Dramione - Whispers in the Dark escrita por Anne Bridgerton


Capítulo 2
The Last Day


Notas iniciais do capítulo

The Last Day = O Último Dia
Pronto gente, como prometido! - já passou de meia-noite? Sim, mas eu ainda não dormi, então continua sendo dia 23. Na verdade, o cap já era pra estar postado há algumas horinhas atrás, mas a caixa de texto deu bug :p Mas enfim, depois de um pouquinho de desespero e gritos no Facebook, aqui está!! Espero que gostem - e obrigada pelos comentários e acompanhamentos, estou very happy!!!



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POV Draco Malfoy

 

Ah, rondas! Sinceramente, alguém me lembre de novo por que eu aceitei ser monitor da Sonserina? Já não tive que aguentar encheção de saco suficiente? Digo, era bom no início, poder usar meu poder para fazer o que quisesse dentro daquele castelo, mas agora as responsabilidades eram tão toscas e insuportáveis, que tinha até raiva do meu distintivo.

Depois de um ano inteiro sendo olhado por tudo e por todos como se fosse um parasita, era de se esperar que eu pudesse tirar pelo menos a última sexta-feira do ano para ficar na cama e xingar cada pessoa naquele castelo. Mas nããããããão, vamos mandar o Malfoy para vigiar o corredor, os outros monitores podem ficar relaxando no lugar dele!

Agora, se eu for justo — o que eu tento não ser ou vou acabar dando um chute na minha própria cara por “orgulho ferido” —, é até um milagre que tenham confiado em mim o suficiente, para que mantivesse o cargo de monitor, uma vez que, graças ao meu queridíssimo pai, agora era visto com a escória por ter me aliado a Voldemort. Ótimo.

E sabe o que mais? Eu quero saber também para que eu voltei. Sério, posso ser odiado, mas pelo menos ainda tenho dinheiro e não é como se eu fosse um idiota que não sabe fazer nada. Poderia muito bem ter seguido minha vida sem o último ano em Hogwarts e ninguém sentiria minha falta.

Não sei como aguentei passar um ano nessas condições. Quero dizer, Blásio continuou ao meu lado — a única companhia bem-vinda — e Pansy continuou se pendurando em meu pescoço e tentando me arrastar pra sua cama ou qualquer outro lugar que servisse pra uma rapidinha. Mas eu não conseguia mais aguentar: até seus gemidos forçados começaram a me dar nojo. Então me afastei — ou a afastei, tanto faz. Enxotei-a, pronto.

Mas, na verdade, não, Blásio não foi a única pessoa que foi bom ter por perto. O problema é que, agora, não podia nem mesmo olhar para ela. Tinha medo do que poderia ver em seus olhos... Julgamento, reprovação, ódio, dirigidos á mim. Eu não suportaria.

Prefiro pensar que fui como um fantasma esse ano. Sempre silencioso, ignorando e sendo ignorado, sendo a Sala Precisa meu único refúgio naquele antro de hostilidade. Era melhor pensar daquele jeito, do que me lembrar de uma época mais feliz, daquele ano e de toda a minha vida, a qual fui obrigado a deixar para trás. Era melhor assim, Merlin sab...

Bom, eu teria continuado minha sessão diária de “As Lamúrias de Draco Malfoy” sem problema nenhum, se alguém — que também não sei por que diabos estava fora da cama e eu descontaria minha raiva em cima com todo prazer ­— não tivesse dobrado a esquina a toda velocidade e trombado em mim.

Percebi que era um corpo pequeno, mas com o impacto, voei no chão. Respirando fundo, rosnei.

— Você tem três segundos para...

— Não, VOCÊ tem três segundos pra se levantar. Anda Malfoy.

Reconheci a voz imediatamente. Ah, não, dá um tempo Merlin. Eu tenho cara de trouxa, por acaso, pra ser judiado assim?

Respirei fundo.

— Por que, Granger?

Levantei o rosto com a melhor cara de desinteressado que tinha, encontrando Granger parecendo prestes a vomitar o próprio coração, o rosto em brasa, bufando.

Dispensou com a mão, nervosa.

— Não é hora pra isso, Malfoy. Filtch está vindo aí e não estou nem um pouco a fim de encontrar com ele.

Granger, você ficou maluca? Somos monitores, por que eu ficaria apavorado com...

— Mas será possível que você é tão avoado? Já passou da hora da monitoria! Se ele e a gata nos pegarem, vão nos castigar. E eu não tenho a intenção de passar a última noite limpando troféus. Agora levanta.

