O dia amanhecia com raios solares fracos. Na cama um casal dormia abraçado envoltos por cobertores macios, mas aquele breve sonho teve que ser interrompido pelo estrondoso despertador que indicava a hora de acordar.

- Amor, levanta, eu tenho que tomar um banho. - Nina dizia carinhosamente, tentando soltar-se dos braços de Robbie.

- Ah, só mais cinco minutinhos. - ele a trouxe para mais perto e a beijou.

- Não podemos querido, vamos nos atrasar.

Robbie escutou a voz da razão que por um momento falou mais alto e a soltou.

Nina levantou-se e deu um rápido beijo nos lábios dele.

- Acho que também vou tomar um banho agora. - ele abriu um sorriso travesso e sentou-se na cama.

- Nem pense nisso mocinho, se vier comigo tenho certeza que não chegaremos na empresa tão cedo. - ela colocou as mãos sobre o peito dele e o forçou a deitar. - Fique na cama por mais um tempo, depois pode tomar banho.

- Mas não vai ser a mesma coisa sem você. - ele fez uma cara emburrada e ela riu.

- Claro que não, sozinho você vai prestar mais atenção no chuveiro e não em passar sabonte no meu corpo.

- Assim não tem graça.

- Teremos outras chances para isso. - ela sorriu e foi para o banheiro.

***//***

Gwen tomava seu café da manhã com os filhos, na mesa tinha as mais variadas comidas, mas do que adiantava toda aquela fartura se os membros daquela pequena família pareciam estranhos um para o outro?

- Senhora Spark, telefonema para você. - a empregada interrompeu o silêncio , Gwen pediu licença e mandou que transferissem a ligação para o pequeno escritório que mantinha em um dos cômodos.

- Vai para a empresa hoje? - Aron perguntou para o irmão.

- Vou... tenho assuntos pendentes.

- Esse assunto não teria cabelos ruivos ou olhos azuis, teria?

- Um deles tem, mas e você, meu irmão, tem algo para fazer hoje?

- Tenho, Sofie irá até a empresa, temos algumas coisas para acertar.

- Está de namorada nova Aron? - Adam perguntou comemorando internamente a possibilidade.

- Ainda não, na verdade Sofie é uma amiga que sempre me ajuda, nem sempre as mulheres são para se levar para cama. - ele não estava dizendo que ela não era atraente mas sim que poderia existir um relacionamento ente eles sem maiores interesses que uma amizade.

- Temos algo em comum, nem acredito, agora tenho certeza que esse furacão vai atingir a cidade, compartilho da mesma opinião e...

Antes que pudesse continuar, o celular de Adam tocou, ele o atendeu, disse alguns monossílabos e depois informou que teria de sair.

Aron observou o irmão ir intrigado. O que ele estaria fazendo tão cedo? Tinha certeza que a pessoa que ligou era um homem, conhecia o irmão e sabia perfeitamente distinguir quando ele falava com alguém do sexo masculino ou feminino. Mas as atitudes do caçula o deixavam um pouco curioso, Adam não passava mais de 3 horas diárias na empresa e sabia que ele não vinha para casa. Onde estaria na maior parte do dia?

***//***

Gwen sentou-se na cadeira e couro preto situada atrás da mesa de mogno e tirou o telefone do gancho.

- Alô. - disse no seu tom mais profissional.

- Oi meu docinho de coco com confete. - só uma pessoa tinha a ousadia de chama-la daquela maneira tão infantil, infelizmente essa pessoa era seu ex marido.

- O que quer? - perguntou ríspida.

- Por que acham que só ligo quando tenho interesse em algo?

- Porque você é um sujo, chantagista, canalha e covarde.

- Assim você me ofende, benzinho. - era bem nítida a risada daquele homem no outro lado da linha.

- Fale logo, não tenho tempo a perder com você.

- Trabalho de novo? Sempre te achei uma workaholic, deve ser por isso que nosso casamento acabou.

