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- Você vai voltar um dia? Chihiro? – perguntou para a menina a sua frente, que estava de costas pra ele, não querendo encarar aqueles olhos que ela tanto admirava. – Olhe pra mim, Chihiro...

Chihiro se manteve de costas para Kohaku, e permaneceu assim durante alguns segundos, mas ela falou sem se virar pra ele, Kohaku conseguiu ver uma mudança na voz da menina, provavelmente estava chorando novamente, ela sempre chorava.

- Eu vou... Prometo que vou voltar Haku. – ela disse para o mais velho, ela tentou dar passos para frente para passar pelo túnel, mas dois braços finos com um aperto forte passaram pela sua cintura, não querendo soltar. – Me solta, eu tenho que ir.

Kohaku se manteve firme, mas seus olhos começavam lentamente a ficarem molhados, ele não queria que ela fosse embora, ela não podia ficar com seus amigos? Com ele?

- Fique. Não vá embora, tenho certeza que seus pais vão entender. – ele apelou, tentando fazer sua cabeça, mesmo sabendo que isso era errado, ele não abriria mão da garota, ele não se lembrava do próprio nome, mas se lembrava do nome dela, sempre iria se lembrar.

Chihiro começou a chorar, mas dessa vez um choro silencioso, tal como a situação pedia, alguém podia ouvir, ao menos sem rosto não estaria ali para piorar ainda mais a situação, tendo em vista que todos sabiam que ele parecia gostar de Chihiro, também...

Como não gostar de uma alma pura e sem ganância como ela? Kohaku não sabia dizer.

- Eu vou soltar seus braços de mim, tá bom? – ela sussurrou, mas Kohaku conseguiu ouvir perfeitamente, e isso o fez apertar inconscientemente mais forte ainda, decididamente, não iria soltá-la.

- Eu não vou soltar, vamos, vou te levar de volta comigo. – ele disse, arrastando o corpo pequeno da garota, não que ele fosse muito maior que ela, mas era muito mais forte.

Chihiro tentou firmar os pés no chão, mas eles acabavam por serem arrastados com o seu corpo, Kohaku era dezenas de milhares de vezes mais forte que ela, ele era um Dragão no final das contas.

- Por favor, me solta Haku... – ela disse seu nome, o primeiro que ela ouviu dele, e isso fez ele perceber que ela estava falando sério, seus olhos apesar de estarem vermelhos, transmitiam uma seriedade que assustava. – Eu não quero voltar.

Aquelas palavras foram como um baque estrondoso e rente ao rosto dele, como um tiro diretamente no coração, ele amoleceu o aperto, e ela correu mais para frente, livre dos braços do dragão. Haku ficou parado durante alguns segundos, não levantou a cabeça, ficou com ela encarando fixamente o chão, ás lágrimas dele assustaram um pouco Chihiro, ela nunca viu alguém como ele chorar, tivera falado algo errado?

- Haku? – ela chamou por seu nome, sem nem um movimento dele em troca. – O que foi? – ela fez menção de se aproximar dele, mas ele deu um passo para trás, não olhando pra ela, Chihiro sentiu algo ruim nisso, como se ela tivesse o magoado, não sabia como tinha feito isso.

Kohaku se afastou três passos, Chihiro se manteve parada, ainda chorando, mas olhando diretamente pra ele, que nem tinha erguido sua cabeça de novo, ela o chamou pelo seu nome, mas ele não se moveu, parecia absorto em outro lugar.

- Chihiro... – ele disse depois de um tempo que ambos ficaram parados em frente ao túnel. – Você deve ir embora.

Chihiro não entendeu aquilo direito, ela deveria se sentir feliz por ele deixá-la ir embora, mas algo se manteve ruim dentro dela, culpa? Tivera ela se expressado mal? Ela deveria ir, mas isso parecia tão difícil agora. E Kohaku estando parado sem nem olhá-la nos olhos não ajudava em nada.

- Haku, eu disse algo errado? – ela perguntou a ele, sua voz um pouco mais alta do que ela sempre se dirigia a ele, parecendo um pouco desesperada nessa situação. – Ei, Haku?

Novamente, ele a ignorou, Chihiro não estava entendendo nada, por que ele não olhava pra ela? Agora ela tinha certeza, ela tinha dito algo errado, algo que realmente tinha magoado o amigo, ele nunca a tratou daquele jeito.

- Haku, por favor olha pra mim. – ela pediu em um sussurro baixo, mas ela tinha certeza que ele a ouviu, e ele começou lentamente a erguer sua cabeça, Chihiro esboçou um leve sorriso de alegria, ele a perdoou?

Não.

Seus olhos mostravam uma mágoa imensa, tão imensa quanto o mar que cercava eles toda noite, ou algo tão profundo quando o estômago de sem rosto, ela não aguentou ver isso e correu, não para abraçá-lo, mas para a saída.

Ela tinha o magoado, ela tinha o feito infeliz, ela tinha feito coisas ruins com ele.

Ela correu e correu, não olhou para trás um único momento, decida a não olhar.

E Kohaku se manteve parado ali, durante muito tempo, se permitindo chorar em silêncio, em discrição.

Chihiro não iria voltar, nunca mais...

E isso o deixou arrasado, porque ele quis isso naquele momento, mas agora ele não queria mais, porém...

Era tarde.