Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 17
Capítulo 17




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Quando Sunny acorda, eu finjo estar dormindo. Ela beija meus lábios, e se levanta. Espero ela tomar banho e se arrumar, para enfim poder me levantar e começar a minha busca. Preciso achar aquele homem, o tal Tommy. Sinto que só ele pode dar as respostas que eu preciso. Tomo um banho rápido, e em minha procura por roupas, descubro que uma parte inteira do grande guarda roupa vermelho, contem roupas masculinas, obviamente para mim. Não sei o porquê da surpresa, pois aparentemente eu moro aqui. Porém, nada parece se encaixar. Isso definitivamente não é uma casa. Parece mais uma espécie de base de treinamentos, um lugar onde as pessoas se preparam para enfrentar uma guerra. Não há fotos de mim e de Sunny nas prateleiras em lugar algum. Eu nem sequer tenho uma profissão. Mas nem os homens uniformizados e armados andando por todos os lugares, me incomodam tanto quanto o fato de eu não sentir nada pela minha própria esposa. Então, me sentindo completamente incompleto, eu começo minha busca por Tommy, e conseqüentemente, por respostas. Mas as horas passam impiedosas, enquanto eu ando sem ser notado pelas pessoas, devido à atividade frenética em que elas trabalham. Como ouvi á noite, estamos de partida. Isso não é necessariamente algo bom, eu acho, mas não consigo deixar de sentir um alívio enorme por estar deixando este lugar. Quando estou prestes a desistir de minha busca, encontro, encurvado sobre uma mesa cheia de papéis, a pessoa que eu procurava. É impossível não reconhecê-lo, devido a sua altura, e os resquícios de tintas em sua pele, que o deixam com uma cor estranha, esverdeado.

Eu pigarreio, e fico parado na porta, sem saber ao certo por onde começar.

— Peeta, que bom te ver – ele diz, e me puxa para dentro, fechando a porta, nos trancando dentro do cômodo. – Eu sabia que você viria atrás de mim.

— Sabia? – eu murmuro ligeiramente incomodado. Não posso confiar neste homem, eu nem mesmo o conheço.

— Você deve estar totalmente confuso. E você precisa de ajuda. Acertei? – ele pergunta, e sorri, aparentando de repente muito mais novo, do que ele provavelmente é. Algo em seu sorriso faz com que minhas dúvidas se esvaneçam. E eu sinto que eu realmente posso confiar nesse homem. Sigo meus instintos, e me abro.

— Acertou. Parece que há algo errado comigo. E ontem... Você falou aquele nome, Katniss, como se eu devesse saber quem ela é, mas eu não faço idéia....

— Calma, calma – Tommy diz, e me guia até uma cadeira. Eu me sento, e ele puxa outra cadeira, se sentando perante a mim. - O que eu vou te contar, vai parecer absurdo, mas você tem que confiar em mim.

Assinto, e me preparo para o pior. Mas nada poderia me preparar para tais revelações. Ele começa, me contando sobre o desejo de Sunny por mim, sobre o recrutamento que ela fez, sobre essa base que ela construiu. Tudo foi premeditado, foram anos para que ela conseguisse por fim executar seu plano. E então ele conta sobre o seqüestro dos meus filhos, sobre Katniss e o confronto a beira do lago no distrito 12. Conta sobre minha recusa em fazer as vontades de Sunny, sobre a violência com que meus filhos foram tratados, conta sobre a fuga de Prim para a casa dele, e por fim, conta sobre o veneno adulterado de teleguiadas injetado em mim, me levando a morte.

— Você morreu Peeta. Seu coração ficou sem bater por vários minutos. Soube que até desistiram de te reanimar, depois que o desfibrilador foi usado mais de 6 vezes. Mas, por algum motivo, você voltou. Ninguém consegue explicar como foi possível.