E — sim, pasme — me estendeu a mão. Olhei desconfiado para ela, que revirou os olhos, impaciente.

— Não interprete isso errado. Só não quero que você me denuncie, caso Filtch te pegue.

— Isso nem passou pela minha cabeça. – ironizei, aceitando sua mão. Na verdade, não foi muito útil, já que quase a derrubei com o meu peso, mas valeu pra irritá-la.

De pé, bati minhas vestes e cruzei os braços.

— E agor...

Fui interrompido por um miado relativamente próximo, nos assustando.

Droga, o aborto estava mesmo perto.

Não acreditava que tinha me distraído a ponto de ficar fazendo a ronda, que tanto não queria fazer, até depois da hora.

Mas espera aí: o que a Granger também estava fazendo fora até mais tarde?

— Granger, o que você...?

— Não temos tempo pra conversa Malfoy. Corre.

Voltando ao desespero, agarrou minha mão — o que me deixou realmente preocupado — e saiu em disparada, me arrastando junto — e quase me jogando no chão novamente.

Tentávamos correr o mais silenciosamente possível, o ouvido em pé para qualquer sinal de miado. A capa de Granger ondulava a minha frente, o cabelo pulando conforme o movimento. O zumbido do ar era o único barulho além de nossas respirações. As diversas tochas dos corredores, ainda acesas, pareciam correr junto conosco, lançando sombras trêmulas pelas paredes.

E foi observando uma dessas sombras que me dei conta... Ainda estávamos de mãos dadas.

Olhei para frente, estupefato. Em um primeiro momento, cheguei até mesmo a cogitar a possibilidade de estar delirando. No entanto, ao fechar um pouco mais os dedos, constatei que não, aquilo estava longe de ser um delírio. Perguntava-me como não tinha notado aquilo antes, que aquela mão tão delicada ainda me segurava. Ela mesma parecia não notar isso.

Não disse nada, muito menos ela, e assim continuamos, apenas colocando um pé na frente do outro, sem nunca parar.

Isso é, até que ouvi outro miado. E muito mais perto dessa vez. Granger não pareceu ouvir, correndo bem em direção ao ruído.

Comecei a olhar para os lados desesperado, procurando qualquer lugar para poder me esconder, ou nos esconder, que fosse. Vasculhei toda a extensão do corredor, ainda em movimento, até que o borrão passou pela minha vista.

Parei abruptamente, puxando a mão da grifinória para que fizesse o mesmo — mas acho que quase arranquei o braço dela. Ela deu uma violenta marcha ré, voltando de encontro a mim e, no movimento, esmagando meu braço — o que não pareceu incomodá-la nem um pouco.

— O que é, Malfoy? Ficou louco? — rosnou, enquanto eu, com uma careta de dor, a empurrava para o que eu percebia agora ser um armário de vassouras.

— Você disse que não quer ficar em detenção, não é? Então entra aí.

Empurrei-a para dentro, entrando logo depois. Ouvi-a soltar um sufoco quando a espremi.

— Meu Deus, não era desse jeito que eu achei que iria morrer.

— Engraçada você, não é? — zombei, espremendo-me mais um pouco só de propósito. Fechei a porta.

Tentei me ajeitar fazendo menos barulho possível, atento a qualquer sinal de aproximação. Meu ouvido estava basicamente colado na porta do armário enquanto girava o corpo de frente para a Granger.

— Ai Malfoy, meu pé. — sussurrou, irritada.

— Shhhhhhhh. – coloquei o dedo sobre seus lábios, pedindo silêncio.

Juro, aquela não tinha sido a minha intenção, mas não consegui me impedir. Estava tão distraído com a possibilidade de Filtch aparecer, que não percebi o que tinha feito e, quando senti sua boca macia de encontro a minha pele, quase caí de joelhos.

Era torturante demais.

Por alguns segundos, mas que pareceram horas, fiquei observando-a alternar olhares confusos entre meu dedo e eu, parado igual a um idiota. Não sei se foi impressão minha ou não, mas ela pareceu suavizar no último segundo.

Voltando à realidade, retrai a mão, pigarreando.

— Eu, hã, só fique em silêncio.

— Você não ouse... — ameaçou.

Mas logo ouvimos aquela voz caquética do lado de fora. Granger pareceu gelar.

Vamos Madame Norra, ache meu presente de Natal. Estou louco para dar uma última detenção.

— Ah, droga. — ela balbuciou, se encolhendo, parecendo querer se fundir com a parede –, mas, como o espaço não era lá muito grande, a única coisa que conseguiu foi comprimir seu joelho contra mim. Com força.

