What If? escrita por Miss Addams


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Este é o penúltimo capítulo...



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2017 – Ciudad de México

 

            Um trovão rasgou o céu potente e alto, estava anunciando o temporal que logo mais viria.

            Depois de olhar para o céu bem cinzento e que parecia estar de mal humor, olhei para o carro de Joaquín amigo de Maria que nos estava dando uma carona e o pneu estava acabado, passamos por uma rua que estava cheia de objetos pontiagudos aquilo era bem estranho para falar a verdade. Acabamos de chegar no DF, eles estavam indo me deixar na casa de minha mãe, quando para tentar fugir do trânsito, numa rua paralela caimos nessa armadilha.

            Pelo menos aconteceu por aqui, e não no meio do nosso passeio estavamos voltando de zona arqueológica de Teotihuacán. Desde do que me aconteceu há dois anos eu passei a ser fascinada por determinados assuntos, gosto muito de ler sobre, fico contente que aqui no meu país. Ainda temos uma cultura muito rica, temos muito o que preservar. Essa cultura ancestral que é tão importante para nos entendermos.

            Os povos mesoamericanos eram avançados de acordo a sua “época” fico curiosa para entender como conseguiram construir das mais diversas pirâmides e ter a cidade de Teotihuacan como as praças, a calçada dos mortos, templos, de como alguns animais eram vistos como divindades eu gostava de olhar a arquitetura, em como tudo estava construído para o bom funcionamento da cidade, eram muito mais dos que os consideram selvagens, apesar dos rituais violentos em prol de seus deuses e crenças. Estar ali era um exercício de imaginação por imaginar como tudo era antes, e uma espécie de entendimento, de enriquecimento de cultura, me lembro das queixas de algumas senhoras descentente dos Maias que queriam mais espaço porque precisavam de mais ajuda e apoio do governo, era difícil ser fiel a suas tradições no mundo atual.

            Lembrei da sensação de chegar no topo da pirâmide do Sol, de ver tudo pequenino, havia cansaço que era compensado pela bela paisagem, agradeci minhas últimas benções nos últimos dois anos desde a última vez que fui até lá.

            Parei de viajar nos meus pensamentos ao ver que estavam vindo alguns políciais, talvez eles pudessem nos ajudar.

            - Maria estão vindo alguns policiais, deve estar acontecendo algo! – Comentei com ela que estava conversando com o amigo.

            - Vou perguntar.

            Enquanto os policiais se aproximavam o vento estava mais forte, a chuva se aproximava eu só começava a torcer para que nós ficassemos em algum lugar protegido. Estavamos na zona Rosa, bem próximos do Paseo de la reforma, do Àngel de la independencia, próximo daqui costumava ficar um dos restaurantes que Christopher mais gostava de ir. Não consegui reprimir esse pensamento, involuntariamente eu me lembrava dele nos pequenos detalhes.

            - Isso é obra dos manifestantes. Recomendamos que vocês vão para outro local, eles estão alterando seu trajeto, mas vão chegar até o Ángel então aqui pode ser uma das ruas que eles passem. – Informou uma policial, ela olhou para o pneu do carro com pesar, depois disso ela me encarou e ficou alguns segundos me encarando e ficou séria. – Estão protestando contra a repressão dos professores, mas a maioria está protestando contra corrupção dos políticos. – E ela disse aquilo para mim. Não sabia dizer se era uma advertência.

            - Talvez seja melhor deixar para arrumar o carro depois, podemos acionar o seguro para ajudar com isso. – Maria sugeriu vendo como eu estava.

            - Eu concordo, não vou conseguir resolver essa situação sozinho mesmo. Não foi por falta de tentar. – Juan deu os ombros e eu fiz uma careta, indo o abraçar.

            - Obrigada por ter feito essa viagem. – Eu agradeci, e ele deu os ombros.

            - Não fez mais do que a obrigação, estava me devendo favores mesmo. – Maria debochou nos arrancando alguns risos.

            Que foram cortados por duas razões a primeira era que novamente outro trovão iluminou o céu. E porque agora dava para escutar os manifestantes, e ficou uma tensão em nossa volta por minha causa, já haviamos passado por situações desagraveis, estar comigo hoje em dia em público não é uma tarefa muito fácil.

