o nome, e trocou o último “i” por um “e”, na esperança de esquecer aquele dia e o fato de que eu tenho nome de bebida.
― Você diz tudo isso toda vez que te perguntam o seu nome? – ele perguntou, sem perceber a delicada linha que se formou em sua boca: um sorriso.
― Basicamente.
― Deve ser chato dizer o nome, então.
― Deve ser chato é ser você, Lourenço.
― Também. – ele concordou, fitando o desfile. Não tirou o sorriso do rosto. Nem percebeu que tinha um.
― Não era pra tu concordar.
Não era mesmo, ele pensou, consigo mesmo.
― E aí, garoto da rena, vai fazer algo hoje? Além de reclamar o quanto tudo isso é muito cristão?
― Bom, eu vou ficar aqui vendo as pessoas fazerem tudo isso que você falou, e vou reclamar que não tem nenhum evento ateu no calendário.
Martine riu, negando com balançar de cabeça.
― Acho que tu precisas praticar tudo isso que eu disse.
Lourenço a fitou, pensando que não tinha ouvido direito. Franziu o cenho.
― É isso mesmo. – ela completou, divertida com a careta do rapaz.
― Táááá. – voltou os olhares para o desfile. – Qual é o primeiro passo?
― Hmm... deixa eu ver... – Martine tirou uma lista imaginária do bolso. – Aqui está. Passo 1: Sair daqui e pegar pisca-pisca. – ela o puxou pelo braço, serpenteando a multidão. Lourenço deixou-se levar.
― Pra quê? Vamos montar outra árvore de Natal? Aqui já não tem o bastante?
Martine ignorou a continuou a puxá-lo para fora da euforia natalina. Apenas parou quando já estavam a três ruas de distância do desfile. Ainda ouviam, lá no fundo, a zoeira do carro alegórico. Mas não precisavam mais subir o tom de voz para se comunicarem. Martine andou na frente, fazendo o garoto segui-la. Ele carregava, além do chapéu de rena, um grande ponto de interrogação.
― Pra quê a gente precisa de pisca-pisca? A cidade não tá iluminada o bastante? – ele insistiu.
Ela nada respondeu. Sem respostas. Ok, então talvez fosse melhor segui-la, e perguntar depois.
― Para. – ela disse depois de muito tempo. E muitos metros percorridos. – É aqui mesmo. Vem, menino-rena.
Lourenço a seguiu para dentro de uma cafeteria, que mais parecia uma taverna, por causa da decoração rústica. Porta adentro, a temperatura mudou bruscamente. Lourenço não sabia se eram as pessoas felizes e tagarelas ou se era a possível existência de um aquecedor. Talvez os dois juntos, e a falta de uma janela aberta. Ele também constatou uma música de fundo. Sorriu satisfeito ao notar que não era Simone cantando “Então é Natal”. Muito menos alguma regravação da regravação de “Jingle Bells”. A melodia o acalmava, e quase o fazia querer passar a véspera de Natal ali.
Have yourself a merry little Christmas night…
― Martine! – o homem atrás do balcão gritou. Sua aparência gorda e alta fez Lourenço se lembrar do personagem Hagrid, da saga Harry Potter. Até a barba tinha. Só faltava deixar o cabelo crescer.
― Tio Andrei! – ela respondeu, estendendo a mão para fazerem uma espécie de hi-five. – Preciso de um pisca-pisca. – finalizou piscando o olho.
― Ah, claro! – o homem entendeu o sinal com o olho. Alguém precisava de luz. – Vou pedir pro Vinícius pegar. VINÍCIUS, PEGA O PISCA-PISCA DA MARTY, POR FAVOR! – ele gritou, tentando localizar Vinícius entre as mesas. Sentiu que havia falado muito alto quando recebeu, praticamente, todos os olhares dos clientes. Inclusive do garçom, Vinícius, que acenou. – Acho que gritei muito alto. E quem é o teu amigo?
Lourenço ainda estava concentrado em observar o lugar, mal percebendo o diálogo entre Martine o tio.
― Ah! Esse é o Lourenço Mateus! – Martine deu tapa, um pouco forte demais, nas costas de Lourenço, que chiou em resposta.
― Como vai, Lourenço Mateus? Nominho grande, hein... – Andrei estendeu a mão para cumprimentá-lo, embora o balcão entre os dois não ajudasse.
― Eu tô bem, e o senhor? – aceitou o cumprimento, arrependendo-se em seguida. Andrei apertou e sacudiu as mãos forte demais.
― Muito bem! Gostaram da decoração? Ficou ótima, né? Bah, eu adorei!
Martine fez que sim com a cabeça, embora não tivesse notado diferença alguma. Andrei nunca mudava a decoração de Natal.
― Alguém precisa de pisca-pisca? – Vinícius surgiu animado demais. Lourenço perguntou-se qual era o problema daquele pessoal. Pisca-pisca era o quê? Uma espécie de objeto sagrado?
― Ele precisa. – Martine apontou, com o polegar, para Lourenço.
