Cursed escrita por Creature


Capítulo 8
VI - That one time when we destroyed a library


Notas iniciais do capítulo

yo.
Sim, eu sei que eu demorei. Sorry, folks. Eu realmente não conseguia me decidir a respeito do que fazer com esse capítulo até ontem, então aqui está. Apesar de não ser o meu preferido, foi divertido de escrever. Tive que estudar um latim arcaico básico e dar uma pesquisada no brasão de armas inglês, então it's a win-win.
Enjoy!
p.s.: um pouco de Jily para vocês. Here you go. Segurem os corações.



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That one time when we destroyed a library*

*"Aquela vez em que nós quase destruímos uma biblioteca". Tradução livre.

Lily Evans

— Brilhante. – Lene murmurou frustrada, analisando o pedaço de pergaminho que Hades havia nos dado. Estávamos sentados em um dos sofás vermelhos do Roy’s Fish n’ Chips – Café da manhã o dia todo! havia pelo menos uma duas horas, e enquanto Dorcas escondia o máximo de comida possível na barra da blusa para levar para os, literalmente, animais que se escondiam lá fora, Lene e eu tentávamos decifrar a primeira peça – e até o presente momento, estávamos falhando miseravelmente.

Puxei o pergaminho da mão de Lene e o encarei pela milésima vez, como se eventualmente a resposta fosse aparecer magicamente bem em frente aos meus olhos. As palavras brilhavam em contraste com o papel amarelado.

Waw-mem lamed-ayin-beth-ayin he-samekh-taw-aleph ayin-nun-daleth-he aleph aleph-lamed-gimel-aleph-taw-he-yod-aleph he-samekh-taw-aleph.

Involuntariamente, bati a minha cabeça contra a mesa. De repente, desejei ter me inscrito no curso de latim arcaico da escola quando tive a chance.

— A menos que conheçam alguém que saiba latim arcaico, não tem chance alguma de que a gente consiga descobrir onde Lupa está.

Lene arregalou os olhos.

— Latim arcaico? Qual o problema de Hades com latim normal?

Dorcas praticamente rosnou.

— Aposto que foi ideia de Napoleão. Ele não pareceu gostar muito da gente.

— Ele não deve gostar muito de ninguém.— Bufei. – Lene, alguma chance de que o seu avô tenha algum conhecimento de latim arcaico?

Ela sacudiu a cabeça, frustrada.

— Se fosse latim normal, não teríamos muito problema. Até o Sirius sabe latim normal.

Ouvi um rosnado a distância, como se Sirius e sua super audição canina estivessem protestando. Dorcas pareceu ter uma ideia de repente.

— E quanto ao James? Ele é um príncipe, certo? Príncipes não têm que conhecer tipo, todas as línguas?

— Todas as línguas que sejam utilizadas, Dodô. – Lene suspirou. – Nem mesmo o James é velho o bastante para conhecer latim arcaico.

De novo, um protesto do lado de fora do restaurante. Realmente peculiar. Suspirei.

— De qualquer forma, precisamos levar a comida para os meninos. Talvez Remus tenha alguma ideia do que fazer. Ele parece ser o único dos três que possui um cérebro.

Deixamos o dinheiro da conta no balcão e caminhamos para dentro da floresta, nos certificando de que ninguém nos seguia. James, Sirius e Remus estavam sentados em meio a um monte de arbustos, em suas formas animais.

— Trouxeram alguma coisa pra comer, ou estavam ocupadas demais falando mal de nós? – Sirius perguntou, voltando a forma humana.

Rolei os olhos, e então Dorcas soltou a barra da blusa – que ela estava segurando firmemente – e derrubou toneladas de comida em frente a ele.

— De nós não, Padfoot. – James resolveu ser um estraga-prazeres e abrir a boca, voltando à forma humana. – O Moony só recebe elogios.

Sirius bufou.

— Todas preferem o Moony. Até a Charlotte preferia o Moony. E a Elisa. Ah, e a Camille. Minha doce Camille. – O cachorro ficou alguns minutos em off, provavelmente distraído com pensamentos impróprios em relação a Camille, seja lá quem fosse Camille. – Até a sua mãe preferia o Moony, Prongs. É a dura verdade.

