TODAS AS LUZES - Coletânea de Natal escrita por Serena Bin, Gessikk, Cardamomo, Miss Houston, Maya, Amauri Filho, Lady Gumi, Maxx, Sr Devaneio, Lucas Freitas, Analu, Nanathmk


Capítulo 1
Como Estrelas na Terra - Daniela Arezzo


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Bem Vindos ao Projeto Todas as Luzes!
Estou muítissimo feliz pelo resultado desta coletânea. Foi uma delícia - apesar de trabalhoso - compartilhar essa ideia com cada autor convidado.
As fics estão fantásticas e lindas. Cada uma, tras sua mensagem e acreditem, os autores foram maravilhosos em suas escolhas!
Espero que essa leitura traga esperança a todos nós e que venhamos olhar o natal com olhos de paz, amor, harmonia e amizade.
Feliz Natal a todos,e bora ler, pessoas!

Daniela Arezzo



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Sentados em um banco de praça, duas crianças observavam as luzes que piscavam ritmadamente nas vitrines das lojas, saguões de hotéis e nas árvores de Natal à venda nas lojinhas de 1,99.

O menino pequeno, magro e mau vestido, segurava uma sacola velha e suja cheia de latas amassadas. Era Bruno, um menino que passava os dias de férias escolares recolhendo material reciclável para compor a renda de sua família.

– Elas parecem estrelas brilhando no céu. – disse o garoto ainda sem tirar os olhos dos pisca-piscas.– É a coisa mais bonita que já vi.

– O que? – a menina perguntou , pegando o garoto de surpresa, porque ainda não havia notado sua presença.

– O que se parecem com estrelas no céu?

Bruno virou-se para olhar quem era a dona da voz que lhe despertara e então encontrou ao seu lado ,uma menina bem vestida, com cabelos cacheados e olhos claros que segurava um pacote muito grande enquanto sua mãe entretia-se com sua irmãzinha em uma conversa com uma figura grande que vestida de vermelho, fazia a alegria das crianças que passavam pela rua XV de Novembro naquela ensolarada tarde da véspera de Natal.

– As luzes. – ele respondeu gentil – As luzes de Natal são tão brilhantes quanto as estrelas do céu.

– Ah, sim. – a menina respondeu sem tirar o olhar das luzes. Seus olhos possuíam uma coloração acinzentada muito clara. Tão profundamente translúcidos que quase pareciam estar sem vida. – Meu pai, disse que as pessoas só sabem que é Natal por causa das luzes. Mas eu, só sei que é Natal quando ganho um presente. Está vendo esse pacote aqui? Eu ganhei hoje, acho que amanhã é o dia do Natal.

– Que legal – Bruno respondeu. Em seguida, a menina perguntou:

– Qual o seu nome?

– Bruno.

A garota sorriu delicadamente deixando aparecer um sorriso banguela, em seguida apresentou-se dizendo:

– Eu sou Raíssa.

Houve um período de silêncio entre os dois. Os únicos ruídos provinham das pessoas que andavam apressadas atrás das ultimas ofertas de fim de ano. Mas, depois de algum tempo, a inquietude da garota quebrou o silencio.

– O que tem dentro da sua sacola? – Raíssa perguntou já tocando da bolsa encardida de Bruno. O menino por sua vez afastou-se e disse:

– Um monte de coisa. – respondeu Bruno, em seguida, abriu ele mesmo a sacola e mostrou as latas, potes de plástico e papel que recolhera naquele dia. – São materiais recicláveis que eu vendo para ajudar meus pais.

– E vale muito? – a menina quis saber.

– Depende – disse Bruno – Se você juntar muitas latas, sim. As latas são as mais valiosas. Esse ano, meu pai conseguiu comprar um presente para mim usando o dinheiro das latas.

– Que maneiro! – Raíssa disse esfuziante – Aposto que ele comprou um carro de controle remoto. É bem caro, mas se as latinhas valem tanto...

– Na verdade, ele comprou um caderno. – Bruno interrompeu sorrindo. A resposta fez com que Raíssa se calasse e passasse a olhar para Bruno com uma expressão de dúvida. Para a menina, um caderno nunca poderia ser um presente de natal, porque em sua mente, a palavra presente representava brinquedos novos e até mesmo roupas, mas jamais um caderno, ainda mais porque era um objetos tão comum e sem muito valor.

