Era um dia normal e radiante. Como estávamos na primavera, fazia muito calor, mesmo cedo. Treinamos dedicadamente como sempre e agora eu estava almoçando com Kageyama. Como disse: um dia normal e rotineiro. Bom, exceto pelos acontecimentos da noite passada. E também pelo fato do bendito estar me encarando com uma expressão medonha.

“Ei! Eu ia comer isso!”. Falei ao ver o dito cujo retirar um peixinho frito do meu bentô.

“...Hm??”. Foi o máximo que ele conseguiu emitir com a boca cheia.

“Você tirou isso do meu bentô! Eu estou com fome, sabe??”. Foi aí que eu vi as suas feições mudarem: da cara de paisagem para um vermelho forte. Achei que ele fosse me bater, não deveria estar muito longe disso depois de ontem, mas não foi isso que aconteceu.

“Desculpa, mas eu preciso ir!”.

E assim o vi levantar desesperadamente e sair correndo. Tão lunático que deixou tudo dele pra trás. Olhei a sua mochila ao lado da minha e o seu bentô ainda aberto. Mas o que diabos foi isso? Tudo estava tão tranquilo, mesmo depois daquilo... Bom, não exatamente. Não foi uma reação tranquila a que ele teve ao me encontrar ontem na quadra, isso é fato. Tampouco o dia de hoje foi tranquilo.

Logo depois que ele deu aquele berro, eu percebi que preferia a própria morte me buscando no momento. Não sei se foi um misto da tensão que eu estava antes com a sensação mais profunda de “me fudi” que fez isso, mas eu acabei desmaiando. Não sei o que aconteceu depois, não tive coragem de perguntar a ele. Só sei que acordei na minha cama, com uma puta dor de cabeça, além de algumas áreas doloridas pelo corpo.

Na verdade, eu me esforcei para que o dia hoje fosse normal. O nosso encontro pela manhã foi constrangedor, mas logo nossos senpais chegaram e a atmosfera aliviou. Eu consegui focar nos treinos, mas o Kageyama não parecia estar fazendo coisa com coisa. Depois de vários levantamentos que iam pra qualquer lugar menos pra minha mão e depois de cair em cima de mim, ele saiu pra tomar um ar. O chamei para almoçar comigo pra tentar consertar as coisas, dizer que eu sabia que ele estava lá e estava zoando com a cara dele, mas, como podem ver, esse foi o resultado.

“Mas que merda...”. O jeito seria caçá-lo pela escola pra devolver as suas coisas. “Kageyama, seu estúpido!”. Disse pro nada enquanto recolhia tudo. Aquela frase, no entanto, era voltada pra mim, não pra ele. Porque diabos eu fui fazer aquilo? Onde eu estava com a cabeça? Agora que nós finalmente estávamos nos entendendo, jogando como um time, sendo companheiros. Sim, meu coração tinha que ser um estúpido canceriano e se apaixonar agora.

Levantei sem ânimo. Iria achar o Kageyama e colocar um ponto final nessa história. Pelo time. Pela nossa amizade. Iria inventar uma história maluca e fingir que nada disso é verdade.