Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 3
Capítulo 3




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A noite transcorreu sem mais problemas. Tivemos um farto jantar, graças a Carolynn que impediu que Johanna queimasse a maioria das comidas, e de sobremesa, o bolo que eu fiz, do sabor preferido de Katniss. Depois nos sentamos na sala e conversamos sobre os últimos anos, mas sempre evitando falar de jogos, ou da guerra. Essa é uma parte de nossas vidas que todos queremos esquecer. Fico vários minutos observando a proximidade de Effie e Haymitch. Antes de ele ir embora eu necessito falar com ele sobre isso. Percebo que Katniss também está olhando para ele. Ela me lança um sorriso, e eu sorrio de volta. Quem diria, esses dois estão mesmo juntos?

– Bom, eu vou para casa agora que todos estão bem e que eu estou cheia. Quem topa rachar uma corrida de aerodeslizador? – Johanna anuncia. A pequena Carolynn e Annie aceitam, mas Effie não se pronuncia.

– Você não vai com eles? – eu pergunto, sem conseguir deixar de sorrir.

Effie fica extremamente vermelha, e Haymitch também.

– Peeta, querido, tenho algumas coisas para resolver por aqui – ela diz, mal disfarçando sua inquietação.

– E que coisas você resolveria no distrito 12, após as dez da noite? – Johanna questiona, e chega bem perto de Haymitch. Tão perto que eu me assusto pensando que ela vai beijá-lo. Mas ao invés disso, ela só da voz ao que todos estão pensando. – Aposto que você sabe o que Effie precisa resolver, não é mesmo Haymi?

Temos que segurar a risada, exceto Annie que parece perdida em seus próprios pensamentos. Após dizer isso, e gargalhar, Johanna vai embora sem mal se despedir, e Carolynn, Annie e Posy, correm atrás dela. Depois de muitos beijos em Katniss, Effie também sai. Haymitch dá um abraço sem jeito em Katniss e eu o levo até aporta, querendo saber desde quando ele está com Effie. Pois que eles estão tendo algo, é certo.

– Não venha me fazendo perguntas também, garoto – ele diz, assim que saímos de casa e eu fecho a porta trás de mim.

– Haymitch, já passou da hora de você parar de me chamar de garoto. Eu tenho quase trinta anos – eu digo, querendo soar bravo, mas acabo sorrindo.

Haymitch me olha por vários instantes, e eu também o olho percebendo como o tempo passou.

– Você sempre vai ser um garoto para mim, Peeta. Sempre vai ser como um filho para mim – ele diz por fim, e me espanto ao me dar conta de que sua voz está embargada.

Pigarreio.

– Você também, sempre será como um pai para mim. E é por isso que eu quero que você seja padrinho dessa criança – eu digo guiado pela minha emoção, sem nem consultar Katniss. Mas eu tenho certeza que ela aceitaria de qualquer forma.

– Oh, Peeta – Haymitch exclama, e enxuga os olhos – Você sabe como emocionar um velho bêbado.

– Isso é um sim? – eu pergunto.

– Será uma honra – ele diz, e pega do seu bolso uma pequena garrafa, e dá um gole nela. – Tenho que brindar.

– Você tem é que parar de beber – eu retruco, mas acabo rindo.

Olho para o lado, e tenho um vislumbre da peruca de Effie. Ela parece estar se escondendo de alguém, que imagino que seja eu.

– É melhor você ir – eu digo, e Haymitch olha na mesma direção que eu, sorrindo cheio de adoração para a tentativa medíocre de Effie de se esconder.

Haymitch então me dá um longo abraço, e mesmo depois de ter me tornado um adulto, ainda me sinto extremamente emocionado, por receber esse carinho, de alguém que é o mais próximo de um pai que eu posso ter.

– Parabéns, garoto. Você será o melhor pai. Já a nossa queridinha, eu não tenho tanta certeza. Acho que não será fácil pra ela, conseguir aceitar essa coisa de ser mãe – ele diz.

– Eu sei disso. Espero que essa relutância acabe com o passar do tempo. Mas às vezes acho que ela nunca irá se recuperar das suas perdas.

– E ela não vai. Nenhum de nós vai. Mas algumas pessoas sabem lidar melhor com isso. Você é uma delas. E olha que você carrega tantas cicatrizes quanto ela. Não só em seu corpo – Haymitch diz, no seu costumeiro tom de quem sabe das coisas. E ele realmente sabe.

– Eu tenho o amor que sinto por Katniss. Isso que me ajuda.

– Eu sei como você se sente – ele diz, e olha na direção em que Effie está. - Nos vemos amanhã.

Fico mais um pouco, observando meu velho mentor, se afastar, e tenho o prazer de ver Effie se jogar nos braços dele, ao achar que ninguém estaria vedo. A mais genuína felicidade me acomete. Sempre achei que Haymitch fosse morrer sozinho. Digo, eu sempre estaria ao seu lado, mas as pessoas precisam de mais formas de amor. E agora ele tem Effie.

Entro de volta para casa, e flagro Katiniss deitada no sofá, olhando para sua barriga. Eu me aproximo, e me sento no sofá, apoiando sua cabeça em meu colo. Começo a acariciar sua barriga, e sinto seu corpo relaxar.