– Um caderno? – Raíssa questionou inconformada – Isso não pode ser um presente. Presente é boneca, carrinho, tablet, jogos...Presente é uma coisa que você quer muito ganhar. E você precisa escrever uma cartinha fazendo o pedido, não para o seu pai, mas sim para o Papai Noel. Além do mais, o presente fica embaixo da árvore de Natal, não na mochila!

Bruno ouvia tudo atentamente enquanto Raíssa falava, mas a cada nova palavra, mas não podia concordar porque para ele, o caderno era sim um ótimo presente, porque fora desejado com muito afinco.

– Mas eu estou muitíssimo feliz com meu presente. – respondeu o garoto, fazendo com que a pequena Raíssa se calasse por alguns instantes.

– Você e sua família vão fazer uma ceia de Natal? – a menina perguntou após um longo período quieta.

– Sim! – Bruno respondeu com entusiasmo- Vamos ter um banquete este ano!

– Vai ter peru ou pernil? – perguntou a garota – Eu não gosto muito de pernil...

– Vai ter um frango de padaria – Bruno respondeu alegremente – Seu Tico, o dono da padaria, disse que o franco é recheado com farofa de nozes. Eu nunca comi farofa de nozes!

– Um frango de padaria? – Raíssa questionou – Minha mãe disse que uma ceia de Natal só é completa quando existe pernil e peru. – a menina disse pensativa, em seguida, novamente se animou – Bem, mas vocês terão sobremesa, certo?

– Não sei. – respondeu Bruno – Na verdade, acho que teremos o frango e macarrão apenas.

Os olhos de Raíssa foram ficando cada vez mais confusos medida que Bruno contava sobre suas expectativas para a noite de Natal. Ao mesmo tempo, o garoto também sentia-se ligeiramente mais triste ao perceber que não possuía a maioria das coisas elegantes e natalinas a qual a pequena Raíssa se referia.

Para a menina, era algo inexplicável um Natal onde não havia peru ou árvore enfeitada ou luzes nas janelas. A garota sequer conseguia entender como uma criança poderia ficar feliz naquelas condições.

Mas a verdade, era que mesmo que as circunstâncias não fossem muito favoráveis, havia no coração de Bruno uma pequena chama que o aquecia no Natal. Que o fazia acreditar que as poderiam melhorar. Mas Raíssa não entendera isso, de modo que lamentou profundamente o fato de que aquele pudesse ser o pior natal que uma criança poderia ter.

– Eu sinto muito - ela disse tristemente. Bruno sem entender muito bem questionou:

– Sente? Por que?
Raíssa respirou fundo e respondeu:

– Pelo seu natal. Você não tem uma árvore enfeitada, não tem luzes nas janelas, nem mesmo vai comer peru na ceia de natal. Sinto muito, mas acho que esse pode ser o pior natal do mundo.

– Raíssa! - uma voz soou de longe. Era a mãe da garota chamando por ela - Raíssa! Vamos!

A menina olhou na direção da mãe, em seguida, virou-se para Bruno e lhe sorriu carinhosamente.

– Eu preciso ir. - disse a menina levantando-se do banco da praça - Foi legal te conhecer, Bruno.

Os dois se olharam por alguns instantes, Raíssa e Bruno. Um sorrindo timidamente para outro. De repente, a menina retirou de dentro do enorme pacote que segurava, um cartãozinho de Natal.

– Feliz Natal. - Em seguida, a menina virou-se na direção da mãe e correu, sumindo segundos depois por entre a multidão.

***

O caminho de volta para casa era uma viagem considerável. Um trajeto que permitia alguns minutos de descanso para os passageiros, mas naquela tarde, Bruno não cochilou como era de costume. Sua mente estava ocupada demais remoendo as palavras de Raíssa, e muito embora fosse um menino otimista, sentia-se cada vez mais triste a medida que se lembrava de tudo o que não tinha.

A cada nova parada do ônibus, pessoas entravam carregadas de sacolas de super mercados, lojas e até mesmo algumas sacolas de brinquedos. Bruno sentia-se cada vez mais afito com a possibilidade de não possuir um

Natal feliz. Se as coisas fossem realmente como Raíssa havia dito, era possível que Bruno nunca tivesse um natal decente.

A viagem do centro da cidade até o bairro simples de uma das regiões mais remotas de Curitiba, durou cerca de uma hora e meia. Tempo suficiente para que o coração de Bruno ficasse repleto de infelicidade. No fim da rua Amaral Brandão, no terreno de número 9, encontrou um casebre simples sem nenhuma beleza aparente. A única coisa natalina, era a pequena guirlanda feita de garrafas PET.