Fico atônito com tantas revelações. Eu não me lembro de nada do que ele disse. Lembro do telessequestro que sofri na capital, lembro da guerra de Panem, dos jogos. Lembro do fogo me consumindo, enquanto eu queimava abraçado a outra pessoa. Lembro de ter voltado para o distrito 12. E depois disso, não me lembro de mais nada. Nem de Katniss.... que é minha esposa.E... céus... Eu tenho filhos. Se tudo isso for verdade, Sunny é a pessoa mais malévola que já existiu. Até mais que o seu avô, que agora graças a Tommy, eu sei que era Snow.

— E então, você conseguiu se lembrar de algo? – Tommy me pergunta, perante ao meu prolongado silencio.

— Eu segui a voz – eu murmuro, relembrando, da simples frase “eu preciso de você”, que me fez querer voltar à vida.

— Eu não estou te entendendo – Tommy diz, parecendo preocupado.

— Você não poderia entender. Mas... Tudo isso que você me contou... É muito para mim, eu não sei...

— É claro que você não poderia acreditar em mim assim. Mas tenho algo pra você. Está meio amassado, mas fiquei feliz por ter parado em minhas mãos – ele diz, e retira uma pequena fotografia de seu bolso.

Eu a pego de suas mãos, e sinto imediatamente uma fisgada em meu peito. Na foto, há uma mulher muito bonita, segurando um bebê de cabelos loiros como os meus em seu colo. Há uma garotinha de cabelos escuros entre nós. E ali estou eu, olhando para a mulher, como se ela fosse a coisa que eu mais amasse na vida. Meus olhos marejam. Mesmo sem me lembrar de absolutamente nada, eu acredito em Tommy. Pois ao olhar para essa foto, para o amor presente ali, para os rostinhos das duas crianças, tão semelhantes a mim e a mulher, eu consigo sentir. Eu consigo sentir amor, por estas pessoas.

— Esta é... Minha família? Esta... é... Katniss? – eu pergunto, e enxugo minhas lágrimas, inconformado por não me lembrar deles, mas satisfeito por sentir o amor me preenchendo, cada vez mais.

— Sim – Tommy responde, e permanece calado, me deixando contemplar a foto. Quando consigo acalmar minhas emoções, eu fito Tommy, me sentindo ainda mais perdido do que quando cheguei.

— O que eu vou fazer Tommy? Como vou me lembrar da minha família? Como vou voltar para eles?

— Peeta, vendo a sua reação ao olhar pra esta foto, eu tenho certeza que é uma questão de tempo até você se lembrar. Mas... Voltar para eles creio que será um problema maior. Você não sabe do que Sunny é capaz.

— Mas eu vou dar um jeito, Tommy. Eu vou escapar dela. Mas por ora é melhor que eu não confronte ela. É melhor ela continuar acreditando que eu não sei de nada.

— Também acho – Tommy concorda. – Assim teremos mais liberdade para pensar em algum plano.

Percebo que ele fala no plural.

— Tommy, acho que você já fez muito por mim, ajudando na fuga da minha... filha. E agora, me contando toda a verdade. Não posso te envolver mais nisso – eu digo extremamente grato por Tommy ter entrado em meu caminho.

— Eu já estou envolvido, Peeta. Estamos juntos nisso – ele diz solenemente, e me estende a sua mão. – Acredite, ajudar você é uma espécie de rendição para mim. É a minha chance de fazer algo bom de verdade, por alguém realmente bom, que realmente merece. Pelo menos uma vez na vida.

Eu ignoro sua mão, e lhe dou um abraço.

— Nós vamos conseguir – eu digo convicto. – Vamos por essa mulher atrás das grades.

— Sinceramente, eu não me importaria se ela acabasse morta – Tommy diz, sombriamente.

Eu estremeço, e penso que eu também não. Mas não digo isso em voz alta.

Depois da conversa reveladora, e com a foto de minha família em meu bolso, Sunny me acha no corredor, aflita pelo meu sumiço, e anuncia que estamos partindo. Tudo do que vamos precisar já foi levado para o barco, e um carro está esperando para nos levar para o distrito 4.