- Nos divorciamos porque você não podia ver um rabo de saia sem sair abanando o rabinho atrás, mas diga logo o motivo de estar me ligando.

- Sabe aquele dinheiro que me deu para ter a guarda dos meninos? Então, ele já acabou e preciso de mais um pouco.

- Como acabou? Te dei 2 milhões para ter a guarda dos meus filhos. - ela disse a última parte em voz baixa, não queria que os gêmeos soubessem que o pai deles os tinham praticamente vendido.

- Já percebeu que as coisas estão mais caras? Mas e então? Vai me dar a grana ou não?

- Por que faria tal coisa?

- Imagine seus lindos filhinhos abalados e com o psicológico em pedaços se soubessem da nossa pequena negociação de anos atrás, sem falar da auto confiança que nunca mais seria a mesma.

- Nojento! Como pode usar seus próprios filhos? Você é um ser repugnante!

- É como diz a música, querida: “homem primata, capitalismo selvagem”, vai me dar o maldito dinheiro ou não?

- Quanto quer?

- 1 milhão.

- Você acha o que? Que eu queimo dinheiro?

- Sei que para o bem dos seus filhos você até comeria, então dê um pouco para o seu bom ex-companheiro de cama.

- Posso processa-lo por suborno.

- Faça isso e não exitarei em levar Aron para a cadeia comigo.

- Ele é seu filho! - disse desesperada, ele não faria tal coisa, ou faria? Sim, ele teria essa coragem, Gwen não podia colocar a liberdade de Aron em risco.

- Um filho que envolveu-se com jogos ilegais seria o escândalo do ano, imagine as manchetes: “Herdeiro da Spark's Company preso por envolver-se com tráfico ilegal de dinheiro” seria bem interessante, não acha?

- Cachorro! Imbecil! Sempre soube que era um fraco!

- Não era isso que dizia na cama. - ele zombou.

- As únicas vezes que compartilhamos desses momentos foi quando você me drogava, se estivesse lúcida nunca iria deixar que me tocasse!

- Então por que quis se casar? - ele sentiu-se atingido pela acusação mas não demosntraria que aquilo tinha abalado seu ego.

- Por que estava grávida.

- Então se arrepende de ter engravidado!

- Nunca, amo meus filhos mesmo eles tendo um pai como você.

- Ainda bem, achei que esse coração feito de pedra nunca amaria ninguém, mas estou cansado de escutar sua voz, tem duas semanas para depositar o dinheiro na minha conta, você já sabe o número. - e desligou o telefone sem dar chance de resposta.

Gwen estava tensa, sua empresa não estava num bom momento, tinha escutado rumores que seu principal rival iria fechar um contrato em pouco tempo e os roubos já tinham desfalcado os lucros, resumindo, a situação não era nada boa.

***//***

Lory chegava na empresa depois de ter levado Rosa na escola, tinha ido de moto, não costumava usa-la mas não estava com cabeça para ônibus.

Chegou em seu andar e sentou-se na cadeira de frente para a mesa, descobrir quem era seu admirador secreto estava tirando seu sono, mas como o pegaria?

- Foi você que planejou tudo, não foi? - Nina disse sentando-se na cadeira em frente da mesa de Lory.

- A noite foi boa? - perguntou divertida.

- Obrigada, ontem foi inesquecível. - Nina tinha um brilho diferente no olhar. - Mas e minha filha? Te deu muito trabalho?

- Rosa é um amor, fizemos maquiagem, vimos uns filmes e acabamos dormindo num colchonete no chão da sala.

- Sua noite também foi agitada, e eu pensando que ia passar a minha sozinha... - as duas riram e Nina continuou – Tenho que fazer algo para te recompensar, ainda não sei o que mas pensarei em algo.

- Não precisa, sabe disso.

- Eu sei, mas também sei de seus problemas e como amiga tenho que te ajudar de alguma forma.

