Eu não conseguia respirar direito por três motivos:

1. A ideia de reviver meu passado me apavorava.

2. Aquela múmia me dava arrepios.

3. O sotão era muito abafado.

Encarei a múmia e disse para mim mesma:

- Eu não posso fazer isso.

- Você tem de fazer isso- disse uma voz calorosa a minha direita.

- Pare de me perseguir!- Exclamei para Apolo.

- Não estou te perseguindo- ele bocejou.

- Ah, é, só está indo aonde eu vou no mesmo momento que eu- suspirei.

Ele deu um meio sorriso.

- Como preferir.

Eu revirei os olhos. Apolo era, provavelmente, meu melhor amigo, o que me faz pensar que talvez meu maior defeito fosse ter amigos bonitos. Ri com minha conclusão, e Apolo pareceu perceber.

- Do que está rindo?- Ele também meio que riu.

- Nada- menti. Eu sabia que como um Deus, ele perceberia minha mentira, mas era melhor do que alimentar seu ego inflado assumindo que ele era bonito.

- Tá, tá, e eu sou Zeus- ele sorriu, parecia que ele sabia que eu o achava bonito, e se divertia com a ideia.

- Não tire uma com a minha cara- tentei dizer seriamente, mas ao invés de uma ordem, soou mais como uma frase sarcástica.

Ele voltou a rir, e se sentou no chão.

- Ai Aly, você é tããão hilária- ele riu sozinho.- Sente-se comigo- ele sorriu, mas foi como uma ordem.

Obedeci, me sentei a sua frente e o fitei.

- Você acha que pode fugir de uma profecia- ele riu novamente, o que já estava passando a me irritar.- Não há como fugir de uma profecia- explicou.- Digamos que há uma profecia que diz que você receberá uma profecia, entende?

- Ahn...- tentei dizer.

- Podia existir uma grande profecia que diria que uma filha de Hades, ao completar 16 anos, se apaixonaria por mim, Apolo, não acha?

Demorei quase um minuto para responder, e murmurei algo muito inteligente como:

- Ahn... tá.

Ele sorriu.

- Você está vermelha- disse ele.

- Não estou- disse eu deixando uma mecha de cabelo cair sobre o rosto.

- Está sim- ele tocou meu rosto e eu lhe dei um tapa na mão.

- O que você veio fazer aqui mesmo?- Indaguei.

- Vim fazer você não desistir de falar com a minha amiguinha- ele gesticulou para a múmia.

- Ai Apolo, você é tããão hilário- tentei rir, mas risadas falsas não eram o meu forte.

- Essa fala é minha- disse ele.

- Isso não consta no script- zombei.

Ele sorriu.

- Por que diabos você sorri tanto?- Perguntei.

- É o que eu faço pra conquistar semideusas inocentes.

- Não está funcionando- retruquei.

- Jura? Eu não acho- ele voltou a sorrir.

Eu o fitei, o que diabos estavamos discutindo?

- Aly?- Chamou Percy do lado de fora do sotão.- Morreu?

Apolo riu, e eu não pude deixar de fazer o mesmo.

- Até- disse Apolo dando-me um beijo no rosto.- Relaxe, quem sabe da próxima vez eu beije outro lugar- ele sorriu.

- F-i-q-u-e l-o-n-g-e d-e m-i-m- disse eu entre dentes.

Com uma luz estrondosa, ele desapareceu, deixando-me sozinha naquela câmara de asfiquiciamento ambulante.

- Aly?- Percy chamou de novo, abrindo a porta.- O que aconteceu? Qual é a profecia?

Eu hesitei, eu iria mentir para Percy? Fugir da profecia? Apolo dissera que há tipo uma profecia que dizia quando alguém receberá uma profecia, mas, com todo o meu futuro alterado, porque não alterar também essa história de profecia?

Engoli em seco. Se realmente houvesse algo errado na profecia, a ponto de me fazerem voltar no tempo, como acabaria? Provavelmente, até o ponto em que eu recrutara Percy, Frederik e Mariana, eu estava indo bem, mas e o resto de minhas escolhas?

- Não há profecia- menti.

- Não?- Percy estreitou os olhos.- Bom, então não está em seu destino salvar Nico- eu estremeci, estava sim em meu destino, eu tinha de ter certeza disso.

- Preciso de uma missão- disse eu.- Pode ão haver profecia, mas há esperança.

- Há esperança de salva Nico, mas não há esperança que Quíron deixar você sair em uma missão sem profecia.

- Vamos fugir- disse eu.

- Como vamos? Isso é com você.

- Eu preciso de sua ajuda- disse eu.- Da sua, de Mariana e de Frederik Falcon.

- Frederik? Filho de Apolo?

- Sim.

- E o que você planeja fazer? Arrancar Nico dos campos de punição?

- Não-disse eu, e ele suspirou, aliviado.- Pretendo arrancá-lo do Elísio.