Seguindo Caminhos escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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A noite de ontem foi engraçada, porque aquela pequena garota não parava de me fazer sorrir graças ao seu jeito solto de ser. Tive que me segurar diversas vezes para que ela não ficasse sem graça de tanto que senti vontade de fazê-lo. Agora estou aqui deitado em minha cama, segurando o batom que ela deixou cair de sair bolsa, enquanto procurava a chave. Eu deveria devolvê-lo ainda hoje, aproveitando que esse é meu último dia de folga mesmo.

Levanto da cama e caminho até o banheiro para ver como meu cabelo está, por ter ficado enrolando na cama boa parte da manhã. Está meio espetado, portanto penteio de lado e deixo o banheiro e, com algumas passadas de perna, saio do quarto.

Desço as escadas e não encontro ninguém no caminho, por sorte. Minha mãe deve estar ocupada cuidando das novas plantas que comprei pra ela naquela ida ao mercado. Trouxe uma suculenta de cada tipo que encontrei e ela parece uma criança vigiando-as e vibrando a cada novo ramo que cresce, ao mesmo tempo em que meu pai deve estar no escritório trabalhando em mais um projeto da empresa. Atravesso o quintal, jogando a chave do carro de uma mão à outra e destravo as portas. Hoje o tempo está mais ameno, por isso ligo o aquecedor na potência mínima para esquentar o suficiente para me manter na mesma temperatura de quando estava dentro de casa.

É possível notar a diferença de como as pessoas dirigem pelas ruas hoje. Elas já começam a andar um pouco mais rápido pelos caminhos, por não precisarem se preocupar em derrapar na pista, graças à neve que não derrete, mas também não se acumula mais na avenida. Tamborilo meus dedos no volante e o silêncio inquietante me deixa ansioso, portanto ligo a rádio local para que as vozes dos locutores preencham o vazio aqui presente. Paro em um sinal de trânsito e enfio a mão no bolso do meu moletom, onde está o batom que Lícia esqueceu ontem. Não diria que ela o tenha feito, mas quando jogou todo o interior de sua bolsa em cima do capô do carro, acabou não notando que seu batom rolara para debaixo do meu jeep. Nem eu sabia disso e só fui perceber que estava lá quando saímos do apartamento das duas. O objeto estava brilhando ali no chão, ao lado da roda do passageiro e Al me entregou quando também o viu.

Apesar de anteriormente ter rido da forma atrapalhada que ela tentava reunir os objetos e jogá-los dentro de sua bolsa. Alan até tentou fazer mais uma de suas piadas, no entanto não permiti que o fizesse. Aparentemente, ela estava nervosa, por isso peguei a lanterna do porta-luvas, que sempre deixo para essas ocasiões e fui ajuda-la, já que sua amiga estava ocupada demais em flertar com o meu.

Uma buzina nervosa surge no meio da minha lembrança, o que me irrita um pouco. O sinal abrira e eu não notei, no entanto o cara atrás de mim não pode esperar uns segundos que seja. Reviro os olhos e olho para o retrovisor dianteiro, dando a partida para sair de sua frente e permitir que dirija. Alguns minutos depois, estou entrando na rua onde elas moram, para entregar o batom. Bem, pelo menos eu tenho uma desculpa para aparecer a essa hora na casa delas e espero não atrapalhar seus planos. Se bem que, hoje é sábado e quem vai querer fazer alguma coisa a essa hora da manhã? Não pretendo demorar na casa delas, pois depois que sair daqui ainda terei que voltar para casa antes do anoitecer, para preparar as coisas para a viagem.

Estaciono na mesma vaga de ontem e penso se essa é realmente uma boa ideia. Quem é que aparece na casa de alguém às nove horas da manhã, para devolver um batom? É patético, mas não tem como voltar atrás agora, porque Amanda está de saída nesse momento, vestindo uma calça de corrida e um casaco de moletom, com as siglas de uma universidade americana e vê meu carro chamativo. Por que eu não escolhi o preto? Seria mais fácil se quisesse mudar de ideia, como ainda quero fazer. Ela caminha na minha direção, prendendo os cabelos e ao se aproximar, abaixo o vidro do lado do motorista.

