Capitulo IV

O preço

Ela devia estar louca.

Insana.

Completamente pirada.

—Eu?- Era um eco da sua afirmativa, cheio de ironia e incredulidade latente.

Como pude vir até  aqui com um pouco de esperança?

Aquilo tudo era irreal.

Emma estava morta! Morta. Não... Não havia retorno para isso.

—Sim. Você é a única pessoa capaz de retornar o equilíbrio e estabilidade do nosso sistema .-Ela agarrou meu pulso, tentando me manter ali, com ela.- Você pode impedir um colapso.

—Você é insana!- Gritei, desvencilhando-me do seu aperto.

 Eu queria correr. Sair daquele navio imundo e sem serventia para qualquer lugar onde a luz do sol não tocasse. Onde não existia mais vida ou lembrança, apenas o vazio do esquecimento.

—Pensei que você amasse mais Emma- Desafiou, antes mesmo que pudesse pular fora daquele amontoado de madeira e velas.

—Você não pode trazer ela de volta- Cuspi, inclinando a cabeça para o lado. Meus lábios tremiam e as mãos estavam úmidas com o nervosismo.

—Eu não teria vindo de tão longe com o orgulho de uma promessa falsa.-Seu cabelo dourado chicoteava seu rosto com a força do vento e do pressagio de uma tempestade- Estou te dando uma chance que irá beneficiar nós dois!

—Se você pode trazer as pessoas de volta a vida, porque não resgata Peter Pan!- Retruquei, o tom de voz aumentado, tentando torná-la mais evidente que o grito da ventania.

—Eu...Não é possível!- Ela cerrou os punhos- Não é possível trazê-lo de volta. Está inacessível para qualquer um!

—Mas...

—Precisamos de você Killian Jones- Implorou a sereia, um misto de nervosismo e clemência- Não apenas meu povo e as Criaturas Livres. Sua alma metade, sua bela e inestimável Emma precisa de você. Ela se transformará em pó e lembranças se o seu... Orgulho maldito estiver o controlando.

 Aquela palavra novamente... Orgulho. Tantas vezes escutara ela antes; tantas bocas sussurraram aquela acusação. Deixara de ser um adjetivo e se tornara parte de mim e de quem era.

 Mesmo assim, nunca pensei que tal seria capaz de me colocar em combate contra meu verdadeiro amor.

 Seria ele que estava me impedindo de dizer “sim”? Ele era forte o bastante para isso?

 O que era certo fazer?

 O que eu devia fazer?

—Qual é a garantia que irá trazer Emma Swan de volta?

 Sua resposta seria o primeiro passo para minha decisão final.

—E qual seria minha garantia?- Sibilou-  Posso te dar minha palavra e sangue, mas você...- Ela semicerrou os olhos- Você não pode me dar nada.

—Então quero o seu juramento- Desafiei em alto tom.

 Ela sorriu.Havia sarcasmo e delicadeza, acompanhado de um olhar penetrante e sedutor. Criaturas do mar, seres indomáveis e sem perdão não estão acostumadas a serem desafiadas. Elas que controlam e manipulam os habitantes da superfície... Não o contrário.

—Eu não costumo fazer isso, capitão... - A donzela retirou uma pequena adaga do bolso de sua blusa, um objeto afiado e perigoso- Mas... Farei uma exceção...

 Ágil como uma serpente, num golpe brutal e felino, a sereia cortou sua palma aberta, um ferimento profundo e que ungia o chão com sangue carmesim. A dor momentânea passou pelos seus olhos apenas um segundo, antes da coragem e a determinação surgir novamente.

—Eu juro, pelo meu sangue que eu trarei sua Emma de volta- Prometeu, fechando seus dedos, enquanto gotas compassadas escorriam mais rápidas.- Pelo meu sangue... Eu juro!

 Sorri, ironicamente.

—È o melhor que você pode fazer?

—E segurar a mão gelada de um cadáver? È o seu melhor, Hook?

 Meu coração parou por um segundo.

—Pronto para cumprir sua parte do acordo?

 Dei um passo para o lado, seguido de outro. Sentia-me acuado como uma corsa aos pés de um faminto leão.

—Eu ainda nem sei qual seria esse acordo!

—Você sabe, Hook- Ela seguia meus passos, cada um deles – O acordo é você salvar meu povo e eu salvar o que você ama.

—E isso é justo para você?

—Tudo tem um preço a pagar. Tudo. Desde um brinquedo, até mesmo sentimentos. E não existe sentimento mais bonito, perigoso e caro que o amor.- Seus dedos finos e ágeis agarraram uma mecha de cabelo solto, posicionando-o atrás de sua orelhas levemente pontudas.

—Sim. Sempre.

 Nós dois sabíamos o que aquela frase queria dizer.

—Está pronto, Hook?Pronto para pagar o preço para que ela viva?

 Não havia mais relutância.

—Eu estou.

Não havia mais duvida.

Não havia mais... Como voltar.

—Vai dar tudo certo, Killian. Eu prometo- Sussurrou doce e calma, como se estivesse cantarolando uma canção para uma criança.

  Repentinamente, perdi controle sobre meu corpo. Fraqueza e escuridão brigavam pelo controle da consciência e que aumentava a cada batimento. Deslizei suavemente de encontro ao solo, confuso e com medo, sentimentos que pareciam mais fortes e conectados do que de costume.

  Escuro...

  Escuro...

  E uma voz...

—Desculpe-me Killian, mas esqueci de avisar-lhe que... Você não irá se lembrar mais da Emma. Nunca mais...

 “Não”. Tentei dizer, mas era tarde... Estava ocupado demais para o desespero encontrar um som, minha própria voz. Tudo que me restara era uma sensação ininterrupta de trevas e vazio.