Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 18
Capítulo 18




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Ao cruzarmos a fronteira com o distrito 4, é possível ver o imenso mar que o cerca. Os carros em que estamos são potentes, e escolhidos a dedo para este tipo de situação. Pois não pegamos a estrada convencional. Adentramos trilhas com a vegetação quase fechada e estradas abandonadas até chegarmos a costa, onde um enorme navio nos espera. Por ser de madrugada, não há ninguém nos arredores. Sunny fica parada olhando ao redor, como se esperasse um ataque. Como nada acontece, ela parece relaxar. Tommy sai do outro carro, segurando minha filha adormecida em seu colo. Sunny balbucia algumas ordens em seu ouvido, e ele, com um olhar preocupado, assente, antes de adentrar o navio.

— Nós vamos ficar algum tempo aqui, até tudo se ajeitar – Sunny diz, e em seguida me dá um longo beijo. Assim que vejo a oportunidade, eu me afasto.

— O que exatamente estamos esperando? – eu pergunto.

— É uma longa história, querido – ela diz, e está prestes a me beijar mais uma vez, quando uma luz no céu, chama a nossa atenção. É um aerodeslizador. Uma versão um pouco menor do que os que estou acostumado a conhecer. Ele pousa bem próximo a nós. Fico alarmado, mas Sunny permanece tranqüila. E então, um homem sai de dentro dele, e com um pouco de choque, eu constato que o conheço. Ele é do meu distrito. Seu nome é Gale. E por algum motivo, eu não gosto dele.

— O que você está fazendo aqui? – Sunny pergunta.

Gale sequer olha para mim. Seus olhos estão vermelhos, as veias de seu pescoço saltadas.

— Ela não quis minha ajuda. Não quis nada... sequer me ouvir – ele grita, e chuta um punhado de areia.

— E você achou que seria fácil assim? – Sunny retruca, enquanto o olha com repreensão, e faz um sinal discreto em minha direção. De alguma forma, sei que ele está falando de Katniss. Pois ele falou dela na noite passada. Decido me fingir de desentendido, afim de descobrir mais alguma coisa.

— Você não entende. Ela nunca vai querer nada comigo. E é tudo culpa dele – ele grita, e parte para cima de mim, descontrolado. Sunny, com uma agilidade impressionante, salta para trás dele, e o prende pelo pescoço.

— Não ouse fazer isto – ela diz,sua expressão ganhando algo cada vez mais sombrio, enquanto Gale vai ficando vermelho. Fico sem reação por algum tempo. Meus pensamentos extremamente confusos.

— Pare – eu digo, percebendo que ela vai matá-lo.

Relutante, Sunny o solta. Sem dizer uma só palavra, ela pega minha mão, e adentramos o navio. Gale nos segue silencioso. Observo com atenção a direção que ele toma, na intenção de ter uma conversa com ele depois.

— Quero lhe mostrar uma coisa – Sunny sussurra em meu ouvido, e me arrasta por um corredor. Ao chegarmos em uma pequena sala, que identifico como sendo a sala de controle, um homem barbudo com tatuagens pelo rosto, faz uma reverencia a Sunny.

— Podemos submergir? – ele pergunta.

— Com certeza – Sunny responde, e chega a dar pulos de empolgação. – É melhor se segurar.

Eu a obedeço, e seguro firmemente na porta. E então, tudo começa a tremer, e eu assisto perplexo o navio afundar. Começo a me preocupar, pois pelo painel de vidro é possível perceber que o navio afunda cada vez mais nas profundezas do mar. O homem barbudo começa a apertar botões, e subitamente o navio oscila para em seguida se estabilizar. Então, começamos a navegar por sob as águas negras como a noite.

— Quando amanhecer teremos uma vista bonita – o homem comenta.

— Mas... Como é possível? – eu pergunto, sem entender como o navio que acabei de adentrar pode de repente submergir.

— Tecnologia de ponta – o homem responde, com um brilho insano em seus olhos.

— Vamos, o jantar está servido. Mal vejo a hora de estrear nossa suíte – Sunny diz, parecendo esquecer da presença do homem a nossa frente. Eu sinto meu rosto esquentar, e percebo que a insanidade no homem, deu lugar a algo como desejo. Como alguém é capaz de sentir desejo por essa criatura tão repulsiva?

