Cursed escrita por Creature


Capítulo 9
VII - The Sun, the moon, the truth


Notas iniciais do capítulo

yo.
*desvia de um avada*
CALMA GENTE GUARDA ESSA FACA. E essa arma também.

Sim, eu sei que demorei um tempo ESTUPIDAMENTE longo (tipo uns 6 meses rsrsrsrsjakajsksj não me matem), mas eu tive meus motivos. A escola começou muito puxada esse ano e realmente não deu pra conciliar com a fic. Os momentos livres que consegui ter acabei usando pra outras coisas e a fic ficou meio largada, tipo um oasis no deserto.

NO MÁS. Tô aqui fazendo um juramento de sangue pra voltar a postar regularmente, com no MÁXIMO, ESTOURANDO, duas semanas de intervalo entre um capítulo e outro prometo.

Como recompensa, aí vai um cap grandinho com umas references de Teen Wolf ♥

bjs de luz té o fim de semana, prometo que vou ser rápida.

AH, E MAIS UMA COISITA: pra quem tá foguentinha com James/Lily, declaro logo que depois da conversa que eles tiveram nesse cap eles vão progressivamente mudar MUITO o que pensam um sobre o outro, e talvez a Lily comece a gostar mais do príncipe do que do cervo. MAYBE.
Ah, e aguardem também (98% de ctz que vai ser no próx cap) uma conversa VERY DEEP VERY EMOTIONAL da Lily com o Sirius, falando sobre *dramatic soundtrack plays in the background* isso aí, James.

xoxo, gossip eu mesma.



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The Sun, the Moon, the truth.*

*""O Sol, a Lua e a verdade". Ditado do Buda Gautama, que se refere às 3 coisas que não podem ser escondidas. 

Lily Evans

Eu definitivamente não tinha o menor jeito para ser naturalista. Plantas, ok. Animais fofinhos, ok. Insetos? Calor? Falta de experiências sociais com outros seres humanos? Não, nem um pouco ok. Não que eu fosse o biscoito mais social do pacote (????) mas eu, com toda a certeza, era mais social que uma árvore. Ou pelo menos eu sempre acreditei que sim. Eu me lembro de uma vez em que meu pai havia levado eu e Túnia para acampar e eu achei que uma iguana tinha entrado na tenda, então Túnia gritou e pulou no rio enquanto meu pai tentava matar a suposta iguana com uma lanterna. Um tempo depois, é claro, nós três nos demos conta de que não existem iguanas na Inglaterra, mas o estrago já havia sido feito. Papai nunca mais nos levou para acampar.

De qualquer forma, eu parecia ser a única do grupo que não se sentia confortável com tendas em florestas escuras e cheias de supostas-iguanas-inexistentes. O simples fato de três das cinco pessoas com quem eu estava serem animais, é claro, já me deixava em grande desvantagem, e Dorcas não era de grande ajuda porque “estar em contato com a natureza a deixava mais próxima de Ellie, sua amiga elefanta” ou, sabe, qualquer coisa do tipo. Tentei não mostrar minha decepção por ter todas as minhas esperanças esmagadas quando Lene disse que praticamente havia crescido acampando e não importava-se nem um pouquinho, então apenas me empenhei em convencer os outros de que haviam sim iguanas na Inglaterra (impossível) e que uma estava bem atrás de Remus (improvável) e que parecia estar tentando comê-lo. 

— Pela milésima vez, Lily. – Dorcas rolou os olhos, aparentemente irritada. – Não existem iguanas na Inglaterra, e mesmo se existissem, iguanas são animais herbívoros.

Bufei, derrotada. Apesar do nosso sucesso em fugir da universidade, ainda tínhamos pelo menos uns duzentos quilômetros de viagem até o santuário animal onde planejávamos procurar por Lupa. Além disso, já que a nossa pequena aventura no Mundo Inferior havia nos custado uma noite, não dormíamos há mais de vinte e quatro horas e estávamos todos absurdamente mal-humorados e ainda mais irritantes do que o normal (principalmente Jam- ops, Potter).

Paramos subitamente em uma clareira cercada por vários nadas e olhei ao redor, ainda levemente desapontada por não estar em um hotel cinco estrelas. Eu realmente precisava de um banho. De qualquer forma, ao olhar ao redor pude contar uma Dorcas acariciando uma árvore, uma Lene tentando acender uma fogueira, e um cachorro e um lobo farejando os arredores como se estivessem prestes a dar a urinada do século. Em resumo, eu havia contado dois idiotas – faltava um. Enquanto eu silenciosamente rezava para que James e sua bunda peluda de cervo houvessem sido devorados por uma iguana-inglesa-carnívora, o dito cujo surgiu em meio às árvores e mais uma vez fiquei decepcionada com as iguanas. Elas nunca pareciam dispostas a me ajudar. James transformou-se em humano antes de falar.