Depois de muitos corredores e escadas, emergimos em uma floresta. Há dois veículos pretos e enormes já ligados a nossa espera. De repente sinto fome, pois percebo que não comi o dia todo. Mas quando minhas pernas enfraquecem e ameaçam a ceder, não é devido à fome.

Uma menininha, que eu reconheço ser a mesma da foto, e que então vem a ser minha filha, aparece ofegante. Ela me olha, com tamanha intensidade e com lágrimas escorrendo por seus olhos azuis. Sunny, que está com o braço ao redor do meu, se enrijece. Eu não consigo deixar de olhar para a garotinha, e uma vontade absurdamente incontrolável de abraçá-la, me envolve. Mas eu permaneço parado.

— Sinto muito por ter fugido. Eu não tenho pra onde ir – A menininha diz, sem tirar o olhar de mim.

— Eu não sei do que ela está falando. Você reconhece esta garota? – Sunny me pergunta. Eu sussurro que não. Meu coração bate extremamente acelerado. Ela não estava a salvo na casa de Tommy? Porque ela esta aqui agora?

— Então, a melhor opção é deixá-la aqui mesmo – Sunny diz e começa a se encaminhar para o carro.

— Não – eu grito, antes que eu possa perceber. Isso faz com que Sunny me olhe desconfiada.

— O que foi que foi querido? – ela pergunta.

— Eu... – começo, tentando disfarçar o desespero em minha voz. – Eu, só acho que não é correto deixar uma criança abandonada no meio da floresta. Devíamos levá-la, tentar achar a família dela, e devolvê-la.

— Mas papai – a garota grita. – Você é minha família. Porque está agindo assim?

Suas lágrimas agora caem incontroladas. Eu tenho que concentrar todas as minhas forças, em não chorar. Sunny continua avaliando meu rosto, e como eu permaneço desprovido de emoções, ela sorri satisfeita.

— Levem-na, então – ela ordena a dois guardas que restaram para ir conosco. E um deles é Tommy. Isso me deixa extremamente aliviado. Começo a seguir Sunny para o outro carro, enquanto Tommy conduz a menina, que se debate e grita por mim. Sem conseguir suportar, eu olho para trás, apenas por um segundo, na tentativa de expressar em meu olhar, o quanto eu sinto muito por estar fazendo isso. E o quanto eu a amo. Mesmo que ela não esteja em minha memória, está com toda certeza em meu coração. E na fração de segundos em que nossos olhares se encontram, ela parece ter entendido. Seus gritos cessam, seus olhos se acendem de algo que só pode ser esperança. Enquanto fazemos o longo trajeto até o distrito quatro, só consigo pensar em duas coisas: Num modo de me lembrar de minha família, e principalmente num modo de me livrar de Sunny. Idéias extremamente erradas passam pela minha mente. E de repente, deixá-la na cadeia não parece uma punição cabível, pelas atrocidades que ela fez comigo e com as pessoas que eu amo. Apenas a morte parece um preço justo. Eu estaria me igualando ao seu nível se fizesse tal terrível coisa. Mas não seria a primeira vez que eu estaria matando alguém. Os jogos já me transformaram num assassino. Enquanto passamos por um desfiladeiro e eu engulo as ânsias, por ter Sunny colada a mim me beijando ardentemente, tenho que resistir ao impulso de jogá-la do carro. A única coisa que me detém, é saber que minha filha está no carro de trás, pois eu não suportaria que ela me olhasse como se eu fosse um monstro, um assassino. Como eu já fui olhado há tantos anos atrás, pela irmã de uma garota que eu matei nos jogos. E com essa dolorosa lembrança, um fragmento de memória preenche a minha mente. Uma vaga lembrança, de Katniss ao meu lado na turnê vitoriosos.

— É real - eu murmuro.

— O que você disse querido? – Sunny pergunta.

— Nada – respondo, mal conseguindo conter meu sorriso. – Eu não disse nada.


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