Playing Dangerous escrita por WeekendWarrior


Capítulo 15
Don't Say You Need Me




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Desci as escadas com as pernas meio bambas, não sabia muito bem o que me esperava, na verdade sabia, porém me negava.

Por que diabos meu avô voltaria repentinamente de sua viagem? Somente algo que o afligisse muito teria esse poder. Mas lá chegando, no andar debaixo, apenas encontro Jessy no meio da sala, limpou seu rosto ao perceber minha presença.

— Olá, Carmen.

— Oi, Jessy – a encarei bem – Meu avô onde está? Ele disse que estaria aqui me esperando.

— Ele teve que sair, mandou-me avisá-la que amanhã falará com você.

Engoli em seco, essa noite não dormiria.

— Sabe sobre o que é?

— Não, não sei, Carmen.

Assenti.

— Está tudo bem, Jessy?

Ela sorriu amarelo.

— Claro, claro. É apenas uma alergia, não se preocupe. Agora tenho que ir a meus afazeres. Com licença, Carmen.

Saiu depressa entre seus passos. Ela estava visivelmente nervosa e triste, por um lado, a entendia, por outro sentia pena dela. Meteu-se numa situação maior do que ela poderia segurar.

Porém pensando bem, nossas situações até que são parecidas, bom, ao menos Jake não é casado. Será que teria tido eu coragem de envolver-me com ele, se o mesmo fosse casado? Não, acho que não.

Depois de uma noite mal dormida, levantei-me para ir ao colégio. Não sei com que cabeça, mas eu teria que ir, não aguentaria ficar nessa casa. Por que não adiar um pouco mais meu funeral?

Chego no colégio um pouco antes da entrada dos alunos em classe. Ando pelo corredor e vou em direção ao meu armário, lá pego meus livros.

— Carmen, você já sabe? – assusta-me Marina, tocando meu ombro.

— Do que? O que foi?

— Ai meu Deus! Você ainda não sabe, eu sinto muito mesmo.

Ele tampa sua própria boca com a mão encarando-me de cenho franzido.

— Fala logo, o que foi?

Meu coração logo dispara.

— O Bradley, ele foi encontrado morto esta noite em sua casa. Estão cogitando suicídio, Rose está em prantos, ela soube agora também. Estão todos falando sobre.

Meus olhos se enchem de lágrimas, meus lábios tremem. Bradley morto? Não, não pode ser. Sinto como se mais um peso caísse sobre meus ombros.

— Suicídio? Por que ele faria algo assim? Não é possível.

Lágrimas escorriam de meus olhos.

— Sinto muito, prima – Marina me abraça.

Meneei minha cabeça, algo clareou minha mente, um flash veio em meu pensamento instantaneamente.

 

“– Eu sinto tanto ódio por ele, nunca pensei que ele fosse capaz. Acho que o odeio, o tenho raiva. Eu realmente desejaria que ele morresse. Gostaria que tudo isso acabasse, fosse apenas um sonho…

— Calma, minha pequena. Em breve tudo estará certo, confie em mim. Estou no comando, eu sou o chefe.“

 

Será que Jake…? Não, não! Será que eu mesma condenei Bradley ao dizer aquelas palavras? Jake com certeza iria atrás dele. Será que ele seria capaz de tal atitude? Marina falou-me sobre suicídio. Eu mesma desejei a morte dele naquele momento, mas eu estava tão aflita que nem sabia o que falava. Jake, talvez possa ter interpretado tudo errado e… Meu Deus!

Comecei a sair do colégio com Marina em meu encalço.

— Carmen, o que está fazendo? Onde vai?

— Resolver algo.

— O quê? Meu Deus, calma!

Parei ao lado de meu carro a encarando.

— Em breve você saberá de tudo, Mari. Estou fodida.

— Hã? Não estou entendendo nada. Tudo isso é pela morte do Bradley? Eu sei que você até gostava dele mas… Carmen…

— Marina, talvez depois eu te conte tudo.