— Parece que teremos que ficar por aqui essa noite. – Ele sacudiu a cabeça, como se bagunçar ainda mais o próprio cabelo fosse trazer um ar-condicionado ou um repelente. – Têm duas barracas na mochila, então dá pra fazer uma divisão justa.

Ouvi a risada-latido de Sirius vir de algum lugar atrás de mim.

— Se com divisão justa você quer dizer você e a Lily em uma e o resto de nós em outra, é preciso rever as suas prioridades, Prongsie.

Senti o calor subir para as minhas bochechas e fiz questão de amaldiçoar todas as gerações de Evans anteriores a mim pela combinação terrível de genes que havia feito com que eu nascesse ruiva. Antes que eu pudesse começar o meu monólogo sobre como tudo seria mais produtivo e lúdico se Sirius simplesmente calasse a boca, James riu. Ele riu. Riu!!!11!1!1

Mates before dates, Pads.* Continua valendo pra esse século.

Dates? Pffffft. Ele não fazia ideia do quanto eu queria espancá-lo com o objeto nocivo mais próximo – uma colmeia, por exemplo. Encarei James com o meu melhor olhar psicótico, mas o grandessíssimo idiota apenas piscou para mim e sorriu. Quando comecei a repensar na possibilidade de atingi-lo com uma colmeia, Lene agarrou meu braço e me arrastou para ajudá-la a montar nossa barraca (o que, por sinal, era mais uma daquelas habilidades que eu não possuía).

Lene e Dorcas fizeram a maior parte do trabalho que envolvia montar a barraca. Por outro lado, duvidava que elas tivessem conseguido sem o meu apoio moral e palavras de incentivo. Quando terminamos e fomos checar a barraca dos garotos, percebi que talvez minhas habilidades de montar barracas não fossem tão ruins assim. Quero dizer, não que eu soubesse alguma coisa sobre a ciência de montar barracas, mas eu tinha certeza de que as instruções não diziam “Use o seu amigo mais próximo como poste de sustentação.”

Mas, de novo, eu realmente não entendia muito sobre barracas.

***

— E então teve aquela vez em que Robb, sabe, um cara maravilhoso que estava fazendo um estágio com o veterinário do zoológico, sorriu pra Lily e ela ficou tão chocada que caiu por cima da cerca e dentro do lago dos crocodilos. – A voz de Dorcas soou na barraca antes que ela, Lene e eu tivéssemos um ataque de risos.

— Ah, os clássicos nunca morrem. – Falei, mordendo uma barra de chocolate.

Apesar da barraca parecer minúscula por fora, ela era extraordinariamente grande por dentro. Eu deveria ter imaginado, claro, porque uma barraca qualquer não teria espaço para um cervo, um lobo e um cachorro, mas não é a primeira coisa que me vem em mente quando eu posso me ocupar pensando em dormir em meio a insetos e iguanas (que, por sinal, não existem na Inglaterra). De qualquer forma, estar com Dorcas e Lene me deixava mais tranquila. Se, por alguma razão irônica do destino, sofrêssemos um ataque de iguanas carnívoras, era reconfortante saber que eu não seria a única a ser devorada. Odiaria ter que alcançar os portões do céu sozinha, sou tímida.

— Acho melhor eu ir pra cama. Huh, saco de dormir. Me sinto um zumbi. – Dorcas murmurou, bocejando.

Lene assentiu.

— Eu poderia hibernar por semanas. Aliás, é exatamente o que eu vou fazer. Boa noite, Dodô. Boa noite, Lilyzita. 

— Boa noite, Lene. – Respondi, mas Dorcas apenas roncou em resposta. Senti inveja. Eu adoraria conseguir pegar no sono rápido assim.

Passei um tempo tentando dormir, mas não consegui. Talvez fossem as iguanas-carnívoras ou qualquer outra coisa, mas eu estava morrendo de sono e simplesmente não conseguia dormir. Acabei desistindo porque nem mesmo os ritmados roncos de Dorcas que normalmente eram um verdadeiro sonífero pareciam conseguir me botar para dormir. Levantei e caminhei para fora da barraca, apesar de meu cérebro tentar me alertar sobre meu medo de iguanas-carnívoras.