- Obrigada, mas não sei no que pode me ajudar.

- Pois eu eu sei, vou descobrir quem é esse carinha que fica te mandando flores.

- Flores? Mas não recebi nenhuma flor.

- E o que é aquilo na minha mesa?

- Não foi o Rob que mandou?

- Só se ele assinar Admirador Secreto no lugar do nome. - ela riu e foi até sua mesa pegar o buque. - Seja lá quem for, já sabemos que tem bom gosto.

Lory pegou o buque que tinha flores nos tons lilás, rosa e vermelho e o olhou a procura do cartão. Achou-o e abriu com ansiedade.

“Vi na floricultura e lembrei de você. 

Vocês tem muito em comum, sabia?

São lindas e perfumados.

Me fazem rir bobamente e acreditar que ainda existe amor

AS: Admirador Secreto”

Lory arrumou um vaso de vidro, colocou água e pôs o maravilhoso buquê. Ela e Nina conversavam sobre como descobrir quem era o admirador mas tiveram que ir para suas mesas continuar seus afazeres.

***//***

Aron chegava no escritório ansioso, a primeira coisa que fez quando saiu do elevador foi dirigir-se a mesa da ruiva.

- Bom dia Lory. - ele disse chegando perto dela.

- Bom dia Senhor Spark. - ela respondeu desviando o olhar das flores.

- Não aprende mesmo, heim? Mas deixa para lá. - ele riu e viu o belo presente sobre a mesa. - Gosta de flores?

- Que mulher não gosta?

- Bom saber, tenho que ir, cheguei mais atrasado que o normal. - ele disse abrindo um sorriso e indo na direção da sua sala.

***//***

Robbie estava meio aéreo, tinha ido na recepção pegar um pacote que precisava de sua assinatura. Encontrou com Blenda e pediu que lhe desse o papel onde tinha que assinar e enquanto lia do que se tratava pôde perceber que um homem aproximou-se e disse que precisava falar com uma pessoa.

- Certo, mas qual é o seu nome? - perguntou Blenda.

- David Sickan. - respondeu o homem.

Robbie o reconheceu imediatamente, era ele o pai de Rosa.

Assinou no lugar que devia sem prestar muita atenção e virou-se para ele sem pronunciar nada.

- Tenho que falar com Nina Claire.

- Oh sim, espere um minuto, eu vou...

- Não será necessário, ela não poderá falar com você agora, está muito ocupada. - interrompeu Robbie.

- Mas como pode ter certeza? - perguntou David fuzilando-o com o olhar.

- Acabei de vê-la e parecia bem ocupada. - mentiu ele.

- Não tem problema, posso falar com ela depois. - e foi embora sem ao menos agradecer ou se despedir, deixando Robbie frustrado e Blenda atenta para uma possível fofoca.

***//***

- Então agora podemos, quer dizer, você pode chama-la para sair. - Sofie disse animada, ainda sentada na cadeira do escritório.

- Você é incrível mesmo, como conseguiu fazer seu namorado voltar? - Aron reclinou-se confortavelmente em sua luxuosa cadeira com um sorriso.

- Ameaçei contar que ele usa a azulsinha. - disse ela indiferente.

- O que?! Está mesmo falando sério? - perguntou incrédulo.

- Não, não usa... foi só uma vez, mas ele nem soube que tomou até o dia seguinte. - a amizade entre eles era tão forte que o fato de Aron ser um homem e Sofie uma mulher não interferia nos assuntos inusitados.

- E como ele descobriu? Você contou?

- Não, ele achou a embalagem no banheiro e me perguntou que tomou.

- E você disse que foi ele próprio, espero morrer seu amigo, porque com uma inimiga como você, eu estenderia a bandeira branca. - ele brincou.

- Ainda bem que sabe disso, mas agora levanta dessa cadeira, passa um perfume e vai lá garanhão! Conquiste a mulher que ama. - ela disse sorrindo para ele.