James jogou um pedaço de bacon nele, que Sirius apanhou com a boca. Lene ergueu orgulhosamente um guardanapo com o número ‘10’ escrito nele, enquanto Dorcas apenas aplaudiu. Rolei os olhos, mas ri.

Remus suspirou.

— E o que vamos fazer quanto à mensagem codificada de Hades?

Um ar sério tomou conta do rosto de James.

— Vamos precisar aprender latim arcaico. E bem rápido.

Sirius rolou os olhos e sorriu sarcasticamente.

— Sim, Prongs. Há várias escolas de latim arcaico espalhadas pelo país. Brilhante ideia. Talvez também pudéssemos aproveitar a oportunidade e aprender a cavalgar dragões.

— Não se cavalga dragões, Sirius. Cavalgam-se cavalos. Daí o prefixo cav. — Remus explicou calmamente.

— Não se cavalga dragões porque dragões não existem, Moony. – Sirius praticamente rosnou, atingindo Remus com um waffle meio-comido. Remus soltou um rosnado antes de se jogar em cima dele.

— Aqui vamos nós de novo. – James suspirou, como se estivesse realmente exausto, antes de tentar separar os amigos.

Bufei.

— Isso não vai dar certo. Precisamos achar alguém que conheça latim arcaico.

Lene estalou os dedos.

— Poderíamos tentar uma universidade. Universitários sempre sabem as coisas pelas quais ninguém se interessa. Além disso, garotos de universidade. Duh. Esses sim são uma verdadeira maldição para os hormônios femininos.

Dorcas e eu não hesitamos em concordar com a ideia, principalmente porque envolvia garotos de universidade.

— Tudo bem. – Dei de ombros. – Não é como se tivéssemos outra opção. Como fazemos para entrar em uma universidade?

Lene sorriu maliciosamente. De repente, percebi que aquela era uma péssima ideia.

— Fácil. Vamos nos passar por universitários.

***

— Muito bem. Temos exatas... – Lene checou o relógio. – Três horas e quarenta e cinco minutos até que os meninos voltem a ser animais.

— Três horas e quarenta e cinco minutos para nos infiltrarmos em uma universidade, encontrar alguém que saiba latim arcaico e convencer essa pessoa a traduzir um pergaminho antigo escrito pelo deus grego da morte. – Suspirei nervosa. – Moleza.

— Exatamente. – Lene piscou pra mim.

Estávamos os seis parados em frente à Folkestone University. Nos últimos cinquenta minutos, Lene havia nos levado até o centro da cidade e gastado toda a minha mesada em roupas que ‘convencessem as pessoas de que nós éramos universitários normais’. Sirius parecia animado com a ideia, porque aparentemente ele não havia feito nada ilegal desde o dia em que ele havia urinado no pé do trono do rei da Espanha.

— Muito bem. – Lene falou. Ela parecia prestes a explodir de alegria. Não sabia que a realização de atos ilegais poderia ter esse efeito nas pessoas. – Vamos nos separar em duplas. Eu vou com o Sirius, a Dorcas com o Remmy e a Lilyzita... Você vai com o James, monamour.

Encarei-a em puro choque.

— Por que eu tenho que ir com ele?

Lene deu de ombros, com um brilho malicioso nos olhos.

— Primeiro porque pra esse plano dar certo, esses três idiotas precisam estar separados. Sempre que eles estão juntos alguma coisa dá errado. Segundo porque você é a única a quem o James dá ouvidos, e terceiro porque vocês são fofos juntos. Além disso, ele é o seu idiota.

Bufei.

— Desde quando?

Lene sorriu maliciosamente antes de arrastar Sirius para dentro do campus.

— Desde sempre.

Dorcas agarrou o braço de Remus e saiu saltitando atrás de Lene e Sirius, me deixando sozinha com o idiota-mor. Ele piscou para mim e sorriu maliciosamente, colocando as mãos nos bolsos da calça.

— Não se preocupe, ruivinha. Prometo ser um idiota comportado.

Argh. Ia ser um longo dia.

—-

— Tudo bem. Lene e Sirius vão procurar nos clubes, Dorcas e Remus vão falar com os professores, e eu e você ficamos responsáveis pela biblioteca. – Repassei enquanto James e eu caminhávamos pelo campus. Quando me virei para perguntar se ele havia entendido, percebi que ele não havia prestado atenção a uma palavra do que eu havia dito. Estava ocupado demais encarando um grupo de garotas com camisetas idênticas – provavelmente uma irmandade – e shorts que mal cobriam metade das pernas, e que por sinal acenavam descaradamente para ele.