Fiquei surpresa ao encontrar James, forma humana e tudo, também do lado de fora da sua barraca, recostado contra uma árvore. Ele correu uma mão pelos cabelos quando me viu.

— Problemas para dormir, ruivinha?

Dei de ombros.

— Algo do tipo.

Ele sorriu de um jeito maroto antes de falar.

— Pesadelos com iguanas, eu suponho.

— Para falar a verdade, meus pesadelos geralmente envolvem algo sobre ajudar um príncipe-cervo irritantemente insuportável. – Rebati.

Ele riu.

— Você, Lily Evans, é uma pessoa extraordinariamente singular.

O elogio me pegou de surpresa. Fiquei sem reação por alguns segundos antes de cruzar os braços e sorrir para ele.

— É, eu tento. Grande diferença comparada às garotas do século XVII, hein?

James sorriu.

— Você nem faz ideia.

— Como eram elas? – Perguntei, tão repentinamente que acabei surpreendendo a nós dois. – Tipo, as garotas daquela época.

James cruzou os braços e pareceu pensar por uns instantes.

— Bem... Pra começar, elas costumavam manter seus pensamentos sarcásticos para si mesmas. Pelo menos na maioria das vezes. – Ele me encarou de maneira divertida. – Amadureciam muito rápido, acho. Naquela época, fazia sentido. Todos aqueles ideais idiotas de que uma mulher não era digna de verdade se não fosse capaz de arranjar um marido. Elas iam para os bailes com a determinação de um soldado indo pra guerra. Mas eram boas no que faziam. Sabiam como enlouquecer um cara, ruiva. Nunca entendi como elas faziam isso, mas ninguém fazia tão bem quanto elas. Tirariam seu coração e pisariam nele, se pudessem. E você deixaria, Lily. Você deixaria porque no fundo você gostava.

Senti algo apertar dentro de mim. Não fazia ideia do porque, mas definitivamente parecia uma daquelas sensações que eu preferiria ignorar completamente, porque elas me assustavam.

— Você soa como alguém que já teve o coração pisoteado.

Ele suspirou de maneira triste.

— Acontece com as melhores pessoas. É o tipo de coisa que você espera nunca sentir novamente. É como eu disse, ruiva. Elas sabiam como enlouquecer um cara.

Por maior que fosse minha curiosidade sobre o assunto – por alguma razão, eu daria qualquer coisa para descobrir o nome da garota que havia partido o coração do príncipe James Potter – o tom de voz dele indicava que aquele assunto estava terminado. Antes que eu pudesse pensar no que dizer em seguida, ele voltou a falar.

— E tinha a minha mãe, a mulher mais extraordinária que eu já conheci. Eu me lembro de uma vez, eu devia ter uns seis ou sete anos, em que eu roubei um leitão assado inteiro da cozinha. – Ele sorriu, como se a memória o deixasse feliz. – Minha mãe me encontrou escondido em um dos armários do arsenal. Eu lembro que ela brigou comigo, algo sobre roubar ser errado e inaceitável naquele palácio, e eu lembro de apenas olhá-la nos olhos e dizer “Eu sou um príncipe, mãe. Príncipes não roubam, eles pegam sem pedir. Não é errado quando sou eu quem está pegando.”. Eu nunca tinha visto minha mãe tão furiosa quanto ela ficou naquele momento. Eu me encolhi no armário enquanto ela murmurava coisas que não faziam o menor sentido na minha cabeça. Ela era galesa, sabe, e aos seis anos eu ainda não conhecia uma única palavra em galês. Quando ela se acalmou, ela me olhou nos olhos e disse algo que eu nunca esqueci: “Ser príncipe não significa ser melhor que os outros ou estar acima da lei, James. Ser príncipe significa ser um exemplo. Um dia, vai ser você sentado naquele trono. As pessoas vão olhar para você e acreditar que você é perfeito, James. Vão acreditar que você tem uma coroa na cabeça porque foi escolhido por alguma divindade, e vão acreditar nisso porque é tudo o que eles têm. Eles precisam que você seja perfeito, James, porque se você não for, ninguém vai ser. Eu preciso que você entenda que ninguém nasce rei. Nascer na família real não te dá instantaneamente toda a sabedoria e coragem das quais precisa para ser rei. Você nasceu uma pessoa, como eu, como o seu pai, ou como qualquer um dos empregados deste palácio. As suas escolhas te fazem rei, e um bom rei não é aquele que se coloca acima do seu povo, mas aquele que se coloca ao lado deles.”