― Oh! Tu precisas de luz! De muita luz! Luz! Tu precisas de luz! Luz! Luz! – Vinícius proferia enquanto rodeava Lourenço com o pisca-pisca. Após enroscar o fio inteiro no novo rapaz, bateu palmas, e ligou o pisca-pisca na tomada.
― Ele precisa de luz. – Andrei concordou, antes de bebericar seu chimarrão.
― Pelo menos ele deixou meus braços livres. – Lourenço ilustrou.
Os três membros da família riram.
― Faltou colocar o chapéu. – Martine disse, tomando o objeto da mão de Lourenço, e colocando-o na cabeça dele.
― Queres um pouco de chimarrão, guri? – Andrei ofereceu, levantando a cuia. Havia um “a” em letra maiúscula gravado nela.
― Quero sim.
― Vinícius, pega uma cuia pro guri-rena. Terás muito trabalho pela frente, hein, guri!
― Como assim? – Lourenço perguntou para Martine.
A menina tirou a lista imaginária novamente do bolso. Fingiu ler.
― Esse é o “Passo 3: Fazer a diferença”. Já já você vai entender. – e piscou.
― Ué, e o Passo 2?
― “Passo 2: Ser luz”. E... eu acho que você já é.
Martine iluminou-se, e mostrou isso com um sorriso. Lourenço estava iluminado também, e não era do pisca-pisca que ela estava falando.
― Chimarrão para o guri-rena! – Vinícius apareceu, entregando uma cuia pequena para Lourenço.
― UM BRINDE AO LOURENÇO-RENA?! – Andrei gritou, pescando a atenção de todos.
― UM BRINDE AO LOURENÇO-RENA! – recebeu um grito uníssono.
― Uau! – Lourenço reagiu, boquiaberto. – Quando é o Passo 3, Martine?
― Agora! – puxou-o mais uma vez pelo braço. Lourenço não conseguia correr porque estava enrolado no pisca-pisca desligado.
Não correram tanto. Depois de sair cafeteria-taverna, entraram numa picape estacionada do outro lado da rua.
― Tá, o que nós vamos fazer agora? – o rapaz perguntou, impaciente.
― O Passo 3.
Lourenço só entendeu quando o carro parou, e ele pôde ler a placa de uma casa logo à frente.
ORFANATO DONA OFÉLIA.
― Ô Lourenço, vai ficar aí, que nem um tonto, ou vai me ajudar a carregar a caixa de brinquedos? – Martine já estava fora do veículo. Mais precisamente, atrás dele, tirando algumas caixas da caçamba.
O garoto saiu do carro imediatamente, e começou a ajudar Martine. Por fim, a garota tirou um violão, e pediu que ele fosse na frente. Lourenço foi recebido por duas dúzias de crianças sorridentes e expectantes por algo que ele ainda desconhecia.
― QUEM QUER MÚSICA? – Martine perguntou, com um grito.
As crianças se agitaram, gritando, também.
― Mas primeiro precisamos de silêncio. – o falatório foi diminuindo gradativamente. – Esse é o meu amigo Lourenço Mateus. Só um minuto. – Martine procurou uma tomada, até que achou, no canto da sala. Puxou o novo amigo, e ligou o pisca-pisca enroscado nele. As crianças riram. – Ele é o menino-rena.
Lourenço riu, também. Tentava segurar o choro. Mas já era tarde demais. Seus olhos já estavam quentes.
― O menino-rena tá chorando, tia Martine! – um menino apontou.
Martine sorriu. Era normal.
― Então vamos cantar pra ele aquela música que estávamos ensaiando? Um, dois, três e...
― Noite feliz... noite feliz... – as crianças iniciaram, em coro, enquanto Martine dedilhava as cordas do violão.
A canção finalizou com Lourenço em prantos, já despido de vergonha ao chorar na frente de Martine, as crianças, e Ofélia, dona do orfanato.
― Vocês são demais! – ele disse, recebendo uma salva de palmas.
Martine se aproximou, e sussurrou:
― Espero que estejas melhor. Mas tenta pôr um sorriso na cara, senão as crianças vão achar que tu tá triste.
― Pode deixar.
― Vamos cantar mais uma música e depois a gente faz a contagem regressiva. Você sabe inglês?
― Sei, sei sim. Por quê?
― As crianças adoram músicas em inglês. Eu tô ensinando pra elas. Seria legal cantar uma música assim.
― Conhece “Let It Snow”?
― Leu minha mente, menino-rena. Dueto?
― Dueto! – Lourenço limpou as marcas de choro; desligou o pisca-pisca, e folgou os fios envolta para poder andar e cantar à vontade.
Martine começou:
― Oh, the weather outside is frightful, but the fire is so delighful, and since we’ve no place to go, let it snow, let it snow, let it snow...
Lourenço continuou, dançando:
― It doesn’t show signs of stoppin’, and I brought some corn for poppin’, the lights are turned way down low, let it snow, let it snow, let it snow...