Bufei, estalando os dedos na cara dele.

— Terra para James. Nós estamos em uma missão, então será que poderia fazer o favor de secar todas as garotas da universidade outra hora?

— Eu não estava secando ninguém, ruivinha. Apenas retribuindo a simpatia das senhoritas. – Ele me encarou pela primeira vez nos últimos dez minutos.

— Talvez prefira procurar embaixo das saias delas alguém que fale latim arcaico? – Sorri sarcasticamente, mas ele apenas riu.

— Dá um tempo, Lily. Não vejo uma garota há trezentos anos.

Parei de andar de repente, chocada demais para conseguir fazer minhas pernas funcionarem. Quando o grandessíssimo idiota percebeu, ele voltou e me encarou de maneira confusa. Assim que recuperei o controle dos meus membros, comecei a socá-lo ali no meio do campus mesmo.

Ouch. Qual o seu problema?

— Não vê uma garota trezentos anos? — Rosnei, enquanto ele segurava minhas mãos em uma tentativa de auto-defesa. – Dorcas, Lene e eu somos o quê, amebas?

Ele arregalou os olhos, como se de repente tivesse se dado conta do quanto sua própria boca era um grande buraco de merda.

— Não foi bem isso que eu quis dizer. – Ele ergueu as mãos em sinal de defesa.

Semicerrei os olhos e bufei antes de continuar a andar.

— Não, imagino que não tenha sido.

Caminhei pesadamente pelo campus da universidade, e James foi inteligente o bastante para manter uma distância segura entre nós. Eventualmente, no entanto, ele voltou a ser um completo idiota e começou a limpar a garganta tentando chamar a minha atenção.

Hm, Lily? Você ainda está chateada comigo? – Bufei. – Tudo bem. Vou levar isso como um sim. Olhe, eu realmente não quis que minhas palavras soassem daquele jeito. Sinto muito. O que eu realmente quis dizer é que... Não vejo uma garota acessível há trezentos anos.

Parei de andar e me virei para encará-lo.

— Acessível? Você é um príncipe. Que tipo de garota não seria acessível? Basta estalar os dedos e tenho certeza de que todo um fã-clube feminino estaria beijando os seus pés.

Ele correu a mão pelos cabelos.

— Não, Lily. Eu era um príncipe. E mesmo sendo um ainda haveria garotas completamente inacessíveis.

Cruzei os braços.

— Ah é? Tipo quem?

James deu de ombros.

— Dorcas. Lene. Você. Quero dizer, Dorcas é incrível e tudo o mais, e tenho certeza de que qualquer cara teria sorte de estar com ela, mas ela é território proibido. – Ele deve ter percebido a confusão no meu rosto, porque se apressou para explicar. – Território probido. A garota do seu amigo nunca poderá ser sua garota. Não é difícil de perceber o quanto o Remus fica animadinho perto dela. Lene é como aquela irmã mais nova irritante da qual você nunca consegue se livrar, porque no fundo quer ela por perto. E você... Digamos que você não seja exatamente a minha fã número um. Além disso, eu sou um homem-cervo. Você é uma ruiva formosa. A disparidade é evidente.

— Formosa? Quem ainda usa essa palavra? - Perguntei, erguendo uma sobrancelha para ele. Por um minuto, havia esquecido que ele tinha mais de trezentos anos de idade. 

James exibiu mais um daqueles sorrisos predatórios e marotos que faziam todo o meu corpo se arrepiar e o meu coração acelerar descontroladamente por alguma razão.

— Ah, pode ter certeza que eu pensei em uma série de outras palavras, mas você cortaria minha língua fora se me ouvisse pronunciar qualquer uma delas.

Aquele imbecil galanteador.

— Você sabe que eu cortaria mesmo.

Ele se aproximou, tão perto que eu podia sentir o cheiro do seu hálito. Pra um cara que havia passado os últimos trezentos anos comendo capim, seu hálito cheirava muito bem. Seus olhos castanho-esverdeados me encaravam – me encaravam de verdade — e eu podia sentir que ele estava me lendo, descobrindo todos os meus segredos, até aqueles que nem eu mesma conhecia.