Eu não sabia se havia sido algo nas palavras da mãe dele, ou na forma como ele as havia recitado, ou simplesmente o fato de que ele ainda lembrava as exatas palavras mesmo que ele as tivesse ouvido a mais de trezentos anos atrás, mas meu estômago parecia borbulhar como quando Mamãe não estava em casa e Petúnia ficava responsável pelo jantar e ela jogava as coisas mais sem sentido na panela – tipo molho barbecue ou, sei lá, um rádio – e a panela borbulhava a ponto de explodir. Era assim que eu me sentia – como uma panela cheia de peixe, alface, palmito, molho barbecue, ingredientes que provavelmente eram ilegais em pelo menos quatro continentes e um rádio. Definitivamente o tipo de sensação que me assustava – talvez porque eu nunca tivesse sentido algo do tipo antes, ou talvez porque James a tivesse provocado – então eu resolvi armazená-la na caixa-mental-de-coisas-que-DEFINITIVAMENTE-assustam-a-Lily, junto com as iguanas-carnívoras e o pescoço de Túnia.

Então, ao invés de falar algo que pudesse trazer à tona a sensação de jantar-feito-pela-Petúnia, eu apenas disse:

— Ela soa como uma pessoa incrível.

O que provavelmente não foi a coisa mais inteligente a se dizer, já que dois segundos depois que as palavras haviam saído da minha boca eu lembrei que a mãe de James havia morrido há pelo menos uns trezentos anos e que ainda assim eu havia conjugado a minha frase no presente. Mandou bem, Lily. Sensibilidade zero.

Eu nunca soube se James havia se sentido incomodado, no entanto, porque ele apenas sorriu e falou tristemente:

— Ela era.

Após alguns minutos de um silêncio mais ou menos desconfortável, James me chamou no mesmo tom de voz usado por uma criança que sentia que havia feito algo muito errado.

— Lily?

— Huh? – Respondi, erguendo uma sobrancelha para o tom de voz culpado dele.

— Sabe, enquanto você e as outras montavam as barracas, Sirius decidiu que estava morrendo de fome. Eu falei pra ele que sair seria uma péssima ideia, sabe, porque não sabemos nada sobre essa época, mas ele não me ouviu, porque ele nunca me ouve, e pela primeira vez na vida Remus concordou com ele, então a gente acabou indo parar em uma loja que vendia umas comidas esquisitas e... Bem, eu tenho quase certeza de que não era uma loja de comida.

Então ele tirou uma pequena embalagem plástica do bolso e colocou na minha mão. A embalagem preta, a ênfase no “sabor limão!” e a frase de efeito “para relações sexuais mais seguras e divertidas!” somadas com a expressão confusa dele e uma imagem mental de Sirius Black tentando comer uma camisinha foram demais pra mim. Antes que me desse conta, eu já estava rolando no chão de tanto rir.

James me encarava de maneira confusa, mas quando eu expliquei o porque de eu estar rindo tanto, sua expressão mudou para nojo, algo que parecia com a cara que eu fazia antes de gritar “Eu avisei!” e então, dois segundos depois, ele estava jogado no chão ao meu lado tentando conter o riso.

— E é por isso que não podemos ir a lugar nenhum sem consultar vocês antes.

Sorri maliciosamente.

— Isso quer dizer que Lene, Dorcas e eu somos as líderes, então?

Ele pareceu pensar um pouco, como se realmente tivesse levado a pergunta a sério.

— Tem alguma experiência com liderança, senhorita Evans? – Eu sabia que aquele era James Potter falando, e que nada que James Potter falasse devia soar legal, mas ele estava apelando pro meu lado amante-da-literatura-que-tinha-crush—por-qualquer-lorde-inglês. E, ao menos quando ele queria, James Potter falava como um verdadeiro Mr. Darcy de Orgulho e Preconceito.

Fingi pensar.

— Fui líder de classe uma vez na segunda série, e acho que meu gato me obedece às vezes. Conta como experiência?

Foi a vez de James sorrir marotamente, antes de piscar para mim.

— Já governei a Inglaterra uma vez, conta como experiência?

Rolei os olhos, porque eu realmente detestava o lado príncipe-badboy—gostosão-eu-sou-mais-eu dele.

— Você nunca chegou a ser rei, James. Baixe a sua bola.

Ele riu.

— Tudo bem, admito. Você pode ter uma leve inclinação para a liderança, mas não conte ao Sirius que eu disse isso.

