Eu estou presa... Presa em meus pensamentos e convicções. Sou uma casca desprovida de sentimentos que tragam vida. Não há sentido para nada que faço, pois vivo sem um sentido e sem uma finalidade. Não há motivo para levantar quando o sol nasce e muito menos algum motivo para sorrir. O que é sorrir? Sorrir quando não há esperança? Eu não consigo ver. O que eu veria além do óbvio? Tudo se esvai por entre meus dedos. Quando penso ter alcançado, escapa das minhas mãos.

Eu estou presa em meu próprio corpo. A insatisfação me domina e me faz querer mudar minha aparência física a todo custo. Mas mesmo assim, quando eu me olho no espelho vejo que tudo que consegui não tem valor. Eu continuo vazia. Eu continuo sendo o ser desprezível que sou. O que é ter uma vida?

Eu estou presa em meu passado. O ontem parece ser tão mais bonito do que o hoje! Mesmo que lá no fundo eu saiba que é a mesma coisa do hoje, eu anseio pelo retorno. Porque eu tenho a certeza do que já aconteceu, enquanto que no presente eu não sei o dia de amanhã. As coisas podem melhorar ou podem piorar, porém no passado eu tenho a segurança de tudo que já aconteceu. Assim, eu vivo no passado... Vivo de memórias de dias que julgo terem sido melhores.

Eu estou presa em meus prazeres. Eles permitem um entretenimento que dura algum tempo e me sinto viva. Mas em um momento já não é suficiente. O que era bom torna-se maçante e eu me vejo na mesma monotonia de sempre. A bebida que desce pela minha garganta já se tornou comum e perdeu sua magia. Eu preciso de mais. E eu sei que tudo que eu fizer uma hora já não será suficiente e novamente estarei fazendo coisas novas e piores, em um ciclo infindável que apenas destrói a mim mesma.

Eu estou presa em meus sentimentos. Como eu desejo ter um romance que vejo por aí em livros e filmes... Como eu desejo ser amada por alguém que vai ser a melhor coisa da minha vida! Eu procuro, procuro em agonia por pessoas que irão me completar, me apego a alguém que julgo serbom e logo me vejo quebrada de novo. Será que eu não sirvo? Será que é meu destino nunca conseguir nada precioso? A vida sempre irá me tirar tudo que consigo?

Eu estou presa. Só estou presa. Eu preciso sair daqui. As paredes se fecham e eu finjo não perceber. Eu finjo não perceber... Eu finjo que sou forte e que não preciso de ajuda. Eu finjo por ser talvez a única coisa que eu sei fazer bem. Eu finjo sorrisos que as pessoas também fingem que são reais, pois assim todos ficam bem.

E então Você surgiu. Surgiu em Sua simplicidade de falar e de agir contrariando tudo e todos. Eu te olhei como quem olha algo interessante, algo que foge dos padrões e do esperado. Você estava ali na minha frente o tempo todo. Eu vi a luz surgir através do seu olhar, uma luz que nunca de fato entendi. Você me tocou como quem toca um vaso extremamente precioso e delicado. Você me segurou pelas mãos e me abraçou.

Eu não entendi o motivo daquilo. Você nunca esperou nada em troca e eu apenas fui abraçada naquele confuso momento. E eu chorei. Chorei sem saber o motivo certo em minha mente, pois pela primeira vez em tanto tempo ela estava silenciosa. Eu chorei e a dor em meu peito começava a me deixar... Senti que algo se soltava de mim e que agora eu estava livre. Livre de mim mesma, livre do que as pessoas esperavam de mim, livre... Apenas livre como um pássaro que tem o céu inteiro para desbravar.

Você chorava comigo. Eu não perguntei o porquê, pois na verdade não precisava. Você sempre esteve ali comigo dentro daquelas paredes vazias, apenas esperando o momento para se apresentar. Você é tão cavalheiro... Eu nunca conheci alguém que pudesse saber exatamente o que eu penso ou sinto sem eu precisar explicar.

Eu não estou mais presa. Eu não sou mais escrava de algo... Eu sou a filha de Alguém que cuida de mim mesmo quando eu ando com minhas próprias pernas e me machuco. Alguém que sempre me escuta e que deseja passar a eternidade comigo. Alguém que me deu um sentido e uma razão para viver. Alguém que morreu em meu lugar em uma cruz e me deu a liberdade mesmo sem nunca merecer ou pedir por isso, tudo porque algum dia em meio à ausência de tempo Ele viu que eu existiria e ali naquele instante me amou. Me amou com um amor diferente de tudo que eu pudesse imaginar. Apenas amou em sua perfeição. Apenas amou. Apenas.