— Tem algo que você quer me dizer, Lily?

Suspirei, evitando olhá-lo nos olhos – porque aquele olhar dele estava me deixando nervosa, e quando eu ficava nervosa começava a suar como um porco e a fazer sons estrangulados de alce, e aquilo não seria bonito para ninguém.

— Você sabe que toda essa situação ainda é muito confusa pra mim. - Suspirei. - Principalmente se tratando da gente. Eu e você. Não sei mais em que pé estamos. Quando olho pra você, ainda parece que é completamente diferente de Prongs. 

Foi a vez dele de suspirar.

— Sei que sente falta dele. Sei que se sente como se tivesse perdido um amigo, mas não perdeu, Lily. Eu ainda estou aqui. Prongs ainda está aqui. Sei que é meio estranho, você ter se aberto tanto com Prongs para depois descobrir que ele é uma pessoa, mas seus segredos agora são nossos segredos, e eu não tenho a intenção de compartilhá-los com ninguém. Por mais que isso tudo seja assustador, saiba que eu estou tão disposto a te ouvir quanto eu sempre estive. Eu devo tudo a você, ruiva. Você não tem ideia do quanto era assustador, estar preso no corpo do cervo e não poder fazer nada a respeito disso. Havia momentos em que eu simplesmente esquecia quem eu era, e eu tinha medo, Lily. Medo de me acostumar demais a ser um cervo e ficar daquele jeito pra sempre. Mas isso foi até você aparecer. Não foi nada místico, na verdade. Você foi a primeira pessoa a me ver como mais que um animal, a primeira a passar horas conversando comigo mesmo sabendo que eu não iria responder. Você me fez querer ser humano de novo, Lily. Por mais que eu gostasse de te escutar, queria que você me escutasse também. Você é a minha humanidade, ruiva. Quando eu penso em desistir e deixar a maldição decidir o resto da minha vida, é em você que eu penso. Você é uma constante lembrança de que vale a pena ser humano, e isso tudo é tão assustador pra mim quanto é pra você.

Eu fiquei parada com uma expressão muito idiota no rosto antes que pudesse esboçar qualquer tipo de reação. Até aquele momento, eu simplesmente não tinha ideia do quanto ele precisava me manter por perto. Não era só porque ele precisava de mim pra quebrar a maldição. Ele precisava me ter por perto porque tinha medo de esquecer como era ser humano. Ele tinha medo de esquecer de quem ele era - ou pior, de desistir de ser quem ele era.

Eu o olhei nos olhos pela primeira vez desde que aquela conversa havia começado.

— Acho que deveríamos recomeçar do zero, certo? Eu quero ser sua amiga, James. Não de Prongs, sua. Quero te escutar como você me escutou, a menos que você esteja falando algo idiota, o que você faz com certa frequência, mas é algo que certamente pode ser trabalhado.

James sorriu, e por alguma razão meu coração parecia ter virado uma equipe de líderes de torcida dentro do meu peito.

— O que posso dizer? É a minha especialidade.

Rolei os olhos, mas sorri também.

— Prometo que não vou te odiar por nada. Prometo que não vou ter raiva de você por não ser um cervo de verdade. Prometo que vou ser, uh, menos agressiva, apesar de essa ser a minha especialidade.

Ele segurou a minha mão, e eu literalmente prendi a respiração e contei os segundos até que ele a soltasse. Dezesseis segundos e meio.

— É tipo um Tratado de Paz, então?

Sorri de maneira divertida ao me lembrar que na época dele a maioria dos conflitos entre países era resolvida com tratados de paz, que costumavam ser firmados pela união entre dois países através do matrimônio.

— Suponho que sim. Só que nesse caso, sem a parte do casamento.

James me lançou um olhar convencido.

— Ainda bem. Não sobreviveria dois dias casado com você.

— Dois dias? Você não sobreviveria dois segundos.

— A sua falta de fé em mim é tocante, ruiva.

Rimos juntos enquanto caminhávamos em direção ao prédio da biblioteca, e pela primeira vez desde que toda aquela coisa da maldição havia começado, me sentia mais leve.

***

A primeira coisa que notei foi que a biblioteca da Folkestone University era imensa. Imaginei que pra achar um livro específico ali, teríamos que passar os próximos cinco séculos procurando. Puxei James pra um canto pela manga da camisa e sussurrei.