— Granger, está... esmagando minha perna. — sussurrei, ouvindo-a bufar.

— Deixe de ser fresco Malfoy, faça-me o favor.

Irritada, apoiou as mãos na parede e começou a se levantar. Fui sentindo a compressão sumir, voltando a me ajeitar. No entanto, também captei outra coisa; enquanto Granger estava meio em pé, meio agachada, alguma coisa que estava em seu bolso escorregou deste, indo parar no chão, embaixo dela.

Inicialmente, não houve nada. Mas logo a ouvi respirar fundo, diversas vezes. Então, relutantemente perguntou, ainda mais baixo do que necessário.

— Você... Consegue pegar?

Segurei o riso. Conseguia até mesmo ouvir seus dentes rangerem. Tentando parecer o mais sério possível, rebati.

— Será que não pode deixar de ser fresca?

Ainda assim, peguei minha varinha no bolso das vestes, pronunciando:

Lumus.

Uma leve luz surgiu na ponta dela, me dando uma orientação, porque eu realmente não estava vendo nada.

Dei a varinha para Granger segurar, tentando me abaixar. Definitivamente não estava dando certo — e ela não estava me ajudando muito ficando parada na frente.

— Hã, dá pra... — balbuciei, tentando passar os braços por ela para alcançar o chão.

— Acho que não tenho muita mobilidade pra isso, não é? — reclamou, me fazendo revirar os olhos.

— Ah, claro! Até porque eu tenho muito mais do que você. — rebati, ainda tentando me esgueirar.

— Pelo que estou vendo, tem mesmo.

— Sabe, seria muito mais fácil se você me ajudasse ao invés de ficar aí reclamando.

— Eu faria se não tivesse um marmanjo debruçado em cima de mim.

O quê?

Ah, não, aquela era demais!

Mal-humorado, ajeitei a coluna, voltando a ficar de pé. Assim que o fiz, me aproximei, ficando a centímetros de seu rosto e sibilei:

— Eu estou lhe fazendo um favor, Granger, lembra-se disso? Mas se é tão mal agradecida assim, acho melhor esperar sairmos daqui e pegar o seu precioso negócio você mesma. — terminei, pausadamente.

Caramba, ela já estava me dando nos nervos.

Granger me olhou surpresa, a boca ligeiramente aberta. Senti seu hálito, uma leve mistura de hortelã e morangos, acariciar meu rosto e seus dedos pequenos pressionados contra meu peito.

Estranhando, olhei para baixo... e só aí notei o quão próximo estava dela, minha varinha em suas mãos, a única coisa nos impedindo de nos encostar.

Merlin, era tão fácil perder o controle perto dela.

Pigarreando — mais uma vez —, me afastei o máximo que o espaço permitiu, sentindo o coração bater na garganta. Ela ficou apenas me olhando. Permaneci em silêncio. O único barulho presente eram os passos de Filtch do lado de fora. Era insuportável.

Resignado, passei as mãos pelo cabelo, querendo desesperadamente chutar aquela porta, mandar aquele projeto de ser humano para casa do cacete e sair correndo. Ficar ali dentro não acabaria em boa coisa.

Suspirei, estendendo a mão para Granger.

— Minha varinha.

Ela balançou a cabeça, parecendo acordar de um transe e olhou para o objeto em sua mão.

— Ah, claro, eu, claro. — e me entregou.

A pequena bola luminosa entre nós mostrou que seu rosto estava vermelho. Segurei um sorriso. Tinha que aprender a me zangar com ela, não estava tendo muito sucesso na tarefa ultimamente.

Pegando a varinha, sussurrei:

Accio.

Um pequeno embrulhinho voou para a minha mão, me fazendo sorrir vitorioso.

— É assim que se faz uma missão de resgate com sucesso.

— Ok, claro, você é incrível, vá para o mundo trouxa e vire bombeiro. Agora me devolve.

Não entendi metade da frase dela, mas ainda assim, quando vi sua mão estendida em minha direção, levantei a sobrancelha, sorrindo mais ainda.

— E por que eu deveria fazer isso?

Ela parecia estar à beira de uma cólera.

— Por quê? Oras, porque é meu!

— Mas você não vai nem me contar o que é?

— E por que eu deveria fazer isso? — rebateu, repetindo minha pergunta.

— Por quê? — entrei no jogo. — Oras, porque eu estou com ele e só vou devolver quando me contar o que é.

E, como se para reforçar minhas palavras, levantei o braço, colocando o embrulho bem acima de seu alcance. Ela bufou.

