Seguindo Caminhos escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem-vindos!



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– Você viu isso? – diz Amanda ao sorrir, sentada em um banquinho na bancada da cozinha, enquanto lê seu jornal matinal antes de irmos para a aula de inglês.

– Isso o quê? – digo sem interesse, deitada em seu sofá, quando atualizo minha rede social com novas fotos dos últimos dias.

Ela caminha até mim e senta no braço do sofá, levantando o papel colorido com uma manchete estampada na , despertando meu interesse no ato:

– O quê? – Quase caio do sofá ao sentar repentinamente, pois o que eu vejo é inacreditável. Como eles nos viram e eu não percebi isso? Pego o jornal e encaro a manchete em inglês “Boyband and Friends”, com uma foto de nós quatro na capa e a outra em que minha colega de quarto aparece perto da porta do carro dele. Eles pegaram o momento exato em que estávamos caminhando para o carro do Elliot e eu andava ao seu lado assim como Alan, que estava muito próximo de Amanda, conversando atrás de nós. Como eu estava distraída e doida para tirar minhas botas apertadas, acabei não verificando o que eles faziam em nossa retaguarda. Claro que eu não ia me ligar em ficar olhando para os lados e pensar que haveria alguém vigiando isso: quem ficaria, afinal de contas? Não pertenço à esse mundo de paparazzi, nem muito menos sou famosa. Para mim, é mais do que natural andar por aí, sem me preocupar em aparecer na manchete de um jornal qualquer. Por sorte, a foto em que nós quatro estamos está escura e mal dá para ver nossos rostos, em meio às arvores das calçadas. Porém, a segunda está na luz do dia e claramente aparecem os dois e a face de Amanda está bem nítida. Espero que eles não descubram onde nós moramos, senão vai ser um inferno.

Folheio as páginas em busca de informação sobre a matéria da capa. Ao encontrar o texto em questão, não consigo entender muita coisa e começo a ficar nervosa para saber do que se trata. – Traduza para mim, por favor! – digo ao entregar de voltar o jornal para Amanda.

– Certo – então, ela começa a ler.

“Hoje, dia dezesseis de dezembro de 2015 tivemos a sorte de pegar um flagrante de Elliot Johnson e Alan Peterson com duas de suas amigas, que nunca havíamos visto antes. Eles conversam num clima de intimidade, no qual não é muito corriqueiro dos nossos astros da banda “Date”, cuja privacidade do segundo sempre foi mantida em absoluto sigilo. O grupo conversou por cerca de dez minutos , logo foram embora com eles para Deus sabe onde. Será que sua namorada vai gostar de saber disso? Essas fotos foram tiradas em primeira mão. Não obstante, no dia seguinte à primeira foto, pudemos observar um nível maior de intimidade entre ele e a loira misteriosa. Procuramos descobrir de onde elas vieram, porém nunca encontramos nenhuma informação sobre as garotas sortudas das fotos. Tentamos entrar em contato com a assessoria de imprensa da banda, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.”

Neste momento, estou sem palavras. Não quero e nunca vou querer ter essa exposição sobre mim. Ainda bem que não escreveram nada ofensivo a meu respeito, nem sobre Amanda, pois eu não saberia o que fazer, nem onde enfiar minha cara.

– Você viu que não citaram o Bruno, nem tiraram uma foto dele conosco? – olho espantada para Amanda, que esboça um sorriso enigmático.

– É claro que não! – bufa. – Eles querem é vender notícias, Lícia. Se colocassem o Bruno não iria parecer que era uma saída em casais.

– Será que eles já viram essa matéria? – levanto do sofá em busca de algo para beber. Depois dessa matéria doida, fiquei com a garganta seca.

– Não sei, Li. Não tenho a mínima ideia – ela dá de ombros e volta a folhear o jornal, que deixei jogado na mesa de centro.

– Amanda, você não está preocupada? – digo ao encher um copo com refrigerante.

– Ah, eu não me importo tanto quanto você. Acho que, se tiver interessada em manter contato com ele, vai ter que se acostumar em aparecer nesses lugares – aponta para os papéis em suas mãos.

– Não consigo lidar com isso e não vou querer nunca. Gosto da minha vida do jeito que está! – dou uma boa golada em minha bebida para fazer descer o nó que se acumula em minha garganta seca.

– Bem, acho que não é hora para pensarmos nisso, certo? Não queremos nos atrasar para a aula – diz ao se levantar do sofá e pegar sua bolsa, deixando o jornal cair no chão.