Entrei em meu carro e dei partida, dirigia até a casa de Jake. Falei com ele está manhã por telefone, ele sairia somente depois das oito, se não tivesse nenhuma ocorrência.

Eu não sabia o que estava fazendo, mas eu sabia que era louca pra caralho. Minha mente estava a mil, não queria pensar muito, mas não conseguia impedir minha mente de ir lá e remoer tudo.

Teria sido Jake capaz de ter matado Bradley? Quero acreditar que não, mas minha mente que distorcia tudo, dizia-me que sim, foi ele quem fez isso.

Estacionei o carro de qualquer jeito em frente sua casa e desci do carro num raio e em passos rápidos cheguei a sua porta, apertei a campainha de modo desesperado.

Alguns segundos depois ele abre a porta e meus olhos ao avistar sua face, enchem-se de lágrimas.

— O Bradley… – sussurro.

Jake assente e passa a mão por seu rosto. Era óbvio que ele já soubesse.

— Então você já sabe? – o indago.

— Sim, Carmen, eu…

— Você o matou?

Ele franziu o cenho um tanto perplexo.

— Não. Não o matei, bom, eu…

— Ai meu Deus, Jake! O que você fez? Foi atrás dele, não foi?

— Sim, fui, mas eu não…

Aí de uma vez pus-me em prantos.

— Você o matou! – exclamei baixo sem forças.

— Não. Não o matei, Carmen!

Ele tentou se aproximar para me abraçar, o afastei dizendo:

— Não me toque, seu mentiroso! Não chegue perto de mim! Eu nunca quis a morte dele. Nunca!

Dei alguns passos pra trás.

— Carmen, eu não tive a intenção. Entenda, ele me atacou, estava armado e eu me defendi, então no meio de tudo aquilo ele mesmo disparou em sua mandíbula.

— Não! Pare de mentir pra mim. Você está mentindo!

Jake meneou sua cabeça negativamente e tentou se aproximar mais uma vez, o repeli.

— Não faça isso, Carmen. Acredite em mim. Por que eu o mataria? Sei que ele foi um grande filho da puta com você, mas…

— Eu disse que o queria morto e você levou a sério.

— Não, não! Admito que tive vontade de matá-lo, mas não o faria, apenas daria um susto nele, mas tudo deu errado.

Rodei em torno de meu eixo e comecei a amaldiçoar todos os recantos do mundo. Parecia que o mundo caía sobre minha cabeça, meus ombros pareciam pesar toneladas, minha alma estava quebrada.

—E-eu acho que é melhor acabarmos com isso por aqui. Cortar o mal pela raiz – sequei minhas lágrimas e tentei regular minha voz – Eu não posso, eu não consigo lidar com isso, Jake. É melhor que terminemos tudo, quer dizer, eu nem sei o que temos. Será que temos algo? Acho que não. Chega, não quero mais, acho que não aguento.

— Cortar o mal pela raiz? – ele aumentou seu tom da voz e se aproximou rápido de mim – É assim que chama o que temos? É claro que temos algo, Carmen. Você é a coisa mais importante pra mim nessa vida, é a melhor coisa que me aconteceu em anos, você me salvou.

Me afastei dele, pois não queria fraquejar. Não podíamos ficar juntos, simplesmente não podíamos.

— Pare, Jake! Não diga essas coisas, você está me matando. Olhe nossa situação atual… Não, eu não quero.

Virei-me e dei as costas para ele. Teria que partir o mais rápido possível, fugir dele.

— Carmen, não me deixe – ele me alcançou e me virou – Se não eu sou capaz de…

— Capaz do que? Me matar? Então faça agora! – o empurrei e soquei seu peito, ele nada fez, apenas ficou ali a receber meus mínimos socos.

