Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 6
Capítulo 6




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Observo Katniss dormindo, envolvendo Prim, nossa pequena filha, em seus braços. Sorrindo, concluo meu desenho. Aposto que daqui a alguns anos quando Prim estiver grande, Katniss ira gostar de relembrar de coisas como estas. De como é bom poder proteger algo que se ama tanto, algo tão frágil como esse bebê. É assustador, e ao mesmo tempo maravilhoso. Observo o desenho, que ficará gravado permanentemente no livro de memórias de Katniss, e agradeço por poder ser tão feliz. Prim se espreguiça, antes de abrir seus grandes olhos azuis e me encarar. Apesar de ela mal ter se mexido, Katniss desperta imediatamente, assustada.

– Hey, está tudo bem. Nossa garotinha apenas acordou – eu tranquilizo Katniss. Eu sabia que ela seria uma ótima mãe, porém seu instinto protetor ás vezes me preocupa. Sem que ela saiba, tenho adoçado seu chá da noite, com xarope para dormir. Caso contrário, ela fica a noite toda acordada velando o sono de nossa filha, temendo que algo ruim aconteça. Já cansei de dizer para ela, que os monstros agora habitam apenas em nossas mentes. Mas isso é algo de que ela nunca vai se convencer. A prova disso é quando mesmo a base de xaropes, ela desperta no meio da noite gritando e chorando. Conclusão, Prim também acorda chorando, e eu tenho que tentar acalmar as duas mulheres da minha vida ao mesmo tempo, o que claramente não dá muito certo. É injusto eu reclamar, mas apesar de toda felicidade, me sinto extremamente cansado a maior parte do tempo. Tive que contratar um ajudante na padaria. O garoto não tem muito dom, mas é esforçado. E, além do mais, como eu poderia negar um pedido de Pollux para empregar seu filho?

– Eu não devia ter dormido – Katniss murmura, enquanto pega a filha nos braços e a olha com devoção.

– Você não pode ficar sem dormir para sempre. Nem conseguiria – eu digo, e dou um beijo em sua testa, e depois beijo o rosto de Prim, que solta alguns gritinhos na tentativa de balbuciar alguma palavra.

– É incrível o quanto ela cresce – Katniss diz, e sorri para mim. Afago os grossos cabelos negros de minha filha e tenho que concordar com Katniss.

– Annie acha que ela vai começar a falar e andar logo. Qual você acha que será a primeira palavra dela?

– Sem ofensas, mas eu espero que seja mãe – Katniss diz, e começa a rir. E então seu olhar se detém sobre seu livro que está em meu colo. – O que é isso?

– Ah, eu estava apenas desenhando vocês duas dormindo. É algo muito bonito de se ver. Achei que você pudesse gostar – eu digo, e de repente me sinto um pouco envergonhado. É sempre assim quando mostro um desenho meu a Katniss. É como se nada fosse bom o suficiente para ela. Na verdade, isso é coisa da minha cabeça, visto que ela sempre se mostra encantada com as coisas que faço.

– É lindo, Peeta – ela diz, e sorri abertamente, me puxando para mais perto com seu braço que não está segurando Prim.

Eu abraço as minhas duas preciosidades, e em seguida colo meus lábios nos de Katniss, beijando-a suavemente. Somos tirados de nosso íntimo momento, com a chegada de Haymitch em nosso quarto, sem sequer bater na porta.

– Bom dia casal – ele praticamente grita, e em seguida pega Prim dos braços de Katniss. – Bom dia docinho.

Prim se agita nos braços de Haymitch, gargalhando, enquanto ele a enche de beijos.

– Haymi!

Katniss e eu nos olhamos atônitos. Haymitch arregala os olhos, e olha de Prim para nós.

– É impressão minha ou ela disse meu nome? – ele murmura.

– Haymi – Prim diz, desta vez bem alto.

Haymitch começa a rodar com Prim, por nosso quarto, enquanto dá risada e lágrimas brotam em seus olhos ao mesmo tempo.

– Eu não acredito que a primeira palavra de nossa filha foi o nome de Haymitch – Katniss diz, parecendo brava, mas não resiste e acaba dando risada.

– Contrariando todas as expectativas – eu digo, rindo, e emocionado por ouvir Prim falar pela primeira vez. – Acho que ela de fato puxou você.