— Seu namorado é ciumento? – Rebati sarcasticamente.

Os olhos dele faiscaram marotamente.

— Pode apostar, Evans. Eu manteria distância de mim se fosse você. É difícil não se apaixonar, e mais difícil ainda acreditar que esse corpinho aqui já tem dono.

Ele se achava o rei do mundo.

— Egocêntrico.

— Altruísta, na verdade. Ou pelo menos foi assim que o rei Henry da França me descreveu uma vez.

Rolei os olhos.

— Acho que você e o seu ego precisam de um descanso, bundão.

Ele piscou antes de levantar-se e erguer a mão para me ajudar.

— Sua afeição por mim é tocante, ruiva.

Aceitei a ajuda antes de bater as mãos nos shorts do meu pijama (um de Star Wars, dessa vez) e sorrir sarcasticamente para o príncipe. Involuntariamente, o olhar de James desceu para onde minhas mãos estavam, e então aconteceu o inimaginável. James Potter, o príncipe-cervo, enrubesceu. Percebi que ele evitava a todo o custo olhar para qualquer coisa abaixo do meu pescoço. De repente, me dei conta de que os shorts do meu pijama de Star Wars eram extremamente curtos, principalmente aos olhos de um homem do século XVII. Lancei a ele um olhar desafiador.

— Algum problema, James?

Ele engoliu em seco, mas algo faiscou em seu olhar. Ele sabia exatamente o que eu estava fazendo. 

— Nenhum, Lily. Por que a pergunta?

Sorrindo maliciosamente, me aproximei do príncipe. A esse ponto, eu sabia que James estava ciente das reações que ele causava no meu corpo quando estávamos muito próximos, mas era bom saber que eu também conseguia despertar algumas reações no corpo dele. Me aproximei de modo que minhas coxas expostas roçassem levemente contra as mãos dele, que repousavam ao lado do seu corpo, e tive certeza de que James estava prestes a entrar em combustão. 

Me aproveitando da minha situação de comando, aproximei perigosamente meu rosto do dele e sussurrei, perto demais dos seus lábios:

— Boa noite, Alteza. 

Ainda conseguia ouvir o coração de James batendo acelerado enquanto eu me afastava, rindo. 

***

Quando acordei, minha primeira percepção foi o fato de que o acampamento estava uma bagunça. As coisas estavam espalhadas como se tivessem sido pisoteadas por animais selvagens (cof cof) e todo mundo parecia correr de um lado para o outro de maneira desesperada. Claro que minha primeira percepção me guiou em direção a uma segunda percepção: teoricamente, eu havia dormido na barraca, então eu não deveria ser capaz de abrir os olhos e dar de cara com o caos que estava acontecendo do lado de fora da barraca. Teoricamente, porque, olhando ao meu redor, percebi que não havia mais barraca. Muito pelo contrário, Dorcas e Lene pareciam embolar-se nos gravetos de sustentação e nos panos da barraca enquanto tentavam guardá-la de volta na mochila que Sir Dumbledore nos havia dado.

Esfreguei os olhos e me sentei, ainda meio zonza.

— Mas o que diabos está acontecendo aqui?

Dorcas sorriu, largando o graveto de sustentação que segurava, e o mesmo atingiu a cara de Lene com um grande paf!.

— Oh, desculpe, Lilykins. Nós até tentamos te acordar, mas você mordeu a Lene e chutou o Sirius, então simplesmente escolhemos esperar até que você acordasse. – Dei de ombros, não me sentindo nem um pouco culpada. Petúnia vivia dizendo que eu tinha um sono muito violento. – Os meninos encontraram os lobos, mas todos nós acabamos nos embolando um pouco na parte de desmontar o acampamento.

Bufei.

— Como se a parte de montar o acampamento já não tivesse sido uma tragédia grande o suficiente. Já que vocês praticamente destruíram a barraca, me deem cobertura pra eu trocar de roupa e eu posso começar a dar todo o meu apoio moral.

***

Depois de mais ou menos uma hora (mais pra mais do que pra menos, sinto em dizer), finalmente conseguimos desmontar o acampamento e partimos ao encontro dos lobos. Remus e Sirius foram na frente, em forma animal, farejando o caminho (o que eu não considerava um GPS muito seguro, mas o nosso verdadeiro GPS falava coreano e insistia em nos levar para Paris). James foi atrás, porque cervos não eram um GPS muito confiável e não tinham praticamente nenhuma utilidade na situação (especialmente James).