            - Porque você e Maria não tentam pegar um taxi, talvez do outro lado do Paseo ou mais próximo do Bosque de Chapultepec? – Juan sugeriu e já entendia aonde ele queria chegar.

            - Temos que ficar aqui com você esperando o Seguro chegar. – Recusei.

            - Mas, você precisa ir pra casa, esqueceu? – Ele rebateu. E me fez repensar. Não seria bonito da minha parte deixar ele aqui depois de ter me levado a Teotihuacán. Vendo que eu estava pensativa entre ir ou não. Maria se intrometeu.

            - Eu fico e faço companhia para ele, e você vai buscar um taxi para ir para casa, Manuel esta te esperando, se você ficar aqui só vai perder tempo. – Ela falou encostando no capo do carro, no fundo dava para ouvir a manifestação cada vez mais próxima, parecia ter muitas pessoas. Mais um peso para colocar na minha balança. – Anda, não precisa se sentir culpada. – Olhei para os dois ainda pensando.

            - Lembra o que aconteceu da última vez em que estavamos nesse mesmo dilema? – Juan comentou, ele estava calmo, mesmo asssim tinha um certo tom de insegurança e se fizessem alguma coisa com o carro dele? Pensei na última vez em que estavamos juntos e o que fizeram conosco, hostilidade com a qual nos trataram, isso tudo porque estavam me acompanhando.

— Eu sinto muito que tenha acontecido isso com o carro, eu ficaria aqui se você quisesse, mas parece não querer. – Comentei e eles deram sorrisos solidários a mim. Porque tinham vencido. – O melhor é eu ir.

— Não estou muito segura de deixar você indo sozinha, mas acho que essa é a melhor solução, você se afasta um pouco daqui e chama pelo aplicativo algum taxi ou uber. – Maria me disse antes de vir se aproximar para se despedir.

— Certo. Mas, eu estou devendo um jantar então para vocês como desculpa por ter que ir.

— Comida gratuíta eu nunca recuso. – Juan riu antes de me abraçar.

Deu um aceno com a mão depois de eles praticamente me expulsarem, parecia errado o que estava fazendo, mas comparando com outros momentos, era na verdade o certo. Eu decidi andar um pouco do lado contrário de onde estavam os manifestantes. Lado ruim é que agora aqui fora dava para perceber que poucos estabelecimentos estavam abertos e para completar começava a chover, tinha que achar algum lugar que servisse de abrigo.

Entrei num restaurante pouco depois que a chuva começou a ficar forte, já estava molhada. Pensei agora no que iria fazer, não percebi movimentação de carros, a marioria estava estacionados. Com o risco da manifestação passar por ali, ninguém saíria de carro, assim como ninguém viria até aqui, nem táxi ou uber, teria que esperar a chuva passar. O local estava relativamente cheio, muitos devem ter pensado o mesmo que eu, usar de abrigo o restaurante, fui ao fundo do lugar onde tinha um banheiro, precisava me secar um pouco antes de tudo.

Depois de me secar sai do banheiro e vi que o restaurante estava mais cheio, mais pessoas entravam, não queria me sentar em nenhuma mesa então me sentei próximo ao bar que tinha separado apenas para quem queria beber algo. Tirei meu celular da bolsa e mandei mensagem para Juan dizendo onde eu estava e o que eu faria, eles me disseram que estavam dentro do carro e que o alguém do seguro só chegaria dali uma hora por causa do trânsito pela manifestação. Eu me atrasaria de qualquer forma, pensei. Então mandei mensagem para minha mãe avisando que chegaria mais tarde em casa do que o previsto, por causa da chuva e do trânsito. Pena que ela não estava online. Foi só eu guardar meu celular para começar a escutar algumas vozes falando bem alto. Eram críticas, poderia ser um papo relativamente alto comparado ao local, mas percebi algo diferente e passando a olhar na direção das vozes, percebi os olhares tortos diretamente pra mim.

Comecei a ficar nervosa, me levantei da cadeira e percebi que estava cheio eu não consegueria passar sem que esse grupo me abordasse se fosse o caso. Olhei que tinha uma espaço do outro lado do restaurante, talvez tivesse algo tipo de saída por ali. Eu fui andando para o local, e as vozes começaram a ficar mais alteradas e altas, eram agora voltadas pra mim.

Senti alguém segurar forte no meu braço enquanto eu caminhava e me puxou para encostar na parede, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa reconheci quem era. Mas, como? Ele fez um sinal para que ficasse em silêncio, e olhou para um lado e para o outro.

