Depois da esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 1
Parte I - Dias melhores Capítulo 1




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Sempre apreciei o preparo de uma boa massa de pão. O resultado final, é aquele pão macio, com uma fina camada de fumaça subindo enquanto você o corta e passa manteiga ou coloca uma fatia de queijo que chega a derreter. Katniss também gosta disso, por isso todas as manhãs, eu acordo bem cedo, para assar pães para vender na padaria e para o nosso café da manhã. Na maioria das vezes ela acaba acordando assim que saio da cama, e logo eu me deparo com ela enrolada num cobertor me observando enquanto eu trabalho na massa e fico coberto de farinha. Apesar de preferir que ela continue dormindo, eu gosto de me sentir observado por ela, de ter a sua atenção. E gosto ainda mais dos nossos beijos que ás vezes acabam acontecendo assim que eu coloco a primeira fornada para assar e minhas mãos ficam livres. No fim, ficamos os dois cheios de farinha. Katniss é um enigma para mim, mesmo depois de todos esses anos juntos. Ás vezes arrancar uma risada dela é a coisa mais fácil do mundo. Já em dias mais sombrios ela parece se afundar na depressão de suas perdas e sorrir parece algo que ela nunca mais será capaz de fazer. Há noites em que fazemos amor intensamente. Outras, em que ela sequer me olha antes de se virar para o lado e dormir. Mas eu aprecio cada momento. Pois em hipótese alguma eu poderia imaginar que no fim da tão terrível guerra, nós dois iríamos permanecer vivos, e juntos. Mas ás vezes penso, que o fato de ela ter ficado comigo não foi uma escolha, e sim uma consequência. Pois de todas as pessoas que ela tinha ao seu lado, Haymitch e eu fomos os últimos e únicos que permanecemos. Sua mãe, não suporta voltar para cá, e para falar a verdade não suporta nem olhar para Katniss. A morte de Prim foi um baque maior do que ela poderia aguentar. E Gale, fez questão de desaparecer da vida dela, quando as armadilhas construídas por ele, tiraram a vida de Prim. Mesmo que ele quisesse ficar ao lado dela, creio que ela jamais conseguiria perdoá-lo. Katniss é uma pessoa que sofreu demais, simplesmente não dá para esperar um poço de bondade vindo dela. Quando você fica tão perto de tragédias, acaba se endurecendo. Desenvolvendo um instinto quase inumano de vingança. A prova disso, foi ela ter concordado com uma edição dos jogos vorazes com crianças da Capital. Sunny, a neta de Snow foi uma das escolhidas. E a garota que há tantos anos se disse erraticamente apaixonada por mim, foi coroada campeã. Depois daqueles dias escuros, os sobreviventes do distrito 12 logo decidiram voltar e reerguer o seu lar. Katniss e eu decidimos abandonar nossas casas na aldeia dos vitoriosos, pois elas eram uma lembrança muito forte da capital e do reinado de Snow. Então, erguemos uma casa onde antes era a casa que Katniss e sua família viveram. No andar de baixo, funciona a padaria na qual sou dono e tiro parte do nosso sustento. No andar de cima é a nossa modesta casa. Achei que seria ruim para Katniss viver num lugar tão cheio de lembranças da sua família. Apesar de cada parede ter sido construída do zero sobre as cinzas remanescentes da destruição, o lugar em si parecia guardar muitos momentos de todos que ali viveram. Mas acabei concluindo que no fim das contas, as lembranças sempre estarão em nossa mente, independentemente do lugar em que habitamos.

- Bom dia – eu digo, ao me virar para o lado, e me deparar com Katniss me observando colocar a última forma no forno.

- Oi – ela diz, e sorri para mim. Eu me aproximo e a tomo em meus braços, enfiando o rosto em seus cabelos macios enquanto beijo seu pescoço que apesar do tempo ainda leva enormes cicatrizes, assim como o restante de seu corpo. E do meu também.

Nos beijamos por algum tempo, seus lábios quentes em contato com os meus, me fazendo transbordar de um sentimento que pode ser descrito como além de felicidade. Quando nos afastamos, ela está com tanta farinha na roupa quanto eu.

- Acho melhor você ir tomar um banho – eu sugiro. – E se você quiser, eu posso te fazer companhia.

- Está bem. Mas não se esqueça que se você se empolgar e acabar demorando comigo lá em cima, seus pães irão torrar – ela diz e começa a subir as escadas.