Tenho certeza de que caminhamos por quase três horas, que envolveram muitos “não aguento mais”, diversos “Sirius, nós estamos andando em círculos” e ainda mais “por acaso mais alguém reconhece essa árvore?” até ficarmos em frente a uma placa de letras verdes que dizia:

“Bem-vindos ao Santuário Animal de Clifton! Aqui pode encontrar a maior população de lobos da Inglaterra (se tiver sorte o bastante para achá-los).”

Lene recostou-se contra a placa, derrotada.

— Se os últimos dias foram o indício de alguma coisa, é de que nós definitivamente não temos sorte o bastante.

James deu de ombros, agora na forma humana.

— Não seja tão pessimista, Marley. Nós já quase-morremos pelo menos umas sete vezes, mas aqui estamos.

— Sem contar de quando quase fomos parar na cadeia. – Dorcas contou, orgulhosa.

Remus suspirou.

— Vamos só procurar pelos lobos, certo? Podemos comentar sobre nossas falhas e sucessos depois que os encontrarmos.

Sirius deu de ombros, pulando a cerca que marcava o perímetro do santuário.

— Hm, Sirius, - Lene começou – tenho quase certeza de que você precisa de permissão pra entrar aí.

James sorriu maliciosamente, e por alguma estranha razão um arrepio percorreu toda a extensão do meu corpo.

— Não, ele não precisa. Teoricamente, estamos mortos. Nossos registros já devem ter sido comidos por traças há pelo menos uns cinquenta anos. Somos invisíveis.

Cruzei os braços.

— Você pode até ser, mas eu sou uma cidadã inglesa deste século que por sinal está tentando entrar na faculdade, muito obrigada.

— Nada que meu avô não possa consertar. Vamos, ruiva. – Declarou Lene, puxando meu braço para que eu me juntasse a Sirius do outro lado da cerca.

***

Uma coisa da qual eu tinha certeza absoluta era que eu nunca mais deixaria Marlene McKinnon me induzir a invadir um santuário animal. O mais estranho era que eu parecia ser a única preocupada com o fato de estar quebrando pelo menos umas cinco leis. Quero dizer, se nós fôssemos pegos e parássemos na cadeia, que desculpa a gente ia dar? Não estávamos bêbados nem nada. Só eu estava analisando essa parte do plano?

— Vem cá – Comecei, porque estava realmente incomodada com a falta de senso do resto do grupo. – Sou só eu que não tô muito acostumada com essa coisa toda de invadir locais privados ou nem?

Sirius sorriu maliciosamente enquanto caminhávamos pela grama alta da reserva, tentando nos afastar das cercas e procurar os lobos ao mesmo tempo.

— Relaxa, ruiva. Invasão é a minha especialidade.

Olhei para Remus em busca de socorro, porque além de mim ele parecia ser o único que ainda tinha um pouco de sanidade mental, mas infelizmente não pude contar com o apoio dele daquela vez.

— Estranhamente, o Sirius tem razão. Realmente é a especialidade dele. James o colocou no comando das tropas infiltradas todas as vezes que invadimos a França.

— Vem cá, mas qual o problema entre a Inglaterra e a França? Eu nunca entendi o porquê de tanta violência. – Comentou Dorcas, tapando o sol que vinha nos olhos com uma das mãos.

Remus pareceu pensar por alguns instantes.

— Bom, na verdade, eu não faço a menor ideia. Nenhum de nós faz. Todo governante inglês era criado odiando a França e todo governante francês era criado odiando a Inglaterra. Pergunte ao James. Quando ele tinha quatro anos de idade e encontrou com a corte francesa em uma reunião na Escócia, colocou camarão na calça do rei Henry. Camarão vivo.

Olhei para James incredulamente.

— Você colocou um camarão vivo na calça do rei da França?

James me olhou como se eu estivesse maluca.

— Claro que não, Lily. - Então, ele abriu um sorriso malicioso. - Foram oito. 

Fiquei imaginando se quando meu pai me disse “cuidado com quem você anda” ele se referia a príncipes ingleses amaldiçoados que colocavam camarões nas calças das pessoas. Nas calças dos reis.

— Não foi tão bom quanto aquela vez em que ele colocou um gambá na mala da princesa. – Comentou Sirius, olhando para James como um pai olharia para um filho que havia passado de primeira na faculdade.

Remus o olhou com desprezo.

— Do jeito que você fala, dá a James todo o crédito. Vale lembrar que antes disso a princesa usou uma tinta rara chinesa que deixou o cabelo de James roxo por três meses.