— Aqui não tem saída, vamos ter passar pela frente mesmo. – Ele usou um tom sério.

— Como você? – Eu não consegui concluir a pergunta, ainda surpresa que de todas as pessoas no mundo, justamente Christopher estava ali. Então me lembrei que aquele era o seu restaurante favorito mais cedo.

— Eu estava no bar, parece que você não notou. – Ele me olhou esperando que eu respondesse, realmente não notei por isso não respondi. – Tem algo para que possa se disfarçar?

Pensei no que poderia fazer, a chuva estava ainda bem forte para ouvir assim como a gritaria do grupo na entrada do restaurante. Olhei para minha roupa ainda molhada, tirei a camisa que eu tinha, dobrei e joguei em minha bolsa, eu estava com uma regata preta por baixo, não ajudava muito. Ele tirou o casaco que tinha e me deu para colocar, assim que o fiz, ele colocou o capuz na minha cabeça, isso disfaçaria o meu cabelo.

— Meu carro esta estacionado aqui perto, na rua paralela, me deixa ir na frente. – Ele sugeriu e eu só assenti, começando a ficar nervosa novamente por ter que passar justamente entre aquele grupo de homens.

Voltamos até onde estava o bar, eu tentava me esconder conforme tinha Christopher me guiado na frente. Agora o discurso era para um plateia do restaurante que era quase impossível ignorar, eram gritadas palavras de ordem, quando ficamos próximos a entrada eu tentei evitar não olhar, mas foi mais forte que eu, bastou eu olhar um dos que estavam falando, foi em puro reflexo que ele me encarou e imediatamente me reconheceu. Antes de virar o rosto percebi ele cutucando o amigo e fiz uma careta me reenpredendo se eu não tivesse a curiosidade falando mais alto.

Saímos do restaurante, mas agora uns três homens nos seguiam, pela rua. Chovia muito forte. Todas as palavras eram dirigidas a mim. Diziam que eu deveria ter vergonha de sair de casa conforma a situação do governo, que o país estava indo de mal a pior, que a Televisa mandava e desmandava, mas percebendo que nem eu e nem Christopher estavamos dando atenção, começaram a descer o nível e apelar para a hostilidade.

Ao ouvir se vendida pela Televisa e que eu era uma puta, Christopher imediatamente parou de andar, e se virou bem sério. Olhei para os três homens que tinham no olhar o prazer de ter conseguido provocar, suas roupas não era de pessoas que estavam na manifestação, estavam bem vestidos.

Tomando a frente da situação, dei um passo para trás para ficar na frente de Christopher e isso chamou a atenção para mim. Tirei o meu celular da minha bolsa, estava com raiva pulsando nas veias, mas eu tinha que me manter calma. Desbloqueie para que ficasse a camera, e apontei o celular para eles e tirei uma foto. Estava um momento tão tenso que só se ouviu o barulho da foto ser tirada.

— Se você continuarem a dizer calúnias, eu vou agora numa delegacia denunciar vocês. – Falei num tom sério e encarando a cada um. Eram senhores mais velhos. Que ao ver o meu tom de ameaça, mudaram de expressão, afinal eu tinha foto deles seria mais fácil de identificar.

— Falar a verdade agora é motivo para ser ameçado? Você está caindo assim como todos os corruptos nesse país. – Falou um deles me olhando com mais ódio do que antes.

— Existe liberdade de expressão para todos, mas a partir do momento em que você esta me seguindo gritando a torto e direito mentiras e mais mentiras sobre nada do que você realmente saiba, tem algo muito errado. Eu não vou permitir que pessoas como vocês, que são machistas, que gostam de chamar a atenção mudem a minha vida. Não sou política, não fui eleita pelo povo para estar no comando de um Estado, não vou aceitar esse tipo de acusações descabidas, de pessoas que tem o rei da barriga e se acham no direito de julgar só para ter seus três minutos de fama!. Vocês só tem ódio nas palavras, não pensam realmente na mudança desse país, querem algo para que facilite as usas vidas, olhem para vocês, têm roupas caras, devem ter carros de luxo, estavam num dos restaurantes mais caros da cidade, claramente não devem passar por dificuldades reais. E estão aqui me acusando? Se olhem no espelho. Olhem a vida de vocês, de suas famílias. Olhem para as pessoas que realmente podem reclamar! E se for assim se querem de verdade o fim da corrupção cobrem de quem realmente tem o poder de acabar com isso. Não a mim. Não é me insultando que vão ganhar algo, só pena. Porque é isso que sinto neste momento, pena de vocês três. – Eu falei tão claramente que eles ficaram calados.

