Thalia

Faziam duas semanas que o rei Luke havia partido em sua viagem. E faziam duas semanas que Nico não olhava na minha cara e nem dirigia uma palavra sequer para mim.

 Eu comecei a visitar Bianca todos os dias, quando Nico não estava no quarto dela. Eu queria ajuda-lo, mas ele parecia não querer ajuda. Começou a me evitar, e sempre que eu pedia algo para ele, ele passava a tarefa para Kelli. Eu não sabia mais o que fazer. Bianca havia me dito que ele, alguma hora, falaria comigo, mas eu tinha sérias dúvidas...

Na terceira semana sem Luke, eu invadi o quarto dele. Não tinha muita coisa de diferente, era decorado com quadros muito bonitos e tinha uma cama larga de casal. Em uma mesa ao lado de sua cama, havia um porta retrato com uma pintura de uma família feliz; uma mulher, um homem e três filhos homens, todos sorridentes. Percebi que um dos filhos era Luke, pela cicatriz, então deduzi que o homem fosse rei Hermes, a mulher sua esposa e os outros dois garotos eram seus irmãos. Vasculhei o quarto o dia inteiro e não consegui achar nada que pudesse o incriminar... Mas, mesmo se achasse, para quem eu iria denuncia-lo? Se fosse para o meu pai, seria capaz de ele me deserdar, e como eles eram iguais, dois tiranos, provavelmente se uniriam contra mim. Talvez eu pudesse denuncia-lo para o Rei Poseidon, pai de Percy, e sogro de Annabeth. Mas talvez ele não acreditasse em mim. Eu não tinha a quem recorrer. 

Após sair do quarto de Luke, fui para o andar de baixo e vi que Nico estava ocupado fazendo o jantar. Perfeito.

Bianca tinha me dito aonde ficava o quarto de Nico, então aproveitei que ele estava ocupado e entrei sorrateiramente em seu quarto.

Quando entrei, não acreditei no que via. Várias telas, algumas ainda inacabadas, com pinturas belíssimas. Eu reconheci os traços. Eram as pinturas que eu vira por todo o castelo. Nico as pintava. Vi uma que estava feita apenas pela metade, retratava uma garota de cabelos negros e um vestido longo e azul, e alguém ao fundo tentando alcança-la, sem sucesso. O rosto da garota do vestido e do garoto que tentava alcança-la ainda não haviam sido feitos. O quarto de Nico era todo sujo de tinta, as paredes, o chão, até os lençóis. Eu o imaginei com um avental sujo de tinta, os cabelos bagunçados e seu rosto um pouco sujo de tinta também. Esse pensamento me fez sorrir. Mas meu sorriso desapareceu quando escutei a porta bater atrás de mim e ouvi uma voz um pouco irritada: 

— O que está fazendo aqui...?

Virei-me e vi Nico, com os braços cruzados e uma expressão irritada. Dei um sorriso nervoso.

— Ah, olá, Nico... - ele me interrompeu.

— Sem querer ser indelicado, senhorita Thalia, já lhe pedi para não me chamar de Nico, e não acho que a senhorita deveria entrar em outros quartos que não fossem o seu...

— Desculpe-me, Nico, mas vou continuar a lhe chamar assim e só entrei em seu quarto pois estava curiosa, mas já estou saindo...

Nico ficou em silêncio. Eu saí do quarto e desci para a sala de estar.

Mais tarde, depois de ter um jantar solitário e triste, fui espiar o quarto de Nico. E não me arrependi nada disso. 

Ele estava com um pequeno rabo de cavalo, sentado em frente à uma tela, com um avental sujo de tinta e um pincel em sua mão. Ele terminava o quadro que eu havia visto mais cedo e tinha um pequeno sorriso no canto de seus lábios.

— Thalia... - murmurou ele, e pensei que talvez tivesse me visto, mas continuou olhando para sua tela.

Decidi parar de observa-lo e fui para a cozinha comer morangos, quando escutei um barulho de porta sendo aberta com força. Pensei que pudessem ser ladrões, e fui correndo até a sala para ver dois garotos de cabelos castanhos e feições travessas entrarem pela porta da frente com um estrondo.

— Estamos de volta! - os dois gritaram em uníssono.

— Hum... E quem são vocês? - perguntei.

—Ah, você deve ser nossa futura cunhada, Thalia Grace... - disse um.

— Prazer... - os dois se curvaram exageradamente. - Somos Connor e Travis Stoll, os meio irmãos de Luke.