Cartas da paixão escrita por Moonpierre


Capítulo 1
Lembranças




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Não creio que ainda guardo isso, balanço minha cabeça olhando a pilha de cartas.

Ricardo, você é muito fofo, muito bonitinho, eu te amo, quer ser meu namorado?

( ) sim ( X ) não

-Da sua futura namorada Julia, quarto ano

Observei o X no não, estava no quarto ano do fundamental, mas abri um berreiro muito grande por essa recusa! Comecei a rir, na carta escrevi que o amava, como uma criança iria saber o que era amor? Atualmente culpo minhas amiguinhas da época - elas me diziam que eu deveria ter um namoradinho como elas, doce imaturidade, doce inocência, talvez seja por isso que guardo esse pedaço de papel - sempre me provoca risos, coloquei de lado.

Suspirei, será que guardar lembranças é bom ou ruim? Algumas me faziam chorar, em outras ria.

Abri outra carta, essa estava mais para bilhete.

Parabéns por ter passado no vestibular! Será uma ótima jornalista.
Assinado: Titia Anne

Sorri, essa foi uma das minhas maiores conquistas, coloquei ela na pilha das lidas.

Vamos para balada agora! Você tem que ir para balada, vamos, vamos, por favorzinho!

Minha amiga maluca da faculdade, Giovana, ela estava sempre insistindo para eu ir para esses tipos de lugares - o problema? Eu odeio baladas, o que posso fazer? Suspirei, abri outro bilhetinho:

Você sempre coloca poesia nos livros da biblioteca?

Esse era do Alexandre, do curso de engenharia, me lembro até hoje de como nos conhecemos, um jeito bem estranho para dizer o mínimo, havia deixado um poema meu em um livro - sim, tenho o hábito de deixar meus escritos em livros da biblioteca - assinado com meu nome, ele não se cansou até me achar, me dando um livro com esse bilhete dentro, viramos amigos, quem diria humanas e exatas se dando bem?, ri com esse pensamento besta.

Abri outra, quanto tempo mais vai demorar para eu conseguir ler todos esses papéis? Calculei uma eternidade.

Você é sempre assim tão quietinha?

Esse pequeno bilhete vinha de um galinha bonitão do meu antigo colégio, que eu detestava, por que ainda guardava isso? Aumenta meu ego, respondi minha própria pergunta.

Observei a pilha, havia uma com um laço vermelho colado, toquei meus lábios e quase chorei no mesmo instante, essa era de um amigo meu.

Querida Julia, como vai? Sabe... um dia a gente estava discutindo, antes de tudo o que aconteceu, qual era o significado da morte? Se lembra disso? Agora, não quero que chore, como provavelmente irá, afinal, sempre estarei com você, perto de seu coração, parece clichê, é, estou sendo um pouco piegas, porém isso não deixa de ser verdade.

Você bem sabe que cometi umas burradas (grandes) na vida, e sabe que tenho grande parte da culpa por elas, peço perdão por não estar mais aí perto de você, comendo batatas fritas no mcdonalds, apreciando o terror trash e observando você fazer certo sucesso no mundo literário.

Também quero dizer que a vida é uma jornada, ela é parecida com uma montanha russa, você nunca sabe qual vai ser a próxima curva que te trará para cima ou para baixo, de qualquer forma não estou com medo, somente te imploro para você ser feliz, sem mim, a doença está se alastrando rapidamente.

Assinado: Seu amigo, você sabe qual.

Lágrimas escorreram de meu rosto, por que isso teve de acontecer? A morte podia ter esperado, podia ter dado segundas chances - mas ela afinal, nunca faz esse tipo de coisa. Juliano se drogava, utilizava agulhas. Chorei novamente, ainda sentia raiva, ele poderia ter contado seus problemas para mim em vez de descontar tudo em alucinógenos, talvez eu ainda me culpasse por não ter estado ao seu lado quando ele mais precisava, delicadamente pus a carta de lado, ainda um pouco abalada, um suspiro saiu da minha boca, a vida poderia ao menos ser um pouco simples.

Coloquei as cartas restantes no meu guarda-roupa, me enrolei na cama, segurando um travesseiro, ainda não tinha superado nada disso, já fazia um ano, um maldito ano! Sequei meu rosto com os dedos, sentei-me segurando meus joelhos, me sentia indefesa, vulnerável, como se nada fizesse mais nenhum sentido, fechei minhas pálpebras, fingindo que tudo não passava de um pesadelo - como eu ousava tentar me enganar? - e quando percebi de manhã, já havia dormido e estava acordando. Nada faz sentido, pensei novamente.


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