– Bruno! - disse um voz alegre no momento em que o menino colocou os pés na pequena sala - Que bom que chegou! Vá lavar as mãos e venha comer!

Bruno atendeu ao pedido da mulher baixa e gorducha que trazia nas mãos uma travessa de macarrão com um pouco de queijo derretido. Em volta de uma mesa redonda, um grupo de cinco pessoas se encontra a espera da ceia de Natal: macarrão, batatas, refrigerante e um pequeno frango assado.

Os rostos alegres e contentes riam e se felicitavam. Claramente todos estavam em festa, mas a única coisa em que Bruno pensava era em o quão errados estavam. Aquilo não era uma ceia de Natal. Aquilo não poderia ser um Natal. Tinham tão pouco...

– A mesa não está linda, Bruno? - um homem alto perguntou - Hoje temos um banquete!

– Com certeza, pai. - o menino respondeu sem graça.

– Podemos comer?

– Podemos sim, - respondeu o pai - Mas, antes que tal fazermos uma prece?

Uma prece. Uma ótima oportunidade para pedir a Deus um natal mais digno no ano seguinte, e o garoto já possuía em mente o que pediria: um peru, uma arvore de natal, presentes e luzes nas janelas.

– Podemos pedir algo como uma árvore de Natal, pai? - o menino perguntou cheio de entusiasmo. Esperava que o pai dissesse uma resposta positiva, mas aconteceu o inverso. Contrariando todos os pensamentos de Bruno, o pai respondeu:

– Não Bruno, hoje nós vamos apenas agradecer e pedir pelas pessoas que possuem menos que nós.

"Ninguém pode ter menos que nós" . O garoto pensou. "Nós não temos quase nada".

– Agradecer, pai? - Bruno questionou.

– Sim. Agradecer por nosso jantar. Pela comida que temos. - disse o homem - Bruno, muitas pessoas nesse momento não têm nada para comer. E nós temos. Devemos agradecer por isso, porque temos um banquete perto daqueles famintos que não possuem nada.

O menino pensou imediatamente nos mendigos que viviam em baixo dos viadutos da cidade. Refletiu sobre como ele passariam o natal: com fome, cede...sozinhos.

– Vamos agradecer pela saúde e disposição que temos. - o pai continuou - Somos fortes e estamos e nossa família está completa. Somos bem-aventurados, porque agora, nesse momento, dezenas de pessoas estão sozinhas em hospitais, outras estão enfermas e algumas, estão chorando a morte de alguém.

Bruno apenas ouvia as palavras do pai, da mesma forma que a família reunida também ouvia a mensagem.

– Devemos agradecer por cada pequena benção que temos. Mesmo que digam que não temos nada, porque o verdadeiro Natal não tem a ver com o que você tem, e sim com o que você faz por alguém. Devemos ser como estrelas na terra. Levar um pouco de esperança para quem não tem nenhuma.

Naquele momento, Bruno se lembrou do cartãozinho que ganhara de Raíssa. Entendeu finalmente que as palavras da menina não foram maldosas. Raíssa nunca tivera a intenção de inferioriza-lo, na verdade, a garota talvez não conhecesse o Natal como ele conhecia.

– Entendeu, meu filho? - perguntou o pai.

– Entendi, pai.

Então, todos deram as mãos e em uma só voz, intercederam por todas as pessoas que conheciam, por todas as que não conheciam também. Bruno, em sua mente agradecia baixinho. Agradeceu até mesmo pelo ar que respirava, e sentia novamente alegre e esperançoso, porque havia entendido as palavras de seu pai. O que importava mesmo, eram as coisas boas que lhe pertenciam. Entendeu que era preciso valorizar cada pequena posse.
Pouco antes do termino da oração, Bruno abriu os olhos e contemplou tudo o que possuía. Seus pais, seus irmãos, sua avó, a travessa de macarrão com queijo e é claro, o frango de padaria.

– Obrigada por tudo, Deus. - o menino disse baixinho antes de dizer amém. Eram pobres, não tinham presentes, nem árvore enfeitada, tampouco luzes que piscavam nas janelas, mas, àquela altura do campeonato, deliciando-se com a farofa do recheio do frango, a única coisa que preocupava o garoto, era se sobraria um pouco mais daquela coisa maravilhosa chamada farofa de nozes.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.Gostou? Quer deixar uma crítica construtiva ou só um oizinho mesmo?Que tal deixar um comentário então?É de Graça!:)



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