- Olha, esse é um risco que eu terei que correr – eu retruco enquanto tiro meu avental e subo as escadas correndo atrás dela, grato por ela estar num dia bom.

De volta a padaria onde os pães quase queimaram por eu ter realmente demorado nesse banho, pego alguns pães e levo para o balcão de venda, os dois restantes reservo para o café da manhã.

- O que aconteceu, que os pães estão mais dourados hoje? – Olivia que trabalha para mim na padaria, neta da velha Greasy Sae, pergunta.

- Não faça perguntas que eu não possa te responder, Olivia – eu respondo, sem conseguir conter meu sorriso. – Pegue alguma coisa para você tomar seu café, e depois abra a padaria. Ah, e não aceite mais encomendas de bolos para esse final de semana. Senão, não darei conta.

Olivia assente, enquanto com olhos brilhantes, analisa no balcão qual doce comerá. Sorrio. É muito bom dar esse tipo de oportunidade para uma garota que poderia estar passando fome.

Volto para a casa e já sinto o cheiro de chocolate quente das escadas. Ao chegar na cozinha, Katniss está terminando de servir nossas xícaras. Tomamos um farto café, e a sensação de incredulidade nunca passa. Quem diria que um dia teríamos em nossa mesa, chocolate quente, pães, queijos e bolos para tomar no café?

- Queria que Prim estivesse viva – Katniss murmura, olhando para nossa pequena fartura em comida.

- Eu também. Queria que ela e um monte de pessoas estivessem vivas. Mas elas deram a vida pela nossa liberdade. Não se esqueça, temos que viver. Pelos que se foram.

- Você está certo – ela diz, enquanto deixa de lado um pedaço de pão.

- Que tal ir caçar hoje? Alguma carne fresca iria bem – eu sugiro, pois caçar ainda é seu melhor remédio.

- Acho que vou me deitar um pouco. Talvez mais tarde – ela diz, e me dá um leve beijo antes de se retirar da mesa. E dessa maneira, ela já não está num dia tão bom assim.

Passo o restante da manhã, trabalhando com afinco em minhas encomendas de bolo. Agora que existe uma maior igualdade entre as classes, as pessoas têm dinheiro para comprar o que querem. E os que retornaram ao distrito 12, costumam gastar a maior parte de seus salários com comida. A maioria das pessoas tem emprego graças a fábrica de medicamentos que foi implementada no distrito, então dá para imaginar quanto trabalho tenho tido ultimamente. Não estou reclamando, mas eu gostaria de ficar mais tempo com Katniss.

Quando a hora do almoço se aproxima, mesmo tendo ainda muito trabalho pela frente, eu decido subir para verificar como Katniss está. Nem sinal dela na sala. Passo pela cozinha, e as louças do café ainda estão para lavar, então ela deve estar deitada. Ao chegar no quarto, percebo que algo está errado. A cama está desfeita, mas ela também não está ali. Antes de começar a me preocupar, decido conferir o ultimo cômodo, o banheiro, e lá dentro para meu completo desespero, encontro Katniss caída no chão. Imediatamente tento perceber se ela está respirando. Apesar de fracamente, ela ainda respira. Com uma calma extraída de um instinto desconhecido, eu levanto Katniss do chão e a coloco na cama. Tento manter ao máximo essa calma, para não entrar em completo descontrole. Katniss está ao meu lado, pálida e inconsciente. O que eu faço? Com as lágrimas já ameaçando aflorar eu caminho até o telefone, e sem perceber o que estou fazendo ao certo, disco os números em minha mente. Ao segundo toque, Johanna me atende.

- Não se pode almoçar em paz, droga – ela grita, sem dar tempo de eu falar.

- Johanna, sou eu – eu murmuro, sentindo minha voz tremular.

- Peeta, o que houve? Mesmo sem te ver, dá pra saber que você está péssimo – ela diz, sua voz mais baixa.

- Katniss... Ela...

- Ah, me diz logo o que essa desmiolada aprontou – ela diz, visto que eu mal consigo terminar a frase.

- Ela desmaiou. Eu não sei há quanto tempo. Achei ela agora – as lágrimas vencem e minha calma se esvai. – Ah Johanna, o que eu faço?

- Hey, se acalme. Fique ao lado dela. Só isso. Eu cuido do resto – ela diz, e desliga o telefone.