— E é por isso que nunca se deve tentar casar um príncipe inglês com uma princesa francesa. – Comentou Sirius, rindo.

Remus abriu a boca para argumentar, mas James ergueu uma mão e os dois silenciaram-se imediatamente. Não pude deixar de perceber como o silêncio havia vindo de forma automática, como se uma ordem vinda de James fosse absolutamente incontestável. Às vezes eu me sentia como se houvessem dois James: o príncipe e o adolescente. Se fosse assim, naquele momento quem estava com a gente era o príncipe, assumindo seu incontestável papel de líder do grupo. Por mais que eu implicasse com James (e ele comigo, nem tudo é culpa minha, credo, vocês parecem a Petúnia), eu tinha que reconhecer: nenhum de nós era tão bom na liderança quanto ele. James sempre tinha um plano. Sempre colocava os outros na frente de si mesmo. Quando estava agindo como príncipe, era como se ficasse uns dez anos mais velho. Por um breve segundo, imaginei como devia ter sido crescer assim. Tendo que ver outras crianças brincarem enquanto aprendia estratégias de guerra ou estudava mapas da Inglaterra e línguas estrangeiras. Me perguntei quantas vezes Sirius e Remus o haviam chamado para brincar e receberam um não como resposta porque James estava ocupado demais aprendendo a segurar uma espada sem ser derrubado pelo peso do aço na lâmina. Lembrei da minha infância, correndo pelo quintal com Petúnia e Severus, um antigo amigo. Era algo que James nunca havia tido. Algo que ele nunca havia podido ter. Ou pior, algo que ele nunca havia podido querer, porque seu futuro já havia sido decidido antes mesmo dele nascer. Naquele momento, senti pena dele, e uma estranha vontade de abraçá-lo e protegê-lo do mundo.

— Lobo. – James disse simplesmente, apontando para uma figura a alguns metros de nós. Senti um arrepio percorrer minha espinha, porque o lobo nos encarava fixamente com seus olhos amarelos brilhantes, como se estivesse aguardando nossa chegada. James voltou-se para Remus. – Moony?

— Aquilo ali – Ele apontou para o animal. – Não é um lobo de verdade. É algo muito mais antigo e muito mais poderoso.

— Então é exatamente o tipo de cara que estávamos procurando. – Sirius falou alegremente. Inclusive, alegremente demais para quem estava caminhando em direção a uma provável morte precoce.

Antes que eu pudesse compartilhar meus pensamentos sobre a sanidade do Sirius, no entanto, uma voz grave preencheu meus ouvidos.

A alfa Lupa os aguarda na caverna. Peço que venham comigo. Caso resolvam apresentar comportamento hostil, saibam que há lobos os vigiando desde que pularam a cerca. Se atacarem um de nós, atacam todos nós, porque a força do lobo é a alcateia, e a força da alcateia é o lobo.

Olhei para o lobo com certa incredulidade, porque ele não havia mexido a boca. Mas ainda assim, não havia dúvidas de que quem havia falado era ele. Teoria da conspiração: os lobos eram telepatas, mas eu só descobri isso aos dezessete anos de idade. Bem, eu achava que eles eram telepatas. Nada confirmado, mas também nada negado, certo?

Seguimos o lobo-telepata até uma enorme caverna guardada por dois lobos gigantes (não gigantes tipo um Golden Retriever, mas gigantes tipo um pônei). Senti uma vibe meio Hollywood, e acabei imaginando os lobos de terno e óculos escuros por um instante. Tratei de apagar a imagem da minha cabeça o mais rápido que pude, porque se os lobos fossem mesmo telepatas, eu não queria pagar um micão.

A caverna era muito maior por dentro do que por fora. Ela parecia um formigueiro, com lobos saindo de todos os buracos. Talvez fosse por isso que não se visse muitos lobos na Inglaterra. Eles estavam todos aglomerados numa caverna em Clifton telepaticamente trabalhando em seu plano de dominar o mundo. E no centro da caverna, rodeada pelo que eu jurava serem caveiras humanas, estava a loba que eu supus ser a deusa Lupa. Ela era absolutamente majestosa. Não majestosa como a Angelina Jolie na noite do Oscar, mas majestosa como o pôr-do-sol, ou ondas batendo em rochas na praia, ou meu pai fantasiado de Malévola. Ela era pelo menos umas cinco vezes maior que os outros lobos – que já não tinham um tamanho muito normal. Seu corpo era coberto por pelos prateados que contrastavam com os olhos dourados, provavelmente os olhos mais lindos e amedrontadores que eu já havia visto. Definitivamente, Lupa tinha o porte de uma deusa.

