Tudo está calmo, macio e aconchegante. Seu corpo não está mais doendo tanto. Ele sente um cobertor quente sobre suas asas e uma boa parte do corpo, sente que sua cabeça deita sobre algo muito ... Fofo ? Também começava a sentir um suave toque em seu pescoço, um toque que ia e voltava, um carinho meigo o acordando ...

Ele abriu suavemente seus olhos, estava sonolento e tudo ainda estava borrado ao seu ponto de vista, tentava forçar seus olhos a focar naquela coisa que estava bem a sua frente, não conseguia ver mais que pixels mal distribuídos no seu campo de visão,
Tudo começa a se formar aos poucos diante de seus olhos sonolentos, todos aqueles pixels começam a fazer sentido. A primeira coisa que vê, uma criatura, uma criatura olhando diretamente para seus olhos, está bem acima dele.

Olhos de um amarelo mel, olhos meigos o encarando de volta. Longos cabelos dourados presos em uma única trança para trás, um rosto jovem e aparentemente gentil.

— Como vai, garotão ? - A provável fêmea, falou com uma voz um pouco forte e um leve sotaque caipira, Ele não entendeu muito bem, mas não soava como algo ruim, ele ficou mais tranquilo.

Ele olhou de forma mais profunda nos olhos da fêmea, não passava muitas coisas na cabeça dele, apenas sentia curiosidade e nada mais. Abriu um sorriso mostrando todos os seus dentes afiados e grandes, estava apenas alegre, ele não sabia o porquê.

A fêmea sorriu delicadamente e falou - acho que isso é um sim - logo depois segurou a cabeça do dragão com certa dificuldade e a tirou do seu colo.

O dragão por sua vez ficou confuso, apenas com certa dificuldade se pôs sobre suas quatro patas, o cobertor caiu dele e ele deu uma olhada rápida, notou ser bem mais alto que a fêmea estranha... Ou ele era o estranho ? Passou despercebido pelos machucados enfaixados.

Ele parou para observar ela, por sua vez, ela também se virou e ficou o olhando por um tempo.

Ele achou engraçado, ela usava calças jeans um pouco velhas, uma camiseta vermelha com bolinhas brancas de mangas longas, era bem simples e rudimentar, usava botas pretas que por si só já estavam sujas de lama.

Ela o olhava curiosa e tinha um brilho em seus olhos. Olhava as magníficas asas do dragão que estava em seu celeiro, fitava seus olhos vermelhos sangue, suas grandes garras, suas escamas negras que brilhavam com a luz do luar que passava por uma das janelas da parte de cima do celeiro, sua longa cauda com uma lâmina em forma de foice na ponta, seus chifres envergados para trás, seu longo focinho ao qual suas duas presas apareciam mesmo com sua boca fechada.

Ela simplesmente havia achado um dragão na sua viagem de volta da cidade, ela cuidou dos seus machucados e ele parecia "alegre", ela achou que ele pode simplesmente ser seu amigo, talvez possa mas, um dragão ? Não parece algo muito seguro apesar dele estar machucado, bem... Ela sabe por onde começar, seus livros sobre fantasia de cavaleiros e dragões mágicos, deve servir para algo.

Ela começou a andar em direção ao dragão, passos curtos e leves. Durante seu primeiro passo o nosso dragão ficou meio curioso e logo disse.

— por que está andando assim ? - nosso dragão perguntou com um tom curioso e logo olhou de lado.

Quase que na mesma hora que ele falou, ela simplesmente parou e ficou o olhando com cara de idiota - vo-você fa... Ah... Qual o seu nome ? - indagou envergonhada pela sua estupidez.

— Eu, eu... Eu não me lembro ...- disse nosso dragão meio constrangido e logo depois em um piscar de olhos, se esgueirou para um canto onde ele simplesmente sumia na sombra.

Aproveitou para observar o celeiro que estava vazio com a exceção de dois cavalos em um canto, as paredes eram de uma madeira pintada de vermelho. A iluminação era fraca, apenas haviam duas iluminarias de vidro que por si não iluminavam quase nada.

A garota se ajeitou um pouco pomposa e voltou a questionar o dragão - Como não sabe ? - indagou novamente com seu leve sotaque caipira.

