O namorado número um se chamava Harry. Harry Clinfford. Nós tínhamos 3 anos e fazíamos o Jardim de Infância juntos.
Harry era um cara extremamente artístico. Ele era o único da nossa sala que tinha um estojo de lápis de cor com 210 cores e todas as meninas eram doidas pelo Rosa 017 dele, inclusive eu.
Foi numa Segunda-feira de manhã que eu decidi que iria sentar do lado dele na aula de desenho e pediria o lápis de cor emprestado. Arrumei meu cabelo de um jeito bonito, prendendo meus cachos infantis numa maria-chiquinha, e escolhi o brinquinho mais brilhante que eu tinha.
- Harry, me empresta o rosa, por favor? - Pedi, sorrindo para fazer um charme.
-Claro!
Ele prontamente sacou o lápis do seu estojo de 210 cores e me entregou. Nossos dedos se tocaram por alguns segundos e nós trocamos olhares apaixonados. Foi naquele momento que eu percebi que ele era o grande amor da minha vida.
- Harry, quer namorar comigo? - Perguntei, logo após pegar o Rosa 017 de suas mãos.
- Quero.
E foi assim que tudo começou.
No resto da aula de desenho, Harry usou todo o seu talento e uma parte das suas 210 cores pra fazer uma pintura minha que, mais tarde, os meus pais emolduraram e colocaram na parede do meu quarto.
Os meus olhos não ficaram simétricos e ele deveria ter usado o amarelo 054 ao invés do 023 pra colorir o meu cabelo, mas eu achava aquele desenho uma verdadeira obra de arte. Ele tinha passado muito tempo fazendo-a também, quase ultrapassou a hora da soneca, mas no fim valeu a pena.
Mas então, no dia seguinte, Harry não quis me emprestar o verde 076.
- Não, você vai gastar! Eu gosto dele!
Como assim?! Eu era namorada dele! Ele tinha que me emprestar qualquer cor de lápis que eu quisesse!
Na hora do recreio, eu armei minha vingança.
Acontece que o Harry não tinha só uma alma artística, ele também era apaixonado pelo trepa-trepa. Então, naquele dia, enquanto ele se divertia, eu me pendurei logo atrás dele e chutei o seu bumbum, fazendo-o se desequilibrar.
O menino caiu no chão, se ralou todo e começou a chorar. Eu desci do brinquedo e parei na frente dele, de braços cruzados.
- Namorada, me ajuda! - Ele pediu, enquanto se acabava em lágrimas.
- Nós não somos mais namorados, Harry.
E então eu fui embora brincar de boneca com as meninas da sala.
Mas fiquei com o desenho, ele era realmente bonito.