Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 14
Capítulo 14




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No começo, a dor é familiar. Eu começo a pensar que talvez eu resista no final das contas. Mas conforme os segundos vão passando, e o veneno vai adentrado cada vez mais minhas veias, caindo em minha circulação sanguínea, a dor vai se tornando insuportável. Mas o que me desespera é a percepção de que há algo diferente dessa vez. Pois o que sinto, não é o fogo me consumindo, como senti das outras vezes em que fui submetido ao veneno. Dessa vez, o que corre em minhas veias é gelado. Extremamente gelado. Sinto meu corpo se debatendo, devido ao mais intenso frio que me acomete. Nunca senti algo assim. Esse frio se intrica em meu corpo, na minha alma, eu sinto como se fossem pequenas garras, arranhando-me por dentro, sugando o calor humano que toda a pessoa deveria ter. É perturbadora essa sensação, de sentir algo percorrendo seu corpo, lhe causando uma dor descomunal, te congelando, dilacerando por dentro. Sinto as garras em minha cabeça agora. A dor que elas provocam, faz com que eu grite. O frio se torna algo extremo demais para se agüentar. Penso em Katniss, em todos os momentos bons que passamos juntos, em como eu amo acordar e vê-la ao meu lado, em como eu me sinto inteiramente completo, ao fazê-la sorrir. As garras lutam comigo por essas memórias. Eu resisto. Eu luto. Sinto algo quente escorrendo de minha boca, por minha pele gelada. Suspeito que seja sangue. Isso faz com que eu sinta mais dor, pois queima. As garras de veneno gélido dentro de mim parecem estar se multiplicando, cada vez mais, numa velocidade assustadora. Sinto algumas memórias sento sugadas de mim, arrastadas, arranhadas. Começo a pensar no modo como Katniss sempre canta para Prim e Finnick antes de dormirem. No modo como Prim mexe nos cabelos de Katniss. Penso em todos reunidos em minha casa, no primeiro aniversário de Prim. E vou juntando, todas essas lembranças que me causam felicidade, construindo um muro, uma barreira que possa impedir que essas memórias me sejam tomadas. Eu não vou permitir que tirem Katniss da minha mente novamente. E por um tempo, eu até penso que isto está dando certo. Mas então, a mesma dor que dilacera minha mente, começa a dilacerar meu coração. Sinto que ele irá se paralisar a qualquer momento. O frio é cortante. Penso com toda a força, no amor que sinto por meus filhos, no meu imenso amor por Katniss. Esse amor tem que me salvar. Por favor, me salve, eu suplico mentalmente, sem parar. Sinto mais alguma coisa quente escorrendo por meu rosto. Dessa eu sei que são lágrimas. Lágrimas do mais puro medo, do mais selvagem desespero. Me agarro ao amor que sinto por minha família, mesmo sabendo que não conseguirei lutar por muito mais tempo. Talvez, morrer seja melhor do que agüentar isso. Quero me livrar dessas amarras, e rasgar de uma vez meu peito, para quem sabe assim conseguir fazer essa dor gelada parar. Porque isso está acontecendo comigo? Eu não tenho mais forças para lutar mas eu não posso simplesmente esquecer, de tudo. Sinto as garras quebrando a muralha que ergui em minha mente, ao mesmo tempo em que sinto como se meu coração estivesse sendo completamente dilacerado. Mas então, uma última lembrança me vem á mente. Katniss, me olhando, com o amor bem visível em seus olhos, enquanto amamenta nosso pequeno Finn, e afaga os cabelos de Prim. De repente eu sou tomado pela mais pura calma. Eu paro de me debater, e não me importo mais com a dor ou o frio. Pois esse sentimento magnífico, o amor, parece lavar todas as minhas feridas. Sinto que estou morrendo. Sinto que estou indo me juntar a meus queridos amigos. Mas estranhamente eu me sinto em paz. Pois eu amei intensamente, e fui amado, na mesma proporção. É nesse momento, que eu deixo de lutar.