Lupa nos encarou por longos segundos que pareceram uma eternidade antes de finalmente falar.

Quais são as três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo?

James sacudiu a cabeça, repentinamente acordando do transe causado pela visão da deusa loba.

— O quê?

É um enigma, garoto humano. Sei porque estão aqui, e lhes darei o que querem de bom grado, desde que respondam corretamente ao enigma.

A voz de Lupa soava macia e ameaçadora ao mesmo tempo, como se ela pretendesse te esfaquear nas costas no meio de um abraço.

— E se errarmos? – Remus perguntou.

A deusa loba nos olhou nos olhos pela primeira vez, e eu finalmente soube como um coelho se sentia quando estava sendo caçado. Não era uma experiência agradável.

Então terão falhado, e estarão fadados a passar a eternidade miseravelmente presos em corpos de animais. Um destino justo para covardes. 

Nós seis nos entreolhamos, e eu sabia que sentíamos a mesma coisa: a fala de Lupa teria o mesmo efeito se ela tivesse anunciado que ia nos torturar lentamente e depois vender os nossos restos no ebay.

Ouçam com atenção, pois não repetirei uma outra vez. Quais são as três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo?

Eu tinha orgulho da minha fama com enigmas na escola. Nunca havia errado um único que fosse. Mas aquele? Eu não fazia ideia de por onde começar. Talvez fosse a pressão dos milhares de olhos lupinos nos encarando, mas a minha mente estava absolutamente em branco. James, Lene e Dorcas olhavam de mim para Remus como se fôssemos a única esperança, mas ele parecia tão confuso quanto eu. Sirius olhava para o teto, absorto em seu próprio mundo. Ou pelo menos, era o que eu imaginava.

Enquanto tentava pensar, ouvi Sirius murmurar alguma coisa.

— O que foi, Pads? – James perguntou, encarando o amigo.

— O Sol, a lua e a verdade. – Sirius falou puramente, mas a sua voz tinha um tom questionador.

— O quê? – Remus perguntou.

— As três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo. O Sol, a lua e a verdade. – Dessa vez, as palavras soavam como uma certeza, e não como uma pergunta. Sirius deu um passo para perto da loba. – O Sol porque, apesar dele se pôr todos os dias, ele sempre nasce de novo na manhã seguinte. A lua se põe quando o Sol nasce e ascende quando o Sol se põe. Em outras palavras, o Sol e a lua podem ser escondidos, mas não por muito tempo. A mesma coisa se aplica à verdade. Você pode manipular a verdade, distorcê-la, escondê-la, mas em algum momento ela vai ressurgir. 

Por alguns minutos assustadores, ninguém na caverna falou nada. Então, de repente, a voz de Lupa preencheu todo o espaço.

Precisamente. O Sol, a lua e a verdade. É uma antiga convicção dos lobos. Muito impressionante, garoto humano. 

James, Remus, Lene, Dorcas e eu encaramos Sirius como se ele fosse um cheque de um bilhão de dólares que havíamos acabado de ganhar na loteria.

— Brilhante. Definitivamente brilhante. – Sorri, apoiando o braço em um dos ombros dele.

— Às suas ordens, ruiva. – Ele piscou para mim.

— Sabia que te manter por perto não era uma total perda de tempo. – James e Remus estavam evidentemente orgulhosos do melhor amigo. Eu estava, também.

— Isso quer dizer que passamos no teste, então? – Sirius perguntou, voltando-se para Lupa. – Mais fácil do que vencer uma aposta com o Prongs. Pode passar a chave e a pista do próximo deus e a gente se vê por aí, lupita.

Antes que James pudesse protestar – e eu tinha certeza de que ele ia protestar, porque ele era uma pessoa irritante e pessoas irritantes sempre protestavam – uma risada ecoou pela caverna. Me surpreendi ao perceber que a risada vinha de Lupa – e por isso soava como a risada do Remus às vezes, meio risada, meio rosnado.

Mortais tolos. Eu estava entediada, e ver a maneira como desesperam-se pelas coisas mais simples me diverte. Não, o teste começa agora.

* Mates before dates é uma expressão que, em tradução literal, significa “amigos antes de namoradas/namorados”. Uma versão britânica de bros before hoes, saca?


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Notas finais do capítulo

see ya

ヾ(^∇^)