— Eu nunca a machucaria, Carmen – segurou meus pulsos e encarou meus olhos lacrimosos – Você é a pessoa mais importante pra mim. Estou viciado em você, não consigo ter o bastante de você, eu faria qualquer coisa por você.

Puxei meus pulsos num solavanco, porém foi em vão, pois ele puxou-me de volta e me beijou. Tentei negá-lo no começo, mas cedi a meu desejo.

Ele beijava-me para tentar convencer-me de algo, porém eu o beijava para dizer adeus. Separei nossos lábios e nossos corpos um do outro, tentei não olhá-lo nos olhos. Não poderia fraquejar, teria que deixá-lo, era o certo.

— Adeus, Jake.

Abri a porta de meu carro, ele segurou meu braço forte dizendo:

— Não vá, Carmen… – ele suspirou, eu poderia jurar que vi lágrimas em seus olhos – Me perdoe… Eu amo você, eu realmente amo você. Amo como jamais pensei que fosse possível amar alguém.

O tempo parou ali naquele instante, ele nunca havia dito-me que me amava, nem eu a ele. Agora era tarde demais.

— Deixe-me, Jake, preciso ir.

Entrei em meu carro, logo já dava partida. Agora um desesperado Jake se apoiava em minha janela suplicando-me para não ir, eu não encarava sua face.

— Me perdoe, Carmen, eu te amo. Pelo amor de Deus, não vá.

— Eu preciso ir agora, Jake.

Logo eu já me afastava, dirigia para fora de sua residência.

— Carmen! Carmen!

Eu o ouvia gritar.

Segurei as lágrimas, pois não haveria volta, sentia que algo dentro de mim morria, mas não sabia ao certo explicar o quê. Um sentimento estranho apossou-me, queria voltar lá e não deixá-lo, senti um pedaço meu morrer.

Por que o deixei? Não sei. Sentia uma mágoa e um remorso do tamanho do mundo, sentia que tudo era culpa minha, pra falar a verdade, era.

Mas que merda que eu fiz? Jake, eu preciso de você.

Não estava com cabeça pra voltar para o colégio, então segui pra casa. Ao adentrar o grande recinto dou de cara com meu avô sentado em uma das poltronas do hall, encarou-me com indiferença.

— Não deveria estar no colégio?

Estaquei onde estava, minhas mãos suaram, comecei a balançar minha perna direita.

— Sim, mas passei mal, então voltei.

— O quem tem?

— Nada demais, apenas um mal-estar.

Ele assentiu, parecia não estar convencido.

— O mesmo mal-estar que sentiu no jantar com os Gyllenhaal? – indagou-me de surpresa.

— Desculpe, vovô. Não entendi.

Ele se levantou.

— Não precisa mais fingir ou mentir, Carmen. Já sei de tudo.

— Do que o senhor está falando? – tentei sorrir, me fazendo de sonsa.

— Não se faça, minha querida. Achou que ia durar quanto tempo? Você e Jake? Nunca esperaria isso dele, um Sheriff… e agora você, minha neta. Uma depravada! Tem noção de que isso é um crime, não? Um crime, Carmen! Mas ele vai pagar por isso, vou destruir a carreira dele.

A raiva subiu minha mente, como ele era hipócrita, como poderia ele julgar-me por isso? Se ele mesmo havia feito algo pior, muito pior.

Sem conter meu ódio minha boca proferiu palavras perigosas.

— E quem é o senhor para me julgar? Se você mesmo tem um filho com a empregada! E ela era menor na época quando engravidou! Hipócrita! Isso soa tão nojento vindo da sua parte, aposto que a vovó nem imagina isso. Ah, mas se ela soubesse… Ela morreria de desgosto! Todos ao seu redor morreriam de desgosto. O senhor, um homem tão importante – apontei para ele, minha raiva havia me encorajado a falar coisas que jamais pensei que pudesse pronunciar – agora, um mero e devasso hipócrita. Um filho bastardo? E ainda a traz para trabalhar aqui. Isso é repugnante.