O dragão botou apenas sua cara para fora da sombra e disse - Eu apenas não sei... Não consigo me lembrar de nada, nada antes de acordar numa caverna a beira de uma estrada de terra. As coisas em minha cabeça parecem tão confusas e fragmentadas ... Coisas simples parecem confusas - soltou um leve gemido estranho, respirou fundo e voltou a falar - eu olho para mim mesmo e simplesmente sei que minhas escamas são pretas, mas não tenho certeza, olho para o celeiro e sei que é vermelho, mas, não me lembro de como sei disso, olho para lua agora... Sinto algo estranho dentro de mim ... - logo desabafou, o dragão sem nome.

— Nesse caso... Mi desculpa, não tinha a intenção di ti machucar. Mas... Ainda acho que ocê precisa de um nome. - falou a garota de forma bastante expressiva, gesticulava com suas mãos e parecia bem nervosa.

O dragão a olhou bem, sabia que estava certa, apenas achou que não dava para viver sem um nome, como poderia ser chamado assim ? Perguntou dentro de sua própria cabeça, logo depois chegou a uma conclusão lógica - Do que pretende me chamar ? - indagou o dragão que ainda se escondia nas sombras do celeiro, agora caminhando em círculos em volta da garota de forma amedrontadora.

Ela acabou ficando assustada, quase tropeçou no nada e logo disse - Perdão mas... Por que eu ? - comentou a garota amedrontada.

— Pense, você deu a ideia - o dragão falou sinistramente enquanto continuava a dar voltas envolta dela.

— Eu teria uma ideia se ocê parasse de me rodear - A garota falou amedrontada e se encolhendo um pouco.

O dragão saiu da sombra como uma cobra sai da toca. Logo depois ficou encarando a garota enquanto fazia uma pose ereta, de cabeça erguida a olhando pelo canto do olho.

A garota olhou para ele um pouco assustada e logo disse - Eu me chamo Fernanda, mas ocê podi me chama de Fer. - ela se ajeitou de uma forma mais normal e botou uma mão no ombro do dragão com cuidado - Do que ocê gosta lagarto com asa ? - indagou tentando parecer alegre.

Mais uma vez o dragão ficou confuso - eu não tenho certeza, acho que do escuro, ele faz eu me sentir bem ... - falou e logo deixou de fazer toda aquela pose, já ficava a altura da garota. Agora a encarava frente a frente.

Ela ficou nervosa e disse a primeira coisa que veio em sua mente - então ocê gosta de ficar no escuro ? Perfeito, que tal te chamar de Sombra ? - terminou de falar com um sorriso meio bobo e dando de ombros.

O dragão ficou um pouco confuso e depois soltou um leve ar, ele riu um pouco por dentro. Aproveitou e comentou - É um pouco estranho mas... Acho que eu gostei - Soltou um leve sorriso.

A Fer, logo acariciou brincando a cabeça do Sombra e perguntou - está com fome ? -

Sombra voltou a andar sinistramente em direção a ela, esticou seu pescoço até a ponta de seu focinho ficar do lado do ouvido dela e disse - Sim... - falou junto a um sibilar de sua língua, parecia uma cobra. Provavelmente só queria assustar ela, ele conseguiu.

— Oh, ou. Não sou comida de lagarto não...- falou sentindo um arrepio por sua espinha.

Sombra se ajeitou novamente e soltou uma leve risada, botou uma asa na frente de sua boca na hora, pra esconder isso. - estava brincando com você, tinha que ver sua cara - disse Sombra.

A garota por sua vez ficou um pouco constrangida e caminhou até a porta do celeiro - Eu vou buscar algo pra você, não come os cavalos, por favor. Apenas espere aqui dentro, não saia nem faça barulho - terminou de falar e fechou uma porta lateral do celeiro ao qual ela saiu.

Logo após sair ela deu uma acudida nas mãos, animada e falou só pra ela ouvir - Ele tem senso de humor, e eu tenho um dragão! - Com extrema emoção.

Tudo ficou calmo e Sombra apenas deitou embaixo de uma das janelas do teto, ficou de barriga para cima, as suas asas estavam abertas, ficou. Com uma expressão curiosa olhando a lua, ele sentia algo estranho quando a olhava. Sabia que havia algo dele ali ... Algo que estava fazendo falta...

—---- FIM DO TERCEIRO CAPITULO -----