Fico segurando o telefone mudo em minha mão. Pisco várias vezes, para tentar clarear minha visão. Respiro fundo, tentando a todo custo me acalmar, por que há algo que ninguém sabe sobre mim. O telessequestro a qual fui submetido, é algo irreversível. O veneno continua dentro de mim, num lugar onde eu consiga controla-lo. Os flashbacks nunca acabaram, e a luta interna é diária. Após concentrar todas as minhas energias em meu amor por Katniss volto para o quarto e me sento ao lado de seu corpo, que está estranhamente gelado. Acaricio seu braço, enquanto sussurro, implorando para que ela acorde. São vários os minutos que se passam, quando escuto um suspiro e me deparo com seus olhos cinzentos entreabertos me olhando perdidos.

- O que aconteceu? – ela pergunta com sua voz rouca, e imediatamente leva a mão á cabeça, fazendo uma careta em seguida.

- Eu não sei, Katniss. Eu te achei caída no chão do banheiro. Você está melhor? Você bateu com a cabeça? – pergunto, enxugando minhas lágrimas, agora de alívio.

- Eu... Eu estava enjoada. Fui até o banheiro, mas aí não sei o que houve. Estou com muito frio. E minha cabeça parece que vai explodir – ela diz, a voz muito fraca.

- Acho melhor eu chamar o médico – eu digo, saindo do meu estupor de alívio, ficando preocupado novamente. Katniss está definitivamente doente.

- Não, apenas fique aqui comigo – ela diz, e eu não tenho como negar. Afinal, Johanna falou que cuidaria do resto.

Eu me deito ao seu lado, e a abraço enquanto ela treme de frio, mesmo o sol brilhando lá fora. Não demora muito, até que há uma batida na porta que eu descubro ser o médico que Johanna chamou. Ele pede para que eu saia do quarto para poder examinar Katniss. Fico na sala, aflito, esperando o que parece ser uma eternidade.

- E então, como está nossa desmiolada preferida? – a voz de Johanna me alcança, e eu quase corro até a porta para abraça-la.

- Como você chegou aqui tão rápido?

- Isso me custou uma cara viagem de aerodeslizador. E aquela coisinha a Carollyn, está vindo. Cressida e Pollux querem notícias. Annie vem mais tarde. Não achei Haymitch, mas deixei um recado pra ele. Acho que é isso – ela diz, e sorri, se sentando no sofá.

- Nossa, você contatou a tropa inteira – eu digo, me sentando ao seu lado.

- Sim. É para isso que servem os amigos – ela diz, e num gesto inesperado me dá um tapa na perna. – Melhore essa cara, quem está doente aqui é a Katniss.

O médico ao sair nos informa que aparentemente foi uma queda de pressão, mas que coletou o sangue de Katniss para fazer alguns exames e nos trará os resultados o mais rápido possível. Então, Johanna mostra seus dotes culinários (no caso a ausência deles) e prepara o almoço enquanto eu fico ao lado de Katniss. Logo Carollyn chega, em seguida Haymitch e Effie o que acaba sendo muito estranho, pois eles chegaram juntos. Será que... Bom, deixa pra lá. Assim que Annie e seu filho Posy, cada dia mais parecido com Finnick, chegam, o médico também chega com os resultados. Ficamos todos ao redor de Katniss, eu seguro sua mão, me preparando para ser forte, se os resultados forem duros demais. Mas assim que vejo o sorriso do médico, sei que ele trará boas notícias.

- Bom, segundo os exames a queda de pressão e o seu desmaio, são apenas sintomas, da sua gravidez – o médico diz, e me entrega o exame.

Annie é a primeira a me abraçar. Em seguida Johanna, Effie e Carollyn se jogam sobre mim, e sobre Katniss. Fico atônito de felicidade. Katniss está esperando um filho meu. Eu vou ser pai. Finalmente. Mas ao olhar para Haymitch, percebo seu olhar preocupado sobre Katniss. E então constato, que as lágrimas dela, ao contrário das minhas, não são de felicidade.

Obs: Depois de muito tempo, comecei a fanfic pós A esperança pelo ponto de vista do Peeta, como eu havia prometido. Então, meus leitores queridos, peço que vocês me desculpem pela demora, e que me deem a opinião de vocês, que é muito importante para mim. A aceitação da fic irá determinar se eu irei continuar ou não, então, conto com vocês sendo dúvidas, críticas ou elogios! Muito obrigada, de coração! Beijos ;)


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