Katniss me dá um cutucão, e enxuga os olhos com as costas da mão.

– Eu já disse o quanto eu te amo, hoje? – eu sussurro, no ouvido de Katniss visto que Haymitch não parece prestar atenção em nada, a não ser em Prim.

– Ainda não – ela responde, enquanto acaricia meus cabelos. Pigarreio.

– Eu amo você, mais do que você imagina ser possível – digo, enquanto a puxo para mais perto e abraço seu corpo.

Katniss fica em silêncio, seu calor irradiando por meu corpo.

– Eu também te amo, Peeta. Mais do que eu imaginava ser possível – ela diz por fim.

E num ritmo inesperado os dias vão passando, muito rápido. Depois de sua primeira palavra, Prim desatou a falar. A segunda palavra que ela falou, foi carne. A terceira, seu próprio nome, Prim. A quarta foi Jo, que eu acredito ser de Johanna. A quinta foi mãe, e por fim, ela disse pai. E muitas outras se seguiram após estas. E como Annie previu, ela logo começou a andar. Logo começou a descer sozinha as escadas para a padaria, e sua maior diversão parecia me assistir trabalhar, se enchendo de farinha também. Prim foi crescendo perante aos meus olhos, e mesmo assim ás vezes eu mal acredito em como ela pode estar tão grande. Graças a ela, nossa casa sempre permanece com visitas. Não há quem não ame ficar perto dela. Johanna até adquiriu uma casa aqui perto. E afora as costumeiras visitas que envolvem Haymitch e Effie que estão quase sempre juntos e apesar de não admitirem também não fazem questão de esconder o namoro, há também Carolynn, Annie, Pollux com sua esposa, e Cressida que também nos visita bastante. Delly nos enviou um cartão recentemente nos parabenizando. Me pergunto como ela está, e se achou alguém que a merecia, que a amasse. Porém uma certa ausência, desperta incomodo em todos. A mãe de Katniss nunca apareceu. Sequer ligou. Nem Gale. Katniss não me diz nada, mas eu sei que ela sente a falta da mãe. Sei que ela gostaria que nossa filha conhecesse a avó. Mas esse tipo de coisa já não está ao meu alcance.

Agora, Katniss começou a levar Prim para a floresta. Ela não caça, mas fica horas lá, ensinando Prim sobre a variedade da vegetação, os nomes dos animais. Quando Prim alcançar a idade de ir para escola, aposto que será a melhor aluna, pois Katniss tem sido uma ótima professora.

E é em meio a essa paz e essa felicidade que chega a transbordar, que eu sinto que algo ruim pode acontecer, quando Katniss pede para eu leva-la ao hospital, sem me dar explicação alguma do motivo.

– Eu estou grávida, Peeta – Katniss diz, e corre para meus braços, com o rosto banhado por lágrimas assim que sai do consultório do médico.

– Não pode ser – eu murmuro, enquanto abraço Katniss, e o horror de achar que eu havia perdido Katniss e Prim durante seu parto anos atrás, me acomete. A dura recuperação de Katniss, os dias sem fim no hospital... Tudo me atinge de um modo avassalador. É como se o chão tivesse sido tirado debaixo de meus pés. O médico aparece no corredor, e sua expressão de pesar deixa bem claro, o quanto isso será perigoso. O quanto essa gravidez pode ser fatal. Sem forças nem para me sustentar, me forço a permanecer em pé, pois agora preciso dar toda a minha força para Katniss.

– Eu não quero – ela murmura sem parar em meio aos seus soluços... – E se eu morrer desta vez? Eu não quero... Eu não posso...

– Vai dar tudo certo – eu digo, tentando tranquiliza-la, mas minha voz embargada me trai, e tudo o que eu consigo é parecer tão desesperado quanto ela.

Penso em Prim, em casa, provavelmente aprontando alguma coisa estando aos cuidados de Johanna, e as lágrimas se tornam incapazes de segurar. Prim não pode ficar sem mãe. Eu não posso ficar sem Katniss.

– Vai dar tudo certo – eu digo mais uma vez, enquanto me forço a acreditar nessas palavras. Pois essas palavras são tudo o que eu tenho para me apegar.


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