– Você tem razão – lavo meu copo e coloco-o para secar. Ando até o jornal caído no chão e, ao me agachar uma mecha cai em meus olhos, tampando um pouco a minha visão. Logo, a coloco atrás da orelha e leio, mais uma vez, a reportagem que estampa a manchete, em letras garrafais amarelas: “Boyband and friends”.

– Anda logo! – diz impaciente.

– Já vou! – estalo e língua e levanto, guardando o jornal na bolsa que deixei em cima da minha cama.

Ao chegarmos na aula de inglês, permito que toda essa confusão saia da minha mente para dar lugar à informação necessária para mim, afinal de contas eu vim para cá com o único objetivo de aprender um novo idioma, e não me meter em confusão por causa de uma saída inocente entre...amigos?

*** ***

Com a neve que cai incessantemente lá fora, acabamos ficando presas dentro do prédio do intercâmbio. Depois que a aula terminou, conversei com Bruno e contei para ele o que aconteceu na manhã de hoje, quando Amanda mostrou o jornal para mim. Até mostrei o exemplar que trouxera comigo, no entanto ele riu da situação em que nos metemos e também do fato de não ter aparecido nas fotos. No momento em que a piada perdeu a graça para ele ao ver que não estava rindo junto, a consciência bateu à sua porta e argumentou a mesma coisa que ela, há algumas horas: “Eles querem vender!”. Logo, parou para analisar melhor o ocorrido, chegando a ficar sem entender e, até achou estranho porque estivera lá e não entendeu o fato de terem criado uma situação que não tinha nada a ver com o que aconteceu realmente. Felizmente, além de Amanda; que sabia de tudo desde o início, temos mais alguém que está do nosso lado e acredita que tudo isso foi feito com o intuito de gerar polêmica.

Depois de esclarecermos as coisas, Bruno começou a olhar o lado bom da coisa toda e voltou a fazer piada sobre a situação, mostrando a parte positiva: meu rosto não apareceu em nenhuma foto, mas a negativa é que o de Amanda sim. No entanto, ela não está ligando para nada disso, de qualquer maneira. Por isso, não chega a ser tão ruim assim e o clima voltou a ficar melhor entre nós. Quando voltarmos para o Brasil, vou fazer questão de manter amizade com ele. É uma pena que more em outro estado, contudo existe o telefone e a internet para mantermos contato. Ah, e com minha atrapalhada colega de quarto também, pois a convivência que estamos tendo e que ainda teremos está criando uma amizade que nunca pensei ter. Viver com alguém completamente diferente de você faz com que se apegue mais a ela, por não ter tanto contato assim com outras pessoas de fora, ainda mais sendo brasileira.

Aproveitando que a neve começa a estiar, Amanda e eu resolvemos voltar para casa.

– Até semana que vem, garotas! – diz Bruno ao passar pela porta envidraçada de metal.

– Até, seu bobo! – ela diz.

– Até, coisinha irritante! – digo e começo a rir, quando meu celular começa a tocar alto dentro da minha bolsa branca de material reciclável. Minha mãe gosta de fazer artesanato e, um dia estava observando-a em uma de suas especialidades. Ela costurava cada pecinha no algodão, alinhando delicadamente os anéis de lata de alumínio, sem nem precisar olhar muito, graças à sua destreza em fazer isso tão bem. Quando ela terminou de coser, quis que ficasse com a bolsa, como uma forma de ter algo que evocasse a nossa amizade de mãe e filha, numa singela peça de pano feita por ela.

Retiro o objeto que brilha, em meio à escuridão do interior da bolsa e atendo sem nem olhar o visor, para saber de quem se trata.

– Alô – digo ao sorrir de uma piada que Amanda acabara de contar.

– Alô – ele repete.

Ouço burburinhos do outro lado da linha e risadas ao longe, no entretanto não consigo distinguir o dono da voz, portanto afasto o celular da orelha para ler o nome que aparece.

– Johnson? – falo baixinho, ao franzir o cenho e não identificar o nome escrito na tela.

– Quem é? – ela se aproxima, tirando o telefone da minha mão e rapidamente encosta em seu ouvido - Alô? Quem é você? – pausa - Hum...Olá! – abre um sorriso simpático. – Sim, estamos sabendo – diz ao parar de andar um pouco, encostando-se na mureta de proteção da ponte no qual estávamos atravessando.