Meu avô arregala os olhos surpreso, ele nunca esperaria por essa.

— Como você sabe?

O encarei com ódio.

— Antes de brigar com sua amante, certifique-se que não há ninguém em casa – minha voz saiu áspera.

— Mas, o quê? Eu… Ai, ai meu Deus – queixou-se meu avô.

Ele tinha as duas mãos pressionando a testa, mais precisamente suas têmporas, sua feição era de dor. Me desesperei, aproximei-me dele.

— Vovô, o que há? – o toquei nas costas, mas ele me repeliu – Meu Deus, fale!

Vi meu avô cair do chão desacordado, soltei um grito.

— Jessy! Suzana! – berrei pelas duas empregadas.

Corri até o telefone e disquei o número da emergência. Minhas mãos tremiam, igualmente minhas pernas, minha visão era turva e minha mente embotada, porém consegui falar com a emergência e explicar todo o ocorrido.

Eu observava tudo perplexa, meu avô caído no chão, Jessy e Suzana também chocadas. Logo a emergência chega e leva o corpo de meu avô, ainda desacordado, fui na ambulância junto com ele para o hospital.

Ando pelo corredor do hospital sem parar, zanzo que nem uma barata tonta. A culpa me remói, me corrói e quase me mata, sinto um aperto em meu coração, sinto que poderia ter um enfarto.

Avisto o Doutor que a meu avô atendeu e corro em sua direção.

— Meu Deus, diga-me o que ele tem. Ele está bem?

O Doutor hesita por um momento, comprime os lábios e diz:

— Seu avô passa nada bem. Vou ser direto, ele teve um AVC hemorrágico, qual é o pior e anteriormente, a alguns meses atrás ele teve um infarto, no caso um ataque cardíaco e isso ajudou a agravar ainda mais seu estado atual. E bom, ele está em coma induzido e não podemos acordá-lo até que terminemos a drenagem de todo o sangue que vazou para seu crânio.

Nesse momento pensei que desmaiaria, pois perdi toda a força que minhas pernas tinham. O médico segurou-me pelo braço e fez-me sentar em uma cadeira. Não consegui pronunciar nenhuma palavra, apenas chorar.

— Vejo que está sozinha. Chame algum parente – disse o médico – Alguém que te acompanhe, mas o certo seria que fosse pra casa, pois prevejo que ele ficará muito tempo por aqui. Não querendo ser pessimista, mas sim realista, o caso dele é muito grave. Sua imunidade está baixa e corre o risco de pegar uma pneumonia com a mais leve brisa.

Franzi meu cenho e encarei o maldito do Doutor.

— Está me torturando, não? É sempre tão frio assim?

O Doutor riu de canto de boca sem humor.

— São os ócios do ofício.

Ele deu um último tapinha em meu ombro e se retirou. Fiquei ali, no mais completo e vazio silêncio. Eu odiava hospitais, o cheiro, a aura do ambiente, aquelas luzes fluorescentes, era sombrio. Lembro-me de quando recebi a notícia da morte de minha mãe, foi horrível.

Eu estava na sala de espera com meu pai, eu tinha quase doze anos, minha mãe havia sofrido um horrível acidente de carro, qual ela não sobreviveu.

Por que em momentos terríveis tendemos a procurar mais coisas terríveis para pensar? Não entendo a mente humana, ela foi feita para nos torturar.

Tudo cai sobre minha alma, a morte de Bradley, eu deixando Jake e agora o acontecido com meu avô… e tudo culpa minha!

No final é sempre assim, o mundo é um lugar cruel, que foi feito para nos esmagar e nos fazer triste.

Não, eu não posso cometer nenhuma loucura, preciso manter-me sã. Logo meu avô estará bem, tudo estará bem.

Nesse momento eu somente desejo uma coisa: a minha própria morte.


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Notas finais do capítulo



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