A Cura escrita por TamirisJ


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Não consegui deixar de imaginar que isso aconteceria. E, então, surgiu uma fic! :')



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Londres, fim de 1878

- Will, o que está fa... - Tessa se interrompeu pelo pulo de susto que Will deu, sentado na cadeira da escrivaninha da biblioteca.

Ele virou para trás com a respiração irregular do susto, e relaxou ao ver quem era.

- Ah. Tess. - sua voz revelava alívio. - É você.

Will tão desatento a ponto de não ouvi-la entrar na biblioteca? Aquela atitude era estranha, e Tessa cruzou os braços e franziu as sobrancelhas.

- Will, o que está fazendo?

Ele olhou para o lado e passou as mãos nos cabelos - sinal de que estava nervoso -, e passou a bater os dedos ritmadamente na cadeira. O fato de ele estar com olheiras terríveis e com a aparência pálida - desde que Jem se fora, ele não comera e dormira bem - causava um aperto em seu coração.

Mas a atitude dele era deveras estranha, e a postura de Tessa tornou-se mais rígida.

- Will... - o tom claramente dizia que, se ele não contasse o que era, ela iria até a escrivaninha ver, e ele não tinha escolha a não ser falar.

- Tess, eu não queria... - ele ainda olhava para o lado. - Eu não queria contar ainda. Estou trabalhando nisso há algum tempo, e ainda não há esperanças. Eu não queria te deixar ansiosa, ou brava... Não sabia, quer dizer, não sei qual será sua reação e...

Tessa caminhou até a escrivaninha, pegou os papéis com a escrita de Will com agilidade e começou a analisá-los.

A compreensão foi se acentuando em seu rosto aos poucos, os olhos correndo rápido pelas páginas, seu coração batendo mais forte. "Mas ainda não há esperanças...".

Ela não tirou os olhos da papelada.

- Will. - sua voz era baixa, mas firme. - É por isso que está deixando de comer, treinar e dormir adequadamente?

Ele a olhava ansiosamente, um pouco de culpa pesando em seu coração por não ter contado a ela.

- Sim.

Ela suspirou, deixou a papelada na escrivaninha de madeira e encarou-o com os olhos cinzentos e tristes.

- Will, já faz 6 meses que Jem se foi. Ele está vivo, Will. Jem está vivo - a voz dela vacilou ao dizer a última frase, enquanto colocava as mãos de Will nas suas -, e é isso o que importa.

Ela podia ver a dor nos olhos dele, e ela sentia a dor em dose dupla - a sua e a de Will.

- Mas ele não está aqui, Tess. Ele não está aqui, não luta mais comigo, eu só o vi uma vez até então, ele não...

- Will... - ela tentava falar com uma voz doce e reconfortante, mas conseguia ouvir o próprio desespero.- Jem não gostaria que você fizesse isso. Que passasse sua vida se preocupando e procurando uma cura. - ela olhou para os papéis. - Viva por ele, Will. Viva como você sabe que ele gostaria que vivesse: plenamente, com felicidade, como se ele estivesse aqui.

Ela podia ver o esforço de Will para tentar compreender as palavras dela, e ela acreditava que ele também podia ver que ela se esforçava para tentar demonstrar que a última conversa dela com Jem tinha sido o suficiente para ela seguir em frente com naturalidade.

Mas não tinha.

E nunca seria suficiente.

Ela balançou a cabeça para tentar dispersar os pensamentos e olhou para Will, que a encarava com os olhos brilhantes e frustrados.

- Eu consigo ver... - a voz dele saía com dificuldade. - Consigo ver que sente o mesmo que eu, Tess. Eu nunca me perdoaria se não continuasse fazendo tudo o que posso para salvar Jem. Sei que você acredita que está tentando levar sua vida em frente porque Jem pediu, mas eu não posso, Tess, eu não consigo dormir pensando que poderia ter feito alguma coisa durante o dia. Não é isso que um parabatai faz. E não é o que Jem faria se estivesse em meu lugar.

