Playing Dangerous escrita por WeekendWarrior


Capítulo 16
Help Me Let Go of My Dark Mind


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e desculpem o equivoco e as re-postagens.
xx



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Os últimos cinco dias foram um inferno, um verdadeiro martírio. Era horrível ver todos meus parentes e conhecidos tristes por causa da situação de meu avô, mal sabiam eles que a culpa era toda minha.

Eu queria que ele acordasse logo do coma, mas também temia seu despertar, ainda mais agora, que estou mais sozinha do que nunca. Era simplesmente terrível.

Hoje recebemos a notícia de que o estado de meu avô de agravou, como sua imunidade estava baixíssima acabou contraindo uma bactéria no pulmão, que levou a pneumonia. Os médicos eram pessimistas e nós tentávamos aceitar isso.

Hoje era mais um dia que ficava nesse hospital, eu acompanhava minha avó, não conseguia deixá-la sozinha, a mesma estava desolada. Eu havia acabado com a alegria dela e involuntariamente com a minha também.

Eu estava no corredor da UTI, tinha acabado de sair do quarto de meu avô, era um martírio vê-lo naquela situação, não conseguia encará-lo naquele estado sem que a culpa me corroesse.

Minha avó e meu pai se encontravam dentro do quarto, a aura do local era fúnebre, matava minha alma. Agora minha abalada avó tinha alguém com quem compartilhar sua tristeza, meu pai, ele chegou há três dias, estava visivelmente abalado, todos estavam.

A morte é certa, porém quando ela está próxima, nos fazemos de desavisados e tentamos lutar contra.

O corredor estava vazio e o silêncio do hospital era infernal. Sim, isso mesmo. Esse silêncio que o hospital possui, silêncio de morte, silêncio de dor… Silêncio do fim.

Encostada à parede encarava meus pés, divagava sobre minhas dores, minhas perdas, meus erros. Me torturando mesmo, como sempre faço em situações de pressão.

Escuto passos ao longo do corredor, são passos firmes, mas em minha mente nublada ecoam lá no fundo e como num acordar de um sonho, viro meu rosto e avisto a face de que vem me perseguindo a mente nos últimos dias.

Ele estava diferente, seu cabelo estava mais curto, cortado e arrumado em um novo corte. A barba rasa havia sumido, seu rosto agora era liso, havia uma pinta no lado esquerdo de seu rosto que agora estava mais aparente. Encarava-me com intensidade, seu olhar perscrutava minha face, era como se nós esperássemos o primeiro movimento do outro.

Poderia muito bem ignorá-lo, mas não consigo, algo puxa-me para ele. Caminho em sua direção e o abraço pela cintura e não segurando as lágrimas, desabo em prantos.

Sei que não deveria, mas toda vez que via Jake eu fraquejava, sentia-me fraca e nele encontrava forças. Segurei o pranto, ele acariciava minhas costas e me abraçava na mesma medida.

Ninguém no hospital desconfiaria de nosso abraço, ele era apenas um Sheriff vindo prestar condolências.

— Ele está morrendo, Jake e é tudo culpa minha – funguei e procurei por seus olhos – Ele descobriu sobre nós, eu não sei como, mas ele descobriu e nós acabamos discutindo feio, acabei lhe falando coisas que nunca pensei que pudesse falar e… – tomei fôlego – Foi tudo tão rápido.

Me afastei do abraço de Jake, me afastei de seu toque, não queria dar-lhe esperanças, não podíamos. Sentia-me tão mal, tão pecaminosa.

— Eu não entendo, mas como ele soube? Será que Bradley o contou?

Meu coração se despedaçou ainda mais por apenas tocar no nome do rapaz.

— Provavelmente sim, ainda não sei – encarei o chão – Ele está muito mal, Jake. Pode morrer a qualquer instante e é tudo culpa minha.

— Não diga isso – ele se aproximou alguns passos, esquivei-me – Por que age assim? Se esquiva de mim. Não faça isso, Carmen. Sabe que precisamos conversar, não sabe?

Quando abri meus lábios para respondê-lo meu pai abre a porta e nos encara, porém nada de comprometedor havia ali, mas mesmo assim meu coração disparou. Eu e Jake eramos pecadores da mente.

— Jake? Quanto tempo – exclamou meu pai e fechou a porta atrás de si, aproximou-se de nós – Como anda, rapaz?

— Olá, Robert – cumprimenta Jake – Vou muito bem e você?

Encaro a cena. Vejo os dois darem um braço bem masculino, cheio de sacolejos e tapas nas costas.

— Bem também, na medida do possível.

— Vim saber como está Charles. Meus pais vieram no outro dia, porém não pude vir. Carmen contou-me que ele está muito mal – ele jogou-me um olhar de soslaio.

Eu ainda estava um tanto torpe, eles se conheciam? Meu pai e Jake? Sim, eles eram da mesma cidade, claro. Meu pai era dois anos mais velho que Jake, mas não imaginava isso. Tratavam-se com tanta intimidade, como se fossem amigos de longa data.

— Sim, sua situação é grave – disse meu pai pesaroso – Mas cremos em sua recuperação.

— Realmente sinto muito. Torço pelo melhor.

— Todos nós torcemos – completou meu pai.

Encarei os dois por uma última vez e os deixei. Estar presente diante de meu pai e Jake era extremamente estranho, sentia-me culpada de algo. Será que Jake sentia o mesmo?