— Tudo bem. Precisamos achar uma seção que tenha algo sobre latim arcaico, talvez um dicionário ou algo do tipo.

James assentiu, e então seu olhar voltou-se para a grande mesa de madeira em um dos cantos da biblioteca, onde se sentava uma mulher velha, baixinha e que se parecia bastante com a Úrsula da Pequena Sereia. Entendi o que ele pretendia fazer antes mesmo que ele o fizesse.

— Não podemos simplesmente ir lá e perguntar a ela, James.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Por que não?

Rolei os olhos.

— Ela é uma bibliotecária, James. Esse tipo de pessoa conhece cada aluno da universidade. Ela vai saber que não somos daqui.

Ele sorriu de maneira convencida, e eu tive o súbito desejo de socá-lo.

— Relaxa, ruiva. Fui praticamente treinado pra lidar com esse tipo de situação. Olhe e aprenda.

Ele caminhou até a mesa da bibliotecária e recostou-se contra o tampo de madeira, os braços cruzados contra o peito e um sorriso convencido estampado no rosto.

— Bom dia, Margareth. – Ele piscou para a bibliotecária, e então entendi o que ele pretendia fazer. – Já te disse o quanto você está linda hoje?

Margareth-Úrsula-da-Pequena-Sereia apoiou-se na mesa com as duas mãos e avaliou James cuidadosamente.

— Engraçado. Não me lembro de você.

James colocou uma mão sobre o peito e fingiu uma falsa mágoa.

— Como você pode não se lembrar de mim, Margareth? Achei que o que nós tínhamos era verdadeiro.

A bibliotecária rolou os olhos.

— Ah, sim. Sei exatamente quem você é. – Ela o fuzilou com o olhar, como se ela realmente não gostasse da atitude dele. Senti um pouco de compaixão pela pobre Margareth, porque, cá entre nós, o cara era mesmo muito irritante. – O que quer aqui, seu desordeiro? Da última vez que te vi  na minha biblioteca você e seus amigos delinquentes quase foram expulsos. Querem repetir a dose?

James aproximou-se dela como se estivesse prestes a contar um grande segredo.

— É o seguinte, Margie. Eu meio que posso ter acidentalmente atrasado o trabalho de latim, então o professor resolveu pegar pesado comigo. Você por um acaso saberia onde posso encontrar alguma coisa sobre latim arcaico?

Ela semicerrou os olhos e apontou para uma seção mais lá no fundo.

— Seção F, as duas primeiras prateleiras. E se eu encontrar um único livro fora do lugar, vou garantir que você nunca mais ponha os pés nessa universidade.

James sorriu.

— Você é um anjo, Margareth.

Observei boquiaberta enquanto ele caminhava ao meu encontro, o mesmo sorriso convencido ainda estampado no rosto.

— Como... Como você fez isso?

Ele deu de ombros.

— Se tem uma coisa que a vida me ensinou, ruivinha, é que não importa onde esteja sempre vai existir um completo idiota por perto. Felizmente, para pessoas como a nossa Margareth ali, os completos idiotas são todos iguais.

Eu o encarei ainda completamente abismada.

— Tenho que admitir, foi meio inteligente da sua parte.

Ele piscou para mim.

— Nada demais para um cara que costumava planejar guerras, mas obrigado mesmo assim.

Rolei os olhos e o segui em direção à seção F da biblioteca. James soltou um muxoxo de desânimo ao encarar os únicos seis livros sobre latim arcaico nas prateleiras. Suspirei.

— Você olha esses três e eu olho aqueles três. Procure algum tipo de dicionário ou glossário em algum deles.

Não demos muita sorte. Apesar de alguns livros terem a tradução para algumas palavras, o latim arcaico estava escrito em forma de símbolos, e não em forma de sílabas como na mensagem de Hades. Bufei, derrotada.

— Estamos ferrados.

— Estamos ferrados. – James concordou.

Comecei a colocar os livros de volta nas prateleiras.

— Espero que o resto tenha tido mais sorte que nós.

— Meio improvável. – James ressaltou, recostando-se contra a prateleira.

Suspirei.

— Onde diabos vamos achar um tradutor de latim arcaico?

Aleph-qoph-waw-yod. — Uma voz desconhecida e relativamente infantil soou atrás de mim. – Isso é ‘aqui’ em latim arcaico, por sinal.

