Capítulo 10 (Final) - This I Love

“Eu esperava que ela nunca me deixasse

Por favor, Deus, você tem que acreditar em mim

Eu procurei em todo o universo

E me achei

Dentro dos olhos dela”

Guns N’ Roses, This I Love.

Ele não perguntou nada, apenas a abraçou até que ela parasse de tremer.

Ela não queria falar nada, apenas ficou enroscada em seu abraço caloroso.

Passaram longos minutos daquela maneira até que ela finalmente voltou a realidade, lembrou-se de tudo que tinha acontecido aos poucos, e quando olhou nos olhos de Edmundo, sentiu novamente um enorme nó na garganta.

— Desculpe. — sussurrou com a voz frágil, enquanto seus lábios tremiam.

O moreno fez um breve cafuné na garota e sorriu de forma compreensível. —  Não tem problema Angie, venha, sua irmã deseja te ver.

Angie estremeceu ao pensar na irmã, mas assentiu de leve com a cabeça. Na sua mente se passavam milhares possibilidades do que poderia acontecer, a pior delas era ver sua irmã chorando por ter arruinado seu casamento. A única irmã que ela tinha, que mal tinha acabado de conhecer, e tinha acabado com o sonho dela, se casar. Casamento, não era algo que Angie queria para si, não conseguia  se imaginar em um altar fazendo juras de amor para viver com alguém eternamente, era muita responsabilidade. Mas sua irmã era seu completo oposto, seu sonho era estar em um altar.

A garota estremecia quanto mais próxima ficava do quarto da irmã, sentia suas mãos suarem e a boca secar ligeiramente.

— Irei deixar você e ela sozinhas, caso precisar de mim, me chame. — Edmundo deu um sorriso torto, como se aquela pequena frase não fosse exatamente tudo o que ele queria dizer e mostrar para ela. Era visível que o garoto desejava falar para ela como estava se sentindo, acontecia que o momento não era muito oportuno.

Angela abriu a porta do quarto, deparando-se com sua irmã gêmea.

Diferente de todas as reações que ela imaginasse que a garota teria, Louise sorria maliciosa com os olhos estreitados.

— Sempre soube, você sempre ficava corada na frente dele. — dizia sorrindo — Faz todo o sentido.

— Eh, eu posso explicar. — Angie estremeceu sem coragem para dar um passo a mais em direção da princesa.

— Edmundo me explicou tudo, — a irmã riu da cara de nervoso de Angie a deixando confusa. — Angel, eu estou apaixonada por outro. E Edmundo claramente está apaixonado por ti.

Ela piscou tentando processar a informação que não parecia querer entrar em sua cabeça.

— Você acha? — foi a única palavra que saiu de sua boca.

Angie se sentiu extremamente egoísta por ter pensado em Edmundo naquele momento, corou de leve e balançou a cabeça afastando pensamentos que envolvessem um certo rei.

— Mas e o seu casamento? — disse ficando desesperada — Você o ama também.

Louise sorriu amável para a irmã, negando com a cabeça. — Não Angie, achei o amor em outra pessoa.

A irmã arqueou as sobrancelhas, achado o amor ha?

— Apesar de tudo o povo ainda precisa de um casamento, — ela disse com um suspiro pesado — então eu me casarei com Edmundo, para unir nossos reinos.

Louise analisou a reação triste de Angela, sabendo de cara que a irmã não tinha gostado muito da ideia. Mas mesmo assim, ela sabia que era errado discordar.

— Assim que o casamento acabar, daremos alguns anos para fazermos o divórcio, mas está tudo sobre controle. — Louise sorriu.

— Por quê divórcio? — Angie não parecia entender muita coisa da conversa e estava extremamente confusa sobre.

— Ainda chegaremos neste ponto Angie, — a irmã sorriu — assim que o casamento acabar eu, você, Edmundo e Bruce…

— Bruce? — Angie já estava com a testa franzida.

— Meu noivo.

Foi aí que tudo pareceu se encaixar perfeitamente bem como um quebra cabeças para Angie, então todos já tinham dado conta de tudo. Tudo iria ficar bem, afinal.