Ignorando a minha fome, eu dou uma desculpa qualquer sobre estar com dor de cabeça, e após deixar Sunny na companhia dos guardas para fazer sua refeição, eu refaço os passos de Gale. Também tenho em mente a preocupação com a minha filha, mas Tommy cuidou dela, tenho certeza disso. Dói não me lembrar sequer do seu nome. Esqueci de perguntar a Tommy sobre isso. Como o navio não é tão grande quanto o lugar em que estávamos antes, fica fácil achar Gale. Por uma porta entreaberta, eu o vejo em pé, fitando o mar escuro pelo vidro do quarto. Eu apenas entro, e fecho a porta. Ele se vira para mim, e me encara. Sei que sou alvo do seu ódio, mas eu não sinto medo.

— O que você quer? – ele diz, cerrando os punhos.

— Quero saber o que está acontecendo – me limito a dizer.

— Não sei do que você está falando – ele começa, e então eu decido deixar de lado as aparências.

— O que você quer com Katniss? – eu o interrompo, e ele arregala os olhos, surpreso.

— Então, você não esqueceu? – ele diz, assumindo uma expressão de cansaço.

— Eu nunca a esqueceria. Ela é a minha vida. Só queria entender porque você e Sunny estão tão dispostos a estragar isso, a separar nós dois.

— É simples. Porque eu amo Katniss, e Sunny ama você – ele grita, e esmurra o vidro. Estremeço com medo de que ele se parta, e dado a profundidade que estamos com certeza morreríamos com a pressão da água.

— Gale, como você pode dizer que ama Katniss? Que tipo de amor é esse? Um amor, que faz você raptar nossos filhos, causando um sofrimento inenarrável á ela?

— Eu ia devolvê-los, você sabe disso, e assim a reconquistaria.

— Mas como você pode conquistar algo que nunca foi seu? – eu sussurro, e me aproximo ainda mais dele. – Você não é uma pessoa má Gale. Ainda dá tempo de se redimir.

— Seu discurso de bonzinho não vai me convencer, Peeta.

Suspiro, vendo que é inútil. Vendo o quão envenenado ele está com seus próprios sentimentos.

— Sabe, você precisa entender que amor, é querer ver a pessoa feliz, mesmo que isso implique não estar junto dela.

Nesse momento, eu pareço ter atingido algo dentro dele com minhas palavras.

— Porque ela não pode ser feliz comigo? Porque ela escolheu você? – ele sussurra.

Estou pensando num modo de lhe responder, quando o rádio transmissor em seu bolso, solta um alerta.

— Código vermelho – ele murmura. – Estamos sendo atacados.

E então, ele corre porta afora, me deixando sozinho em seu quarto. Não totalmente sozinho, pois assim que ele sai, Sunny adentra, com uma expressão que nem precisa de palavras. Ela ouviu minha conversa com Gale.

— Você não consegue mesmo esquecê-la, não é? – ela diz, com lágrimas grossas correndo por seu rosto.

— Isso jamais vai acontecer – eu respondo, e me afasto conforme Sunny vai avançando.

— Mas você nunca mais irá vê-la. Se não for para ficar comigo, você não ficará com mais ninguém – ela grita. E com toda sua agilidade, ela saca uma faca de dentro de sua roupa e me golpeia. Eu consigo desviar bem a tempo. Mas em seguida, perplexo, eu percebo que seu objetivo nunca foi me acertar. A faca está cravada, no mesmo vidro que Gale golpeou a pouco. Observo as rachaduras crescendo, vagarosamente.

— Você está louca – eu grito, enquanto pego Sunny pelos ombros e começo a sacudi-la. – Olha o que você fez! Você irá nos matar!

Ela apenas gargalha, e me envolve num abraço suicida, cravando suas longas unhas em minhas costas.

—Até que a morte nos separe – ela sussurra, e em seguida numa explosão ensurdecedora, cacos de vidro voam sobre nós, enquanto a pressão da água nos engolfa.

— Prim! – eu grito, enquanto me debato desesperado, tentando em vão não me afogar. E este nome, apesar de não me soar familiar, vem do fundo de minhas entranhas. E eu entendo que deve ser o nome de minha filha. Empurro Sunny para longe de mim, com um único pensamento. Salvar minha filha.

 


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