James encarava o visitante com uma expressão meio assustada, e quando me virei para encará-lo também, entendi o porquê. Estávamos encarando um garoto que não poderia ter mais que doze ou treze anos de idade, não passava muito dos um metro e quarenta de altura e tinha olhos cinza-prateados brilhantes e curiosos. Levei um tempo até conseguir esboçar qualquer tipo de reação.

Você fala latim arcaico? – James reagiu mais rápido que eu.

O garotinho deu de ombros.

— Depois de um tempo, é fácil ficar entediado com o latim normal. – Ele sorriu maliciosamente, e nem assim ele conseguia ser menos fofo. Era o tipo de criança que te dava vontade de colocar no bolso e levar pra casa.  – Meu nome é Harry, e vocês não são alunos daqui.

James e eu nos encaramos, nervosos.

Huh, como você sabe que não somos daqui?

O garotinho – Harry – cruzou os braços e nos encarou de maneira divertida.

— Meu pai é o reitor daqui. Sempre que venho passar a semana com ele, ele não tem muito tempo pra mim, então gosto de passar o tempo observando os alunos. Eu sei que vocês não são alunos daqui.

Eu abri a boca, pronta para tentar inventar uma desculpa, mas James me lançou um ‘fica quieta’ silencioso e voltou-se para Harry.

— Quantos anos você tem, garoto?

Harry estufou o peito, orgulhoso.

— Doze anos e meio.

James sorriu.

— Você é um garoto muito inteligente, Harry. Aposto que é um prodígio. – Harry assentiu. – Brilhante. Então o que acha de fazermos um trato?

O garoto sorriu maliciosamente, como um homem de negócios.

— E o que tem a oferecer?

— Gosta de história, Harry? Artefatos históricos? – Quando Harry assentiu, James puxou um medalhão que estava ao redor de seu pescoço. Até aquele momento, não havia percebido que ele o usava. Dava para ver que era feito de ouro, provavelmente alguma relíquia da família real. James abriu o medalhão, e dentro dele estava incrustado um brasão que carregava o selo da Inglaterra, o da Escócia, o da Irlanda e então o da Inglaterra de novo. Do lado esquerdo do brasão, um leão dourado com uma coroa na cabeça, e do lado direito, um unicórnio prateado. Eu não sabia direito do que se tratava, mas Harry parecia ter perdido o fôlego. James sorriu. – Isso mesmo. É a versão britânica do brasão de armas do Reino Unido. E sim, é o original.

Harry o encarou, e eu não sabia se era algo na maneira como seus olhos cinzentos brilhavam, ou no sorriso animado em seu rosto, mas ele era adorável.

— Como... Como você conseguiu?

James deu de ombros.

— Digamos que seja uma... Relíquia de família.

O garoto ergueu os olhos, como se tivesse medo de fazer a próxima pergunta.

— E você quer me dar? Tem ideia do valor desse medalhão?

James sorriu, bagunçando o cabelo de Harry com uma das mãos. Por alguma razão, meu coração deu voltas no meu peito.

— Acho que ele vai estar muito mais bem cuidado com você do que trancado em algum museu. E então, vai nos ajudar?

Harry assentiu freneticamente, os olhos cinzentos brilhando. James entregou o medalhão a ele, e o garoto encarou o objeto como se o Natal tivesse chegado mais cedo. Tirei o papel onde eu havia copiado a mensagem de Hades do bolso e o coloquei na mesa, ainda com minhas dúvidas a respeito do Harry saber latim arcaico.

— Precisamos que traduza isso aqui pra gente, Harry. É importante.

Ele pegou o papel e o analisou com cuidado antes de nos lançar um sorriso convencido.

— É só isso? Não vai levar nem cinco minutos.

Ele pegou uma caneta e outro pedaço de papel e começou a traduzir a mensagem. Quando terminou, me entregou a tradução e eu o encarei meio chocada.

— Um lobo está onde a alcateia está. – Li em voz alta. – Tudo bem, essa eu nunca teria adivinhado.

James colocou a mão no queixo, pensativo.

— Um lobo está onde a alcateia está. Isso significa que precisamos achar a alcateia.

Suspirei derrotada.

— Brilhante. Por que não colocamos Remus para uivar e esperar até que alguém responda?