Não tinha que ficar passando aquela situação humilhante, ainda sentia raiva, só que tinha mais pena. Eu queria sair dali então continuei caminhando para onde Christopher estava me levando, não sei se falaram mais algo já não me importava, estava tentando fazer com que nenhuma das palavras que disseram me atinjam. Me machuquem. Não sou nada do que me acusaram. Nada.

Christopher tinha voltado para caminhar ao meu lado, apenas o olhei e ele ainda continuava sério. Só que era diferente de antes, era por tudo o que eu havia dito. Dobramos a direita e pelo menos não estavamos sendo mais seguidos. Ele me levou até o seu carro. Me abriu a porta do banco da frente e eu entrei, sem me importar o quanto molhada estava, estava absorvendo tudo. De novo, isso acontecia. Eu não teria paz tão cedo. Christopher deu a volta na frente do carro abriu a porta e se sentou no banco do motorista e ficou esperando que eu falasse algo.

— Só me tira me daqui! – Eu declarei, sem nem olhar para ele.

Eu estava ainda nervosa demais para ter qualquer tipo de conversa, presiva ficar quieta. Christopher entendeu isso muito bem, por que não disse nenhuma palavras desde que falou comigo no restaurante, fiquei tão inerte nos meus pensamentos que não vi que ele tinha parado o carro.

— Anahi? – Me chamou e então voltei pra realidade o olhando. – Não tinha ideia de onde te levar, te trouxe em casa porque era o mais perto. Entra e fica um pouco até você se acalmar. – Ele disse e depois olhou para minhas mãos. Estavam ainda trêmulas, poderia ser de frio ou raiva.

Concordei com um gesto de cabeça, não poderia voltar para minha casa assim, a chuva não dava uma trégua também. Vi Christopher abrir o portão da garagem com um botão, entrar com o carro e estacionar, sem que ainda falassemos nada. Entrei em silêncio, em sua casa, muito tinha mudado desde que soube que ele tinha reformado, ele tinha essa casa há pelo menos uns seis anos. Lembro de vir com ele ver o imóvel. Muito se passou desde então.

Fiquei na sala, ele tinha sumido por um dos corredores, voltou com uma toalha e um secador me disse que logo voltaria e saiu de novo. Deixei minha bolsa no sofá, só peguei meu celular e apaguei a foto que tinha tirado. Eu queria esquecer esse momento vivido, não tinha nenhuma mensagem então era como se eu ainda estivesse no restaurante, talvez fosse melhor assim. Com a toalha que Christopher me deu para tirar o excesso de tudo e depois busquei uma tomada para usar o secador, tinha uma janela bem grande que não só deixava a sala bem iluminada conforme a luz do dia, como também dava para ver o jardim e a piscina dele. Fiquei perdida olhando para tudo ali, pensando no último reencontro com ele. Já tinha três anos.

— Eu fiz um café para você se esquentar. – Ele voltou para a sala com um pequena bandeja onde tinha uma xícara verde grande, com café.

— Obrigada! – Observei ele deixar a bandeja próximo de mim. Tinha trocado de roupa, uma camisa e uma calça moletom, estava descalço. Ele notou que eu o estava encarando e pareceu ficar sem graça. Certas coisas não mudam.

Eu desliguei o secador, já tinha secado o suficiente, fui em busca do meu café, já que sentia minha boca seca. Sentei no sofã aproveitando que a estava quente e que realmente eu sentia frio, ficaria resfriada no mínimo com o tanto de chuva que levei hoje. Dessa vez era Christopher que estava me observando, ele queria me perguntar algo só não sabia como.

— Sua casa esta linda. – Eu comentei porque realmente era assim, estava bem decorada, era a cara dele. Poderia imaginar ele pensando em cada detalhe.

— Obrigado! – Agradeceu e a nossa conversa morreu. Ficamos nos olhando. Era estranho encontrar algo que já foi tão importante em sua vida numa situação como aquela, ainda mais quando o nosso último encontro terminou numa briga. Ele baixou a cabeça e depois deu a volta numa poltrona que tinha para se sentar e me olhar de novo. – Isso sempre acontece? – Não demorei a entender sobre o que ele estava falando.