– Bom dia! – Amanda olha o interior do meu carro, antes de olhar pra mim.

– Bom dia! – respondo brevemente, mas sem muito ânimo.

– Posso saber o que anda fazendo por aqui?

– Eu só vim devolver isso aqui – retiro o batom do bolso do casaco e mostro a ela.

– Ah. Por que você não devolve pessoalmente? Eu não vou subir de volta, porque acabei de descer e não estou muito afim de fazer todo o caminho de volta só pra entregar um batom – ela revira os olhos.

– Certo – abro a porta do carro e ela abre caminho para que eu desça.

– Foi um prazer rever você. Agora vou fazer minha corrida matinal, então até depois – ela acena e caminha para longe.

Após sair do carro, travo as porta e ando em direção ao apartamento. Uma senhora passa por mim nesse momento e aproveito que ela deixou a porta aberta para seguir direito para o elevador. Quando estou no segundo andar, uma garota entra e para pra olhar pra mim desconfiada. Percebo a forma como ela me olhar ao apertar o botão para continuarmos subindo, até que decide tomar a iniciativa de puxar conversa.

– Elliot Johnson? – sorri, ficando de frente pra mim.

– Sim, sou eu – digo ao espelhar seu sorriso. Ela deve ter uns quinze ou dezesseis anos, veste uma calça jeans e uma blusa de manga cumprida.

– Eu não acredito que é você mesmo! – ela tampa a boca com a mão e seu olhar incrédulo me deixa sem graça. Em seguida, começa a chorar.

– Não, não fique assim – eu a abraço e permaneço assim por tempo suficiente para que pare um pouco de chorar. Quando percebo que ela está mais calma, a solto um pouco e puxo as mangas do meu casaco entre os dedos para secar suas lágrimas.

– Se eu soubesse que iria te encontrar aqui, teria trazido alguma coisa pra você assinar! Espera – ela diz e retira seu celular do bolso traseiro de sua calça jeans – tira uma foto comigo?

– É claro que eu tiro! – ela me entrega seu celular e estico meu braço, num ângulo onde a luz do teto não atrapalhe e tiro uma foto, focalizando nós dois. – Qual é o seu nome?

– Diana, o mesmo nome da sua mãe – sorri orgulhosa.

– É verdade! – digo ainda abraçado com Diana.

– Meu andar chegou – diz tristonha, ao olhar para o painel que mostra o número quatro, em vermelho.

– Não fique triste, viu – digo ao encostar meu dedo em seu nariz vermelho.

– Não ficarei! – Diana se desvencilha relutantemente do meu abraço e, antes de sair do elevador, olha pra trás e me dirige um sorriso tristonho.

A porta se fecha e só falta mais um andar para finalmente cumprir minha missão, ou seja, entregar o batom da Lícia. Com um “plim” bem alto, o elevador avisa em seu painel que estamos no quinto e último andar do edifício. Ele abre as portas e eu ando em direção à porta que fica de frente para a sua saída, o apartamento 504.

Aperto a campainha e espero por algum sinal de que ela tenha ouvido. Ruídos baixos são fáceis de ouvir, graças às paredes finas que me cercam e consigo ouvir quando passos se aproximam. Portanto, tampo o olho mágico com meu dedo e a porta é aberta, revelando atrás de si uma jovem com os cabelos enrolados em uma toalha azul, uma calça de flanela e uma blusa branca lisa, com as mangas enroladas até os cotovelos.

– O-o quê que você está fazendo aqui? – Lícia diz gaguejando.

– Desculpe – digo rapidamente – Vim entregar seu batom – retiro-o do bolso do casaco e mostro a ela o objeto em minhas mãos.

– Eu que peço desculpas agora. Que cabeça a minha! Entre, por favor – diz, abrindo espaço para que passe por ela.