— Mas por que diabos você quer saber?

Dei de ombros.

— Porque sim.

— Ora seu...

— Ei, ei, pshhhhh. — pedi silêncio, dessa vez me controlando para não encostar nela — Escuta.

Grudamos o ouvido na porta, onde Filtch praguejava aos quatro cantos:

— Maldição! Maldita maldição! Há semanas que não ponho ninguém em detenção e quando acho que a sorte tinha me sorrido, eu sou enganado.

Um breve silêncio.

— Vamos, Madame Norra. Não tem diversão nenhuma aqui para nós.

No início, tudo ficou em silêncio. Depois, ouvimos os passos pesados e arrastados do zelador se afastando, acompanhados de alguns miados. Esperamos até que o som desaparecesse e mais alguns segundos depois disso.

Quando parecia não ter mais perigo nenhum, me voltei para a grifinória:

— Acho que já podemos sair.

— Ah, que ótimo. — respondeu, amável, para logo depois explodir — Agora me devolve!

Eu, que já estava girando a maçaneta, senti-a se jogar contra mim, me fazendo abrir a porta com tudo e sair cambaleando no corredor.

Recompondo-me rapidamente, coloquei a mão na frente do rosto, me protegendo de um ataque iminente. Ainda assim, ria.

— Granger, pelo amor, é só me falar o que é.

— Não é da sua conta, Malfoy, simples assim. — se apoiou no meu ombro e tentava desesperadamente alcançar minha mão esticada no ar, pulando.

— Ok, ok, certo! — cedi, não me aguentando mais de tanto rir do seu desespero.

Ela parou de pular, ajeitando o cabelo. Fui abaixando o braço lentamente, ela já com a mão esticada e bufando um pouco. Mas antes que abaixasse completamente, dei uma meia volta e saí correndo, desembrulhando freneticamente o pacotinho.

Granger, se dando conta tardiamente do que eu tinha feito, deu um pequeno gritinho e desatou a correr. E eu apenas ouvindo seus passos atrás de mim, permaneci concentrado em desfazer os nós do embrulho. No entanto, quando revelei o que estava dentro, dei uma brusca freada, quase me jogando no chão. Granger, que também não estava esperando a trégua, bateu com tudo nas minhas costas, dando um leve gemido de dor.

Mas eu tinha outros pensamentos no momento.

E o colar na minha mão era o causador deles.

Virei-me lentamente, tentando parecer neutro, mas sabia que a preocupação estava estampada em meu rosto, formando vincos em minha testa.

— Onde... Você arrumou... — tentava debilmente perguntar, exibindo a joia para ela, que, ignorando meu estado beta, pegou-a furiosamente da minha mão.

— Já falei e vou repetir, Malfoy: não-é-da-sua-conta.

Deu-me as costas, pronta para ir embora, mas agarrei seu ombro, forçando-a a me encarar.

— Granger, por Merlin, você precisa me contar onde arrumou isso, por favor.

O desespero em minha voz era quase palpável, ela notou isso. Notou a descrença em meus olhos, a leve tremedeira em meus dedos que a seguravam e o medo em minha voz. Ela notou, pois suavizou os olhos, derrubando a fachada de ignorância e me respondeu, tranquilamente.

— Na biblioteca. Podemos não ser próximos, ou até mesmo civilizados um com o outro, mas acho que sabe que gosto de passar meu tempo lá.

— Sim, sim, sei. Continue.

— Pois bem, quando a ronda dessa noite acabou, eu quis dar uma última passada lá. Não sei quando vou voltar e gosto tanto daquele lugar que entrei, mesmo devendo já ter retornado ao dormitório. Ah, e foi maravilhoso, passar os dedos por todas aquelas capas grossas e encadernadas, sentir o cheiro das páginas, ainda que empoeiradas, observar os terrenos pela janela, sentada na minha mesa favorita. — deu um sorriso nostálgico, mesmo o acontecido tendo sido há, o quê, meia hora atrás?

Balancei a cabeça, voltando a prestar atenção.

— Mas então, quando olhei para uma das estantes, um livro no canto da última prateleira me chamou atenção. Não sei por que, ele era tão comum quanto os outros ou até mais simplório. Mas ainda assim, levantei e fui até ele. Quando abri, vi que tinha um buraco circular que atravessava todas as páginas, e nesse buraco, um embrulhinho... Com o meu nome.

Gelei. Gelei muito.

Por que o mundo estava sempre contra mim?

— Granger, qual era o livro?