– É tão esquisito saber que tem uma vida crescendo aqui dentro – ela sussurra.

– Eu imagino. Mas aos poucos você vai entender que é uma coisa esquisita, mas boa ao mesmo tempo – eu digo, sentindo que fiz a escolha certa de palavras.

Ela apenas dá de ombros. Decido tocar no assunto.

– Katniss... Hoje, mais cedo, você disse que nunca queria ter filhos. Disso eu já sabia, mas eu achei que depois de todo esse tempo juntos... Você havia mudado de idéia.

Ela solta um longo suspiro.

– Eu realmente não queria. Eu não me sinto pronta para isso. Nunca vou estar. Mas você sempre quis tanto... Isso era o mínimo que eu poderia fazer por você, só não achei que fosse acontecer tão rápido – ela diz, e solta um bocejo.

– Você não precisava ter feito algo contra a sua vontade, só para me agradar – eu murmuro sem saber se fico feliz ou triste com essa atitude dela.

– Eu fiz, porque amo você. E já que aconteceu, fico feliz por ser mãe de um filho seu – ela sussurra, e olha para cima, bem nos meus olhos.

Eu baixo a cabeça, e a beijo. É nesse momento que o telefone toca.

Ao segundo toque eu atendo, dando risada por katniss estar com suas mãos debaixo da minha blusa, o que me causa arrepios e cócegas.

– Alô – eu digo, enquanto dou ainda mais risada, pois agora ela está fazendo cócegas pra valer.

– Sou eu, Gale – uma voz grossa e inconfundível, diz, do outro lado da linha, fazendo apesar das cócegas, minha risada cessar.

Ao ver minha expressão, provavelmente de espanto, Katniss se levanta, e me olha com cara de interrogação.

– Gale – eu digo o nome, sem fazer som. Seus olhos se arregalam. Mas afora isso ela não demonstra nenhuma reação.

– É... Você quer falar com Katniss? – eu pergunto. Mas ela logo balança a cabeça negativamente.

– Não. E mesmo se eu quisesse, eu duvido que ela aceitaria falar comigo – ele responde. – Eu só... Queria dar os parabéns.

As notícias andam rápido, mesmo.

– Obrigado – eu digo, sinceramente. - Nem imaginava que você estava sabendo.

– Carolynn me contou não a leve a mal – ele diz, e eu me pergunto se temos mais um casal escondido. Afinal, porque Carolynn contaria isso para ele? Nem sabia que eles tinham contato.

– Ah, sem problemas – eu digo, e olho para Katniss que permanece inexpressiva.

– Eu realmente estou feliz por vocês – ele continua. – Mas... Eu não consigo esquecer, que há anos atrás, no dia da colheita em que Katniss se voluntariou, ela me disse que nunca teria filhos. E essa notícia agora...

– Naquela época era burrice ter filhos. Agora não existem mais jogos nem pobreza - eu o interrompo.

– Não... Eu ainda acho que ela estava se referindo a outra coisa. Que ela nunca teria filhos, comigo. De alguma forma, sempre foi você.

– Não diga bobagens. Ela mal sabia da minha existência antes dos jogos – eu digo um pouco mais alto do que eu pretendia. Katniss foca seu olhar em mim. E eu aposto que ela não está gostando absolutamente nada dessa conversa.

– O pão. Você a salvou, quando deu aquele pão para ela. Acho que desde aquele dia, ela já tinha escolhido você – ele diz, com um tom de voz perdido.

– Isso não faz mais diferença agora, Gale – eu digo, por fim. Ficamos em silêncio. Ouço seu suspiro.

– Você acha que ela um dia, ao menos irá me perdoar? – ele pergunta por fim.

Olho para Katniss, que está ouvindo toda a conversa, e espero a sua reação, para dar uma resposta verdadeira a ele. E em seus olhos, eu vejo anos e mágoa, raiva e dor. A resposta é obvia.

– Eu acho que não. Não agora – eu respondo.

– É o que eu acho também – ele diz. - E... Peeta...

– Sim?

– Que bom que ela te escolheu. Porque se fosse qualquer outro cara no mundo, eu nunca iria aceitar – ele diz, e o telefone fica mudo.

Quando eu volto o fone no gancho, me sito extremamente compadecido por Gale. Viro-me para Katniss, pronto para tentar convencer ela, á perdoar aquele que foi seu melhor amigo por tanto tempo. Mas minha determinação se esvai, quando percebo que a expressão de Katniss se alterou completamente, e ela está muito, muito pálida. Essa não.

Só tenho tempo de pegá-la em meus braços e correr para o banheiro, onde ela vomita todo o seu jantar.

– Ai meu Deus, será que vai ser a gravidez inteira assim? – ela pergunta, ofegante, enquanto se dobra por sobre seu corpo devido a mais uma onda de ânsias.

– Claro que não... Isso é só no começo. Logo vai passar – eu digo, torcendo para que seja verdade. Mas instintivamente, ambos sabíamos que o pior ainda estava por vir.


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