Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 5
Capítulo 5




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É estranho se sentir totalmente vazio. Minhas lágrimas cessaram faz algum tempo. Eu me limito a encarar as paredes branca do hospital. O desespero deu lugar a um constante estado de desolação. Ainda não obtive notícias de Katniss. Sobre a criança, já desisti de esperar por algo. Não tem como explicar qual a sensação de segurar um filho nos braços para depois perceber que não há vida ali. Não sei nem a quantas horas me encontro aqui, sentado numa cadeira no fim de um corredor. Só sei que não consigo sair daqui. Uma mão reconfortante pousa em meu ombro. Viro minha cabeça, e esse simples esforço faz com que eu sinta uma leve tontura. E então me deparo com os fundos olhos de Haymitch, que parece ter chorado tanto quanto eu. Ver alguém tão familiar, que esteve tão envolvido na gravidez, e que está diretamente ligado ao fato de Katniss e eu termos sobrevivido a tantas coisas ruins no passado, faz com que lágrimas surjam, apesar de eu me achar incapaz de chorar mais do que eu já chorei. Então eu o abraço desesperadamente, pois a constatação do inevitável me atinge com uma força descomunal. Talvez eu tenha perdido. Tudo.

– Vai ficar tudo bem – Haymitch diz, tentando em vão me confortar. – Acredite em mim, vai ficar tudo bem.

– Mas você não viu – eu murmuro... – a criança sequer chorou ao nascer... E Katniss... ela....

Não consigo terminar. Não consigo dizer, que o coração de Katniss parou. Não consigo acreditar.

– Sr. Mellark? – uma voz me alcança.

Me desvencilho de Haymitch e encaro o médico que me chama. Pela sua expressão não consigo decifrar absolutamente nada. Seja o que for que ele tem para dizer, terei que estar pronto para enfrentar.

– Como está Katniss? – eu pergunto, sentindo todo meu corpo estremecer.

– Ela está... Olhe, vou ser franco – o médico começa, e respira fundo. - O estado dela ainda é grave, mas acredito que ela não corre risco de vida. Por ora.

Todo o resto perde a importância. Pois agora eu sei que ela está viva. Olho para Haymitch que agora controla suas lágrimas, e ambos sorrimos de uma maneira quase insana. Katniss está viva.

– O sr. pode me acompanhar? – o médico prossegue, visto que eu não consigo dizer nada, devido ao meu enorme alívio e felicidade. Apenas assinto, e deixando Haymitch a me esperar, sigo o médico por outro longo corredor.

Ao chegarmos em frente a uma enorme porta, ele a abre, e faz menção para que eu entre. Ao entrar, vejo algumas espécies de berços. Todos estão vazios. Me pergunto porque ele me trouxe até aqui. E quando estou prestes a fazer essa pergunta em voz alta, um movimento bem no canto da sala, me chama a atenção. Nem todos os berços estão vazios. Sem controle sobre meu corpo, eu caminho até a criança, que agora chora bem baixinho. Estaco na frente de seu berço, e sinto a presença do médico ao meu lado. Olho para ele, completamente aturdido, tremendo.

– Esse é... – sussurro, mas não consigo terminar quando ele balança a cabeça afirmativamente.

– Essa é sua filha – ele diz, e sorri abertamente. – Meus parabéns.

Levo as mãos ao rosto. Eu não posso acreditar.

– Mas... ela... não estava se mexendo, não chorou...

– Isso é pouco comum, mas ás vezes acontece. Depois de vários exames, posso alegar que sua filha é perfeitamente saudável. Apesar de ter sido um parto prematuro ela tem um bom peso. Não há com o que se preocupar quanto a ela – o médico assegura.

Começo a rir. Em seguida, começo a gargalhar, enquanto grossas lágrimas de felicidade me encharcam.

– Céus... Eu sou pai – praticamente grito, enquanto a felicidade me preenche.

– Pode pegar ela no colo, se quiser – o médico incentiva. Eu sequer hesito. Tomo a pequenina menina em meus braços. De imediato um amor fora do comum, um amor incondicional, me toma por completo. Minha filha.

– Minha linda filha – sussurro, enquanto roço os lábios em seus cabelos escuros.

A menina reage de imediato ás minhas palavras, e seu choro cessa, como se ela estivesse interessada em me ouvir. Seguro ela bem firme, junto ao meu peito. É tão grande esse amor que chega até a doer. Parece não caber em meu peito.

– Eu sou o seu pai – eu murmuro. – Bem-vinda ao mundo...

O médico ainda está ao meu lado, claramente emocionado.

– E como ela vai se chamar? – ele pergunta.

Katniss e eu ainda não tínhamos discutido sobre isso. Ela alegava ter que ver o bebê, para saber qual nome iria ser mais adequado. Ela achava que ia sentir na hora. Eu secretamente achava isso um pouco de bobagem, mas nunca falei. Mas agora, percebo que ela estava estritamente certa. Pois eu sinto, que não haveria outro nome que poderíamos dar. E sei que Katniss acharia o mesmo.