Ela estreitou os olhos, tentando se lembrar.

— Desculpe, não sei. Não tinha título, nem autor, ilustração ou algo assim. Era apenas um caderno preto, e não consegui ler o que estava nas folhas, por causa do buraco.

Soltei-a. Juro, eu juro que tentei parecer normal, mas não tenho muita certeza se consegui, pois minha cabeça girava com um turbilhão de pensamentos. Nãonãonãonãonão, aquilo não estava certo, não estava. Eu tinha me certificado de tudo, ela com certeza não... Mas como teria achado... Não... Se soubesse, já teria feito alguma coisa... ela não é burra assim. Ah, droga!

— Malfoy! — foquei os olhos repentinamente, só então notando uma Hermione Granger balançando de forma frenética as mãos em frente ao meu rosto, parecendo um pouco preocupada com meu súbito apagão de consciência — Você ainda está aí?

— Sim, estou. — respondi, tentando debochar — Bom, foi uma ótima história, mas agora eu preciso que você me dê esse colar.

— O quê!? — foi incrível como sua expressão passou de preocupação para indignação em um milésimo de segundo – Por que, se é meu?

— Granger, você nem sabe se é seu mesmo. — revirei os olhos.

— Não, imagina. Até porque tem várias Hermione’s Granger’s aqui em Hogwarts. É, você está completamente certo.

Bufei, impaciente. Eu realmente não precisava daquilo agora.

Peguei minha varinha e apontei para ela, que ficou paralisada por um momento.

— Não vou te machucar se é isso que está pensando. — sorri debochado, tentando acalmá-la, o que deu relativamente “certo”: agora ela parecia com raiva — Mas eu preciso desse negócio e vou pegá-lo, goste você ou não.

Pronunciei internamente “Accio colar”, logo sentindo o seu metal frio contra a palma da minha mão.

— E não me siga. Acredite, estou lhe fazendo um favor.

E deixando uma Granger perdida, frustrada e furiosa para trás, saí andando na direção contrária — sorte minha que ela estava sem sua varinha. Acho que estaria um pouco machucado agora caso contrário. Ainda ouvi alguns resmungos as minhas costas, mas logo desapareceram quando dobrei o corredor.

Ao fazer isso, olhei para a peça em minha mão. Na minha palma, o fino cordão prateado se entrelaçava, perpassando um pequeno penduricalho entalhado em pequenas e delicadas pedras. Na outra extremidade do penduricalho, estava pendurado o pequeno pingente. Um singelo, porém valioso coração. As mesmas pedras do penduricalho se encontravam entalhadas em suas bordas e, no centro, uma esculpida pedra tanzanita.

Passei o dedo delicadamente por ela, observando o leve brilho azulado que emitia.

Engraçado, me lembrava de uma joia que havia visto em um filme trouxa. Alguma coisa sobre um navio que afundava ou algo parecido. Enfim...

Era realmente muito bonito. Ri pelo nariz. Aquela era a última coisa material que me sobrara, já que o pequeno diário que ela escrevera — e, ainda que seja um pouco vergonhoso, também escrevi boa parte — sobre tudo o que passamos, todas as nossas aventuras, ainda que escondidas, ainda que ninguém nunca tivesse testemunhado... Eu havia destruído. Havia aberto um buraco para guardar aquela última lembrança. Havia destruído uma parte de mim para conservar a outra.

E agora, não tinha nenhuma delas.

Com toda a força, raiva e mágoa que gritavam em meu coração, lancei o pequeno colar a minha frente e, mais rápido do que sua iminente queda, saquei minha varinha e, em minha mente, gritei a plenos pulmões.

CONFRINGO

Não sei dizer o momento exato em que aconteceu, e sinceramente, fico grato por isso. Apenas sabia que o pingente estava destruído. Pedaços do que outrora fora um belo coração voavam pelos ares e atingiam o chão, para meus ouvidos, como tiros.

Pedaços do meu coração.

Também não sei dizer o momento em que ela saiu, mas estava lá; uma lágrima solitária rolando vagarosamente pelo meu rosto.

Não a limpei. Apenas a deixei trilhar seu caminho, sentindo-a deixar uma fria marca por onde passava, esperando-a finalmente alcançar seu abismo e voar aos meus pés, selando meu destino que de tão mal grado concordei em enfrentar.


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Notas finais do capítulo

Posso esperar reviews?? ^w^
Até o próximo capítulo!
Obs: estou TENTANDO fazer um trailer pra fic, então talvez amanhã ou depois eu disponibilize o link; espero que gostem dele *w*