Ando em direção ao sofá, com as mãos enfiadas nos bolsos e, antes de chegar até ele, deixo o batom na bancada da cozinha. Ao me aproximar da sala, noto que não tem como sentar por cima de toda a bagunça ali presente. Roupas estão espalhadas, maquiagens e revistas preenchem cada espaço, onde deveria haver um sofá. Por isso, opto por sentar na cama, que está com os lençóis floridos dobrados e, acrescento muito bem arrumada por sinal. Eu poderia jogar uma moeda ali e tenho certeza que quicaria para fora da cama. Até fico com pena de sentar nela, mas não há outro disponível. Portanto, sento com cuidado para não desmanchar todo o trabalho que tiveram para deixa-la assim.

Lícia me segue e logo senta ao meu lado, encostando suas costas na parede. – Obrigada por trazer meu batom. Onde o achou? – ela olha para mim.

– Achar perto de meu carro – digo ao olhar para sua mão esquerda inquieta, que mexe na ponta da toalha.

– Olha, eu acho até fofa essa sua mania de não falar o português corretamente e tal, mas eu quero ser sua amiga e isso me incomoda bastante. Pronto, falei! – sorri ao terminar de falar tudo de uma só vez.

Ela falou tão rápido que mal consigo reunir as palavras todas de uma só vez, portanto demoro alguns segundos até compreender tudo o que foi falado para lhe dar uma resposta coerente, no entanto a única coisa que sai é um pedido de desculpas.

– Não, não precisa se preocupar. Se quiser, eu te ensino a falar português corretamente e, em troca você me ensina o inglês, que tal?

– Até que não ser uma ideia ruim – digo ao coçar o queixo. – Eu não ter muito tempo, você saber.

– É, isso vai ser um problema – Lícia desenrola os cabelos da toalha, que caem por cima dos ombros e uma mecha cai em seu olho. Ela o afasta rapidamente e volta a falar. – Alguma sugestão, então?

– Telefone – aponto para o seu, que está em cima da mesa de centro.

– Claro. Você pode colocar o seu número no meu celular?

Assinto afirmativamente e apanho-o para anotar, gravando meu nome como ‘Johnson’. – Pronto, agora vai ficar mais fácil. – Em seguida, ligo do seu celular para o meu e guardo seu número como ‘Lícia’, até porque não lembro seu nome direito. Sou péssimo com nome e sempre fui. Quando vou dar autógrafo a alguma fã, sempre peço o nome para já escrever e não perder e acabar escrevendo outra coisa no lugar. Já houveram situações em que anotei ‘Bianca’ no lugar de ‘Brenda’.

– Quer alguma coisa pra beber? – Lícia diz ao se levantar e caminhar na direção da cozinha.

– Só água, obrigado.

Não demora muito, ela volta com um copo d’água em mãos e meu celular começa a tocar dentro do bolso da minha calça jeans, portanto o deposita em cima da mesa de centro e volta a sentar ao meu lado.

– Alô – digo quando finalmente retiro meu celular do bolso apertado.

– Filho, onde você está? Passei no seu quarto e não te vi, por isso fiquei preocupada.

– Oi, mãe. Estou na casa de uma amiga, mas já estou de saída.

– Ah, tudo bem. Vai precisar de ajuda para arrumar as coisas para a viagem? Quer que compre algo?

– Não, não preciso de nada não. Quando chegar, a gente conversa, tudo bem?

– Certo, estarei te esperando – e desliga.

– Precisar ir agora, Lícia. Depois nos falamos? – agito o celular em minhas mão, indicando que ligarei depois.

– Sim, depois a gente se fala.

Passo por ela e dou-lhe um beijo na bochecha, que se assusta com meu gesto inesperado, no entanto não recua. – Tchau, Lícia! – me afasto dela e ando na direção dos elevadores e, infelizmente uma menina acaba de sair dele e sou obrigado a pegá-lo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! ;*



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