Entrei no aposento de meu avô, minha avó estava ao seu lado, sentada em uma poltrona, segurava a pálida mão de meu avó. Caminhei lentamente até ela, acomodei-me ao seu lado e a abracei.

— Ficará tudo bem – sussurrei.

 

“Ficará tudo bem”. Essa foi a frase mais incerta que já disse em toda minha vida, minha vida em si tem sido incerta, os últimos dias andam meio incertos e tudo que faço é deixar a tristeza abater-me.

Mais uma semana se arrastou e eu estou enlouquecendo, estou prestes a cometer uma loucura. Minha mente está escura e uma voz diz-me para dar um fim nessa dor, diz-me para fazer logo. Eu vejo o sofrimento que causei, eu só vejo a dor que proporcionei.

Nada é bom, tudo é dor. Eu sinto-me no centro do furacão, essa merda toda é culpa minha, meu corpo pesa uma tonelada e minha mente é um ciclo vicioso de pensamentos ruins.

Caminho inerte até o quarto de meus avós, a casa é puro silêncio, é uma madrugada fria. Adentro o ambiente vazio, pois minha avó não consegue mais dormir neste quarto. Atravesso o quarto frio e entrei na suíte.

Acendo a luz do banheiro e caminho até o espelho em cima da pia, encaro meu reflexo, estou uma calamidade. Não botei os pés pra fora de casa nesses últimos dias que se foram. Todos estão preocupados comigo. Colégio? Nem sai mais o que é isso, logo reprovaria por faltas.

Abro o armário do espelho e lá avisto meu motivo de estar aqui, pego os pequenos frascos alaranjados.

— Analgésicos e calmantes – leio em voz baixa.

Eram de meu avô, sim, eram, não são mais. Nada mais que habita nesse mundo é dele, pois ele faleceu há uma semana. Isso mesmo e agora a culpa corroía-me.

A notícia de sua morte havia sido um baque, mas também algo esperado. Eu simplesmente não chorei, apenas tranquei-me em mim mesma, fechei-me nessa armadura.

Não falava com ninguém, não comia nada, meu celular estava sempre desligado. Meu pai e minha avó cansaram de bater em minha porta para falar comigo, mas eu nada fazia. Os ignorava, continuava a viver em meu martírio. Marina apareceu aqui na noite passada, pensei em deixá-la entrar, mas não cedi, senti-me mal logo em seguida.

Despejo os calmantes em minha mão e depois um pouco dos analgésicos, isso me faria um belo estrago, já pela manhã seria um ser sem vida. É o que eu quero.

A morte de Bradley, a tristeza de todos que o amavam. A morte de meu avô, a tristeza de todos que o amavam. Eu causei isso.

Ingiro os comprimidos com rapidez e tomo a água da torneira do banheiro para ajudá-los a descer. Então um arrependimento repentino abate-me. “Não! Está feito! Não há mais volta. Não! Há volta sim!”. Minha respiração descompassou, logo os comprimidos se dissolveriam em meu interior. “O quê estou fazendo da minha vida?”. Meu organismo dissolveria essas substâncias e seria meu fim.

Tantas pessoas no mundo passando por coisas piores… Eu simplesmente não posso. Ah, porra! Não posso fazer isso comigo, imagine como meu pai ficaria ou minha avó. Em como Jake ficaria… Ele se culparia até a morte.

Corro até o vaso sanitário e forço meu vomito, ponho tudo pra fora, coloco toda minha angustia pra fora. Os comprimidos ainda saíram intactos, isso era bom, não era? Isso significava que eu sobreviveria para continuar sofrendo.

A única coisa que se passa em minha mente é Jake. Em como eu sentia sua falta, eram quase duas semanas sem ele, dias sem tocá-lo. Eu o queria comigo, sentia sua falta, sentia tanta falta.

No dia seguinte da morte de meu avô, antes de seu funeral ele esteve aqui. O vi quando chegou, a janela de meu quarto era de frente para a rua. Tive vontade de descer as escadas e depois jogar-me em seus braços, mas não fiz nada disso. Apenas tranquei-me em meu quarto e de lá não saí mais.

Não posso continuar assim, preciso fazer algo para sair de mim mesma, preciso espairecer e logo. Preciso beber, sim, beber. Preciso sair e esquecer toda essa merda em que estou.

Volto para o meu quarto, conecto o celular ao carregador e o ligo, trocentas mensagens e ligações chegam, algumas de Jake, nem ao menos as li. Procuro um nome específico me meus contatos, o mando uma mensagem, sabia que ele estaria acordado a essa hora.

Aposto que está em alguma festa. Que tal vir me buscar?

Segundos depois a resposta vem:

“Carmen? Por essa não esperava. E sim, tô numa festinha. Claro que passo aí. Agora?”

Respondi:

Quanto mais rápido melhor.”

Eu já me arrumava.

“Cinco minutos chego aí!”

Coloquei uma calça jeans, uma camisa qualquer, uma jaqueta e um tênis. Logo já recebia uma mensagem dele avisando-me que estava aqui.

Vou para o andar debaixo e saio da casa. Atravesso o jardim frontal e adentro seu Ford Del Rey preto.

— Tem hora pra voltar? – ele pergunta brincando enquanto dá partida no carro.

— Não mesmo.

— Vejo que as coisas mudaram.

— Sim, Nick. Elas mudaram e completamente.

 


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Notas finais do capítulo



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