Os olhos dela traziam tanta emoção, tanto amor, tanta compreensão, e ele se sentia tão vazio e solitário que se levantou e se atirou nos braços dela, abraçando-a com força.

Agora ele já estava chorando, soluçando nos ombros de Tessa, e ela tentava conter as próprias lágrimas.

- Não é justo... - ela sussurrava. - Que você e Jem tenham sido separados assim, Will. Nada disso é justo.

Ele a abraçou com mais força, e ela sentia naquele abraço o desespero, os lampejos de esperança, a tristeza e inconformidade de Will.

- Eu estou aqui porque tenho você, Tess. - ele finalmente falou depois de ter se acalmado. - Você não sabe quantas vezes já salvou minha vida, e como a continua salvando, e não tem ideia de como te amo. - ele se afastou, colocou uma mão no rosto dela e ela sentiu vontade de beijar todo o rosto dele onde estavam trilhados caminhos de lágrimas. - E é pela força que você me dá que consigo seguir em frente. Eu quero ter uma família com você, Tess, e ser o homem mais feliz do mundo. - ela sentia o coração inchar. - Quero entrar no altar e dizer "sim", e ouvir você dizendo "sim". Mas, por favor, não me prive de lutar por Jem enquanto eu posso. Não me reprove por isso.

Ela colocou as duas mãos no rosto dele, não conseguindo mais conter as lágrimas.

- Eu vou lutar com você, Will. Eu sempre lutei, e sempre vou lutar com você. - ela o beijou delicadamente. - Você também não faz ideia do quanto eu te amo e quero te ver feliz.

Então ele a pegou nos braços e a beijou, a beijou forte e determinadamente, confirmando tudo o que tinha falado, e ela correspondia, sabendo que Will também era tudo o que a mantinha ali; que aquele amor a fazia ter a sensação de flutuar, sendo que a vida parecia mais concreta ao lado dele. Ela sentia que tinha muito ainda a oferecer com Will ao seu lado.

Londres, 1918

Tessa entrou na sala de armas - onde Will ia de vez em quando para pensar - abruptamente, tentando conter as mãos trêmulas.

- Will.

- O que aconteceu, Tess? - ele parou de jogar facas nos alvos e encarou-a, e a voz rouca e baixa de Will espelharam o tom alertante de Tessa.

- As pesquisas... - ela respirou bruscamente. - sumiram.

Ela o viu ficando pálido e passando a mão no cabelo que ainda tinha alguns fios negros. Imediatamente, as rugas que tinha pareceram se acentuar. - O quê?! Como, Tess? É impossível, elas ficam trancadas na biblioteca!

- Eu sei disso, Will, mas elas sumiram! - a voz dela se alterou, e ela ficava mexendo em sua pulseira de pérolas nervosamente.

Ele se sentou pesadamente no sofá com a cabeça entre as mãos.

- Não é possível, Tess, não é possível, são 40 anos de pesquisa, e nós progredimos tanto, Tessa, eu... Eu acho que estávamos quase lá e... - Will tremia, e ela percebia que ele ainda inacreditava a situação, ou então estaria absolutamente fora de controle.

Ela sabia do que ele precisava, e foi até ele e o abraçou. Seu corpo continuava forte, mas seu coração estava cada dia mais frágil.

- Não é possível, não é possível... - ele continuava repetindo, e ela passava as mãos nas costas dele, sabendo que isso o acalmava.

- Nós vamos encontrá-las, Will. - sussurrou, acatando aquelas palavras também para si mesma.

- Estávamos quase lá, Tess, eu sinto isso...

Will dizia isso todos os dias que dedicavam à pesquisa para a cura de yin fen, ou seja, há 40 anos, mas nem ela e nem ele perderam a esperança.

Nunca.

Eles procuraram, procuraram todos os dias até aquele junho de 1937, quando Will deixou esse mundo.

Tessa continuou procurando, os anos passaram e as tecnologias se desenvolveram; entretanto, e as pesquisas e a cura nunca apareceram.

Nova York, 2007

Até aquele ano de 2007.

Tessa segurava a gaveta, embasbacada.