— ...Como eu ia dizendo, iremos para um castelo só nosso. Eu com Bruce, e você com Ed. Dois anos depois eu pedirei divórcio de Edmundo, até lá arranjaremos um motivo plausível. Eu sei que é difícil Angie, mas é o máximo que conseguimos fazer. — Louise sorriu torto por fim.

Angie assentiu de leve com a cabeça, sentindo que aquela era a sua melhor oportunidade.

(...)

— Você sabe que não é obrigada a ver isso, se você não quiser.

—  Eu devo isso a mim.

O garoto franziu a testa enquanto observava a garota, no fundo ele só conseguia pensar em como ela era corajosa, ver a “mãe” sendo executada na sua frente. Angie não concordaria com seu pensamento, Mary não era e nunca foi sua mãe, mas apesar disso, ele ainda estava surpreso com ela.

Angela era uma caixinha de surpresas, restava a ele conhecer ela melhor.

—  Deve?

— Sim, minha infância toda foi baseada em uma mentira. —  ela hesitou em tirar os olhos da mulher que a olhava sadicamente para olhar Edmundo —  as vezes nós temos que enfrentar os monstros de baixo de nossa cama, e seguir em frente.

Ela olhava decidida para Mary, e a mulher lhe retribuía o olhar com um sorriso de orelha a orelha. Quem diria que ela morreria sorrindo e não em uma cama adoentada? Talvez ninguém realmente saiba o que de fato aconteceu naquela casa anos atrás, e talvez ninguém venha a saber. E talvez nem mesmo Angela obtivesse as respostas que ela tanto queria.

— As vezes a loucura não tem resposta ou justificativa, esse é o caso dela, —  a garota disse desviando o olhar para Eddie que apesar de preocupado estava admirado com a menina —  eu espero que um dia ela volte a ser sã, talvez em uma outra vida.

Edmundo ficou sem palavras por alguns instantes, e apenas a abraçou, como se seu abraço fosse protege-la de toda a maldade do mundo afora. Angie sorriu com a preocupação do garoto.

—  Seria egoísta da minha parte dizer que eu estive preocupado contigo todo o tempo que vocês esteve fora, e que, eu não quero que você parta nunca mais? —  ele sussurrou em seu ouvido causando-lhe arrepios e um sorriso de canto.

—  Não, Eddie, seria uma honra na verdade.

(...)

— Por Aslan, Eddie! —  a Rainha Angie resmungou arrumando o colarinho da camiseta de Edmundo — quando você vai arrumar esse colarinho?

O moreno sorriu enquanto a menor arrumava cuidadosamente o colarinho da blusa.

—  É só um colarinho amor. —  disse com seu típico sorrisinho de canto, fazendo a Rainha revirar os olhos e dar um tapinha de leve no ombro do homem.

— E um rei deveria ir apresentável para uma caçada. —  ela falou fazendo um biquinho com os lábios um tanto manhosa.

Edmundo lhe roubou um selinho fazendo a mulher corar, podia ser um ato tão simples e cotidiano, mas mesmo assim fez Angie corar como na primeira vez que o conheceu.

—  Eu sei que você está fazendo isso apenas pra me atrasar anjo, —  a garota abaixou o olhar voltando a corar mais do que o normal —  te conheço o suficiente para saber isso. E você não precisa ficar envergonhada.

Angie balançou a cabeça sorrindo por um momento.

—  Você tem razão, eu estou te atrasando. —  a garota acariciou o rosto do namorado. —  bem, eu também tenho que ir visitar Louise e, a minha sobrinha.

Uma certa época Angie descobriu que era estéril, não foi muito difícil para ela lidar com isso, não era algo que ela tinha sonhado para si, mas para Eddie fora difícil de aceitar. Afinal, isso é outra história, algo que o tempo os ajudou a superar juntos.

—  Então, pode ir. —  ela sorriu.

Os dois trocaram um beijo apaixonado, e se despediram.

—  Volte logo.

Ela disse, mas ele já estava longe demais para poder ouvir.

Mesmo assim ela sorriu sozinha e tomou seu caminho.