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PRIMROSE MELLARK

Eu não sei direito porque aquele homem grande me ajudou. Mas, eu sinto que ele é bom. Então resolvi confiar nele. Mamãe sempre dizia que existiam pessoas muito más no mundo, por isso que ela tinha pesadelos. E eu tenho quase certeza que aquela moça loira, Sunny, é uma das pessoas más que a mamãe falava. Pelo menos Finn está longe daqui. Porque doía demais ver aquela moça bater no meu irmãozinho. Eu queria ter sido valente como a mamãe e o papai foram, quando lutaram na guerra contra o avô dessa Sunny. Mas eu estava com medo. Ainda estou. Eu ando pelos corredores, tentando não fazer barulho. Mas o homem grande me disse que daria um jeito de esvaziar esse lado, fazendo todos irem me procurar do outro lado. Mesmo estando muito triste, eu dou risada. Porque o homem grande fez todos de bobos. Tento guardar na cabeça todas as informações que ele me deu. Tento seguir nas direções certas. Então eu acho a escada que o homem me falou. A escada que vai me levar para fora daqui. Mas quando começo a subir, não consigo. Penso em meu pai. Eu não posso fugir e deixar ele aqui. Mal percebo quando começo a chorar. Queria mais que tudo meu pai aqui comigo. Eu não conheço nada além do distrito 12. Como eu vou encontrar sozinha a casa que o homem me falou? E se ele não estiver me ajudando coisa nenhuma? E se fizerem mais mal pro meu pai? Mas eu sei que eu preciso fugir. Que eu só vou conseguir ajudar o papai, se eu estiver longe daqui. Então eu subo as escadas, e corro.

Está escuro, e eu não consigo enxergar muita coisa. Estou sem meus sapatos, que eu perdi quando me pegaram na colina. Meus pés doem enquanto eu corro, e várias vezes eu tenho vontade de parar. Ma seu não posso. Penso em mamãe, me esperando em casa. E desejo um dia ser corajosa como ela. Penso no meu pai, que eu amo tanto que ás vezes até dói no meu coração.... e continuo correndo. Corro por ele, corro para tentar ajudar ele a sair de lá. Porque eu não consigo nem pensar em viver longe dele. Vou correndo entre as árvores, ouvindo barulhos estranhos ao meu redor. Tenho quase certeza que estou sendo perseguida por alguma coisa, mas não consigo olhar para trás. Eu queria conseguir parar de chorar, mas quanto mais longe do meu pai eu fico, mais lágrimas caem. Chego num lugar, onde tem algumas casas. São bem bonitinhas, como as nossas lá no distrito 12. Pensar em casa faz com que seja ainda mais difícil parar de chorar. Eu tento andar pela rua o mais escondida que consigo. E é até fácil, porque está tudo muito escuro. Vou lendo os números das casas. Preciso chegar na 41. Conto, 24.. 27... 32... 39... Quando chego em frente a casa 41, tremendo de medo, e mal conseguindo respirar por ter corrido tanto, eu toco a campainha. Enxugo as lágrimas do meu rosto, e fico olhando para os meus pés que estão cheios de sangue.

Uma mulher muito bonita, e com cílios verdes, abre a porta. Ela me olha, e parece que não sabe quem eu sou.

— É a senhora Stutti? – eu pergunto, tremendo.

— Sim... E você pequenina. Quem é? – a senhora Stutti pergunta.

Eu tiro meus cabelos do rosto, e esfrego os olhos, tentando não chorar. Mas se essa mulher não me abrigar, eu não sei o que eu vou fazer. Eu vou estar perdida.

— Eu... Meu nome é Prim... Primrose Mellark – eu respondo, e me ajoelho na frente dela, sem conseguir não chorar. – Por favor, me ajude, senhora...

Eu cubro meu rosto com as mãos, pois tenho quase certeza que essa mulher não vai me deixar ficar, pelo jeito que ela me olha. Mas então, sinto ela colocando seus braços em mim. Eu me assusto e fico com medo de que ela também vai me machucar. Até que entendo que ela na verdade esta me abraçando.

— Fique calma minha querida. Agora você está a salvo – ela murmura, e me leva em seu colo para dentro de sua casa. E eu realmente tento me acalmar, mas tudo que consigo é chorar ainda mais, pois, papai estava certo quando dizia pra mamãe: Que apesar das pessoas ruins, sempre vai existir bondade no mundo.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Obs: Uma parte especial no capítulo, pela visão da Prim. Gostaram? Espero que sim! 



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