Ela pegou aqueles documentos com as mãos trêmulas, a boca aberta em uma expressão surpresa.

O rosto de Will surgiu em sua mente espontaneamente, sorrindo e com aqueles olhos azuis brilhando de felicidade.

- Encontrei, Will. - ela sussurrou, sentindo o tempo se comprimindo, alegria por achar aquilo, tristeza porque era por demasiado tarde.

- Tessa? - a voz de Jem estava curiosa e risonha. - O que encontrou?

Era demais. Encontrar aquilo, e a voz "recente" de Jem, James Carstairs, aquele pelo qual Will e ela passaram anos procurando uma cura, falando atrás de si. Ela sentiu os olhos lacrimejarem.

Lentamente, Tessa fechou as gavetas e olhou para Jem, a quem ela ainda estranhava ver usando jeans e camiseta. Ele sobressaltou-se quando percebeu os olhos lacrimejantes de Tessa, e imediatamente a embalou em seus braços.

- O que houve, Tessa?

Ela sorriu, enxugando os olhos, e entregou a pasta de papel que segurava para ele.

Ele a soltou e abriu a pasta, curioso, e empalideceu quando leu o conteúdo da papelada.

- Tess...

- Após 6 meses depois da sua ida - ela o interrompeu, olhando fixamente a papelada. -, encontrei Will na biblioteca tentando encontrar uma cura para você. Eu prometi que iria ajudá-lo. - ela suspirou. - Fizemos as pesquisas por 40 anos e, um dia, elas simplesmente sumiram, Jem. Will e eu ficamos desesperados, e ele morreu procurando por isso. - ela olhou para o papel como se o reverenciasse e desgostasse ao mesmo tempo. - Continuei as pesquisas sozinha, enquanto procurava por esses papéis. Mas era muito difícil sem Will. Nunca imaginamos que Fogo Celestial seria a cura...

Jem encarava o chão, os lábios numa linha fina. Ela mexia em sua pulseira de pérolas nervosamente, esperando a reação de Jem.

- Will sabia que você não aprovaria, por isso não contamos. - Tessa encerrou.

Então, para sua surpresa, os olhos dele também estavam lacrimejados. Ela podia sentir a emoção de Jem, e imaginou o quanto Will ficaria feliz ao saber disso - que havia encontrado as pesquisas e que Jem ficara emocionado ao vê-las.

- Eu não tenho palavras, Tess. Isso significa para mim mais do que pode imaginar.

Ele a abraçou, e ela sabia que aquele abraço também era designado a Will.

- Queria que ele estivesse aqui.

- Ele está, Tess. Eu sinto. - ele olhou para ela. - Vocês nunca desistiram de mim. De encontrar uma cura para mim.

- Nunca, Jem. Nunca. - um momento de silêncio se passou, e Tessa sentiu que aquela era a hora. - Jem...?

- O quê?

- Já que estamos nesse momento de felicidade, tenho algo para contar.

Ele a encarou, curioso.

- Mais? - e sorriu, aquele sorriso que fazia o coração dela se expandir.

Ela suspirou fundo e colocou, inconscientemente, as mãos no ventre.

- Bem... – ele olhava, ansioso. - Emma não será mais a única Carstairs da nova geração.

E, enquanto Jem a encarava embasbacado e lágrimas caminhavam por seu rosto emocionado, ela também pôde sentir a alegria de Will por eles - e pela nova vida que ele sempre lutou para Jem ter.

Ao longe, um fantasma observava tudo e pensava que, se pudesse chorar, já estaria desidratado.


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Notas finais do capítulo

Esse trio acaba comigo! É tanto amor, tanta emoção, tanto tudo...
Espero que tenham gostado! Gostaria de saber: acham mesmo que Will procurava uma cura para Jem? Acham que Tessa e Jem teriam um filho?
Acho que sim, pois Tessa, apesar de ter sofrido com a eventual perda de sua família, não gostaria que Jem vivesse de forma diferente de Will; gostaria de proporcionar a ele a alegria de uma vida plena, mesmo que ela morresse com isso novamente.
:')))
Obrigada por lerem!



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