James sorriu.

— Apesar de eu ter 99,9% de certeza de que você está sendo sarcástica, talvez não seja uma ideia ruim.

Bufei, e por um minuto havia esquecido completamente de que Harry ainda estava ali, por isso fiquei surpresa quando ele se manifestou.

— Não sei muito sobre procurar alcateias, mas tem um santuário animal a uns quatrocentos quilômetros daqui.

James e eu encaramos o garoto.

— E o que isso tem a ver?

Os olhos cinzentos de Harry brilharam quando ele sorriu.

— O santuário é mundialmente famoso pelos seus lobos. Uma alcateia inteira deles, é o que dizem.

Antes que eu pudesse agradecer ao nosso prodígio de doze anos e meio de idade, Lene entrou correndo na biblioteca, seguida de perto por Sirius, Dorcas e Remus.

— Sujou. – Sirius falou, arfando. – A coisa tá feia.

James e eu nos entreolhamos, e eu semicerrei os olhos.

— O que vocês fizeram?

Antes que qualquer um deles pudesse começar a explicar, dois seguranças imensos entraram na biblioteca e começaram a fazer perguntas para Margareth, a bibliotecária. Dorcas me olhou em puro desespero.

— Eu não posso ir para a cadeia. Você acha que eu tenho cara de alguém que sobreviveria na cadeia?

Remus ergueu uma mão.

— Eu tenho uma sugestão: corre.

Lene assentiu.

— Vamos ter que deixar a tradução para uma outra hora. 

James e eu nos entreolhamos e eu sorri.

— Sem problemas. Já sabemos exatamente para onde temos que ir.

Sirius grunhiu.

— Ótimo, então por que nós não vamos para lá agora? Antigamente eu escapava da cadeia porque meu melhor amigo era o príncipe, mas não acredito que isso vá ajudar muito no momento.

Rolei os olhos e me virei para o garoto ao meu lado.

— Harry, tem algum outro jeito de sair dessa biblioteca?

Ele pareceu pensar por alguns segundos.

— Tem a saída dos fundos, mas não tem como chegar lá sem que os seguranças vejam. – De repente, um sorriso malicioso tomou conta do seu rosto, e seus olhos brilharam de maneira assustadora. Ele era o exemplo perfeito de perigosamente fofo. – A não ser, é claro, que haja uma distração. Para a sua sorte, essa é a minha especialidade.

James inclinou a cabeça.

— Achei que latim arcaico fosse a sua especialidade.

— Também. – Harry sorriu antes de levantar-se e andar até a estante mais próxima. Com aquele brilho brincalhão no olhar, ele meio que me lembrava James. Quando entendi o que ele estava prestes a fazer, era tarde demais. Ele pegou um livro qualquer e jogou na cabeça de um cara sentado umas mesas atrás de nós antes de gritar:

— GUERRA DE LIVROS!

E então começou a Terceira Guerra Mundial. Livros voavam de todos os cantos da biblioteca. Tive que rir quando um atingiu Margareth em cheio, derrubando-a da cadeira. Dorcas me puxou pelo braço.

— Vamos dar o fora daqui.

Enquanto corria, ouvi a voz de Sirius em algum lugar atrás de mim.

— Gostei desse garoto. Podemos ficar com ele?

Eu ri.

O caminho até a saída dos fundos consistiu em desviar de todos os projéteis literários que passavam por nós – e quase sempre tivemos sucesso, exceto por quando eu fui atingida por uma cópia de Moby Dick e Sirius foi atingido por um livro em latim arcaico. Olhei para trás e encontrei Harry, encostado contra uma das paredes da biblioteca e parecendo se divertir com a cena toda. Imaginei que ele ficaria de castigo por isso, mas então lembrei do brilho brincalhão em seu olhar. Ele não se importaria em ficar de castigo. O medalhão de James brilhava ao redor do seu pescoço. Ele acenou quando me viu. Sorri.

— Vou sentir falta desse garoto.

James sorriu também.

— Ele definitivamente não brinca em serviço. Esse garoto tem futuro, e não me refiro ao latim arcaico.

 Apesar de tudo, eu estava orgulhosa. Quebrar a lei podia ser realmente renovador. Devia fazer isso mais vezes.


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Notas finais do capítulo

(ΦωΦ)



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