— Com mais frenquência do que eu gostaria. – Respondi compenetrada nele, com o passar dos anos, tinha ganhado um ar de seriedade que ele não tinha antes. Estava com o cabelo curto, seu rosto liso depois de tantos anos usando barba era diferente ve-lo assim.

            - Eles são crueis. – Ele comentou com pesar, e mal sabia que quem sentia mais era eu.

           - Você não viu nada. – Dei um sorriso triste. – Geralmente é por redes sociais, ou em notícias que saem minha em revistas, eu parei de me importar com isso. Afinal, por ser uma pessoa pública muitos acham que tem o direito de falar o que bem entende, com a sensação de impunidade que a internet dá, eles criam asas. – Dei os ombros. – Desde que passei a bater de frente com muitos, esses ataques diminuiram. Mas, em compensação com todo esse caso que esta acontecendo, agora acontece de encontrar no meu caminho pessoas assim.

            - Te machuca? – Ele perguntou. – Não sei como consegue.

            - Ás vezes sim. Tem casos que são especiais. – Eu me conti para não falar algo, fiz uma pausa pensando sobre. Mudei o rumo, essa não é uma conversa segura para nós dois. – Não posso parar de viver porque acham que tenho que ficar escondida na minha casa, é pior quando envolve minha família. Mas, haters eu tenho desde sempre ainda mais nesse país.

            Tentei soar como descontraída, mas aquele assunto me incomodava muito. Ele ficou quieto e pelo o olhar em que ele me lançou, deve ter se lembrado de algo, por isso ficou com uma expressão mais séria antes de volta a falar.

            - Lamento que passe por isso.

            - Porém? – Eu sabia que tinha cutucado um jaguar com vara curta, se não fosse isso talvez ele não falasse, só que seu olhar estava diferente.

            - Quando se casou estava sujeita a essas situações desagradáveis.

            - Você concorda com aquele homens? – Eu rebati, voltando a ficar irritada, só que dessa vez eu não iria me conter. Se fosse para brigarmos de novo pelo mesmo tema, o faríamos. Era uma sina mesmo. – Acredita também que tenho culpa? Que agora por estarem investigando o governo de Manuel, eu também tenho que ser investigada?

            - Não coloque palavras na minha boca. – ele me cortou porque o meu tom também já estava alterado. – Já brigamos por isso.

            - Sim! – Concordei suspirando. - Eu vejo no seu olhar que de certa forma você concorda com o que me disseram. – Abri a prisão em que estava toda minha mágoa dele.

            Christopher me encarou surpreso pelo o que disse, talvez não pensou que nossa conversa chegaria nessa magnitude. Só o fato dele demorar a negar me feriu.

— Você me perguntou se machuca? Ás vezes, mas quando eu vejo que são pessoas desconhecidas que não sabe nada da minha vida. Relevo mais facilmente, agora receber acusações das pessoas que eu amo? Me fere e já feriu muito. – Eu deixei o xícara que ele me deu de lado, já sem vontade de beber mais nada. Ele não falava nada e isso me irritava mais. - Eu poderia suportar brigar com muitos, sejam amigos, familiares e mesmo da banda como aconteceu com Poncho. – engoli saliva e neguei a cabeça ainda o encarando após ter voltado a falar. – Mas, brigar com você? Foi muito difícil.

— Eu não quero voltar a brigar com você pelo mesmo motivo! – Ele disse, se levantando e andando um pouco pela sala. Era tarde para isso porque estava justamente fazendo o mesmo.

            - Não precisamos continuar, já estou machucada o bastante. – Joguei as palavras na cara dele mesmo. Que passou as mãos na cabeça pensando no que me dizer, estava quase arrependida de ter vindo com ele, eu ficava abalada. Me importava com o que ele pensava sobre mim. Ainda que tenha passado tanto tempo. – Talvez seja melhor eu ir embora. – Me levantei, buscando meu celular.

            - Você pode ficar o tempo que quiser, não precisa ir embora.

            - Eu quero ir. – Rebati. Era por isso que as coisas não dava certo com ele?