– O nome dela será Prim. Primrose Mellark.

Assim como a maioria das pessoas sabem sobre minha história e de Katniss, sobre os jogos e a guerra, o médico deve saber também. Pois ele sorri, um sorriso estranhamente triste e concorda com a cabeça.

– Ótima escolha. E uma linda homenagem – ele diz, solenemente. – Acho que sua esposa já pode receber visitas. Quer ir vê-la?

– Mas é claro – eu digo, e sinto minhas pernas ficando bambas com a simples perspectiva de poder ver Katniss, após achar que ela tinha me deixado. – E... será que eu não poderia levar Prim comigo? Aposto que ela está ansiosa para conhecer a mãe.

O médico reflete sobre meu pedido que com certeza é contra as regras.

– Porque não? – ele diz, por fim.

Ao chegar no quarto onde Katniss está, sinto um aperto no peito. Há muitos tubos ligados ao seu corpo, e o monitor de seus batimentos cardíacos parece um pouco acelerado. O médico parece perceber meu choque.

– Eu te avisei que ela ainda não estava estável – ele diz. – Vou deixar vocês a sós.

Mordo o lábio. Prim permanece bem quietinha em meus braços. Me sento ao lado da cama de Katniss desejando profundamente que ela estivesse bem, e pudesse pegar nossa filha nos braços. Apesar de ter praticamente acabado de nascer, dá para perceber as semelhanças entre ela e a mãe. Por Deus, como eu queria que Katniss pelo menos a visse. Para minha surpresa, Prim começa a abrir lentamente os seus olhinhos. Tão azuis quanto os meus. Sorrio, e penso que é bom que eu esteja sentado. A emoção é forte demais.

– Oi mocinha. Oi minha filhinha linda – eu digo, enquanto seus olhos azuis estão bem focados em mim. – Papai está tão feliz... Na verdade eu nem acredito que isso está mesmo acontecendo.

Ela parece encantada com cada palavra que eu digo, e seus bracinhos se agitam freneticamente.

– Você também está feliz, minha princesinha? Você nem imagina como eu desejei você. E... Eu prometo que serei o melhor pai do mundo.

Ela começa a se agitar em meu colo, e eu me delicio com cada movimento seu. Ser pai é realmente algo indescritível.

– Está vendo essa mulher maravilhosa? – eu pergunto, e viro um pouco Prim, de modo que ela possa ver Katniss. – Ela é sua mãe, minha querida. Ela é guerreira, forte, inteligente e muito bonita. Você não acha?

Volto a acomodar Prim em meus braços, mas continuo falando com ela. É algo mágico, encantador.

– Ela vai ser uma ótima mãe para você, também. E nós te amamos muito pequena. Muito. A mamãe quase nos deixou hoje, sabia? Mas ela não poderia fazer isso... Não antes de conhecer você – eu continuo, e dessa vez as lágrimas fluem de uma forma que eu não consigo controlar.

– Eu nunca vou deixar você.

Levanto a cabeça abruptamente e me deparo com os olhos cinzentos de Katniss, entreabertos. Ela respira lentamente, mas posso ver lágrimas rolando por seu rosto.

– Por um momento eu achei que ia te perder... – eu desabo, soluçando. – Como é bom te ver acordada de novo, você não faz ideia...

– Eu disse uma vez... – ela começa, fracamente – que sempre estaria com você. Eu não estava mentindo.

– Acho bom você cumprir essa promessa – eu digo, sorrindo, e aproximo Prim de Katniss. – Pois agora não estamos mais sozinhos.

Seus olhos fitam a pequena em meus braços por infindáveis segundos. Katniss parece descrente. Assustada. Feliz. Tudo ao mesmo tempo.

– Nossa filha – ela sussurra, a voz embargada. – Eu nem consigo acreditar.

– Parece algo bom demais para ser verdade... Não é mesmo, pequena Primrose Mellark?

Katniss arregala os olhos.

– Espero que não se importe, mas eu tomei a liberdade de escolher o nome dela. Eu senti que era esse. Tinha que ser esse.

Por um momento, me questiono se Katniss irá mesmo gostar. Ela me encara, sem expressão. Observo as suas lágrimas, se tornando cada vez mais grossas.

– E então? Você gostou? – eu pergunto, incerto, perante ao seu silencio.

Katniss funga, e baixa a cabeça antes de me responder.

– Peeta, não poderia haver nome melhor. Obrigada.

E agora eu finalmente tenho uma família de verdade. Posso sentir um pouco da dor de perdas, dos jogos, sendo amenizadas graças a esse pequeno milagre que seguro em meus braços. Graças a essa pequena vida, que age como um bálsamo para as feridas do passado.

Eu nunca pensei que uma felicidade desse nível pudesse existir. Se sentir tão feliz assim, parece até absurdo, mas é como eu me sinto. E pela primeira vez em muito anos, sei que é o que Katniss sente também.


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