Ando até ela e olho aflita e curiosa seu rosto que demonstra sentimentos contrários aos meus. Fico ali ouvindo a conversa e, como não há muito o que fazer, dou atenção para a grade de proteção, tirando uma lasca de tinta verde que se solta do metal. Aproveito para olhar a água que congelou recentemente, criando uma grossa camada de gelo por onde as pessoas estão patinando nesse momento.

Um avião passa baixinho acima de nós, interrompendo a conversa que Amanda está tendo, ao apertar o dedo em seu outro ouvido e balançar seus fios de cabelo soltos em seu rosto.

– Toma...- ela cutuca meu braço, por isso olho para sua face rosada por conta do frio, fazendo-me desviar do foco em que a cena anterior era de criancinhas patinando no gelo, enquanto seus pais andavam por perto, impedindo assim que caíssem e se machucassem. - ele quer falar com você – diz ao esticar o celular para mim, exibindo um sorriso bobo no rosto.

– Quem é? – digo para ela.

– Você já vai saber – sorri ainda mais e se afasta, deixando-me sozinha.

– Alô? – digo desconfiada, voltando a olhar para debaixo da ponte.

– Lícia? Sou eu!

– Eu quem? – franzo o cenho, quando uma menina cai e começa a chorar.

– Elliot – diz simplesmente, soltando o ar pela boca, que faz um barulho irritante em meu ouvido.

– Oi! Desculpe, não reconheci sua voz, nem o nome na tela – continuo olhando para baixo e o pai da menininha já está limpando suas lágrimas, no cachecol que adorna seu pescoço.

– É...eu pensar que soube meu segundo nome – sorri.

Reviro os olhos. – Combinamos que eu te ensinaria a falar o português corretamente, então o certo é “Eu pensei que soubesse meu segundo nome.” Repita comigo! – digo em tom imperativo e rio da forma que isso soou.

– Eu...pensei...que...soubesse – gagueja nessa parte – meu...segundo...nome. – Quando finaliza a última palavra, dá um sorriso alto pela conquista, que me deixa orgulhosa por ter conseguido falar direito. – Eu liguei para explicar. Está certo?

– Sim, está sim! Mas, explicar o que? – enrolo um fio de cabelo entre os dedos e espero que continue.

– Souber o que acontecer – sua voz diminui, quase chegando a virar um sussurro.

– Vou ignorar a forma como falou porque estou curiosa, mas você está se referindo ao jornal? Quem lhe contou?

– A press office, digo...como ser mesmo o nome? – ele estala os dedos.

– Acho que essa eu meio que sei. ‘Office’ é escritório e ‘press’ deve ser imprensa, certo?

– Dever ser – sorri. – Mas, ela nos dizer sobre as fotos. I’m so sorry! – sua voz está triste nesta última frase, fazendo meu coração se compadecer.

– Não se preocupe, pelo menos meu rosto não apareceu. E, bem...acho que Amanda não está se preocupando muito com o dela ter sido estampado no jornal – dou de ombros.

– Ficar sabendo. Ela conversar com Alan enquanto eu esperar ao lado.

Fico confusa. - Ué...ela não estava conversando com você?

– Não, eu passar o cellphone para ele.

– Entendi – mudo de assunto. – Não deu problema para você? Sua namorada não ficou chateada não, né? Espero não ter arrumado encrenca para vocês dois – digo isso com medo do que vou ouvir a seguir, mas já me preparando para o pior, portanto fico de costas para a grade de proteção, observando os carros que passam pela ponte.

– Namorada? – bufa. – Que namorada? – sorri.

Um casal caminha de mãos dadas nesse momento e a cena torna-se irônica nesse momento porque esperava ouvir algo totalmente diferente do que acabei de escutar. – A Debby – digo simplesmente.

– Ah...não estarmos juntos. I’ll be there in a second.

Ao ouvir isso, ouço passos ao fundo e o burburinho é abafado por uma porta que faz barulho ao ser fechada.

– Acho que você terá que ir, certo?

– Yeah, eu precisar. Nos falamos depois, ok?

– Ok – sorrio e ele desliga. Um sorriso tão bobo quanto o de Amanda surge em meu rosto. Agora entendo o porquê de ter esboçado um como o meu, ao entregar-me o telefone há alguns minutos. Ao dizer que ele não tem uma namorada me deixou feliz, mas não vou criar expectativas em torno disso. É melhor deixar as coisas fluírem naturalmente, porque o que tiver que ser, vai ser!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! o/ ;*



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