Os momentos com Eduardo se mostraram muito agradáveis. Dona Sarah precisava mesmo de alguém para ouvi-la. As vezes tudo que queremos é alguém que ouça nossas histórias e faça a gente se sentir querida.

Eduardo falou pouco dele. O menino ficou mais tempo ouvindo as histórias dela e prestando atenção a cada palavra. Quando chegou o momento dele ir embora a senhora sentiu uma certa tristeza e ficou se perguntando se ele voltaria para a visitar novamente, pois ela ficou tanto tempo sozinha e abandonada que tinha medo de se apegar novamente a alguém. Tinha certo medo de firmar uma amizade solida com Eduardo e depois o menino a abandonar.

Mas graças a Deus esse temores se mostraram falsos, pois Eduardo não a abandonou e nas semanas seguintes sempre a visitava. Quando estava próximo do Natal, o menino a surpreendeu quando disse que iria passar o Natal no asilo com ela e com os outros idosos. Ela achou isso muito estranho, mas não disse nada. Mesmo com o tempo o menino continuava fechado e não falava muito dele.

Durante o Natal era normal que grupos religiosos viessem ao asilo. Para fazer orações com os idosos e algumas outras atividades ligadas a religiosidade. Mas Sarah não lembra de nenhuma vez em que um adolescente tenha vindo por livre e espontânea vontade passar o Natal no local.

—O que lhe machuca tanto? – perguntou ela para Eduardo quando ele se preparava para sair, no dia em que ele havia dado a notícia de que iria passar o Natal no asilo

O menino a olhou como se não tivesse entendido a pergunta e disse:

—Como?

—Eu sinto que você tem uma tristeza muito grande no seu coração. Mesmo que você não fale, eu percebo isso nos seus olhos... Me conte o que lhe machuca tanto. Tenho certeza que isso tem alguma relação com o fato de você não querer passar o Natal na sua casa.

Por alguns momentos Eduardo ficou em silêncio e a senhora temeu que ele tenha de alguma forma se ofendido com as palavras delas, mas essa reação dele durou somente por alguns segundos, pois logo em seguida ele se sentou ao lado da senhora e começou a contar sua história desde o começo. Falou de como decepcionou sua família, das más amizades e tudo mais.

—Tem que superar isso. Você errou, mas admitiu seu erro e está tentando mudar. Você é um bom menino, Eduardo. Sua família vai perceber isso. Mas acho que o maior problema é o fato de você não ter conseguido se perdoar pelo que ocorreu.

O menino pareceu pensar por um tempo nas palavras dela. Pareciam que elas haviam atingido fundo  no seu coração.

—A senhora acha que consigo superar isso e afastar essa sombra da minha vida?

—Tenho certeza que sim. A base de tudo é você se perdoar. Vá vivendo sua vida, fazendo as coisas certas e antes que perceba esse evento do passado terá ficado no esquecimento.

Eduardo concordou com a cabeça e sorriu. Ele era um bom menino.

—Podemos fazer algo diferente no Natal.- falou o garoto depois de um tempo de silêncio- A senhora pode passar o Natal em casa comigo e com a minha família.

Um nervosismo atingiu dona Sarah. Suas palavras haviam atingido fundo o menino e ela sabia que foram elas que motivaram o  convite. Ela havia ficado tanto tempo sem sair do asilo que ficava nervosa, mas aceitou, pois era melhor que passar o feriado sozinha. Dona Sarah se sentia ansiosa de conhecer a família de Eduardo e um pouco temerosa, pois pela conversa que teve com o menino soube que ele e família tinham muitos assuntos mal resolvidos.