E terminaram juntos:
― Oh, let it snow!
― Está na hora da contagem regressiva! – Ofélia avisou.
― Dez, nove, oito, sete, seis... – Martine contou com as crianças, fazendo os números com os dedos – cinco, quatro, três, dois, um! Feliz Natal!
O alvoroço se formou na pequena sala da casa, todas as crianças queriam abraçar Martine e Lourenço, até que os dois decidiram por fazer um abraço coletivo primeiro, e depois abraçar uma por uma. Quando conseguiram, Martine pediu para que sentassem, e anunciou que o Papai Noel estava um pouquinho ocupado, mas que ele havia enviado sua melhor rena, Lourenço, para que entregasse os presentes.
É claro que as crianças adoraram a rena Lourenço.
***
― E qual é o próximo passo? – Lourenço perguntou.
Já fazia quinze minutos que estavam sentados no meio-fio, olhando para o nada, em silêncio.
― Eu não posso contar. Senão vai estragar tudo.
― Ah é?
― É. Acho que tá na hora de irmos pra casa. – Martine se levantou, rumando até a picape.
― A gente vai sair sem se despedir?
― As crianças odeiam despedidas, Lourenço. – ela coçou o olho antes de entrar no veículo. Queria muito chorar. Mas, assim como Lourenço saber o Passo 4, estragaria tudo. Sussurrou para si mesma, enquanto o rapaz ainda corria até a picape: ― E eu também. Odeio despedidas.
Martine também odiou ter que se despedir de Lourenço quando o levou para casa. Sorriu triste para ele. Era a hora do garoto fazer os passos 4 e 5. Ou então continuar a fazer. Ela não sabia. Esperava que o garoto tivesse se divertido, e, embora tenha visto luz e alegria nos olhos e no sorriso dele, não poderia garantir que ele de fato sentia-se bem.
― Foi bom? – ela perguntou, ainda insegura.
― Tá brincando? Foi ótimo! Eu adorei! – Lourenço respondeu empolgado, enchendo o veículo de animação. – Eu quero fazer de novo!
― Que bom. – sorriu. – Claro, faremos de novo sim. Me passa seu telefone, menino-rena. Quer dizer, o número, não o aparelho. – riu.
Lourenço anotou seu número de telefone no braço dela.
― Agora você pode ir.
Ele franziu o rosto. Ela estava o expulsando?
― Ah, não me leva a mal. É que tem um amigo seu parado na sua porta. – ela apontou para que ele olhasse através do painel.
― Hasard?
― Azar o quê?
― Nada não. A gente se vê por aí então?
― Claro. – ela piscou.
O carro rugiu assim que Lourenço pôs os pés na calçada. Ele notou que o amigo vestia vermelho escuro e branco ao invés de preto e cinza. O colete branco por cima da camisa vermelha, na verdade. Carregava uma pequena caixa quadrada com um enorme laço.
― Hasard? Trocou de roupa?
― Ei, guri. Clima natalino! O que achou? – dobrou as mangas.
― Tá parecendo o Papai Noel.
― E agora acreditas em Papai Noel? – zombou.
― Muito engraçadinho. Vamos entrando. – Lourenço passou pelo amigo e chegou à porta, destrancando-a. Entrou primeiro.
― Ah, eu não vou ficar para o café hoje, meu amigo. Só vim entregar isto. – estendeu a caixa. – E isto. – tirou um cartão no bolso. – Espero que goste de chocottone. Eu acho melhor do que as frutinhas no panettone. Tudo mundo adora chocottone.
― Obrigado, Hasard.
― Abra o cartão apenas no dia 26. Você vai entender o porquê. – piscou. – Feliz Natal, meu caro! – saiu aos pulos, cantarolando alguma música natalina que Lourenço não conseguia identificar.
― Feliz Natal... – respondeu tarde demais, observando o amigo fazer estripulias no meio da rua deserta. – Ele não tem medo de ser assaltado?
Lourenço fechou a porta. Tinha um chocottone para devorar, e um cartão para deixá-lo de molho, curioso, até o dia 26.
“Para meu amigo curioso, aquele que ganhou o apelido de Menino-Rena:
Eu sei que ficaste meio interrogativo, querido amigo, com os últimos passos de Martine. Pois então, aqui estão:
Passo 4: Esquecer os problemas;
Passo 5: Ser feliz.
Continue cumprindo estes cinco passos. No próximo Natal, no próximo ano, nos próximos dias. Espero, de coração, que tenha entendido um pouquinho sobre a vida e sobre o dia 25 de dezembro. Viva sem saber o que te espera. Seja alegria, seja diferença, seja solução. Seja luz!
Até a próxima!

ps. Let it snow, let it snow, let it snow... Essa música ficou mesmo na minha cabeça.
De seu amigo, o anjo do acaso, (Par) Hasard”


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Seja o Bom Velhinho este ano!
Presenteie o autor com um review bem lindo daqueles que só você sabe fazer! XD



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