            Olhei para a janela e vi que a chuva tinha dado uma trégua, estava com tanta vontade ir embora que mesmo se a rua estivesse inundada sairia a nado. Ele me viu colocar o secador e a toalha juntos no sofá, eu olhei no meu celular no primeiro aplicativo que encontrei e pedi para que um carro viesse.

            - Obrigada pelo o que fez por mim. Por me acompanhar, por me trazer aqui, mas o melhor que faço agora é ir. Eu já estou atrasada para voltar para casa Manuel estava me esperando.

            - Claro, o seu marido! – Ele disse num tom sarcástico e pensativo.

            - Não, o meu filho!

            Christopher não esperava essa minha resposta, ele me olhou arrependido.

            - Não deve saber da minha vida, agora que somos praticamente um desconhecido um para o outro. Eu me separei de Manuel Velasco têm alguns meses, só depois surgiu na mídia essa investigação sobre ele estar envolvido em esquemas de corrupção. Não tenho nada a ver com isso Christopher, você deveria saber.

Estava sentindo a vontade de chorar vir à tona peguei minha bolsa, tentei me reprimir por isso, não na frente dele. Poderia ficar calada, simplesmente ir, mas eu estava muito magoada para isso, mesmo que ele não merecesse explicação.

— Me perdoa! – Ele falou ao me ver se aproximando da porta isso me fez parar, para olhá-lo. – Não te desejo mal algum, não quero que passe por situações como a que eu presenciei hoje, a minha vontade era de bater em cada um deles. Só que você sabe que eu não apoiei seu casamento, eu não gosto dele. Eu sabia que essa relação só serviria para nos afastarmos. - Via muito peso ainda em suas costas, era como se ele carregasse durante muitos anos. Entretanto, ele não voltaria a falar, tinha muito oculto ainda. Velasco não era o culpado de termos nos separados e sim nós dois, pensei com pesar.

Ficamos em silêncio depois do que ele falou.

Me lembrei do que me aconteceu, da vida que eu tive ao lado dele na minha versão paralela. No conselho que tive. Eu estava disposta a nos dar outra oportunidade quando descobri que ele estava com seu relacionamento com Natália firme, estavam morando juntos, felizes. Como eu simplesmente voltaria para a sua vida? Além do mais apenas eu e Velasco sabia como era nosso relacionamento, eu estava com ele porque gostava. Eu queria ter uma família, era o meu sonho e a vida me levou a realizá-lo deste modo. Vi esse homem em minha frente que sempre acaba voltando na minha vida para o bem ou para o mal, e percebi o quanto ele ainda mexe comigo.

— Há algum tempo atrás você me deu isso. - Ele voltou a falar e tirou um saquinho pequeno do bolso. – Não deve se lembrar mais, me pediu para guardar e cuidar, eu fiz isso. Era o meu amuleto e esteve comigo em muitos momentos, você também me pediu para te mostrar novamente. Aqui está. – Ele me entregou e o toque da sua mão gelada me arrepiou.

Olhei para o saquinho.

— Eu te devolvo e agradeço por ter me dado, mas acho que é à hora de te devolver. – Eu assenti e me decidi que só abriria no carro enquanto voltava para a casa da minha mãe.

            - Se você tivesse a oportunidade de fazer algo diferente na sua vida, como uma decisão que mudaria ela completamente, você o faria? – Perguntei para ele que mais uma vez ficou quieto e eu dei um sorriso triste porque a vontade de chorar me veio mais forte, viria de costas para ele. – Se tiver a resposta algum dia me fala.

Não queria mais olhar para trás, porque ele me veria chorar, apertei o saco que ele tinha me dado com força, para descontar o que estava sentindo. Quando cheguei na rua o meu carro também fez o mesmo. Entrei não troquei muitas palavras com o motorista, abri o que o saquinho que Christopher havia me dado e lá estava lá a pulseira que eu havia lhe dado; com os pingentes, o disco, o símbolo da vónego, a máquina e até o bebê. Isso me fez chorar ainda mais. O motorista um senhor com mais idade, cabelos brancos e tudo me vendo naquele estado e apenas me deu um lenço.

Como aquilo era possível? Pensei no momento em que o entreguei, ainda tinha na minha memória, chorei ainda mais por que eu o amava assim como aquela Anahí. O amava muito.

 

Llorar mi pasado

Anahí


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Notas finais do capítulo

Citação final da música Aleph, da Anahí.



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